41. UMA SENSAÇÃO RUIM

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QUANDO O IATE desapareceu, Anabel finalmente parou de pular.

– Como você consegue pular na areia com esses saltos, sua louca?! – Trovão não conseguia acreditar naquilo. – Vamos lá na mesa refrescar a garganta, depois de tanta gritaria! E vocês dois, isso foi tudo gincana?!

Neco e Maria Clara estavam abraçados de novo, riram, e o grupo retornou à mesa. Mais colegas se juntaram a eles na mesa VIP e a conversa se animou. Anabel silenciou aos poucos, sentindo uma inquietação estranha crescendo dentro de si.

– Ei, morenaça, o que foi? – Trovão segurou a mão da amiga. – Você está aqui, mas sua cabeça saiu pra passear faz tempo!

– Nada, não. Só uma sensação ruim. Vou dar uma volta.

– Vou com você. – Trovão levantou, fazendo sinal aos da mesa que Anabel não estava bem. Quando os dois estavam longe, Neco comentou:

– É o tipo de festa que ela e Rafa gostavam. Deve ter batido a coisa, entendem?

Entendiam, sim.

* * *

TROVÃO LOGO PERCEBEU que a garota estava mesmo angustiada. Perguntou, mas Anabel só dizia que era uma sensação muito ruim.

– Uma sensação de desgraça, Trovão.

Estavam caminhando devagar na praia, afastados da parte mais animada da festa. Trovão resolveu perguntar direto:

– Não é só falta do Rafa? Numa festa assim, acho que não tem como você não pensar nele.

– É claro que eu sinto falta de Rafa... Não só na festa, Trovão, o tempo todo. Eu gosto demais dele. Mas é tão complicado...!

Trovão era um dos melhores amigos de Rafael e concordou. Também esperava que a recuperação fosse mais rápida.

Falando de Rafael, distanciaram-se ainda mais, chegando ao estreito que ligava a baía ao mar. A festa era lá do outro lado, e era bonito vê-la à distância.

– Melhor a gente voltar, Anabel. Estamos tão perto da saída que está até ficando frio.

– Ok... Ei, olhe, tem roupas embaixo daquelas plantas.

– Deve ter muita roupa embaixo de muita moita por aí. – Trovão sorriu. – E muita gente sem roupa atrás das moitas. Deixe aí. O dono pega depois.

O rapaz suspirou quando Anabel o ignorou, indo mexer nas roupas.

– Anabel, deixe aí. Isso tem dono!

Ela puxou de repente a camisa, alarmada, e depois a calça, mais alarmada ainda. Revistou rapidamente os bolsos e, branca de susto, mostrou uma carteira a Trovão:

– Tem dono, sim! São de Rafa! Olhe! – Atirou a carteira para ele. Trovão ficou pasmo ao ver os documentos de Rafael. – Ele estava aqui. Por causa de Sarah e Enrique!

– Não pode!

– O iate! Trovão, ele está no iate!

– Como ele pode estar no iate?!

– Se misturando com a equipe de salva-vidas! – compreendeu Anabel, cada vez mais assustada. – Precisamos avisar alguém!

Pegou a carteira da mão do rapaz e desatou a correr de volta numa velocidade que Trovão, mesmo sem saltos, mal conseguia acompanhar. Se Rafa estava mesmo no iate...!

Correram mais ainda.

* * *

A CORRERIA DESESPERADA deles chamou a atenção de um segurança em particular, que foi o primeiro a interceptá-los. Sem fôlego e atropelando as palavras, Anabel tentou resumir a situação e, para sua surpresa, o segurança entendeu perfeitamente todas as frases entrecortadas.

– Vamos. A senhorita vai tentar contato com a residência deste jovem, e nós tentaremos contato com o iate.

Anabel logo estava num dos postos da segurança, ligando uma vez depois da outra para o mesmo número. A ligação tocava até cair.

– Atenda, atenda, atenda! – murmurava a moça, com fervor.

Afinal, a mãe de Rafael atendeu.

– Vê pra mim se Rafa está em casa! Agora, por favor, depressa!

A mãe dele, muito grogue, demorou a responder que não. Como o filhinho dela podia ter saído?

– Rafa não está em casa e a mãe dele está chapada! – Anabel estava mais branca ainda ao desligar o telefone. – O senhor conseguiu contato com o iate?!

– Estamos tentando, senhorita.

– Precisamos fazer alguma coisa! Alguém o viu?! Rafa bebeu alguma coisa?!

Com os documentos com fotos em mãos, os seguranças questionaram os garçons. Um deles se lembrou do rapaz muito alto e informou que ele havia bebido apenas uma cerveja.

– Ele não bate bem quando bebe e estava cheio de remédios que não podia misturar com bebida! – Anabel estava apavorada, furiosa, tremendo, tudo junto. – Conseguiram contato com o iate?!

– Ainda não, senhorita.

– Então arrumem uma lancha e vamos de uma vez atrás deles! – explodiu Anabel.

– A lancha está pronta. – Era novamente o segurança que entendia frases pela metade. – A senhorita nos acompanha?

Ninguém protestou contra a irregularidade quando Anabel e Trovão embarcaram na lancha, que partiu velozmente de um ancoradouro externo da Ilha do Céu. Anabel tremia de pura tensão e Trovão dava apoio abraçando.

Bem perto deles, o doutor Janson, travestido de segurança, ratificava a qualidade da sensibilidade de Anabel. Precisariam dela para encontrar o iate. A extrema aflição da sensitiva indicava que alguma coisa já estava acontecendo, mas Sarah não fizera contato. Devia estar com a situação sob controle.

Durina, os Reis Feiticeiros, Senhores dos Pesadelos...

Se Rafael embarcara naquele iate com ideias de mais uma retaliação contra Enrique, logo estaria com sérios problemas.

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora