114. CHACOALHADAS

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Senhores Leitores, há o equivalente a três capítulos dos normais aqui.

Não acostumem, rsrs!

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– PRECISA SE DESVINCULAR de Enrique de uma vez por todas!

A frase de Anabel se tornou uma assombração na vida de Sarah. Pensava nela quando estava acordada, sonhava com ela quando dormia. Conseguia afastar aquelas palavras da cabeça apenas enquanto afundava em cálculos e matemática. Como se afundar em lógica apagasse o resto dolorido do mundo. Quando Carl veio, após dez dias, Sarah deu um jeito de pegá-lo a sós. Ele confirmou o palpite da princesa de Durina:

– Sim, é quando mergulha em assuntos técnicos, exatos e lógicos que um Lorde de Moolna consegue agir como se não tivesse sentimentos. A parte emocional fica totalmente subjugada pela racional, e então somos capazes de fazer qualquer coisa sem uma lágrima ou um estremecimento. Se a tarefa executada foi excessivamente brutal, permanecemos no não-sentir durante algum tempo, até que o choque seja atenuado. Muitos Lordes de Moolna, sobrecarregados por épocas difíceis, preferiram se manter no não-sentir durante a maior parte de suas vidas. – Ele sorriu de leve diante da surpresa de Sarah. – Você tem sangue de Moolna. Se está fazendo a pergunta, é porque percebeu em si mesma o não-sentir. Merece a resposta. Se estivesse mais próxima da Linhagem principal, receberia também avisos sobre o perigo de se deixar arrastar para uma vida sem sentimentos. Não há sofrimento ou dor, mas não há alegria, também. A supressão não é seletiva.

– Você está me avisando.

– Não, estou apenas mencionando uma das características da habilidade. Os avisos são muito mais complexos, mas não há necessidade deles. Não há Moolna suficiente em você para prendê-la ao não-sentir. É Enrique?

– Em termos. – Sarah relatou a conversa com Anabel e a frase que grudara em sua mente.

– Compreendo – disse o Lorde, com gentileza. – Nesse caso, cabe uma advertência. Quanto mais o desconforto dessa lembrança levá-la ao não-sentir, mais sua parte Moolna será exigida. Em algum tempo, vai cobrar um preço que, muito provavelmente, será a perda de velocidade nos cálculos. Considerando a forma que sua Linhagem guardou as características da nossa, não acredito em erros. Permite perguntas pessoais, Sarah?

Ela suspirou profundamente.

– Acabou de me dizer coisas sobre Moolna que não precisaria ter dito. É claro que pode, Carl. Sobre Enrique?

– Sim.

– Pergunte. É mais fácil para mim.

– Você ainda o considera seu companheiro?

A jovem ergueu as sobrancelhas.

– A pergunta costuma ser você ainda o ama.

Carl sorriu, verificando se ninguém se aproximava da cozinha. O restante do grupo continuava ocupado algumas salas adiante.

– Muito bem, então corrijo minha pergunta. Você ainda o ama e ainda o considera seu companheiro?

– O que ele faz ainda me machuca. Sabe que, no começo, Durina amaciou as coisas para mim, não é? – Ele assentiu. – Bem, não sei responder sobre sentimentos agora, Carl. E não tem nada a ver com o não-sentir da sua Linhagem. É como se o massacre tivesse sido tão grande que o coração desistiu de sentir. Eu me sinto anestesiada por dentro e, honestamente, não sei quanta dor tem debaixo da anestesia, e nem como vai ser quando ela conseguir sair. Por enquanto, estou me contentando em viver um dia depois do outro. É mais simples.

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora