Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]

Capítulo Seis - Parte II

Quando estava ansiosa, o tempo passava ainda mais devagar no castelo. Afinal, para Mia, nada era interessante dentro dos muros, nem festas cheias de regalias, nem conversas vazias, nem as aulas de princesa. De nada podia esperar de seus dias além da noite, entretanto, aquela noite era especial, ela sairia novamente do castelo.

A ansiedade estava a sufocando por isso.

Decidiu então seguir para a biblioteca do castelo, era o que normalmente fazia nas suas poucas horas livre. Na primeira hora resolveu estudar as plantas do castelo, ficara intrigada com aquela passagem secreta no escritório de seu pai. Depois de consultar plantas e livros de datas diferentes, descobriu que existira um rei chamado Eckard Alksen que tinha como prazer torturar seus prisioneiros. Para facilitar sua diversão, ordenou a criação duma passagem secreta que não estava nas plantas originais do castelo.

Em seguida começou a ler sobre as intrigas entre as famílias Alksen e Norwood pelo trono. Com o fim da era de Tempus, a origem da Reynes, a família Norwood estabeleceu suas raízes no Norte e construiu sua fortaleza no "céu". Na quinta geração de Skyblower, a família criadora foi colocada de lado por uma política religiosa de mannenur, que aceitava unicamente homens no poder, foram obrigados a unificar casas para manterem uma certa legitimidade com a coroa. Edwin Alksen casou-se com Mariele Norwood e o nome da realeza passou a ser Alksen durante séculos. E a história tornou a se repetir duas gerações antes de Mia, seu avô, Heinz Norwood casou-se com Martha Alksen, e a família Norwood retomou seu poder.

A guerra que viria acontecer anos mais tarde, e seria uma segunda razão para Skyblower mudar em certos aspectos suas políticas. A família Norwood claramente quis proteger seus direitos e sua legitimidade na coroa.

Ao ler o nome de seu pai na lista de reis de Skyblower, Mia lembrou-se subitamente da conversa que tiveram na noite anterior a sua partida. A lenda que ele a contara tinha desaparecido de sua mente tal como um vento rápido no verão.

Após procurar e procurar pela biblioteca, notou vergonhosamente que ela nem mesmos sabia o nome da história. Pediu ao mal-humorado e calvo bibliotecário ajuda, após explicar a história ele ficou impressionado por ela não conhecer seu nome.

– Neosalucismo tem como base esta lenda e Vossa Alteza não sabe seu nome? – Ele a repreendeu.

Mia não se lembrava nem de ter lido uma única vez ou de ter estudado aquela lenda com seus professores, talvez estivesse demasiadamente entediada para ignorar qualquer detalhe sobre o assunto. Entretanto, parecia-lhe ter todo o sentindo aquela lenda ser da religião do Neosalucismo, afinal a aceitação de mulheres no poder não era algo praticado em todo o continente.

Ao Norte e ao leste a crença era a mesma, tal como a política, diferente do outro lado do continente. O bibliotecário partiu e voltou com o livro empoeirado nas mãos ossudas, entregando-lhe aquele artefato, impressionada com a textura e os detalhes da capa dura, Mia apressou-se para sentar e ler.

Ele cheirava a puro pó e não era um livro pesado, parecia um pequeno diário secreto. A capa escura era feita de couro sintético de pau rosa, onde milimetricamente no centro se concentrava uma pedra oval num intenso e esplêndido azul marinho. Para abri-lo era necessário retirar as duas faixas que envolvia o exemplar dando a impressão de estarem violando um diário secreto. Ao retirar as duas faixas que o envolvia uma folha velha apresentava o livro escrito numa velha tinta:

A lenda de Ceres.

Ali contava tudo que seu pai falou, com mais detalhes demasiados vivos. A irmã mais nova, nesta história tinha um nome, Ceres. Todas as vezes que escutava aquela história, era de alguma maneira Mia absorvesse todos os sentimentos dela, a dor, a alegria e sobretudo sentiu o ódio e a tentação de usar a pedra para salvar a única pessoa que lhe restava, a irmã. Ler aquilo era assustador, como se ela estivesse vivendo tudo.