ALERTA DE CONTEÚDO: HOMOFOBIA E FALA ESCRACHADA SOBRE O ESTUPRO.
Josh.
O rito de julgamento fora realizo pelos membros do júri popular, aqueles que dariam a sua sentença ao fim do julgamento para então o primeiro réu ser ouvido.
— Primeira réu à ser ouvida será Shivani Paliwal. — O juiz declarou e logo a mulher se levantara com a "ajuda" de outros policiais, caminhado até o meio do círculo cercado por pessoas. — Shivani Paliwal. Com a mão direita sobre a bíblia, repita o juramento.
— Não. — ela o interrompeu. — Mesmo que eu não pretenda mentir. A minha religião não é essa e se você me obrigar, meus familiares irão entrar em um processo de intolerância religiosa contra você.
O juiz demorou um pouco a observando antes de dizer algo.
— Qual é a sua religião? — foi apenas o que ele questionou.
— Hinduísmo. Eu não nasci aqui. — Shivani respondeu um tanto desconfiada.
Alguns civis saíram imediatamente do tribunal e ele passou a tremer em silêncio, o único barulho que não cessava de forma alguma eram os flashes das câmeras fotografando o tapete vermelho pelo sangue dos meus melhores amigos.
Os mesmos civis retornaram com um outro livro na mão, trocando a bíblia por ele sob o olhar atento de Shivani e da "plateia".
— Shivani Paliwal. Com a mão direita sobre o Vedas, repita o juramento: Afirmo dizer a verdade.
— Afirmo dizer a verdade. — ela obedeceu as ordens.
— Toda a verdade. — o juiz tornou a lhe auxiliar.
— Toda a verdade.
— Nada mais que a verdade.
— Nada mais que a verdade. — Shivani terminou a última frase com a voz tensa, se afastando do livro que logo fora levado embora.
— A sua palavra inicial. — O juiz pediu, antes que o interrogatório iniciasse.
— Eu não matei ninguém. — foi a única coisa que ela disse, causando inevitáveis exclamações pela "plateia" da cúpula.
— Silêncio. — o juiz pediu e fora obedecido no mesmo segundo. — Encorpe melhor a sua palavra Srta. Paliwal.
— Eu não matei ninguém. — ela negou novamente, ainda com o auxílio da cabeça. — Eu sinto muito, mas eu me nego à assumir algo que eu não fiz, logo, isso é só o que eu tenho à dizer.
— É tudo o que tem a dizer? — o juiz perguntou inexpressivo, olhando para o lado de Krystian quando Shivani assentiu. — Promotor, por favor.
O homem se levantou da cadeira próxima a Krystian e andou até a frente de Shivani, atraindo o olhar da garota para ele.
— Então você não matou Hina Yoshihara e não causou o acidente de Lamar Morris? — a garota negou. — Então onde estava no dia da morte dos dois? — ele perguntou com uma áurea superior, me incomodando.
Homem nojento.
E mesmo que seja apenas o trabalho dele. É com uma amiga minha que ele está falando. É inevitável não me sentir assim.
Shivani abriu um pequeno sorriso sem mostrar os dentes, ato que me fez estranhar. É macabro e muito diferente da expressão que ela carregava no rosto anteriormente.
— No dia da morte de Hina eu a levei para casa. — ela admitiu e os barulhos do mesmo jeito que começaram, se ausentaram. Não houve necessidade do juiz ordenar o silêncio.
— Que horas? — ele questionou.
— Às duas da manhã. — ela respondeu sem hesitar, parecia ter certeza.
A mente de Shivani lhe sussurrava que não tinha mais nada à perder contando isso, apenas a ganhar.
— Alguém mais estava com vocês?
Shivani ponderou por um tempo considerável, estalando os lábios antes de responde-lo.
— Saímos da casa de Sabina sozinhas. — ela contou com convicção.
— E por que pensou para responder?
— Descubra.
— Excelentíssimo. — o advogado de defesa de Shivani pediu por uma intervenção.
Foi aceita.
— Shivani seja clara e honesta. — ele pediu e eu tive vontade de rir.
Ele parece tão bobo para pedir uma intervenção apenas para isso. Não sei nem por qual motivo o juiz a aceitou. Percebi pelo seu olhar de desprezo que não ficara muito feliz pela postura dele naquele momento.
— Você não pode me obrigar à responder. — ela disse, mas com o olhar mantido entre os dois, ela se deu por vencida. Interessante. Receio que eles tenham conversado anteriormente, logo, se davam levemente bem. — Meu cérebro geralmente funciona mais devagar do quê o dos outros. — Shivani argumentou sendo idiota, mas não podia ser refutada por isso.
— Mas não parece. — o promotor se aproximou mais dela, mas a defesa de Shivani pediu uma nova intervenção. Novamente fora cedida.
— Se afaste e mude sua pergunta, a réu já lhe respondeu e não parece a vontade em prosseguir na reafirmação da mesma. — o advogado de defesa disse e o promotor obedeceu, era o trabalho deles. Não havia uma real rivalidade entre os dois.
— Você passou a festa toda ao lado de Hina? — ele mudou o rumo de suas perguntas.
— Tipo isso.
— Seja específica.
— Tipo isso. — ela riu dando de ombros. Essa é a sua resposta. Shivani está de fato nem aí para o eminente perigo.
— Você viu Heyoon Jeong no dia de algum dos acontecimentos? — a pergunta deixou todos da cúpula tensos. Até o corpo de Any havia travado ao meu lado.
— Sim.
— Qual?
— Nas duas. — ela riu de novo, causando um disparo maior de flashes entre os paparazzis.
— Poderia ser mais específica? — ele pediu.
— Vi a Heyoon de madrugada, em uma rua próxima do local com um homem, horas antes de receber a notícia.
— Em qual dos casos?
— Lamar.
— O que você estava supostamente perdida? — ele tentou caçoar dela, mas um novo sorriso estampou seu rosto. Com certeza se ela não for condenada, sairá daqui com uma carreira de modelo promissora.
— Eu estava perdida. — Shivani manteve a sua palavra.
— Perdida? Em Los Angeles? Sério? — sussurrei para Any que me deu um beliscão no meu punho com sua unha. — Au! — o puxei para longe, calando-me.
— E na de Hina?
— Eu a vi sair do apartamento de uma amiga. — ela contou. — Eu estava passando por lá com Hina e nós nos cumprimentamos.
— Tem certeza do que diz?
— Absoluta.
— E o quê você fez após chegar com Hina em seu apartamento? Foi embora?
— Não. — seu belo e irônico sorriso ficou de fato estranho do nada.
Um pouco sádico, eu diria.
— Você ficou com a Hina no apartamento? — sua voz se tornou mais firme e sua postura superior não existia mais. Talvez ele estivesse interiormente tão chocado quanto todos da plateia.
Todos menos eu.
E por que eu não me sinto assim? Não sei.
— Ah não, eu não gosto de garotas. — ela gargalhou, provavelmente não entendendo que o sentido de "ficar" da frase não era afetivo. — Nem assisti quando... Você sabe. Foi... bastante enjoativo.
— Quem matou e estuprou Hina Yoshihara foi uma mulher?
— É você quem está querendo me chamar de homofóbica, não eu.
— Foi Heyoon Jeong? — ele ignorou a sua fala anterior.
— Novamente é você quem está supondo.
— Foi Krystian Wang?
A garota olhou para Krystian por alguns instantes e seu olhar fora retribuído repleto de medo do que a garota falaria sobre si.
— Você continua supondo. — ela respondeu por fim.
— Viu ele no dia de algum dos eventos?
— Krystian? — ela questionou retoricamente e o promotor afirmou. — No da morte de Hina sim. Lamar não.
— Onde?
— Na casa da Sabina. Foi onde eu estava com Hina antes de irmos embora.
— Mais algo?
— Acha mesmo que se houvesse eu contaria? Omitir não é mentir. — ela rebateu e eu tentei conter a careta, mas não consegui.
Ela conseguiu fuder tudo o que disse inocentando ele com uma simples frase.
Agora é ele por ele.
— Finalizo minhas perguntas por aqui. — o promotor disse e recebeu a aprovação do juiz, tornado a se sentar próximo à Krystian.
— Defesa, por favor. — o juiz anunciou e o advogado se levantou, caminhando até o lugar que antes era ocupado pelo promotor.
O homem que será o promotor de Shivani é o advogado de defesa de Krystian, assim como promotor de Krystian é o advogado de defesa de Shivani.
— Como estava perdida no dia em que o carro em que estava Lamar Morris capotou? — ele iniciou.
— Eu estava bêbada. Comprei uma garrafa de uma cidra vagabunda em uma 7-Eleven e tomei tudo aos poucos, a conveniência é perto de onde a Heyoon conversava com o homem.
— Excelentíssimo. — o promotor pediu intervenção e fora aceita. — O que garante que não alucinou devido o álcool?
O promotor sabia da existência da fotografia, é óbvio que sabia, mas Shivani não sabia, logo, poderia de alguma forma lhe arrancar algo.
— Excelentíssimo. — o advogado de defesa pediu para que ela fosse revogada. — Seu tempo para questionamentos diretos à vítima acabou. — e conseguiu. — O que lhe levou até lá?
— As minhas pernas.
— Falo sobre motivações. — ele detalhou e Shivani obviamente já tinha entendido, provavelmente respondeu aquilo para ganhar mais tempo.
Ela ponderou bastante, tentou balbuciar algo, mas lembrara que havia jurado sobre o Vedas. Não poderia mentir sob hipótese alguma.
— Vim recebendo ameaças no meu telefone celular. — ela confessou. — Estava estressada com tudo aquilo. Eu vi quem a matou e eu estive me sentindo pressionada à não falar nada, mas era sempre repreendida pelo número quando extrapolava minimamente os limites. — lembrei-me de sua explosão emocional no refeitório. — Recebi uma mensagem sobre... Foi um tempo estressante, eu aparentemente fazia tudo errado e o número ameaçou estar dentro do meu apartamento. O prédio só tem quatro imóveis e só três estão ocupados, eu resolvi sair e precisava beber ou continuaria paranóica. Eu estava a beira de uma crise de pânico no meio da rua. Sentia-me segura na 7-Eleven, mas não podia beber lá dentro então andei pelas redondezas e vi Heyoon.
— Mais algo? — a pergunta parecia querer encoraja-la.
— Eu peguei meu celular e a fotografei. — Shivani confessou. — Enviei ao número em troca da minha paz. Eu fiquei bem por dias até a polícia decidir investigar, sabia que não havia uma real chance para mim. Essa foto não comprou só a minha paz por algumas boas horas, mas a minha vida.
— Quem está por trás das mensagens?
Shivani riu antes de responder, afastando o clima tenso que sua própria confissão havia causado no local.
— Eu não faço ideia.
— Excelentíssimo. — o promotor pediu intervenção, novamente foi aceita. — Você jurou não mentir.
— Mas eu não estou mentindo.
— Como pode saber quem a matou e não saber quem envia as mensagens?
— Excelentíssimo. — o advogado de defesa interferiu, pedindo novamente a revogação. — Novamente não é mais o tempo dele de questionamentos. — e fora aceita.
— Pode ver o caminho que Heyoon seguiu após ver ela enquanto levava Hina até a sua casa?
— Pude.
— Finalizo as minhas perguntas por aqui. — o advogado de defesa finalizou, não deixando muitas pessoas satisfeitas, afinal ele deixara a última pergunta em aberto.
Parece burro, mas não é.
Sinto muito por Heyoon, mas ela pode ter seguido o caminho que for que essa simples fala será jogada contra ela caso um dia retorne.
— Testemunha de Shivani Paliwal. — assim que Shivani retornou à se sentar em sua banca, Joalin passou a caminhar extremamente apressada para fora do círculo do julgamento, voltando a se acomodar ao nosso lado.
Ela está chorando.
Olhei para Shivani e seu rosto estava rígido, nitidamente forçado para aqueles que a conhecem. Ver Joalin correr da responsabilidade que havia assumido em lhe defender parecia ter a deixado balançada.
— Eu não consigo. — ela passava para Any que limpava as lágrimas que escorriam em seu rosto.
— Você está tremendo. — falei chocado quando vi suas mãos tremelicarem, era pouco, mas tremiam.
Any olhou para onde eu olhava, unindo as mãos de Joalin dentro das suas, numa tentativa de ajuda-la.
— Só piora. — Any sussurrou para mim, parecendo preocupada. Obviamente Joalin deveria estar escutando, mas não havia muito a fazer nessa situação.
— Deve ser ansiedade. — falei, mordendo meu lábio inferior. — Ela não tem, mas pode estar desenvolvendo. O melhor é que ela saia daqui de dentro o mais rápido o possível.
— Ela não pode. — Any ignorou o que eu disse, puxando o rosto de Joalin para que ela lhe olhasse.
Era como se elas conversassem por telepatia, uma língua que eu não tinha o mínimo entendimento.
— Eu vou buscar água para ela. — Any falou do nada, de algum tempo e eu suspirei alto, me sentando na cadeira que a mulher acabara de se levantar para tentar ajudar Joalin de alguma forma.
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