Capítulo 2

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Dias atuais

Uma dor lancinante me atinge. A minha cabeça está prestes a explodir. Fecho os olhos, a imagem que vejo é de um anjo de cachinhos dourados. Meu coração se aperta. Falo baixinho:

- Câncer, câncer, câncer.

Mesmo dizendo em voz alta, não consigo acreditar. Coloco a mão na cabeça.

- Meu Deus! O que eu faço? Digo desesperada.

Escuto a campainha tocando uma, duas, três vezes. O barulho faz a dor de cabeça ficar insuportável. Obrigo-me a levantar, abro a porta. Deparo-me com Lucas.

Ele tem cabelos escuros encaracolados que contrastam com sua pela clara. Os olhos são cor de avelã. É cerca de vinte centímetros maior que eu, ele se curva para me beijar.

Eu o deixo entrar. Instantaneamente sou envolvida por seus braços. O calor da sua pele e o seu perfume me acalmam. De repente não consigo mais segurar, uma lágrima escapa. Uma de cada vez, até que estou chorando abundantemente.

Lucas afaga meu cabelo. Ele me segura em seu colo e me carrega até o sofá. Eu apoio minha cabeça em seus ombros.

Ele toca meu rosto e diz com suavidade:

- Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

Não consigo achar as palavras. Tudo o que eu quero é acordar e perceber que era só um sonho ruim.

- Eu preciso ficar sozinha. Falo entre soluços.

Ele compreende, me beija e se vai.

Arrasto-me para o meu quarto, deito. O sono finalmente me vence.

- Mamãe!

- Meu anjinho. Digo pegando Alice no meu colo, seu cheiro doce me acalma. Toco seus cachos loiros macios, ajeitando-os.

- A Bibi me levou na loja de doces, mamãe. Comprei um presente.

Ela pega do bolso do seu vestido um sonho de valsa.

- Seu favorito, mamãe!

- Amei filha!  Digo pegando o chocolate, tiro uma mordida.

Tinha planejado preparar Alice para o seu tratamento, tentar explicar sobre a sua doença. Mas perdi a coragem. Como dizer a uma criança inocente que ela irá passar por seções de quimioterapia. Falar que seus cachinhos vão cair. Eu simplesmente não consigo.

A Alice vai seu quarto brincar. A Bia vem até mim. Vejo toda sua tristeza em seus olhos.

- Ela vai ficar bem, não vai? Diz ela com um fiapo de voz.

- Tem que ficar. Eu e meu pai vamos fazer os exames de compatibilidade da medula óssea. Ela precisa de um transplante o mais rápido. Digo com a voz embargada.

- Lembra quando eu comecei a trabalhar aqui? A senhora me falou tudo sobre o pai dela, ele também tem que fazer esse teste?

Eu confirmo com a cabeça.

- Eu jurei para mim mesma nunca mais procura-lo. Ele está morto e enterrado no meu coração, mas pela Alice eu vou até o inferno.

Dispenso a Bia do serviço por hoje nos últimos dias ela tem trabalhado muito. Vou para o quarto de Alice sento no chão para brincar com ela.

- To com sono! Diz ela.

Eu a coloco na cama. Deito-me ao seu lado.

- Conta uma historinha mamãe? Pede Alice.

- Era uma vez em um reino muito muito distante, uma princesa chamada Alice...


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