prólogo

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Meus lábios se moviam rapidamente enquanto eu cantarolava a música "Psycho killer" do Talking heads com toda a força que eu conseguia, balançando meu corpo eu segurava um microfone invisível em minha mão. Entrava lentamente no estacionamento do Campus e ia em direção a minha vaga que ficava do lado direito da porta de entrada. Pela primeira vez na semana levantara da cama com bom humor sendo obrigada a acordar tão cedo. E nada nem ninguém poderia estragar isso!

- Tá de sacanagem! - Resmungo, enquanto desligava a bateria do carro e encarava o homem que estava do lado de fora com toda a repulsão que eu conseguia transparecer em minha face. O desgraçado estava brincando comigo, não é possível! - Mylles, Eu juro por tudo que se você deixar essa lata velha ai eu vou passar por cima dela! - Eu berrava, enquanto saia do carro a batia a porta com toda força.

- Bom dia pra você também, amor! - Ele diz, enquanto me olhava com aquele ar irônico e totalmente prepotente.

- Essa é a porra da minha vaga. Eu pago a merda desse estacionamento todo mês! - Rebato depois de um longo suspiro, o sorriso dele cresce ainda mais.

- Você sabe que minha moto é importante demais pra mim, jamais deixaria ela no lado negro do estacionamento... Mas se você quiser, pode colocar essa coisa acabadinha lá! - Seus olhos brilham e ele abre um sorriso petulante - Não tem como ficar mais danificado que isso.

Suspiro fundo cerrando os olhos e o encarando por alguns segundos. Ele estava claramente se esforçando o máximo pra me irritar... Babaca!

- Certo, vamos brincar então Matt Mylles! - Termino, entrando no meu carro e o ligando - Você deveria saber que minha vaga de estacionamento pode ser bem mais prejudicial a essa lata velha do que o lado negro dessa joça. - Ligo o carro, e o movo em direção a minha vaga. Os olhos do homem se arregalam quando ele percebeu o que realmente eu faria a seguir.

- Você não vai fazer isso, Luna! - Grita, se colocando na frente do carro antes que ele passasse por cima da porcaria da moto dele. - Vai ter que passar por cima de mim antes.

- Tira a porcaria da sua moto do meu estacionamento - Digo breve e lentamente. Encarando Matt com uma sobrancelha erguida, que morde os lábios encarando meu rosto com fúria do vidro da janela. Ele move seu maxilar depois de um longo suspiro. E logo em seguida, anda até sua moto montando na mesma, se dando por vencido. A tirando logo depois da minha vaga.

- Você precisa mesmo aprender a dividir, amor! - Grita o homem com um sorriso sarcástico nos lábios antes de ligar sua moto e sumir com ela dentre as paredes do estacionamento.

Conheço Mylles desde muito nova. Estudamos juntos por toda a vida. Ele fez dela um completo inferno durante todo o fundamental. Com toda aquela popularidade, beleza e arrogância. Ele tinha tudo pra ser um desses babacas capitão do time de futebol americano da escola. Mas não foi isso que aconteceu.

Na adolescência, depois das férias de verão, ele voltou completamente diferente. Seu ciclo social havia diminuído radicalmente. Passou a se vestir diferente e arrumar brigas diariamente. Sua arrogância e prepotência evoluiu pra um nível mais radical. Ele havia mudado, isso era evidente. O homem ainda mexia comigo, sempre que esbarrava nos corredores, no estacionamento ou nas aulas. Tentando me atingir com aquelas piadas imbecis e sarcasmo ácido. Nada como antes, era só uma troca de farpas inocente que eu não me importava em devolver na mesma moeda.

- Bom dia, vadia! - Digo assim que chego na mesa e largo minha bolsa no chão - Não falem comigo, pois estou extremamente puta, e não quero ofender ninguém! - Termino, roubando um pouco das batatas fritas de Karol, uma garota linda de olhos claros e lindos cabelos ruivos.

- Eu pensei que tivesse dito que havia acordado de bom humor hoje, por mensagem. - Chiri diz, me olhando confuso logo após de dar enormes goladas em seu copo de refrigerante.

- É, eu realmente estava... Mas o desgraçado do Mylles fez o favor de me provocar logo pela manhã. Sério, nem era 8:00 horas ainda! - Rebato revoltada.

- Falando do Mylles, a banda dele vai tocar no Red shorts no fim de semana, muita gente vai pra lá. Vamos? - Karol pergunta me olhando. Suspiro fundo revirando os olhos, encarando a garota com todo nojo que eu conseguia transparecer.

- Já tenho planos. Vou maratonar os filmes do Ari Aster, fumar maconha e tomar vinho. E vai ser do caralho! - Digo dando de ombros enquanto encaro às duas pessoas em minha mesa.

- Você é chata, cara! - O homem responde rapidamente me fazendo rir.

- Eu sou...

Ωθฯ

Abro a porta lentamente, enquanto arrasto meu corpo pra dentro da casa sorrateiramente. Jogo a minha bolsa no chão, e tiro os tênis os largando na porta da casa.

- Pega isso dai! - Derick diz, enquanto me olhava de forma repreensiva do sofá onde estava jogado desleixadamente.

- Qual é, maninho. Eu tô exausta! - respondo ligeiramente me dirigindo até o sofá e me jogando do lado dele. - Onde está o Henry?

- Ainda no trabalho, ele vai chegar um pouco mais tarde hoje. - Ele da de ombros, mudando o canal da TV.

-É por isso que você está tão mal-humorado? Falta de sexo? - pergunto brincalhona e ele ri fraco.

- O pai dele morreu hoje pela manhã... Ele está meio cabisbaixo mesmo não querendo admitir. - O homem diz depois de uma longa pausa. Dou um suspiro pesado.

- Eu sei que é o pai dele, mas o cara era um merda! - Digo rudemente e ele suspira concordando com a cabeça.

- O irmão dele ligou hoje cedo. Ele estava comemorando! - afirma entre risos e arregalo os olhos.

- Pelo menos agora ele está livre do velho babaca!

- Ele vai vim morar conosco... - Diz, depois de uma longa pausa me olhando sério, dessa vez. - Não tem como sustentar uma casa sozinho. Então o Henry ofereceu um quarto a ele.

- Mesmo depois dele ter o abandonado por tanto tempo? - Indago com a sobrancelha erguida.

- Ele não o abandonou. Ele foi forçado a se afastar. Precisava cuidar da mãe! Preciso que você seja educada com ele, Luna.

- E desde quando eu não sou educada com as pessoas? - Pergunto entre risos, Derick de lança um olhar sério.

- Eu estou falando sério, ele viveu muita merda. Você sabe o que o Henry passou mesmo tendo saído tão cedo daquela casa. Agora imagina só ele que ficou lá até o fim. Precisa do nosso acolhimento agora! Promete que vai ser gentil... é importante pro Henry... - Ele diz, quase que como uma súplica

- Ok, ok... Eu prometo ser ainda mais educada do que eu já sou! - Digo jurando seriamente. E ele agradece com os olhos brilhantes

A história do Henry é sem dúvidas uma das mais deprimentes que eu já ouvi. Ele havia se apaixonado por meu irmão ainda na adolescência, os dois começaram um relacionamento escondido que durou por uns meses. Vivia com seu irmão mais novo, pai e mãe numa casa no bairro pobre da cidade. O pai era extremamente abusivo, agredia sua mãe sempre que chegava muito bêbado em casa.

Um dia quando um amigo do velho viu o Henry e meu irmão de mãos dadas na praça da cidade, e essa notícia chegou até o pai dele, o homem o expulsou de casa imediatamente. Sempre dizia que nunca criaria um "viadinho" como filho, e só não agrediu ele, pois seu irmão mais novo impediu. Ele nunca mais teve contato com ninguém daquela casa, pois o pai obrigava todos a se afastarem dele. Henry amava seu irmão, e até tentou o trazer pra viver com ele algumas vezes. Mas o menino se sentia na obrigação de cuidar da sua mãe, para que seu pai não causasse mais mal a mulher.

A mãe deles morreu de causas naturais a alguns anos, e mesmo assim o rapaz se viu na obrigação de cuidar do pai doente, mesmo sendo o lixo humano que o velho era. Às vezes falava com o irmão pelo telefone, mas ele nunca veio visitar ou conhecer o esposo dele. Tinha orgulho do irmão, por ter se assumido e nunca ter desistido do seu amor. Da mesma forma que Henry sentia orgulho do menino por ter tomado as dores de suas obrigações como filho só pra si, em prol da felicidade de seu irmão mais velho.

Matt Mylles, minha deplorável perdição (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora