Capítulo 9

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Dias atuais

O velocímetro marcava 120 km por hora. Mesmo assim eu acelerei mais, senti a adrenalina correr nas minhas veias. Quis pegar o primeiro retorno, mas me obriguei a seguir em frente. Eu tinha escondido toda minha dor em um armário no funda da minha mente há anos. Agora precisava abri-lo e encarar o meu pior pesadelo.

A música que estava tocando, dialogava com meu estado de espírito, cantei alto o refrão:

"In another life / I would be your girl/ We'd keep all our promises/ Be us against the world/ In another life/ I would make you stay/ So I don't have to say/ You were the one that got away"

Estava indo encontrar Théo, eu ia encarar de novo o homem que eu mais amei e odiei em toda minha vida, então de repente as lembranças da última vez que eu o vira vieram sem que eu pudesse mais detê-las.

Foi em um sábado de setembro há alguns anos. Eu tinha passado a noite inteira acordada chorando, assim que amanheceu tomei uma decisão. Coloquei um vestido preto de propósito, pois me sentia de luto. Amarrei meu cabelo em um coque apertado, coloquei um chapéu grande que escondia parcialmente meu rosto. Finalizei com um grande óculos de sol. Olhei-me no espelho estava quase irreconhecível. Claro que se me olhassem bem de perto me identificariam, mas se fosse bem discreta passaria desapercebida.

Eu tremia enquanto segurava o volante do meu carro com força. Estacionei a certa distância do local do evento. Fui até o local andando com meus saltos finos de festa.

Tinha chegado pontualmente. Sentei-me em um dos bancos mais distantes do altar. A igreja estava lotada, reconheci muitas pessoas, menos é claro minhas amigas mais próximas que se recusaram a ir.

Tomei coragem e olhei para quem estava esperando no altar. Gostaria de vê-lo em qualquer lugar do mundo, menos ali. Ele estava tão lindo e elegante. Não consegui distinguir sua expressão facial, parecia infeliz.

Começou a tocar uma música, não a famosa marcha nupcial, mas outra romântica da Ivete Sangalo:

"E as estrelas/ Que hoje eu descobri/ No seu olhar/ As estrelas vão me guiar/ Se eu não te amasse tanto assim/ Talvez perdesse os sonhos/ Dentro de mim/ E vivesse na escuridão/ Se eu não te amasse tanto assim/ Talvez não visse flores/ Por onde eu vim/ Dentro do meu coração/ Hoje eu sei, eu te amei/ No vento de um temporal/ Mas fui mais, muito além/ Do tempo do vendaval/Nos desejos/ Num beijo/ Que eu jamais provei igual/ E as estrelas dão um sinal"

Começou um burburinho na Igreja, então eu soube que a noiva havia chegado. Olhei em direção a entrada e a vi.

Ela estava com um tomara que caia justo estilo sereia. O vestido acentuava suas curvas. O cabelo platinada caiam em ondas sobre seu ombro. Usava um longo véu. Seu buquê era de rosas vermelhas.

Amelinha estava se sentindo uma miss no seu dia de noiva. Mas ela era uma grande usurpadora, aquele lugar deveria ser meu. O vestido deveria ser meu, porque o noivo tinha roubado o meu coração.

A rainha do rodeio tinha cumprido sua ameaça, ela me dissera anos antes que eu e o Théo não teríamos futuro nenhum.

Se ela ainda o amasse tanto como eu, porém Amelinha estava se casando somente pelo dinheiro. Ela sempre tinha sido uma caçadora de maridos e tinha usado todas as suas armas para isso.

De repente eu estava chorando. Eu estava no casamento do amor da minha vida. Do homem que eu era apaixonada desde adolescente. Só que eu não era a noiva.

E ainda tinha me iludido com suas palavras bonitas apenas dois meses antes para me levar para sua cama, se eu soubesse que ele ia se casar não teria aceitado, eu tinha sido tão idiota.

A cerimônia de casamento começou. O padre falou sobre a importância da família e o amor. Até que ele declarou:

- Se alguém tem algo contra esse matrimônio fale agora ou se cale para sempre.

Eu queria levantar, ir até o altar e gritar:

- Eu tenho. O noivo é um canalha e a noiva uma prostituta barata, eles se merecem. A propósito Amelinha, ele te traiu.

Mas eu permaneci quieta, não tinha cabimento fazer um escândalo ali. Eu simplesmente fui embora, sentindo que os olhares se voltaram para mim.

Sai da igreja e comecei a andar sem rumo. Andei tanto até sentir meus pés doerem eu nem sabia mais onde estava.

Repentinamente minha visão começou a ficar escura, senti minhas pernas ficarem fracas. Até que eu não vi mais nada.

Acordei com o cheiro de antisséptico característico dos hospitais. Minha cabeça estava dolorida, me senti nauseada. O médico veio até mim.

- Ana Luíza, você desmaiou na rua, chamaram uma ambulância que te trouxe até aqui. Achamos sua identificação e o número do seu pai que já foi informado.

- Fizeram os exames? O que eu tenho? Eu sou médica. Disse.

Os resultados dos exames saem em breve Ana, mas a principio foi só uma hipoglicemia.

Logo depois meu pai chegou. Ele estava muito preocupado comigo, tentei acalma-lo.

- Não foi nada papai. Eu só não me alimentei direito.

- Não minta pra mim filha, te encontraram próxima da Igreja. Você foi no casamento, não foi?

- Eu precisava ver com meus próprios olhos. Disse.

- Ele é um canalha. Nem eu sabia que ele iria se casar se soubesse teria impedido que vocês se envolvessem.

- Não importa mais pai, para mim ele está morto. Anunciei.

Eu tinha contado para o meu pai sobre Théo, estava tão feliz que queria dividir a minha felicidade com o mundo inteiro. Tinha sido uma grande tola. Depois do ocorrido meu pai se demitiu da fazenda, o lugar que ele tinha trabalhado a vida inteira. Eu o trouxera para São Paulo comigo.

Depois de muito tempo o mesmo médico voltou.

- Já temos o resultado dos exames. Parabéns Ana, você será mamãe. Disse ele.

- O quê? Falei chocada.

- Ana, você está gravida. Repetiu o médico.

De repente o chão desmoronou. Comecei a chorar incontrolavelmente, meu desespero foi tanto que chamaram o Psiquiatra do hospital para conversar comigo.

Somente depois de uma semana eu aceitei a gravidez. O meu anjo nasceu mudando a minha vida completamente. Eu descobri o amor incondicional. Era capaz de fazer qualquer coisa pela minha pequena Alice.

Lembrando que quando completar 5.000 leituras, tem capitulo bônus narrado pelo Théo.


Meu AnjoWhere stories live. Discover now