Capítulo Vinte e Sete - Parte I

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Apesar do incômodo, os olhos castanhos-avermelhados não evitavam observar os raios do sol se erguerem no imenso gris do céu. A princesa se manteve ali, no alpendre, todo o resto da noite, esperando aquele momento chegar, e a pior parte era que não importava o quanto doesse, aquele momento chegaria e a reencarnação estaria completa. Para sempre.


– Talvez você não acredite em minhas palavras. Mas eu sinto muito – Mia ouviu a voz de Emily soar no fundo, ela fechou a porta da cozinha e se aproximou devagar. Ela finalmente parou de encarar o céu, poupando os olhos de tanta luminosidade.

– Eu sei que você sente – murmurou sendo sincera. – Você apenas fez sua missão. Protegê-la. E se que se pudesse, o salvaria também... por isso que ainda estava lendo todos aqueles livros e criando hipóteses antes de eu sair.

– Perdoe-me por não ter conseguido nada. – Emily sentando-se ao seu lado.

Mia encheu os pulmões e tentou prosseguir a fala, contudo cada palavra parecia necessitar de muito esforço para não sair com uma lágrima junto.

– Não se desculpe, Winston, porque no final, eu também não consegui – respondeu com um nó na garganta. – O que mais machuca é que eu já passei por tantas vezes por essa sensação de perdê-lo que essa dor simplesmente não parece ser real.

Ela tornou a olhar o céu.

– Então eu não lhe culpo Emily, nem você, nem Lucky, porque de alguma maneira, de alguma forma bem estranha, eu ainda tenho esperança.

Emily segurou sua mão, mas não falou nada. Mia sabia o que a incomodava.

– Vocês não precisam ficar aflitos. Eu já me descabelei e esperneei o suficiente durante uma noite, não jogarei tudo para o alto agora. Joseph me disse muitas coisas ontem à noite, há muitos pontos que não se encaixam nessa história e eu tenho certeza de que algum será a resposta para trazer Thor de volta.

– O que Joseph falou enquanto estiveram a sós?

– Ele me contou o modo repentino que se apaixonou pela sacerdotisa e como abandonou tudo por ela. Ceres me mostra memórias que a convém. Ela me permitiu ver o momento em que ela mata Joseph, mas não o porquê. Isso me faz refletir que se ela assassinou a pessoa que largou tudo por ela, por benefício próprio, me pergunto que tipo de monstro há dentro de mim? Eu estive cega ontem à noite, sei disso. Estive prestes a libertá-la por amor. Não sei agora se isso soa romântico ou patético. Mas, tal loucura me levou a uma coisa, há uma pista.

– Uma pista?

Mia reparou como a pele da bruxa levava um tom de melânio que parecia brilhar no alvorecer.

– O que você sabe sobre os criadores da joia?

– A única coisa desconhecimento é que a joia foi criada depois do oceano, na Cordilheira de Risiko, em Verdon. Mas não há criadores, há?

– Eu não sei. Joseph crê que Ceres armou tudo, fez ele acreditar que ela o amava para que ele abandonasse os Venatores, fazendo com que eles desistissem da joia. Mas, há algo que não se encaixa, se isso foi mesmo verdade, quem enterrou os dois na mesma cripta? Madark? Se ele foi traído, por que deixaria os corpos juntos? E onde ele morreu?

Todas aquelas perguntas lhe atordoavam.

– O detalhe que falha acima de todos é que, segundo Joseph, a cripta já existia quando ele chegou no vilarejo. Ele me disse que em histórias locais, ela foi destinada para três coisas muito poderosas, mas ninguém sabe dizer o quê, e por algum motivo, eles nunca foram enterrados ali. Naquela época, o mundo estava parado por uma joia e sua guardiã, o que poderia ser mais forte que isso?

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora