Capítulo Quatorze

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As cerdas da escova se encaixavam na sua raiz, elas desciam de uma forma agradável no comprimento de seus fios ainda úmidos. Pelo reflexo, a pequena Mia admirava o modo que sua mãe mantinha o olhar fixo nos fios, penteando-os com muita delicadeza e total atenção. Não podia deixar de reparar na sua concentração e as leves caretas que a mãe fazia a cada escovada. Era impossível não a contemplar. O olhar da rainha encontrou o seu no reflexo do espelho, os lábios rosados formaram um leve sorriso.


– Você está me encarando há um bom tempo – falou com sua voz, naturalmente doce.

– Gosto de observá-la enquanto penteia cabelo. Você fica muito concentrada.

– Eu gosto de penteá-los – por fim, ela prendeu duas mechas com uma presilha no topo de sua nuca, deixando os cachos mais ressaltados. – Está quase pronta, minha querida.

Mia deu um meio sorriso e saltou da cadeira. Sua mãe deslizou até sua cama e abriu delicadamente a caixa de primeiros socorros que havia trazido consigo e retirou um fino pedaço de gaze, sua mãe pediu a filha para estender o braço, ela não precisava indicar qual, Mia estendia automaticamente o braço que havia sua marca de nascença.

– Eu não entendo porque tenho que usar isso – reclamou, talvez sendo desrespeitosa. – Vocês adultos acreditam que somente porque somos crianças, não percebemos as coisas.

Ela soltou um risinho enrolando o pequeno pano no seu pulso. Respondeu num modo doce enquanto fazia aquilo com cuidado.

– Você é uma criança especial, Mia. – Rainha Adelaide olhou nos seus olhos, Mia acreditava que o brilho de sua mãe tinha um brilho único. – E por você ser especial, queremos manter isso em segredo – ela abriu um sorriso harmônico.

– Se eu sou especial, por que não posso fazer o que quero e somente o que os outros exigem? – Mia roubou um riso abafado dela.

– Porque, às vezes, independentemente de quem somos, devemos cumprir obrigações. – Ela arrumou uma mecha rebelde atrás da orelha.

– Então não há vantagem em ser especial – concluiu num resmungo. – Você poderia me dar um curativo desses? Thor se machucou esta manhã enquanto brincávamos no jardim, eu avisei para ele não fazer o que fez, porém ele não quis me ouvir e se machucou – ela abriu novamente a caixa e retirou um curativo. – Apesar de ele não merecer, lhe entregarei.

Ela sorriu.

– É incrível a beleza que você tem aqui dentro – ela pousou a mão sobre o peito de sua filha. – É isso que a torna especial, minha querida Mia.

A voz da rainha fazia eco no subconsciente de Mia, a claridade batia em seu rosto, chamando-a para despertar. Mia tentou tampá-lo com a mão, queria dormir mais um pouco, sentia-se cansada demais para acordar agora, até que num pulo sua cabeça bateu em algo e lhe fez acordar de vez. Ela abriu os olhos que se sentiam muito incomodados pela luz matinal, semicerrando-os, avistou um bulevar. As árvores na borda pareciam se mover até a princesa notar que era ela quem estava em movimento. Se levantou assustada, e percebeu que estava numa carroça, e quase caiu com um solavanco.

– Bom dia!

Mia olhou para trás e seus olhos encontram a imagem de Lucky Berbatov, que deixava um sorriso torto enfeitar seu rosto e com um fio de feno sendo preso entre os dentes. Mia piscou duas vezes seguidas tentando assimilar as cenas, o que aconteceu? A carroça teve outro solavanco e quando quase caiu do veiculo, ela voltou a realidade. Não estava no castelo. Ainda boquiaberta notou o outro homem ao lado de Lucky. A distância deles era preenchida por dois quadrados de feno.

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora