QUANDO O IATE desapareceu, Anabel finalmente parou de pular.
– Como você consegue pular na areia com esses saltos, sua louca?! – Trovão não conseguia acreditar naquilo. – Vamos lá na mesa refrescar a garganta, depois de tanta gritaria! E vocês dois, isso foi tudo gincana?!
Neco e Maria Clara estavam abraçados de novo, riram, e o grupo retornou à mesa. Mais colegas se juntaram a eles na mesa VIP e a conversa se animou. Anabel silenciou aos poucos, sentindo uma inquietação estranha crescendo dentro de si.
– Ei, morenaça, o que foi? – Trovão segurou a mão da amiga. – Você está aqui, mas sua cabeça saiu pra passear faz tempo!
– Nada, não. Só uma sensação ruim. Vou dar uma volta.
– Vou com você. – Trovão levantou, fazendo sinal aos da mesa que Anabel não estava bem. Quando os dois estavam longe, Neco comentou:
– É o tipo de festa que ela e Rafa gostavam. Deve ter batido a coisa, entendem?
Entendiam, sim.
* * *
TROVÃO LOGO PERCEBEU que a garota estava mesmo angustiada. Perguntou, mas Anabel só dizia que era uma sensação muito ruim.
– Uma sensação de desgraça, Trovão.
Estavam caminhando devagar na praia, afastados da parte mais animada da festa. Trovão resolveu perguntar direto:
– Não é só falta do Rafa? Numa festa assim, acho que não tem como você não pensar nele.
– É claro que eu sinto falta de Rafa... Não só na festa, Trovão, o tempo todo. Eu gosto demais dele. Mas é tão complicado...!
Trovão era um dos melhores amigos de Rafael e concordou. Também esperava que a recuperação fosse mais rápida.
Falando de Rafael, distanciaram-se ainda mais, chegando ao estreito que ligava a baía ao mar. A festa era lá do outro lado, e era bonito vê-la à distância.
– Melhor a gente voltar, Anabel. Estamos tão perto da saída que está até ficando frio.
– Ok... Ei, olhe, tem roupas embaixo daquelas plantas.
– Deve ter muita roupa embaixo de muita moita por aí. – Trovão sorriu. – E muita gente sem roupa atrás das moitas. Deixe aí. O dono pega depois.
O rapaz suspirou quando Anabel o ignorou, indo mexer nas roupas.
– Anabel, deixe aí. Isso tem dono!
Ela puxou de repente a camisa, alarmada, e depois a calça, mais alarmada ainda. Revistou rapidamente os bolsos e, branca de susto, mostrou uma carteira a Trovão:
– Tem dono, sim! São de Rafa! Olhe! – Atirou a carteira para ele. Trovão ficou pasmo ao ver os documentos de Rafael. – Ele estava aqui. Por causa de Sarah e Enrique!
– Não pode!
– O iate! Trovão, ele está no iate!
– Como ele pode estar no iate?!
– Se misturando com a equipe de salva-vidas! – compreendeu Anabel, cada vez mais assustada. – Precisamos avisar alguém!
Pegou a carteira da mão do rapaz e desatou a correr de volta numa velocidade que Trovão, mesmo sem saltos, mal conseguia acompanhar. Se Rafa estava mesmo no iate...!
Correram mais ainda.
* * *
A CORRERIA DESESPERADA deles chamou a atenção de um segurança em particular, que foi o primeiro a interceptá-los. Sem fôlego e atropelando as palavras, Anabel tentou resumir a situação e, para sua surpresa, o segurança entendeu perfeitamente todas as frases entrecortadas.
– Vamos. A senhorita vai tentar contato com a residência deste jovem, e nós tentaremos contato com o iate.
Anabel logo estava num dos postos da segurança, ligando uma vez depois da outra para o mesmo número. A ligação tocava até cair.
– Atenda, atenda, atenda! – murmurava a moça, com fervor.
Afinal, a mãe de Rafael atendeu.
– Vê pra mim se Rafa está em casa! Agora, por favor, depressa!
A mãe dele, muito grogue, demorou a responder que não. Como o filhinho dela podia ter saído?
– Rafa não está em casa e a mãe dele está chapada! – Anabel estava mais branca ainda ao desligar o telefone. – O senhor conseguiu contato com o iate?!
– Estamos tentando, senhorita.
– Precisamos fazer alguma coisa! Alguém o viu?! Rafa bebeu alguma coisa?!
Com os documentos com fotos em mãos, os seguranças questionaram os garçons. Um deles se lembrou do rapaz muito alto e informou que ele havia bebido apenas uma cerveja.
– Ele não bate bem quando bebe e estava cheio de remédios que não podia misturar com bebida! – Anabel estava apavorada, furiosa, tremendo, tudo junto. – Conseguiram contato com o iate?!
– Ainda não, senhorita.
– Então arrumem uma lancha e vamos de uma vez atrás deles! – explodiu Anabel.
– A lancha está pronta. – Era novamente o segurança que entendia frases pela metade. – A senhorita nos acompanha?
Ninguém protestou contra a irregularidade quando Anabel e Trovão embarcaram na lancha, que partiu velozmente de um ancoradouro externo da Ilha do Céu. Anabel tremia de pura tensão e Trovão dava apoio abraçando.
Bem perto deles, o doutor Janson, travestido de segurança, ratificava a qualidade da sensibilidade de Anabel. Precisariam dela para encontrar o iate. A extrema aflição da sensitiva indicava que alguma coisa já estava acontecendo, mas Sarah não fizera contato. Devia estar com a situação sob controle.
Durina, os Reis Feiticeiros, Senhores dos Pesadelos...
Se Rafael embarcara naquele iate com ideias de mais uma retaliação contra Enrique, logo estaria com sérios problemas.
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Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...