Capítulo Vinte e Dois

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Mia fez esforços para abrir as pesadas pálpebras, que imploravam por algumas horas a mais de descanso. Deveriam já estar satisfeitas após enfim uma primeira noite inteira de sono, afinal a princesa adormecera como uma rocha, pesada e imóvel, mas elas não estavam. Pelo contrário, elas pareciam estar coladas e não obedeciam sua vontade. Então, levantar-se da cama foi uma tortura. Foi livrada de um pesadelo, mas não de um sonho: a árvore onde Ceres fora assassinada, abandonada num campo de flores, com um ar manso e solitário. Ela olhou a luz matutina que entrava pela humilde janela e perguntou-se se aqueles sonhos significariam alguma coisa.

De qualquer maneira, estava na hora de agir.

Arrastou-se até a ponta do colchão de palha e inspirou fundo, enquanto esfregava os olhos. Logo a coragem para levantar surgiu, arrancou a camisola e coloco as calças de couro, a camiseta já encardida e o deu um laço no corselete. Percebeu o quanto as solas das botas estavam gastas, precisaria de botas novas com urgência se quisesse que seus pés durassem todo o resto daquela viagem. Os cabelos não tinham salvação, dormira com eles molhados na noite antecedente e por isso os fios rebeldes estavam desgrenhados e nem mesmo uma trança poderia salvá-los, contentou-se de deixá-los meio presos. Por fim, arrumou tudo na mochila e apanhou o arco, junto da aljava.

Saiu do quarto, direcionando-se ao fundo do corredor inteiramente feito de madeira de seu assoalho até seu teto com diversas portas distribuídas ao longo do corredor onde existiam quartos como o dela. A persistente simetria e a uniformidade do ambiente não lhe agradavam, o que era curiosamente irônico, sabendo que os corredores dos castelos eram somente mais amplos. Seguiu por toda a extensão, pois havia escolhido o último quarto do corredor, até o único arco que levaria diretamente para a cozinha.

Deparou-se com Emily e Soraya sentadas a mesa, tomando a primeira refeição da manhã, calmas e faladoras.

– Bom dia, princesa – Emily disse.

– Bom dia – respondeu, ainda parada.

A suave luz que entrava pela porta dos fundos foi decepada por segundos quando Berbatov surgiu, de fora para dentro.

– Bom dia – ele desejou, sem realmente demonstrar um ar bom.

– Sirva-se, criança.

– Não quero incomodá-la, Soraya. Afinal já estamos de partida...

– Partir para onde, Mia? – Emily quis saber.

– Partir para procurar Sabrina, Thor e Drazhan que não deu as caras ontem!

– Esperar é realmente uma palavra que você ignora, não é mesmo? – ele perguntou, no seu tom natural. – Não devemos ser precipitados, princesinha. Não temos indicação alguma de onde Thor se encontra, nem sua feiticeira do mal. O que nos resta é esperar eles procurarem por nós e isso não demorará.

Ela fez careta.

– Ontem prometeu-me que ajudaria – replicou, cruzando os braços. – E essa é sua primeira sugestão? Sentar e esperar?

– Bom, ao menos que essas bruxinhas façam jus ao nome e tenham uma bola de cristal – ele se aproximou –, seremos obrigados a esperar. E até onde eu sei, você não tem nada de Thor que possa fazer um feitiço localizador. – Ele disse no seu habitual desinteresse enquanto pegava uma maçã na fruteira.

– Eu tentei fazer esse feitiço no castelo, e não teve resultado. Sabrina deve estar bloqueando a magia de Thor – Emily respondeu. – E infelizmente, a nossa única bruxa conhecida capaz de usar uma bola de cristal não está mais entre nós.

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora