Capítulo 18: O pingente

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Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele.

(Victor Hugo)


Oito meses mais tarde

Cidade de Sanaã – Iemen

Os sons de luta se misturavam às respirações rareadas e aos palavrões grunhidos cada vez que o corpo de um dos soldados chegava ao chão. A transpiração cobria seus corpos e umedecia suas roupas, porém não os impedia de levantar e recomeçar.

No cômodo improvisado como sala de treinamento, golpes de ataque e defesa se alternavam até que novamente um deles era derrubado e outro soldado tomava seu lugar, determinado a derrubar o intruso que não demonstrava satisfação alguma em derrotá–los

Uma silenciosa tensão dominava o ambiente, perigosa, cortante, quase palpável.

"O ócio era uma merda" — Kiron praguejou quando seu corpo atingiu pesadamente o chão.

Ele puxou uma longa respiração e sentiu como se lâminas afiadas perpassassem seus pulmões.

"Porra!" — xingou em silêncio ao mirar o teto.

Os olhos se concentraram no velho ventilador. As pás se moviam em dolorosa agonia. As engrenagens provocavam ruídos semelhantes a gemidos repletos de dor e lamentação.

"Como os de sua própria alma!" — refletiu e, inadvertidamente, a imagem de Isadora invadiu sua mente.

Uma mão estendida apareceu em seu campo de visão, resgatando–o para a realidade da vida que ele escolhera. Kiron aceitou a silenciosa oferta, do homem que apoiava sua equipe naquela missão, e se levantou.

— Faça o seu melhor, soldado — exigiu o "intruso" parado à sua frente.

As extremidades dos lábios do grego se ergueram levemente em flagrante ironia.

— Já que insiste — respondeu e se colocou em posição de ataque.

Hayden, Érico e Helena observavam a luta em um concentrado silêncio.

A violência dos golpes da arte marcial, conhecida como Krav Maga, não os intimidava. A técnica israelita de combate corporal fazia parte do treinamento básico de cada um deles. A preparação de soldados de elite era tão excruciante e cruel quanto a realidade de horror, morte e destruição que eles enfrentavam em uma zona de guerra.

Os três soldados sorriram ao constatar que o grego e o "intruso" lutavam em igualdade de força e técnica.

— Esse melhor está bom para você? — Kiron grunhiu ao imobilizar seu oponente.

Com três movimentos, o outro homem virou o jogo e o imobilizou.

— Você pode fazer melhor que isso — Caetano devolveu a provocação um instante antes de o grego reagir.

— Acho que você já não é tom bom assim — o grego provocou novamente.

Dois movimentos depois, quase sem ar, com o peito e a cabeça latejando, imobilizado contra o piso, Kiron encarava o segundo no comando do esquadrão.

— Ou talvez eu apenas estivesse tomando um ar? — Caetano perguntou em um tom de ironia ao homem imobilizado.

"Merda! O cara era bom!" — Kiron reconheceu. — "É claro que jamais diria essas palavras em voz alta!" — pensou ao ficar de pé.

EM HIATO - Prefácio de um amor - Série Santuário 3.5Onde as histórias ganham vida. Descobre agora