Capítulo Treze

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Lembrava-se de uma noite que tivera um hediondo pesadelo. Tão atroz que qualquer outro tivera em toda sua vida. Mia acordou na madrugada aos gritos e aos soluços, em completo desespero, e lembrava-se perfeitamente que a primeira imagem que viu em seu quarto de sua ama, Rosa, sendo iluminada por sua candeia de óleo em meio ao breu. Ela correu até ela e lhe acolheu de forma maternal nos calorosos braços, pediu-lhe para se acalmar mesmo sem saber qual teria sido o pesadelo que tanto lhe aterrorizou naquela noite, levou algumas horas para Mia se conter. Mesmo depois da ida de sua ama, Mia olhava o escuro sem conseguir mais caminhar para um sonho. Naquele pesadelo, ela tinha perdido sua consciência, sua sanidade e sua humanidade, assassinara a sangue frio toda sua família. Somente quando ela já tinha o sangue de todos em suas mãos, recuperou sua consciência e percebeu seus atos, mas todos já estavam mortos. Aquela mera invenção de sua mente havia lhe deixado inteiramente desnorteada. Sentiu-se fora de si. Se ela não desejava aquilo, por que sonhara com? Mia se perguntou se realmente se conhecia.


E a resposta era não.

– O quê? – Sua voz ecoou tremula no escritório.

Um trovão soou.

De algum modo agora tudo pareceu silencioso, porém essa sensação não era para o escritório, era dela mesma. Era capaz de ouvir seus batimentos aumentarem a cada segundo causando ecos vazios dentro de si, em contraste com o barulho da tempestade que desabava lá fora. Seus ouvidos juravam ter escutado o rei afirmar algo insano e então o tempo parou, levando Mia para seus lados mais sombrios.

E o que lhe trouxera de volta e deixou-lhe ainda mais desesperada foi o soluço angustiado e desesperado foi sua mãe, que se curvou para cobrir os olhos marejados.

Aquilo confirmava, Mia havia ouvido perfeitamente cada palavra.

– Do que você está falando?

Ela sentiu uma vertigem.

– Amélia, por favor, sente-se – ele apontou a mão para a cadeira ao lado de sua mãe, em frente a mesa.

– Não – respondeu ríspida, e com falta de ar. – Estou bem aqui.

– Precisamos lhe explicar muitas coisas, Amélia – avisou, mais cauteloso.

– Então comece porque eu já não estou entendendo mais nada! Que tipo de brincadeira é essa? – Ele meneou a cabeça em negativa como se não soubesse como começar. – Isso não é possível! Ceres é uma lenda! Ao menos se ela fosse verdadeira a história diz que a profecia não se concluiu! Ela não teria voltado se a profecia não estivesse concluída... – ela afirmou. A rainha abaixou a cabeça desabando num choro e Mia começou a sentir um desespero interno. Procurou por cima do ombro o olhar de Elliot, esperando encontrar alguma possibilidade de que aquilo não fosse real.

– Vocês queriam me colocar no trono, a qualquer custa! – Mia começou a falar mais rápido. – Eu apenas poderia ir ao trono se eu fosse filha legitima de vocês! Isso é uma lei! – Gritou descontrolada. – Isso não pode ser verdade.

– Amélia podemos explicar tudo. Contudo é delicado filha – ele entoou a palavra filha, que para ela não parecia mais nada.

– Por favor, se acalme e sente-se.

Suas mãos tremiam como suas pernas, seus olhos correram por todos naquela sala como se fossem completamente estranhos, alcançou no olhar de cada um uma certa pena, no entanto mentiram para ela a vida inteira. Mia tentou controlar sua respiração e caminhou até a cadeira sem parecer que desabaria a qualquer momento.

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora