Capítulo I

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7 anos antes.

Acordei com um sobressalto quando o ônibus freio. Olhei pela janela reconhecendo imediatamente a paisagem, estava em casa. A terra vermelha e a vegetação extensa encheram meu peito de alegria. Peguei minha pequena mala de mão e desci do ônibus. Estava no terminal rodoviário de Riacho Branco, uma cidade de vinte mil habitantes no interior de São Paulo. Minha cidade natal. Respirei o ar puro pela primeira vez em um ano. Olhei ao redor procurando os conhecidos olhos cor de avelã. Senti uma mão em meu ombro, me virei e o vi:

- Papai! Gritei não segurando a emoção, me joguei nos seus braços, me sentindo protegida.

- Filha, minha futura doutora, você está linda!

Meu pai me ajudou com a minha mala de rodinhas, entramos no seu velho carro amarelo. Ele dirigiu para fora da cidade em direção à fazenda Dourada, que de muitas maneiras era o meu lar. Eu era filha do faz-tudo da casa e havia morado lá até completar 18 anos quando me mudei para capital ao ganhar uma bolsa na faculdade de medicina.

Realizando o meu sonho praticamente impossível de menina pobre. Apesar do grande aperto e muitos sacrifícios eu já havia chegado ao terceiro ano e vinha passar minhas férias de verão com meu pai.

Entramos na casa grande, onde fomos recebidos por Dona Teresa a dona da fazenda, era uma viúva de cinquenta anos que apesar de sempre manter distância dos empregados cultivava certa amizade conosco. Ela sorriu a me ver, me cumprimentou e disse amigavelmente:

- Ana Lú como estao seus estudos?

Trocamos algumas amenidades, desde a morte da minha mãe cinco anos antes ela se tornou mais próxima de nós, me tratando quase com carinho. Ela até mesmo ajudou nas despesas dos livros assim que entrei na faculdade.

Vitória entrou na sala me cumprimentando assim que me viu, ela era um pouco mais velha que eu. Usava um vestido florido. Tinha cerca de 1, 60 m cabelos e olhos escuros, era esposa do Eduardo, filho mais velho da dona Teresa e administrador dos negócios da família.

Logo em seguida um menino de cerca de dois anos veio atrás da mãe ela o pegou no colo com carinho. Ele era loiro se parecia com o pai. Além de Eduardo dona Teresa tinha outro filho mais novo o Théo que fazia faculdade de administração nos Estados Unidos.

Fui para nossa casa que ficava distante da casa principal. Era pequena, simples, porém agradável e bem organizada. Meu quarto continuava o mesmo de quando eu havia saído, uma cama coberta com uma manta de retalhos, uma escrivaninha bem gasta e a parede com um quadro de flores que eu mesma pintara. Deitei-me na cama e acabei adormecendo.

Meu pai bateu no quarto, me acordando. Ele parecia preocupado, disse:

- Eu não queria incomodá-la nas suas férias filha, mas surgiu um imprevisto. Você sabe que a dona Teresa sempre foi boa pra nós. Sempre tivemos um teto, comida, além de ela ter pago as despesas quando a sua mãe ficou doente, ainda ajudou com a sua faculdade...

Eu concordei, tinha uma grande gratidão por ela.

- Então... O seu Eduardo e a mulher tem uma viagem marcada para amanhã, mas a babá se demitiu ontem. E eles estão procurando uma substituta de confiança. E como você fazia bicos de babá quando era adolescente pensei que poderia ajuda-los cuidando do pequeno Eduardo.

- Claro. Digo sem hesitar. Tenho dois meses de férias, eu cuido do Edu sem problemas.

- Que bom, filha. A dona Teresa confia em você e ela vai ficar muito agradecida, são só por quinze dias. Ela vai te pagar bem, eu sei que você vive apertada lá na capital.

Eu assinto garantindo que será bom manter a cabeça ocupada nas férias, também não seria problema porque eu adorava crianças.

O meu despertador tocou, ainda era muito cedo. Coloquei uma calça jeans, camiseta e sapatilhas. Tomei um rápido café da manhã e fui apressada a casa grande. Dona Teresa me agradeceu muito por tomar conta do seu neto.

Encontrei Edu no bercinho, seus pais tinham acabado de sair para viagem. Peguei o bebê no colo sentindo seu cheiro infantil. Ele se parecia muito com Théo. Fechei os olhos me lembrando dele. Eu tinha passado minha infância e adolescência nutrindo uma paixão platônica por ele.

Mas eu sabia qual era o meu lugar, sabia que a filha de um empregado da fazenda nunca teria chance com o herdeiro. Mesmo assim, às vezes só por alguns momentos eu me permitia sonhar. Ele se parecia com um lorde inglês. Tinha mais de 1, 80 m, cabelos dourados e olhos de um impressionante azul. Ainda assim o que mais me impressionava era a sua personalidade, ele era dois anos mais velho que eu e sempre me tratou com o carinho de um irmão mais velho. Quando erámos crianças brincávamos juntos. No entanto quando fiz 14 anos, Théo foi fazer um intercâmbio e logo em seguida entrou na faculdade de administração dos Estados Unidos, desde então eu não o vira mais.


Meu AnjoWhere stories live. Discover now