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   Já se passavam das dez da noite quando despertei. Eu literalmente dormi o dia inteiro. E foi ótimo. Não me lembro quando foi que fiz isso pela última vez, ficar apenas dormindo, em uma cama muito boa. Ricos possuem seus privilégios.  Não precisam se preocupar com quase nada. Exceto, Kim Taehyung que agora vai ter que aturar e conviver com o próprio demônio que eu sou. Tenho certeza que eu só não desci ainda pois o capeta está com medo de me receber em seu reino. 

    Como já conhecia cada canto daquela casa, por ter ficado muito tempo observando meu professor, sei onde tudo está praticamente. Seu quarto é sufocante por ser tão claro. As paredes se intercalam entre um branco gelo e cinza claro. A cama fica bem no centro, com lençois e almofada em tons de creme. Uma porta pequena no canto esquerdo me leva até seu closet, a única parte colorida da casa. Ele tem ternos rosas. Sinceramente acho ele ridículo com essa cor. Uma TV de umas 50 polegadas está pregada na parede que liga ao banheiro. Embaixo, numa espécie de mesa improvisada com toco de árvore, tem alguns DvD's e um videogame de última geração. 

    Ao lado da cama, um criado-mudo chama atenção com sua luminária com luz vermelha quando acendida. É a única coisa da casa que lembra um motel. Pra um garoto de programa, ele podia ter uns brinquedinhos sexuais por ai, um vibrador quem sabe ou umas algemas. Será que ele gosta de transar amarrado? 

    Ah! Falando no capeta! 

   -Você gosta de transar amarrado? 

    Taehyung se assustou com minha pergunta repentina, o surpreendi assim que ele adentrou o quarto. Eu costumo fazer isso as vezes, dizer o que eu penso sem me preocupar muito com o que necessariamente é. Ele demorou compreeender que eu realmente estava o questionando sobre isso, e quando entendeu, revirou os olhos e me ignorou seguindo pro seu closet. Mas eu o segui. 

   -É sério! Você gosta não gosta? Uns choques também parecem ser sua cara. 

  -Será que você pode parar de falar sobre esse assunto? -O bicho estava irritado. Deve ser porque machucou o ombro. Que fresco, foi só um tiro de nada. Quem nunca passou por isso? Eu nunca, mas se passar, tenho certeza que vou gostar da sensação. Não deve ser nada comparado a parir um filho. Isso sim, deve doer pra caralho. Por sorte, eu não vou passar por isso. Se eu gerar uma criança vou ter sorte se ela ao menos nascer morta e não um alienígena. Taehyung procurava por alguma peça de roupa especifica com sua mão esquerda, já que com a direita seria um pouco complicado. 

   -O que? Não quer falar sobre seu trabalho? Que falta de profissionalismo! Eu achei que vocÊ era bom no que fazia. -Mexi em algumas de suas blusas penduradas. O cheiro do amaciante e uma mistura do perfume que usa estavam espalhado por todo canto. Peguei um terno cinza e ele o puxou da minha mão. -Ui ui ui o puto tá puto.

   Nunca perco uma chance de fazer sua paciência se esgotar. É pra isso que eu sirvo. Pra tirá-lo do sério. 

   Taehyung me encara por alguns segundos com a feição irritada. Nossos olhos estão conectados por um momento e eu pensei ter sentido algo, ódio, talvez? O que seja não importa. Ele não prolongou o contato visual por muito tempo, passou como um cavalo galopando e me empurrou contra suas roupas. Eu ri de forma sarcástica o seguindo por onde ele andava. 

 -Vamos tomar um banho juntos meu amor? Eu te ajudo a lavar seu...-Sua mão grande tampou minha boca antes que eu pudesse terminar a frase. Pelo visto ele é um fresco. Trabalha como profissional do sexo, mas se eu falo alguma coisa sobre ele vêm com quatro pedras na mão. Hipócrita e mal amado. Qual é, eu posso ser divertida se eu quiser. Revirei os olhos enquanto ele começava um discurso desnecessário. 

   -Vou tomar meu banho sozinho, sem acompanhantes. E quando eu sair do chuveiro, quero te ver bem longe da minha casa com todo esse seu mal comportamento! Detesto você garota! E sinceramente, no momento eu não to me importando muito com minha reputação. Eu só quero te ver no quinto dos infernos! 

   Revirei os olhos novamente e mordi sua mão para que ele me largasse. O que de fato, aconteceu já que eu sou boa em morder as coisas. Poderia ganhar um campeonato se existisse. O primeiro lugar séria meu de lavada. 

   -Yes, Teacher... -Dei meia volta para que ele pensasse que eu estava indo embora. Quando escutei a água do chuveiro caindo, não perdi meu tempo e pulei em sua cama. Eu não vou embora. É chato no meu apartamento, não tem nada pra fazer. E vamos conversar, aqui, se tornou um lugar muito interessante. Teve até assassinato porra! Onde mais vou achar isso? 

   Vaguei pelos canais na Tv por um longo tempo até desistir e deixar em qualquer um. Peguei meu celular quando finalmente lembrei da existência dele e pedi um lanche pra mim. Se Taehyung quiser, ele quem peça o dele. Até onde me lembro, não sou sua mãe. 

    Pensando bem, acho que posso perturbá-lo mais um pouco e comprar uma janta completa. Dormi por tempo demais e não comi, preciso me alimentar bem pra continuar forte. Ri do meu próprio pensamento. Nem se eu comesse erva, eu ficaria forte ou saudável. 

   Eu tenho câncer. Por todo meu corpo. Eu disse, que é realmente um milagre eu ainda estar viva e conseguir me locomover ou me alimentar. Ele se alastrou rapidamente, em praticamente todos os órgãos tem um pedaço dele. Um pedaço minúsculo, mas existente. E que em um ano ou dois, vai crescer e crescer até explodir e me matar. Descobri isso ainda ano passado, antes do acidente dos meus pais. Foi por isso que morreram. Pegaram um avião para ir até os Estados Unidos e se encontrarem com um médico famoso, o avião caiu. Em algum lugar, no oceano. 

    Seus corpos não foram encontrados, mas foram dados como mortos e eu acredito que tenha sido melhor assim. Eles não suportariam, me ver morrer, lentamente embaixo dos seus olhos. Isso vai acontecer, eles estando vivos ou não. E pessoas morrem todos os dias, com um tiro, com uma facada, uma queda de avião ou uma doença. O ciclo da vida é uma merda, mas deve ser seguido. Você nasce pra morrer. Esse é o destino de todos. O único problema, é que muitos não o aceitam e quando a morte chega, se recusam a morrer e prolongam sua vida miserável o máximo que conseguem. 

   Não quis tratamento e ainda não o quero. Sou um caso encerrado e eu gosto disso. Nunca cogitei viver mais do que 30 anos mesmo e essa doença foi uma dádiva. Depois que eu perdi meu medo, perdi a esperança na vida. Viver é apenas viver. Pouco importa o que essa merda significa. 

    -Acho que pedi para ir embora, ou estou enganado? -O capeta voltou! Parado em frente a cama, com os cabelos encharcados pela água e em um conjunto de moletom preto. Com a mesma expressão que não nega me odiar. Se ele soubesse o quanto o amo, ficaria comovido. Ao menos nossos sentimentos são recíprocos. 

    -Está enganado. 

   Ele riu. 

  Acabo de perceber que ele se trata de um retardado ou um bipolar, e os dois casos, são péssimos. 

   Taehyung não queria me matar a praticamente alguns segundos atrás? Agora está sorrindo pra mim? 

  Delírios. Ele deve delirar. 

   Ou esquizofrenia, eu não sei muito bem sobre isso, mas pode se encaixar no perfil dele. 

  Problemas com raiva ele tem, obviamente. 

  Depressivo? Pode ser, ele se sente tão vazio que procura consolo no sexo. 

 Alcóolico eu duvido, ele não é de beber até cair, somente umas duas ou três taças de vinho. 

 Ele é masoquista. Ou sadomasoquista. Sádico? 

   -Qual seu problema? 

 O deixei confuso. isso não é bom. Eu devia ter esclarecido minha pergunta. 

  -M-meu... problema? 

Pensei numa maneira diferente de perguntar. Você tem algum problema mental pareceu a mais especifica, no entanto, porque eu estou pensando nisso afinal? 

  -Esquece, não foi nada. 

  Suspirei refletindo sobre mim mesma. Acho que quem tem problema mental sou. Mas estou ciente disso. 


Yes, TeacherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora