11. Descobrindo a infância sem dente de Adora (e outras coisas)

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– Sei lá, parece algo mais, sabe?

– Se for, eu não sei o que é, Mara...

E por que isso a fazia se sentir tão culpada? Queria ler muito bem a Adora, como ela um dia admitiu que a lia.

– Bom, vamos comer primeiro e dar um tempo para ela.

Se comida conquistasse coração, Catra provavelmente ajoelharia agora para pedir Mara em casamento. Não sabia se era a fome que ajudava a destacar o sabor, mas, o que importa era que tudo estava muito bom.

Essa mulher tinha uma aura meio doida que transformava tudo à volta dela em coisas maravilhosas. Vai ver por isso seu nome era Mara. De "maravilhosa".

"Puta merda, que raciocínio idiota, Catra..."

Não só o prato fazia do jantar algo agradável. O ambiente, a conversa, a companhia... Tudo isso somava o que a de olhos coloridos jamais pensou experienciar em sua tão pacata vida. Conseguia até imaginar sua irmã, Glimmer, sonhando com um momento desses. Mas ela? Ela mesma? Nunca... Essa mulher linda e radiante e simpática e tão, tão atraente sentada na sua frente era quase como uma visão divina.

Depois de comer, elas arrumaram a cozinha juntas na maior alegria. Nem pareciam que estava fazendo uma das tarefas que Catra mais odiava no mundo. Agora estavam em um silêncio confortável, com casuais trocas de olhares e sorrisos pequenos uma vez ou outra, enquanto Mara guardava a louça.

Em qualquer outra ocasião, não recusaria uma chance com Mara nem que corresse risco de vida para isso. Sim. Até seria uma daquelas viadas bem emocionadas mesmo. Essa mulher parecia um caminho tão simples para a felicidade...

Ainda assim, não sentia aquela sensação de borboletas no estômago ao olhar para ela. Toda a admiração que sabia que tinha por Mara não a causava aquela felicidade sem tamanho, aquele orgulho de estar ali, só por estar ali, ao lado dela. Muito doido isso... Em mente, via em Mara tudo o que gostaria de ter em alguém e com alguém. No coração, a única capaz de trazer tantas emoções incabíveis assim era Adora.

"Porque a sua felicidade está nela, sua idiota... A pessoa certa é a Adora!"

Admitir isso para si mesma foi quase explosivo. Seu peito acelerou em velocidades improváveis. O sangue gelou, as pernas tremeram e em segundos, tudo ao seu redor não mais tinha o ar majestoso de antes. Do fundo, vindo crescente, sentia algo faltando. Era como naquele dia em que correu em desespero pela casa até encontrar a fantasma que a assombrava.

– Eu... – Catra findou o silêncio que ela mesma havia estabelecido depois de ficar vagando na própria mente. – Eu vou ver se a Adora tá bem.

– Ok! Aproveita e avisa que já vamos começar a mexer na caixa, é bom ver se ela quer participar. – A mulher de trança falava casualmente ao mesmo tempo em que continuava sua tarefa de guardar coisas. – É a primeira porta da esquerda no corredor.

– Vou lá

Então tudo o que vinha colocando na conta do poder de Adora, da energia de Adora, do campo de Adora... Nunca veio dela. Veio de dentro de si. O desespero em perde-la? Era seu. A completude de estar com ela? Também. O desejo um tanto quanto malévolo de provocar ciúmes e de provocar acessos de raiva porque achava tudo isso, de alguma forma, atraente? Seu. As vontades repentinas, e cada vez mais frequentes, de poder tocá-la nem que fosse por segundos, de ver a boca mais de perto... Não era o imã inexplicável que prendia Adora a si.

Era tudo seu.

Mas e agora? O que ia fazer com essa informação?

– Adora? – Estava parada na frente da porta, esperando autorização da dona do quarto.

Eu e o seu fantasmaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora