6. Não tenha um "bom coração"

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Domingo, 10:40, casa do Sr. Turner.

A vida tem um sério problema comigo. Ela tem um um enorme prazer em me traumatizar.

Meu nome é Cameron Turner Libertini e aos 11 anos flagrei a secretária do meu pai com a boca em lugares que prefiro não citar. Todos ainda se perguntam o que meus pais estavam pensando quando se casaram. Bem, minha mãe é "moderna". Meu pai viciado em negócios e mulheres mais velhas. Ela tinha 16 e ele 20 quando se casaram - já aqui começou a dar errado. Um ano depois, Edward nasceu. Até aí tudo bem. Fomos uma família feliz. Só que não. Eles não concordavam em nada. No meu aniversário de 2 anos eles se divorciaram.

- Cara, aquele peixe nunca se mexe. - Resmunga Edward, encarando o grande aquário.

- Ele nem tem nome! - Completo.

Continuamos encarando o tal peixe como dois retardados.

É assim que passamos os domingos na casa do nosso pai. Ele em sua poltrona lendo um jornal, vez ou outra levanta os olhos nos encarando. Nós encaramos o peixe, largados no sofá.

Estalo a língua no céu da boca.

- Cameron. - Robert chama.

Olho para ele fazendo um barulho estranho como incentivo.

- Está namorando, huh?

Ele me olha divertido. Faço careta.

- Ele ainda é BV, pai. Nem pra namorar serve.

Reviro os olhos levantando o dedo médio para os dois. Até que demorou.
O passatempo deles é tirar onda com a minha cara.

- Você deveria colocar um nome nesse peixe. - Digo, mudando de assunto.

- Vai ser Cameron. Assim arrumo uma fêmea para ele e quem sabe isso não sirva de incentivo.

- mais para magia negra.

Pego meu celular e entro no meu Instagram. Logo de cara vejo quem eu quero evitar. Rolo para cima rapidamente. De coisas confusas já basta minha família.

Segunda-feira, 07:07, Colégio Columbia.

Enquanto vago pelo corredor já vazio do Colégio Columbia reflito sobre como minha cabeça está fodida. Fodidamente confusa.

De um lado a chance da Our Madness estourar e alcançarmos nosso objetivo. Do outro, meus sentimentos.

No extremo oposto, Heather caminha de cabeça baixa, apertando os livros contra o peito. Ela tem andado assim há alguns dias. Não que eu tenha reparado, nada disso. Apenas... bem... Não há explicação para tudo, aceitem.

Quando me dou conta estou parado feito um idiota.

- Cameron?

Balanço a cabeça e encaro os olhos cor de avelã.

- O... oo... Oi! - Me sinto um retardado.
Seus olhos antes nebulosos, agora são divertidos.

- Quando se está atrasado não ficamos parados no corredor, sabe disso, certo? - Ela fala como se eu tivesse 5 anos.

- Claro que sei! - Exclamo um pouco auto demais. Pigarreio para disfarçar o tom agudo.

Suas sobrancelhas franzem, mas seu olhar ainda é divertido.

- Posso te acompanhar? É um pouco vergonhoso chegar atrasada, sabe... - murmura. Suas bochechas adquirem um tom mais avermelhado. Apenas balanço a cabeça em afirmativa, seguindo para a esquerda.

- Ahn... Cameron? - Ela chama. Giro de volta. - Bem... É para lá. - Aponta para a direita.

- Ah, claro. Direita. - Coço a nuca.

Heather leva as mãos aos lábios, disfarçando uma risada. Levo as mãos ao peito com minha melhor cara de ofendido.

- Não acredito! Não se deve rir da inocência de alguém, mocinha.

No segundo seguinte me vejo sendo arrastado pelo casaco.

Quarta-feira, 12:50, Libertini e suas vagabundagens.

Faz frio em Beira Rio. O que é muito injusto, olhe bem: temos que aguentar um frio do caralho e nem resquício de neve. Muito água com açúcar.

Ana Júlia esfrega as mãos a cada 10 segundos e isso só aumenta minha irritação.

- Pare com isso. - Peço, colocando minha mão sobre a sua.

No momento não estou com paciência alguma para o projeto de química em minha frente. Tipo, zero.

- legal, desembucha.

- Por que eu teria que dizer algo? - Murmuro, pingando o que eu acho ser água no tubo de ensaio.

- Sabe, normalmente você é bem estranho. Mas, nesse exato momento, é estranho demais até para você.

Respiro fundo e coço a nuca.

- Obrigado pela parte que me toca.

- Te vi com a Hea hoje. Quando ficaram tão íntimos?

Engulo em seco. "Íntimos". Não mesmo.

- Não somos íntimos. - Sei que estou na defensiva, mas quem se importa?

- Sei o que quer saber. - Suspira e vejo um lampejo de tristeza em seu olhar - A instituição está passando por problemas financeiros. Estamos fazendo nosso possível para manter, mas os recursos estão acabando. Isso está acabando com ela.

Ouço tudo atentamente e tenho uma ideia genial.

Ou nem tanto assim.

- Você o quê? - Seus olhos estão arregalados e sua boca forma um perfeito "O".

- Não acredita no nosso potencial? - Joey arqueia as sobrancelhas e sorri de lado. Reviro os olhos internamente.

- É só que...

Por um momento penso estar sonhando. Meu cérebro pode ter desligado ou algo assim, afinal já aconteceu antes. Pisco várias vezes.

- Obrigada, obrigada!

Ouço sua voz e seu hálito quente em meu ouvido.

Heather Cooper está me abraçando. Ela tem cheiro de pêssego.

Odeio pêssego.

- É... hum... Okay...? - Sorrio.

Antes que eu possa retribuir o gesto, ela salta para os braços de Joey. Literalmente, até saiu do chão.

Ela diz algo que o faz rir. Cruzo os braços e paro de sorrir. Joey afunda o rosto em seu pescoço. Desvio o olhar, desconfortável.

- Sabe como é... Cameron tem um coração muito bom. - noto seu característico sarcasmo. - Será um prazer para a Our Madness participar.

Depois da notícia e falar educadamente com os meninos da banda encontramos uma solução: promover um evento beneficiente. Como temos um público consideravelmente bom, não será problema algum.

Sinto meu estômago formigar e queimar.

Droga.

Que merda está acontecendo comigo?

+++
Até a próxima!

+++Até a próxima!

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Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora