Capítulo Cinco

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Mia deslizava vagamente pelo granito cinzento do chão, os corredores vazios tinham um ar sombrio na madrugada do castelo... O quanto paranóico soava aquilo Mia não sabia, mas seus pensamentos não a deixavam caminhar para um sonho quando sabia que havia algo sendo escondido dela. Sua mente não conseguia guardar tantas perguntas sem respostas. A ansiedade a corroía por dentro e o que restava era a insônia.


Nas últimas luas, ela reencontrou seu velho amigo de infância, voltou a saber quem Thor era, passou horas e horas de longos dias ao seu lado. Sentiu-se ingênua o suficiente para acreditar que em poucas luas, Mia tinha recuperado uma amizade afastada e danificada pelo tempo, e depois daquele dia, percebeu que ele não estava apenas do seu lado como acreditava, Thor estava com eles também.

O que pareceu uma caminhada sem rumo, tornou-se bem planejada tinha como meta de chegar até a biblioteca do castelo que obviamente estaria fechada e voltar para seu quarto. Precisou sair daquele ambiente nem que fosse por alguns minutos. Em passos silenciosos, um sussurro chamou sua atenção, ele vinha do corredor na sua direita e ela sabia que aquele corredor levava ao escritório do rei, o que poderia ser uma hora dessas?

Mesmo com certo receio, viu-se aproximando do escritório por aquele corredor, ali deparou-se com uma fresta de luz vindo da porta entreaberta, paralisou, aquela cena era familiar para ela. Na noite em que fugiu, lembrou-se de ter vivido uma cena igual a aquela, fora naquele escritório onde discutiu com seus pais horas antes da sua fuga.

Abeirou a cabeça perto da porta e notou a presença de alguém ali. Com desconfiança se aproximou e pela fenda fitou a grande poltrona do rei, ela não estava onde costumava ficar, atrás de sua mesa, ela estava em frente da lareira. A lareira estava acesa e além do fogo não havia mais nenhum ponto de luz. Mia já estava encostada na porta quando percebeu, seu pai sentado ali, na sua grande poltrona velha, sozinho. Em sua volta reparou que haviam garrafas de vinho e um grande cálice meio cheio. Ela não havia trocando muitas palavras com ele desde seu retorno, e aquele momento não lhe pareceu uma boa hora para mudar isso, decerto ele deveria estar sob o efeito da uva. Cautelosa, virou-se e começou a recuar.

– Amélia? – O rei disse. O coração dela lançou uma batida forte contra seu peito pelo susto. – É você que está aí, Mia?

Parece que não sou cautelosa, ela concluiu.

– Sim, sou eu, mas, já estava de saída. Boa noite.

– Mia, por favor, fique... – engoliu seco, suas palavras demonstravam o desejo da sua presença ali. Ela não recusou o pedido quando ele pediu por favor.

Ao entrar naquele ambiente, logo seu olfato foi invadido pelo cheiro da uva. O calor da lareira invadiu seu corpo, a luz mais forte da chama parecia hipnotizá-la. Mia aproximou-se dele, mas em momento algum ele se moveu ou olhou para seu rosto. Se perguntou como deduziu ser ela observando, mas concluiu que ele era o rei, de fato, qualquer um que chegasse ali o cortejaria, menos a filha. A cena era sombria, ela não via seu rosto e por segundos era como se encontrasse num pesadelo, o castelo escuro, a madrugada, a solidão...

Mia encostou sua mão na poltrona e ele fez um gesto com a mão referindo-se que ela sentasse no chão. Mia ajeitou a camisola no corpo e se aconchegou no bordado do grande tapete, como uma pequena criança. Encarou as cores intensas das chamas, um clarão passou-se na sua mente, o dia que estava na floresta encarando o fogo quando aquele homem que se julgou um mercenário perigoso apareceu. O completo silêncio permitia ouvir o barulho reconfortante da madeira sendo carbonizada. Por que ele a chamara ali se não falaria nada, ela se pergunto? Devia falar algo? E o que diria? Não perderia seu tempo tentando saber o real motivo da viagem para Wanderwell, se ela se achava teimosa, seu pai poderia ser duas ou três vezes mais.

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora