26. EU NUNCA...!

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A QUARTA-FEIRA FOI bem parecida com a terça, desde os risos e discussões de Anabel e Enrique no laboratório até o encerramento do dia no apartamento de Enrique por intimação de Donasô, que queria conhecer Sarah melhor. De volta ao campus, Sarah viu quando Enrique deu uma rápida espiada com o canto dos olhos para a direção do caramanchão, mas não fez qualquer menção de desviar para lá. Foi direto para o prédio e, mais uma vez, despediu-se da namorada com um galante beijo nas mãos.

No outro dia, Sarah foi até o laboratório um pouco antes do horário em que Anabel costumava encontrá-la para o almoço. Era um local de acesso restrito, mas a namorada de Enrique podia passar. Ela foi até o último guarda e perguntou se o doutor Janson estava no laboratório. Diante da resposta afirmativa, pediu:

- Poderia chamá-lo, por favor? Não quero distrair Enrique.

O guarda atendeu, retornando em instantes com o psicólogo.

- Bom dia, Sarah. Algum problema?

- Queria falar com o senhor um instantinho.

Ele conduziu a jovem até outro corredor, longe dos ouvidos do guarda e do sistema de monitoramento. Afinal, no momento, aquele era o laboratório mais importante da Escola Superior.

- Podemos falar aqui. O que aconteceu?

- Em algum lugar dos costumes dessa gente, não transar é sinônimo de não beijar?

- Não que eu saiba. - O doutor Janson segurou um sorriso diante da pergunta inesperada. - Quer que eu fale com Enrique a respeito?

- Não precisa, obrigada. Só queria conferir. Vou falar com ele hoje mesmo!

O doutor Janson voltou ao laboratório segurando o riso.

Para as Linhagens, a ausência de relações sexuais não era opção, mas imposição. Isso gerava príncipes e princesas com um bocado de energia acumulada... Enrique passaria por um tremendo sufoco nas mãos da princesinha de Durina!

Anabel se surpreendeu ao encontrar a amiga esperando no corredor e foram almoçar juntas, cheias de assuntos. Anabel estava cada vez mais empolgada com o trabalho no laboratório, e a interferência de Enrique a dispensara das disciplinas nas quais tinha conceito para aprovação. O único senão em sua felicidade era Rafael.

No campus, o assunto Rafael-Enrique-campina tinha mudado de Rafael tentou matar Enrique para Rafael fica mesmo doido quando bebe. Rafael continuava afastado do campus, as notícias eram trazidas pelos amigos: respondendo inquérito, fazendo tratamento, usando medicação. Ele não estava bem, e também não estava mal. Somente estava. O semestre estava perdido, a mãe continuava com ele e o pai voltara a suas ocupações. Ele só concordava em ver seus amigos motociclistas e, mesmo esses, só às vezes. Anabel não fora convidada a vê-lo e não tinha perguntado se devia ir. Os amigos sabiam que ela estava preocupada e aflita, e a informavam de tudo.

- Calma, Anabel. - Sarah apertou forte a mão da amiga. - Deve ter sido um choque e tanto pra ele. Afinal, como você disse, ele não é má pessoa. Deve ter achado difícil aceitar que quase matou alguém porque bebeu. Dê o tempo que ele precisar. E que bom que você tem seus amigos pra trazer notícias!

Outro motivo de Rafael ter sido relegado a segundo plano era, claro, o final do semestre. As preocupações se concentravam em provas, trabalhos, notas e, claro, a festa de final de semestre. Era dia vinte de maio; o semestre terminava dia onze de junho, uma sexta-feira. A festa de encerramento seria no sábado, dia doze de junho, uma data muito especial no campus.

- Dia dos Namorados? - admirou-se Sarah. - Nunca ouvi falar.

- É uma data aqui da cidade que a Escola Superior adotou desde a fundação. É o dia de quem já está namorando trocar presentes, dia de quem brigou fazer as pazes, de recalcitrantes tomarem coragem. Sempre tem muito bilhetinho e presente anônimo correndo pela Escola, é divertido demais! Sempre, no Dia dos Namorados, tem uma festa temática cheia de corações, flores, brilhos e coisa e tal. Sabe aquela coisa brega e fofa que faz todo mundo reclamar que é brega, mas não troca por nada? Dessas! Nesse ano, a festa de final de semestre e a do Dia dos Namorados vão ser uma só!

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora