Capítulo 7

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Olho no meu relógio de pulso. São cinco e meia da tarde, Karen está atrasada dez minutos que equivalem há uns dez anos para mim.

A companhia finalmente toca. Eu abro a porta e sou surpreendida por Karen que parece carregar o mundo todo em várias sacolas.

- Está atrasada – digo irritada.

- Calma! Tive que fazer umas comprinhas antes.

 Perco a paciência, elevo a voz:

- Meu mundo acabando, mas você se importa mais com roupas!

Karen exclama:

- Amiga, elas são para você. Senta um pouco.

Eu me sento no sofá e ela se acomoda do meu lado. Karen pega um tubinho preto de uma das sacolas.

- Este é perfeito! Primeira regra para se conquistar alguém esteja sempre linda.

- Não vou me vestir igual uma vagabunda. Digo rispidamente.

- Acorda Ana! A artilharia tem que ser pesada, você não tem tempo a perder.

A minha ficha cai. Não importam os meios, os fins justificam tudo. Pela Alice eu sou capaz de rodar a bolsinha na esquina ou pior, dormir com o Théo.

- Ok professora. Vamos começar a aula.

Karen exclama:

- Primeiro item: aparência. Vamos fazer um teste. Vista isso!

Eu sigo as instruções dela, coloco o tubinho preto, salto de 15 cm. Solto os cabelos que vão até o ombro, completo o visual com um batom escuro. Karen bate palmas quando me vê.

- Você está sexy.

Sinto-me nua com a roupa, mas acho que a intenção é exatamente esta.

- Agora vamos ensaiar o que você vai falar quando vê-lo. Repita comigo: Estava resolvendo um problema familiar na cidade, aproveitei para te ver. Sinto falta dos velhos tempos!

Repito as suas palavras me sentindo uma idiota.

- Bom amiga. Agora sugiro que você coloque nosso plano em prática o quanto antes.

- Você  acha que amanhã é um dia propício?

- Iria sugerir que você saísse daqui agora mesmo. Diz Karen.

- Hoje não. Preciso de 24 horas para me preparar. Afirmo.

Karen vai embora logo em seguida. Em pouco tempo Bianca chega com Alice.  Minha filha me abraça. Ao sentir sua pele minha coragem volta, percebo que posso fazer qualquer coisa por ela.

Meu celular toca. Vejo a foto de Lucas na tela. Atendo cheia de receio:

- Oi Lu.

- Ana. Como você está?

- Na medida do possível vou bem. E você?

- Ótimo. Estou muito bem mesmo. Eu te liguei porque acho que deveríamos nos encontrar. Diz ele.

- No momento estou muito preocupada com a Alice, mas em breve marcamos. Digo.

- Entendo, mas prefiro que marquemos logo Ana. Pode ser bem rápido se preferir.

Fico apreensiva, falo de maneira incisiva:

- Acho melhor não.

- Ana. Eu tenho direito de saber quem é ele, sabia. Você me deve isso.

Sinto-me péssima com a mentira, mas digo:

- Alguém do hospital. Você não conhece. Eu sinto muito Lu.

Ele não diz nada por um longo momento. Tudo que eu queria era falar a verdade, mas não posso.

- Como você foi capaz de jogar tudo no lixo. Tudo que a gente viveu o nosso futuro juntos. Até a Lili você me tirou.

- Não! Você sempre poderá ver a Alice.

De repente começo a chorar. Desligo o telefone sem ao sequer me despedir. Meu coração está apertado. Começo a pensar em toda a vida maravilhosa que eu teria ao lado de Lucas. O meu futuro perfeito não me pertence mais.

Meu AnjoWhere stories live. Discover now