Up Higher | Bellamy Blake

♾ 05 | Who're you, natblida?

Celina caminhava pela floresta a uma distância segura de Hastiin.

Parte de sua mente queria muito confiar no rapaz, a outra ainda desejava entender melhor o motivo dele mantê-la "presa". Madi estaria certa? Hastiin realmente a protegia?

A garota encheu o peito de ar e olhou para cima, para além das copas das árvores, onde a luz fraca do sol invadia o espaço entre as folhas e galhos. Estava sendo bem difícil ser Celina naquele momento. Ela passou as mãos nos cabelos curtos e os colocou atrás das orelhas, subitamente se lembrando do reflexo que vira no espelho de seu sonho, em como a imagem provocou arrepios em lugares no corpo que nem imaginava existir. A garota balançou a cabeça, afastando tais lembranças. Sonhos nem sempre faziam sentido.

Continuou mancando pela floresta, incapaz de acompanhar o ritmo de Hastiin e Madi - que estava sempre a frente deles. Aquela menina era algo mais, definitivamente. Celina sabia que havia algo de muito especial nela, inerente ao tal nightblood. E talvez Celina fosse algo a mais também, quem sabe...

De soslaio, ela viu Hastiin se aproximar, o arco apoiado no ombro e alguns esquilos presos ao cinto. Estavam caçando não fazia nem meia hora e o rapaz já garantira o almoço. Celina, por outro lado, só se esforçava para se manter em movimento e não tropeçar. Seu arco e flecha não se passavam de um mero ornamento preso às costas.

— Ela disse que você está me protegendo — contou Celina quando Hastiin, por fim, se posicionou ao lado dela. Continuava com os olhos fixos em Madi, que naquele momento se equilibrava sobre um tronco caído, os dois braços esticados ao lado do corpo, um sorriso travesso nos lábios.

— E você não acreditou.

— E eu deveria? — indagou Celina sem rodeios. — Você parece ter certeza de que sou Skaikru e deixou bem claro que odeia essas pessoas. Por que você protegeria alguém que odeia?

— Eu não odeio os Skaikru — corrigiu Hastiin com simplicidade e a garota arqueou uma sobrancelha, descrente — Alguns de vocês salvaram o meu povo. Outros de vocês queimaram vilarejos inteiros. Massacraram inocentes.

As afirmações pegaram Celina de surpresa e a obrigaram a fitar os olhos tempestuosos de Hastiin, esperando que ele corrigisse a si mesmo, mas nada aconteceu. Aquilo sim, seria uma justificativa bastante plausível para uma relação ruim entre dois povos. E não era possível que ela, Celina, fazia parte daquilo, que seria tão cruel a ponto de matar pessoas inocentes. Não devia ser Skaikru, e fim. Conseguiria sentir caso fosse uma pessoa má, certo? Seu coração esfriou com tal possibilidade. Deus, como queria saber de onde havia vindo.

A expressão de Celina devia ter assumido um ar bem pasmo, porque após assistir sua reação, o rapaz balançou a cabeça e soltou um riso de escárnio.

— Sabe, você consegue ser bem convincente com a história de não se lembrar de nada.

E novamente aquela desconfiança. Celina apertou a mandíbula.

— Talvez seja porque eu realmente não me lembro de nada — murmurou, realmente exausta por ser tão desacreditada.

A declaração de Hastiin sobre os Skaikru também a perturbara, não poderia negar. Ela precisou ponderar por um instante antes de encher o peito de ar, erguer o queixo e interromper a caminhada de forma súbita. Hastiin notou a falta da garota ao seu lado dois passos depois e girou nos calcanhares para poder checá-la. Ele respirou profundamente e descansou o peso do corpo em uma perna, parecia já saber o que estava por vir.

— Eu não sei se sou Skaikru, mas eu sei que não sou uma assassina — falou a garota com segurança. — Só que assim como você não tem pretensão de fazer eu gostar de você, eu também não ligo se não acreditar em mim. Só preciso que me responda algumas coisas sobre essa história de nightblood. Você disse ontem que me responderia.