Another dimension

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Riley, quando criança, acreditava no poder da existência de múltiplas dimensões, embora sua mãe sempre dissesse a ela que era apenas uma fantasia inventada pela sua mente mirabolante. Era uma garotinha que exalava criatividade, sempre com uma resposta artística e complexa na ponta da língua, o que, de fato, contribuiu na enorme alegria que esbanjava por onde passava. 

Seus pais eram impossibilitados de impedir sua menina de brilhar naquele mundo cruel e intimidador, portanto a deixavam viver a fase infantil como quisesse, mesmo que isso envolvesse histórias fantasiosas de zumbis, dimensões paralelas e universos alternativos.

Riley obtinha um senso crítico exuberante sobre mundos distintos, esses que não eram facilmente vistos pelo ser humano e, de alguma forma, ela acreditava que o outro lado do cosmos só poderia ser visto após a morte.

Desde então, passou a estudar os relatos da sociedade sobre a vida após a morte. Seus olhos curiosos acompanhavam as informações clareadoras do livro, enquanto absorvia tudo o que conseguia. Seus dias se baseavam nas pesquisas absurdamente importantes para o descobrimento de um universo paralelo; alguns indivíduos teorizavam que os deja vús - que consistem em antecipar o futuro - e os alter deja vús - quando um outro alguém se lembra de uma mesma história que você - eram a base da criação de um mundo alternativo, acreditando que eram memórias guardadas dos seus outros "eus" em outras dimensões; outros persistiam na ideia de haver a possibilidade de que o que acontece em uma dimensão, simultaneamente aconteça em outra. Contudo, Riley se questionava: é possível que duas pessoas idênticas de dimensões diferentes se encontrem? Ou é necessário que uma das duas não esteja mais viva para que ocorra? Era bem capaz de o universo colapsar com tamanho choque. 

Anos depois, Riley se tornou estudante da física quântica, sempre procurando estar mais perto das descobertas de uma vida desconhecida. Foram naquelas aulas que ela conheceu um jovem apaixonado pela física, posteriormente tornando-se amigos.

- O que os levou a estudar essa matéria tão complexa? - A professora ficou de pé, questionando os alunos em seguida.

- A física quântica me intriga, sempre me fazendo pensar na existência de um mundo maior, mais complicado, na existência de dimensões e universos mais distantes do que o universo em que vivemos agora. - Riley respondeu de forma sincera. - A física por si só me intrigava desde o início, buscando diariamente por respostas para problemas diários, embora fossem resolvidos através de contas. - Finalizou.

Dois anos mais tarde, seu relacionamento com seu melhor amigo aflorou, passaram a gostar um do outro e apreciar a reciprocidade no amor. Seus sentimentos se tornaram tão fortes que Riley casou-se com ele, iniciando um ciclo lotado de carinho e felicidade. Com os pensamentos mais maduros e sem nenhuma informação exata sequer, ela passou a desacreditar nas loucuras transversais que a rodeavam. 

Meses depois, Riley e seu marido tiveram uma filha, essa que se tornou o maior ponto de alegria entre os dois, fortalecendo o laço romântico entre eles. 

Com sua pele pálida, olhinhos azuis - como o céu - arregalados, com poucos fios de cabelo amarelados e sua beleza estonteante, Alice alcançou aquela dimensão. Em poucos meses antes de seu nascimento, ela havia se tornado a felicidade eterna de Riley e seu companheiro.

De fato, era uma luta diária para Riley, ser mãe era desgastante, mas valia a pena ver sua criança sorrir e se desenvolver com o passar do tempo.

- Mamãe não me pega, mamãe não me pega. - Fez uma careta para a mais velha e correu pela casa, esperando que sua mãe fizesse o mesmo. 

Eram brincadeiras, trabalhos e estudos. Aquilo era como um baque para Riley, estava deixando-na cansada demais. 

As lutas exaustivas continuaram até que Alice completasse quinze anos. Sua pequena menina, já estava se tornando madura, estava com pensamentos mais avançados e complexos. 

Certo dia, voltando de seu trabalho para casa - indo de encontro a pequena festa surpresa de Alice - a exaustão tomou conta de seu corpo e seus olhos, embora tentassem continuar abertos, cederam ao sono e o carro solavancou em uma batida. 

"horário do óbito: 14:45" 

De repente, ela se viu abrindo os olhos, mas aquela não era sua casa, não era o seu mundo. Tudo era cinza, sem cores vivas e aquilo lhe trouxe um aperto no coração. Então aquilo era o outro mundo? 

Caminhando pelas ruas sem graça e tristes, ela podia ver um espelho em cada esquina, mas não entendia o que significava. Todos se olhavam naqueles espelhos para checarem os cabelos sem cor?

Posteriormente ela lembrou-se: e sua filha, como reagiria ao seu falecimento? e seu marido, como lidaria? 

Vozes começaram a ecoar por sua mente e ela tinha certeza que o timbre vocal era de Alice. Ela estava aos prantos, gritando de dor, se perguntando a verdadeira causa da sua morte e se culpando por nunca perceber que a mãe estava cansada demais para continuar.

Desesperada por ouvir sua filha se culpando, Riley correu pelas ruas iguais, encontrando pessoas - talvez almas - com as faces caídas, nunca ousando levantar seus rostos. Seus olhos se encheram de lágrimas, derrubando-as incessantemente, a afogando em um mar de tristeza e preocupação.

Parando para respirar, recuperando seu fôlego, ela se deparou com um dos espelhos e observou uma pequena sombra por trás dele, portanto, encostou no vidro e automaticamente foi transportada para um outro lugar, dessa vez todo feito de amarelo.

E foi aí que ela entendeu.

As dimensões, mundos paralelos, universos paralelos, realmente existiam e ela havia encontrado uma forma de se transportar entre eles. 

Ouvindo os chamados sôfregos de Alice, Riley voltou a correr, passando por todos os espelhos que via. Mas nunca encontrando sua criança, seu amor eterno. 

Embora procurasse sem descanso, não encontrava os olhos azulados da filha ou o seu riso acolhedor e toda a dor caiu sobre seus ombros. Estava triste, desamparada e sozinha em dimensões de almas perdidas.

Contudo, a sua maior certeza era que ainda buscaria por sua filha, nem que por isso se dizimasse entre os universos alternativos.

Porque ela a amava e amor de mãe é incomparável. Por sua filha ela lutaria até o fim e por sua filha ela colapsaria o universo inteiro.

Por: Samira

Contos para se emocionar: porque amor de mãe é infinitoWhere stories live. Discover now