Capítulo 46 Traição

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Aspen

Eu queria me sentir vivo. Mas como difuntos podem se sentir vivos?

Eu sonhava. Acho que não posso dizer que era um sonho.

Estava desidratado, talvez só estava alucinando. Ou mesmo, morto.

Ouvia gritos. Depois vinha a pólvora. Fogo. Fumaça. Cinzas. Sangue. Por fim corpos no chão. Muitos corpos.

Reconhecia esses corpos. Era a minha família. Faltava apenas a Ana. Menos mal, estava bem.

Ou quase.

- Aspen? - meu anjo me chamou chorosa.

Me virei para ver minha bela esposa.

O que vi foi seu cadáver de pé, no lugar de lágrimas nos olhos, eram sangue.

Ellara não existia, morrera antes de nascer por monstros.

Todos mortos e eu vivo.

Não era um sonho. Nem mesmo pesadelo. Talvez fosse mesmo o inferno.

Bem, na verdade não sei dizer o que era ao certo. Não sabia nem mesmo quando dormia ou quando estava acordado.

No começo eu sabia. Porque quando estava acordado, eu sentia sede, fome e fraqueza. Sabia que estava acordado quando a cada 30 minutos - eu acho, porque aqui o tempo parece que congela - alguém diferente vinha me espancar, muitos deles já vi vigiarem meus aposentos quando fingiam que trabalhavam para mim, com o tempo meu corpo se acostumou com a dor, com a tortura. Os buracos feitos por facas nas minhas pernas estavam já em toda parte, não tinha mais lugar para furar nas minhas pernas, a água gelada que jogavam em mim com constância era para me manter acordado enquanto era torturado, mas também ajudava a diminuir a ardência das chicotadas que levei em todo o resto do corpo azulado e gelado. Também sabia que estava acordado quando não sentia mais esperança.

Queria sentir esperança onde não havia.

Esse luxo não era nem mesmo para mim. Principe Aspen Cambryel de Wither.

Então tanto faz acordado ou desacordado. Estava no inferno e ponto.

Raramente Joseph ia me ver. Normalmente ele me insultava, pedia senhas bancárias e quando não as dava espancava meu rosto e enfiava uma faca nas minhas coxas. No entanto, faz mais de dois dias assim - as vezes eles me atualizavam sobre a data, sentia ser como uma tortura também - isso já não me preocupava mais. Nem sabia mais quem eu era.

As vezes eu me lembrava, quando via minha família morta nos pesadelos.

Então um dia eu sonhei mais uma vez.

Vi meu melhor amigo Robert, então percebi que podia estar já morrendo quando vi a Ana também e dessa vez estava viva, percebi então que eu estava indo para o céu. Ela me conduziria para o céu de onde veio, eu iria de muito bom grado aonde quer que me levasse. Assim que pegasse minha mão, não a soltaria por nada desse mundo.

Vê-la me levou de volta no tempo de quando eu era inteiro.

- Ana!

Talvez não fosse tarde ainda, senti a luz queimada se acender mais uma vez. Talvez pela última vez.

Meu anjo olhou em meus olhos.
Meu coração parado bateu forte.
Acabou.

Queria que era pegasse minha mão e me puxasse para fora.

Vida Real (concluído)Where stories live. Discover now