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Quando eu era menina me disseram que as vontades dos nossos corações se denominavam sonhos.
Desde então passei minha vida seguindo-os. Porém não me disseram todas as turbulências que deveria passar para consegui-los.
Hoje eu vejo que não importa o quão difícil seja conquistar as vontades do meu coração, porque sem elas eu apenas existo. Já os sonhos que não dependem de mim eu aprendi a aceitá-los também com um sorriso no rosto, pois me fazem mais forte e humana.

Sempre achei que fosse inteira até aquele dia crítico.

Era uma manhã cinzenta de inverno. Matei aula para ficar perambulando sem rumo pela fazenda.

Andei até sentir as minhas pernas doerem só parei quando vi uma árvore gigante, uma figueira. Devia ter pelo menos um século.

Peguei um canivete que eu usava para afiar meus lápis. Num ímpeto escrevi: T + A.

Ele iria embora, mas o meu amor permaneceria. Era a primeira vez que admitia para mim mesma que era loucamente apaixonada por Théo. Apesar disso ele me deixaria no dia seguinte para ir a um intercâmbio.

- Ferrugem - disse Théo.

Virei-me imediatamente e dei de cara com os olhos azuis mais fantásticos que eu já vira. Fui pega em flagrante o que me fez corar até a raiz dos cabelos.

Coloquei minhas costas na inscrição tentando escondê-la.

- O que você está escondendo?

- Nada! Disse de maneira pouco convincente.

Théo em um movimento rápido segurou meu ombro afastando-me da árvore. Escondi meu rosto nas mãos.

- Théo e Ana! Você gosta de mim Ferrugem? Perguntou ele.

- É claro que não. Não seja convencido Théo. Falei. Preciso ir – emendei.

De repente ele se aproximou de mim, senti o ar ficar pesado. Théo se encurvou até ficar na minha altura. Olhou diretamente para mim de um jeito que fez meu coração acelerar. Ele segurou uma mecha do meu cabelo. Fiquei petrificada. Seus olhos eram como o mar que me puxavam como ondas.

- Eu gosto de você Ferrugem.

O meu coração parou, entre uma batida e outra ele me beijou. Fechei os olhos e foi como se visse mil estrelinhas flutuando ao nosso redor.

Em um segundo que pareceu durar mil anos o beijo terminou. Eu queria ter me jogado em seus braços e o beijado mais um milhão de vezes, mas fiquei parada sem saber o que fazer.

- Foi seu primeiro beijo? Ele perguntou.

- Mas é claro que não. Menti descaradamente, no auge dos meus catorze anos eu nunca admitiria que não tinha sido beijada antes.

Théo segurou a minha mão, sua pele quente e macia fazia o meu estomago ficar cheio de borboletas.

- Quando eu voltar você vai ser a minha namorada.

- Mas quando você vai voltar? Eu perguntei sem conseguir disfarçar minha angústia.

- Logo Ferrugem, eu prometo.

Aquelas palavras deixaram meu coração cheio de esperança. A esperança que iria me mover por muitos anos. As palavras que eu nunca esqueceria. A promessa mais importante dos meus dias.

Voltei para minha casa, foi à última vez que eu o vi por um longo tempo. O beijo foi revivido tantas vezes na minha mente que se tornou o que ele sempre fora um lindo sonho.

Sonho de uma manhã de inverno que eu nunca me esqueci. O que eu não sabia é que aquele beijo mudaria tudo.

Meu AnjoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant