Olho do Feiticeiro

142 - INVESTIGANDO AINDA

DARAH RETORNOU a Durina. Seu companheiro deveria permanecer na superfície mais alguns dias; a ausência de Anabel continuava a inquietar seus representantes legais. Alek a aguardava com um relatório muito completo e algum nervosismo, pois era a primeira vez que havia se tornado realmente responsável pelo Palácio. Tinham sido dias de pura rotina, mas, mesmo nesses, decisões precisavam ser tomadas. O preposto tinha feito seu melhor, e respirou com alívio quando a Rainha elogiou seu desempenho. Darah sorriu de leve.

– Decidir é diferente de assessorar decisões alheias, não?

– Bastante, senhora. E o contato com Durina se mostrou muito... perturbador.

– Você conheceu o contato realmente a nível de Linhagem, dessa vez. Sente-se pronto para ser investido novamente nessa responsabilidade?

– Sempre que a Linhagem necessitar – assegurou ele. – Embora, sinceramente, prefira a verdadeira Linhagem presente.

Darah encarou sem pressa o jovem à sua frente, sentado do outro lado da mesa. As decisões dele, embora simples, haviam sido corretas. Mais importante que isso, a postura fora impecável. Alek se portara com a segurança e a autoridade que a Linhagem devia ter.

– Senhora, algum problema?

– Desculpe. Me perdi em devaneios, os dias na superfície foram exaustivos. Quanto à verdadeira Linhagem, gostaria que começasse a pensar em si mesmo como parte dela, Alek. Não é o companheiro de minha filha, mas creio que será o Rei que governará ao lado dela. – Ele se manteve calado, sem qualquer euforia diante da possibilidade. – É mais do que uma mera possibilidade. Tenho certeza de que já entendeu isso.

– Sim, senhora. – Alek a encarou com firmeza, uma firmeza que Darah jamais vira em Enrique. – Eu entendi. Não me agrada, porque o Rei de Durina é outro, mas, quando a hora chegar, cumprirei o dever que assumi ao aceitar a posição de preposto. Devo então considerar não uma possibilidade, mas quase um fato.

– Sim.

– E me considerar verdadeiramente parte da Linhagem.

– Sim.

– Neste caso, gostaria de externar minha preocupação com a continuidade da Linhagem.

– Você sabe sobre a bolha de ilusão que Sarah está estruturando.

– Sim, senhora. Sarah me explicou o que pretende fazer. O que me inquieta é não existir prazo determinado para a ilusão. Se for adiada demais e falhar, talvez não haja tempo para uma nova... tentativa. – A expressão do preposto se tornou pesada. – E não me refiro a uma nova bolha de ilusão. Eu não... compreendo... como esse superficiano ainda está vivo. Perdoe-me se estou indo longe demais, senhora, mas me parece a única solução... definitiva. Sem o atual companheiro, Sarah poderia encontrar outro. Se tivesse tempo. As Linhagens têm vida longa, mas os filhos não são gerados após determinado prazo. Não conheço as características de Durina neste particular.

– São assuntos de Linhagem abertos a você, Alek. Sinta-se livre para verificar. Adiantando a resposta mais relevante, Durina pode ter filhos até os quarenta anos. Sarah tem tempo.

– Senhora, com sua permissão. Nunca falei com Sarah sobre sua vida pessoal ou amorosa, mas, apesar da revolta e da raiva, é nítido que ela ainda tem muita estima pelo superficiano. Retirá-lo da vida dela, esperar que ela se recupere, a escolha de um novo companheiro e a geração de um herdeiro pode se tornar um processo consideravelmente longo.

Darah deu-se alguns minutos, durante os quais Alek esperou, calado. Na verdade, não havia muito o que pensar. Tinha admitido o jovem como parte da Linhagem principal, o que dava a ele o direito às respostas correspondentes. Além disso, ele havia mais uma vez ratificado sua adequação ao cargo: ao invés de pensar no poder que teria como Rei, preocupava-se com a continuidade da Linhagem. E, aparentemente, estava disposto a tomar as providências em suas mãos. Como preposto, não podia se voltar contra seu representado – exceto se a segurança da Linhagem estivesse envolvida, o que era o caso.