Capítulo 10

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Respiro fundo e em seguida aperto a campainha. Começo a contar mentalmente- um, dois, três... Dou de ombros, ele não iria atender a porta. O melhor a fazer era ir embora, dei cinco passos para longe do lugar.

- Eu sou uma covarde. Disse em voz baixa.

Volto correndo até a porta e aperto a campainha várias vezes. Já que eu cheguei até aqui vou até o fim.

De repente a porta se abre.

- Oi. Digo.

Théo abre a porta. Arqueia a sobrancelha interrogativamente.

- Você.

Eu me aproximo dele.

- Não vai me convidar para entrar? Questiono.

Ele não diz nada, apenas me dá passagem. Eu entro no escritório, me sento em uma poltrona.

- Você tem cinco minutos Ana. Já estava fechando o escritório. Théo cruza os braços impaciente.

Eu olho diretamente para seus olhos azuis que parecem duas pedras de gelo. - Eu vim pelos velhos tempos, tive saudade. Falo da maneira mais provocante que consigo. Sinto-me ridícula.

Théo fica surpreso. Sua expressão séria muda. Ele sorri como se tivesse achando o que eu disse engraçado.

Ele mantém os braços cruzados. Fica sério e me diz:

- Você some da minha vida por anos e vem aqui do nada dizer que está com saudade?

Eu me levanto. Aproximo-me dele. Mudo a estratégia.

- Estava sentindo falta dos meus amigos de infância e adolescência, Théo. Vim visitar a fazenda. Eu sumi porque estava atarefada com a residência. Justifico.

Théo parece não acreditar em mim. Mas diz:

- Já estava a caminho da fazenda, venha comigo, se hospede conosco Ana.

- Sim. Obrigada.

Entro na caminhonete de Théo. Estou suando frio. Meu plano foi para os ares. Agora estou prestes a me encontrar com Amelinha.

- Para o carro! Grito.

Théo freia o carro abruptamente.

- Para no acostamento, por favor.

Ele faz o que eu peço.

Olho para ele, pego a sua mão. De repente sinto meu coração acelerar, e a velha sensação de borboletas no estomago me preenche, tento ignorar a reação física para concluir meu plano.

Eu roubo um beijo do Théo. Jogo-me em seus braços, esperando que ele se afaste e me ache louca.

Mas então sou surpreendida. Ele corresponde ao meu beijo. Instantaneamente eu esqueço tudo. O motivo de estar ali. Só consigo ver estrelas flutuando ao meu redor.

De forma abrupta ele interrompe o beijo e diz de maneira ríspida:

- Acho melhor te levar de volta a cidade.

- Não! Exclamo. - Théo, eu vim até aqui por você.

- Ana...

- Théo, eu senti tanto a sua falta.

Eu o beijo novamente, aumento a intensidade. Entrego-me ao momento.

- Eu vou te levar até a fazenda. Ele diz.

Fico decepcionada. Eu estou aqui me oferecendo e ele quer me levar na fazenda para mostrar o quanto é fiel à esposa. Eu digo :

- Nunca achei que você fizesse a linha bom rapaz. Digo de maneira ríspida.

- Do que você está falando? Ele diz.

- Eu já entendi. Você não me quer aqui. Não vai trair a sua esposinha amada. Falo com raiva.

- Você está falando da Amelinha? Ele diz intrigado.

- Que outra esposa você tem.

De repente ele sorri de uma maneira zombeteira como se eu tivesse dito algo muito inusitado.

- Ferrugem. Meu casamento com a Amelinha durou dois meses. Estamos divorciados há anos.

Sinto-me corar até a raiz dos cabelos.

- Não sabia.

- Não consigo te ver como a amante Ferrugem. Não faz seu perfil. Ele diz.

- Por que não? Eu mudei. Não sou mais aquela garotinha boba, Théo. Eu senti saudade de você e quis te ver.

- Também sinto falta dos velhos tempos Ferrugem. Vamos até a fazenda.

Ele acelera o carro. Sinto meu coração disparar.

A viagem de vinte minutos parece durar dois séculos. Começo a falar trivialidades para preencher o silêncio. Finalmente chegamos.

- Vamos. Ele me diz.

Começamos a caminhar pela fazenda. A paisagem me deixa nostálgica, é como se tivesse dezenove anos novamente com o futuro perfeito logo a minha frente. No entanto, o homem do meu lado não é o mesmo das minhas lembranças.

De repente ele para. Me encara com seus olhos claros como o céu. Seu cabelo loiro cai em sua testa.

- O que você veio fazer aqui, de verdade?

Meu coração fica fora de ritmo, minhas mãos suam frias. Tenho a impressão que ele desconfia de alguma coisa. Não posso contar a verdade. Eu não o quero na minha vida de maneira alguma. Muito menos que tenha contato com a Alice. Ele é um canalha que só merece meu ódio e desprezo. A única coisa que eu quero dele é uma noite, apenas uma relação física.

- Estou a fim de você. Digo enfática.

- Também estou Ferrugem. Ele diz e me beija.


Meu AnjoWhere stories live. Discover now