CABARET

By JikookerTrouxa

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𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐 𝖋𝖎𝖈! ⚣ A que ponto você conseguiria chegar por dinheiro? Ou mais precisamente, por necessidad... More

[E.L.E.N.C.O]
[P.I.L.O.T.O]
[1] BLOODY MARY
[2] MARGARITA
[3] MOJITO
[4] PIÑA COLADA
[5] SEX ON THE BEACH
[6] COSMOPOLITAN
[7] CUBA LIBRE
[8] PISCO SOUR
[9] NEGRONI
[10] MARTINI
[11] MOSCOW MULE
[12] WHISKEY SOUR
[13] VODKA
[14] MANHATAN
[15] APEROL
[16] RUM
[17] TOM COLLINS
[18] CAIPIRINHA
[20] CHIVAS COLLINS
[21] SAZERAC
[22] LADY WINTER
[23] WHITE RUSSIAN
[24] BELUGA
[25] PENICILLIN
[26] CLERICOT
[27] BERRI BLOSSOM
[28] LAGUNA
[29] CHAMPAGNE COCKTAIL
[30] PAINKILLER
[31] DARK 'n' STORM
[32] LONG ISLAND ICE TEA
[33] JUNGLE BIRD
[34] DU ALASKA

[19] SHERRY COOKING WINE

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By JikookerTrouxa

LIVRE, FINALMENTE

— Anhh... — Hoseok murmurou da maca, abrindo os olhos aos poucos.

Levantei os olhos sonolentos em um sobressalto, livrando o rosto do apoio do meu punho fechado. Eu estava sobre um sofá pequeno que havia ao lado da cama dele, ele murmurava sons desconexos, provavelmente resultado da anestesia.

— Hyung? — Eu chamei baixo, vendo ele abrir os olhos aos poucos.

— Ahhg! — Ele fez uma careta tentando levantar o braço que estava ligado no acesso que levava soro ao seu corpo.

— Não levante os braços. — Eu disse e ele me olhou com dificuldade. Eu corri e fechei as persianas.

A sua perna estava suspensa e ele usava uma bata azul claro do hospital.

— O-onde eu estou? — Ele resmungou rouco, tocando a testa com a mão livre.

— No hospital. Você caiu de moto. — Eu disse baixo, me aproximando do seu leito.

— Eu sei. Eu senti o acidente... pra falar a verdade eu acho que continuo sentindo. — Ele disse sereno, eu imaginava a dor que ele sentia. — A pergunta saiu no automático. — Ele respondeu em uma sucessão de caretas uma atrás da outra, enquanto tentava se ajeitar sobre os lençóis.

— Não pode se sentar. Eu vou sair um instante, para chamar o seu médico.

— Ok... não demora...

— Por quê? — Eu perguntei confuso.

Ah... — Ele cerrou os olhos para mim, como se eu fosse um idiota. —Quer saber? Bobagem minha. Demore o quanto precisar, na verdade eu estou ótimo, se quiser eu mesmo chamo o médico, quer ver? MÉDICOO! — Ele gritou revoltado.

— Olha. Para de gritar, seu maluco! Você está em um hospital. — Alertei.

— Nossa menino, imagina, eu pensei que a gente estivesse na padaria e que na verdade eu fosse um pão. O que foi que te fez chegar a essa conclusão? O cheiro de esterilizado, ou o meu modelo de mudo do verão dois mil e vinte?

— Tá certo. Eu já estou indo, desculpa. — Pedi, me pondo a andar. — Mas será que eu posso te falar a verdade? — Disse, parando no batente gelado da porta.

— Não. Fale-me duas mentiras, pra eu ficar felizinho. — Ele sorriu falso.

— Eu pensei que você fosse o Hoseok fofinho, mas pra falar a verdade você soa feito uma cópia perneta do Seokjin. — Eu sorri recebendo um dedo do meio dele.

— E eu vou acabar como o Hoseok sem perna ou como o Saci Pererê! Porque se você não for logo a minha perna vai gangrenar!

Em vez de rebater de volta que os seus argumentos eram impossíveis, eu apenas me contive a fazer uma cara de tacho e me retirar atrás do médico responsável.

Seus lábios se curvaram em um sorriso gracioso, quando o doutor entrou na sala junto de mim.

O homem cumprimentou Hoseok antes de tudo.

— Bom, Hoseok não é? — Ele conferiu no aparelho que Dr. Andrews usava anteriormente, já que a essa hora ele havia abandonado o plantão.

— Hoseok. — Ele confirmou.

— E como você se sente? — O homem perguntou, dando uma olhada do lado de dentro dos seus olhos com uma lanterninha pequena.

— Agora cego. E eu também me sinto quebrado, tipo, quebrado inteiro, eu sinto que eu morri. Não na vedade se eu tivesse morrido era melhor eu não iria estar sentindo isso. Isso faz parte? — Ele ergueu as sobrancelhas e o médico riu.

— Hobi. O minímo. Não me passa vergonha. — Eu pedi, batendo com a mão na testa.

— Bom, eu quero dizer, você sente algo? Surdez, perda de visão, ou de sentidos em alguma parte? Náuseas? — O homem conferia tudo enquanto dizia.

— Se tem uma coisa que eu não perdi foi sentido. Eu sinto que eu estou quebrado, inteiro. Parece que me atropelaram... e depois voltaram pra atropelar outra vez. — Ele fez outra careta, olhando para a mão que continha o acesso.

— Não te atropelaram. Felizmente. — O doutor riu. — Ouvimos de testemunhas que estavam eu um bar lá perto que você foi se desviar de um cachorro, ou algo assim, parabéns por poupar a vida animalzinho. Aposto que foi uma decisão difícil.

— Pois se eu pudesse eu voltava lá agora e atropelava aquele pulguento maldito até a morte sem o menor remorso. — Ele deu de ombros.

O doutor riu outra vez e eu também.

— É, bom. Vejo que está ótimo. — Ele olhou para mim. — Você é quem estará acompanhando ele durante o restante da observação?

Maneei a cabeça negativamente.

— Eu creio que faremos um revezamento. Ninguém aguenta ele tempo demais. — Brinquei.

— Bom. Seja como for: tenham em mente que ele está ótimo, os seus sentidos estão em ordem, ele está medicado, por isso não vai sentir tanta dor, mas no início, qualquer cuidado é pouco, ele vai precisar de supervisão minuciosa... fora isso... — Ele olhou para Hoseok, que estava distraído com qualquer outra coisa. — O senhor está ótimo Sr. Jung, forte feito um touro.

— "Não vai sentir muita dor." — Ele repetiu debochado. — Que ótimo... Então eu posso ir pra casa? — O médico riu baixo, se sentindo derrotado. Hoseok não tinha ouvido uma palavra se quer.

— Não, infelizmente o Sr. vai ter que permanecer por algum tempo em observação. — Ele disse.

— Que bosta. Eu posso pelo menos descer a minha perna?

— Também não, ela deve ficar suspensa para um eventual risco de formação de trombos.

— Elefante? Eu vou virar um elefante? Doutor, se for inventar alguma coisa assim então pelo menos me dá um pouco do que o senhor usou.

— Trombose Hoseok. Trombose! — Eu revirei os olhos. — Obrigado Dr. ele está ótimo, por isso está fazendo graça. O senhor pode ir, deve ter um monte de pacientes.

Ele assentiu simpático. O médico saiu e Hope ficou me encarando por alguns segundos.

— O que foi?

— Eu estou com fome.

— Ah... eles devem trazer algo, está quase na hora do almoço.

— Mas eu não quero comida ruim de hospital... — Ele fez beicinho e eu ri. — Quanto tempo eu dormi?

— Bom... eu não sei ao certo. Você deu entrada por volta das quatro da manhã, e depois disso eu só fui te ver quando acabou a cirurgia. Você estava sedado, ficou até agora...

— Você ficou preocupado? — Ele sorriu convencido.

— É claro. Todos nós ficamos. — Dei de ombros, com um sorriso no rosto. — Você até chamou o Taehyung umas três vezes. — Eu disse rindo da sua situação.

— A-ah! Eu imagino, foi um pesadelo... — Mentiu, na maior cara de pau. ,
— Como assim todos? — Repetiu como se fosse uma incógnita.

— Ah... é você sabe. Seokjin, Yoongi, Taehyung... até os meus amigos ficaram aqui esperando respostas.

— E-eles vieram? — Ele abriu bem os olhos, sem acreditar muito.

— Os meus amigos?

— O Taehyung... o Yoongi. — Um silêncio se instalou por alguns segundos. Eu estava realmente curiosos sobre o que era a treta entre eles três.

— Bom... sim. O Tae até chorou. — Eu disse sugestivo, tentando conseguir alguma coisa.

— Aham... — Ele pigarreou, desviando o olhar para a janela. — E o Jin? Já foi?

— Não. Na verdade eles foram todos almoçar no restaurante lá de fora. Ele ficou bem abalado.

— Eu vou levar uma bronca. — Ele comentou sorridente, passando a mão nos olhos.

— Eu até queria ser o responsável por isso. Mas, vou deixar para ele. — Eu respondi, vendo que Tae havia me enviado uma mensagem com "estamos subindo" escrito nela, ciente de que se eu entregasse essa informação a Hoseok ele provavelmente iria agir estranho outra vez. — É isso que dá, ficar assustando as pessoas assim. — Eu o adverti, enquanto respondia um "Ok" para Taehyung.

— Oh... eu atrapalhei o seu encontro com o garotinho Jeon não foi? — Ele disse pesaroso, parecendo bem chateado.

— Isso não é um problema Hoseok, eu nunca pensaria em você como um problema. Nós somos amigos, você se lembra?

— Obrigado. — Ele sorriu. — Eu até te abraçaria, mas eu estou com a perna voadora...

— É... eu sei, dá pra ver. — Gargalhei apontando para a sua perna coberta de gesso.

— Quem diria que um cachorro ia acabar com a minha vida...

— Que exagero, deixa de ser dramático. — Pedi, mesmo sabendo que era impossível.

— Dramático nada! Quer saber, vou batizar o cachorro demônio com o teu nome! Jimin o cachorro dos infernos! — Revirei os olhos rindo.

Após alguns instantes assistindo ele olhar para a janela em silêncio eu cerrei os olhos, para um fato do qual eu não havia me dado conta.

— Espera aí... — Eu gesticulei com a mão. — Como sabia que ele o Jungkook é um Jeon?

— Éh... — Ele arregalou os olhos para a janela, com um sorriso de gato que engoliu o canário. — O dia tá bonito, não é?

Você é-... Seokjin, ou Taehyung, vocês me pagam, bando de fofoqueiros. — Eu ameacei e ele riu zombeteiro.

Eu apontei o dedo acusatoriamente, ao mesmo tempo que olho para trás e vejo a porta abrir. Eu não havia dito nada a Taehyung sobre Hoseok ter acordado ou não. Seus olhos surpresos me diziam que ele não acreditava na cena que via.

Hope o encarou levemente, e em um clima realmente constrangedor: eu sobrei.

Eu precisava sair dali se quisesse dar privacidade a eles, mas isso era definitivamente uma droga. Eu estava curioso com a conversa deles.

— Hoseok. — Yoongi disse.

Eu não havia notado, o garoto alvo de cabelos escuros adentrou ao ambiente.

O olhar de Hoseok estava vago, e a sua testa franzida, com um toque sutil de dúvida.

— Hob... tudo bem? — Taehyung perguntou hesitante.

Hoseok variou o olhar entre eles, com os mirantes cristalizados sem parecer satisfeito em vê-los ele respondeu:

— Q-quem são vocês? — Ele franziu a testa mais ainda.

Taehyung e Yoongi se entreolharam momentaneamente, meus olhos se arregalaram também.

Aquela era nova.

Os olhos de Taehyung se encheram de lágrimas e ele deu passos fracos em direção à cama de hospital onde Hobi repousava, eu não estava entendendo nada.

— Para com isso... você não pode se esquecer. — Ele dá a volta na maca e toca a mão de Hoseok que repousava sobre o seu peito. Ele trocou olhares com Yoongi que também se aproximou.

Eu estava completamente alheio. Estava tão surpreso que não conseguia nem mesmo me mover.

Pelo modo como o rosto de Yoongi é tomado pela surpresa quando o olha, percebo que ele está pensando o mesmo que eu.

— Me diz que não se esqueceu... — Tae sussurra.

Vejo Hoseok olhar em seus olhos de novo, ficando ali por alguns instantes.

O rosto dele se mexe só um pouco, olhei para frente aflito, tentando avaliar a expressão dele, mas ele está olhando para Yoongi fixamente, este que tinha o rosto impassível.

—Ok... me desculpa. — Hope respira fundo, os cantos de seus lábios se contorcem um pouco, antes de ele explodir em risadas.

— O-o que é que está acontecendo? — Tae franze o rosto, com os olhos vermelhos em evidência.

— Eu não perdi a memória. — Ele gargalhou, com a língua entre os dentes.

— O QUÊ?! — Tae grita, e eu continuo confuso sem entender nadinha.

— Eu precisava de me vingar. — Ele riu, espreguiçando o corpo por um instante e fazendo uma expressão de dor em seguida.

— Se vingar de que seu filho da puta?! — Taehyung grita, batendo em sua barriga.

— AH! Eu fraturei as costelas Taehyung! — Hope arregala os olhos, perdendo o riso na hora.

— Pois eu vou fazer questão de fraturar o resto delas sem o mínimo remorso! Seu cusão!

— Vocês não tem o mínimo preparo emocional para estar em um hospital, não é? — Eu digo para as paredes.

Yoongi revira os olhos e depois suspira, maneando a cabeça, em seguida ele curva o corpo, apoiando a testa nos braços cruzados. Eu só não sabia ao certo se esse suspiro era de raiva ou de alívio.

— E aí docinho. — Hoseok diz desafiador, fazendo Yoon levantar o olhar flamejante por um único instante, o que é o suficiente para que ele tremesse na base.

— Já era de se esperar... vindo de você. — Yoon diz desgostoso, sem mudar a expressão. — Você foi um idiota... quer dizer... por que eu me surpreenderia não é? Você é um idiota.

— Eu não podia perder essa oportunidade, quantas vezes eu iria ter a chance de fingir uma amnésia?

— Pode começar agora, fingindo que não me conhece. — Yoongi disse, se sentando no sofá em que eu estava antes, com os braços cruzados e uma carranca no lugar do rosto. Hoseok por sua vez, tinha o rosto enfeitado com um sorriso idiota, e uma expressão convencida.

— Eu tinha que me vingar do Tae... — Ele deu de ombros.

— Você ainda não me respondeu. — Tae se virou com os braços cruzados. — Se vingar do quê?

Hoseok riu soprado, passando os braços por trás da cabeça.

— Quando eu vi a droga do cachorro eu vi você na mesma hora, me dando um sermão de seis horas sobre eu ter atropelado ele. E aí eu desviei. — Ele riu e Tae se virou, com uma cara terrível. — Foi tudo culpa sua. Senhor "eu atropelei um gato, mas tenho consciência ambiental". — Ele disse, fazendo uma cara engraçada.

— O-o quê?! Como sabe que eu atropelei um gato?! Eu nunca te contaria isso, porque sei que você nunca me deixaria esquecer!

— Não mesmo. — Hope se gabou.

— Então... — Ri sem jeito. — Vou ali um minutinho...

— Foi o Jimin. — Hoseok me dedou. Filho da mãe.

— Rídiculo. Diabo. Tratante. Me entregou! — Eu o acusei, sentindo o olhar de Taehyung queimar. — Então... sabe o que é? Eu tenho detenção hoje... não posso ficar. Façam bom proveito. — Eu disse, dando passos lentos de costas e logo me virando para correr.

— POIS EU ESPERO QUE A MADALENA COMA O SEU CÚ! — Taehyung gritou, completamente despreparado para habitar um hospital.

— Deixa de ser maluco! — Eu sussurrei alto e ele me mostrou o dedo do meio. — Tudo bem se eu for? — Ele me olhou por um instante.

Yoongi se levantou e ficou ao lado da maca também, com os braços cruzados e de cara feia, conversando com Hoseok que sorria o tempo todo, mesmo estando todo quebrado.

Taehyung olhou para os dois, e depois para o meu rosto outra vez, assentindo leve, com um sorriso ladino e uma postura mais calma. Hope tira os olhos de Yoon e me lança aquele sorriso repentino. Sem querer me pego dando um sorriso involuntário em resposta, quando eles resolvem discutir outra vez.

Sinto aquela sensação de quando nós vemos alguém sendo tão feliz ao nosso redor, que inconscientemente acompanhamos, sentindo até mesmo o fôlego escapar por um momento.

Aquele sorriso dele realmente me afeta. É desconcertante.

— Eu vou nessa então. — Eu digo, me esgueirando para fora do quarto.

Tento buscar uma rota de fuga dali, mas não há nenhuma. Eu estaria fadado a passar o resto dos meus dias perdido nos corredores daquele hospital, se não fosse por uma bela senhorinha que me indicou caminho, que por sinal, eu preferiria mil vezes não percorrer.

Quando eu chego a sala de espera, Jungkook e Seokjin estão ali sentados, tipo: Jungkook, uma cadeira entre eles, Seokjin. Eles eram tão ridículos que não tinham nem coragem para se sentar um ao lado do outro.

Jung está confortavelmente vidrado em seu telefone, enquanto Seokjin estava sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos, olhando o chão entre suas pernas. Jin ergue o olhar diretamente para meu rosto, vendo eu me aproximar, ele ergue as sobrancelhas, e eu engulo uma vontade de sair correndo dali.

Eu tento esconder o meu desconforto, mas assim que Jin se levanta, Jungkook faz o mesmo, ao me ver.

Olho para frente aflito, parando frente à frente com eles dois.

Seokjin e Jungkook erguem as sobrancelhas me olhando, eu fico igual a um palerma sem saber o que dizer.

— E então? — Jin diz após alguns instantes de silêncio mútuo.

— Então o quê?

— Como ele está? — Pergunta impaciente.

— Ah! Ele está bem... acordou agora a pouco, já está falando bobagem atrás de bobagem. O Tae e o Yoon subiram para ficar com ele.

— Será que eu posso subir para vê-lo?

—Hum... — Eu penso, olhando ao redor. — Talvez... provavelmente.

— Certo. — Ele parecia mal humorado, pode ser por não ter dormido.

Tento avaliar a sua expressão, mas ele está olhando de novo para o outro lado, com o rosto impassível. Faço uma careta para ele por um momento, e ele me olha cerrando os olhos, mas eu me volto para Jungkook, que estava ao nosso lado, preso ao celular.

— Tá tudo bem? — Ele assente.

— Aham... você demorou, o que houve? Já fazem uns dez minutos que o Tae me disse que você saiu de lá.

— Ahn... fiquei perdido... — Confessei envergonhado.

— Whoa... que idiota. — Ele debocha, sem tirar os olhos do telefone.

— Deixa de ser cusão! — Digo, batendo a mão na lateral de sua cabeça.

— Eu vou subir. — Jin diz, observando nós dois, e provavelmente pensando no quão estúpido eu sou. — Você vai esperar? Não devo demorar.

Eu nego com a cabeça.

Jin estala a língua e eu fico por entender.

— Não posso. Tenho detenção... — Eu reviro os olhos. — Por quê? Precisava de mim para alguma coisa?

Ele não me responde, apenas me olha com aquela cara de "você é uma ameba" de sempre. Certeza que quando ele me olha ele pensa: Você é uma ameba.

Não faz sentido eu tentar aliviar a tensão com o Jin, é inútil.

— Nada demais. Precisava conversar uma coisa, mas eu te mando um SMS depois.

— SMS, que coisa de velho. — Digo logo, dando de ombros.

— Tanto faz. — Ele para pensativo e olha o visor do celular. — Te ligo em algumas horas. Vou precisar de você lá na boate. — Ele declara e saí andando, sem se despedir.

As portas do elevador fazem o barulinho de parada antes de ele se abrir, e uma moça saí de dentro.

— Vamos? — Eu chamei, passando a mão por dentro do braço de Jungkook que veio junto de mim, digitando. — Aconteceu alguma coisa?

— O meu pai. Ele está reclamando que eu não fui para a empresa hoje.

— Mas hoje é domingo. — Eu digo surpreso.

— Hã... diz isso pra ele. — Ele debocha, virando a tela para mim.

— Não tem a opção de eu me matar? — Brinquei.

— Não... — Ele diz sem me olhar, apenas celular. — Se tivesse eu já teria feito.

— Tá certo. — Digo, antes de roubar o aparelho de suas mãos.

— Hey! Eu preciso disso—

— Tanto faz, você não pode dirigir com isso. — Me defendi, afastando a mão com o aparelho de si. — Deixa aquele ditador brigar sozinho um pouco.

— O problema é que o ditador nesse caso também é o meu patrão. — Ele ri, e depois desiste de pegar de volta. — Certo. Vamos falar do seu ditador então. Que história é essa de boate? — Diz desconfiado, com cara de xeque-mate.

Eu esfrego o nariz de leve, quando o elevador abre. Por onde eu começo?

— Quer saber? — Eu digo me arrependendo da decisão de antes. — Pega de volta, a gente nem tem mesmo que conversar, eu adoro ficar em silêncio com você.

Ele dá um sorriso arrasador.

— Não, tarde demais para isso.

— Bem... — Tomo um ar quando saímos do hospital, fugindo do cheiro forte de esterilizado misturado com amônia, e ao mesmo tempo, tentando desesperadamente ganhar tempo. — Engraçado... você percebeu como o tempo passou rápido? — Enrolo. — Aqui. Está vibrando, deve ser o seu pai.

— Ah é? — Ele parece interessado. — Vai se fazer de bobo agora? — Ele responde, pegando o celular que eu o entreguei.

— Hum... uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Eu sou bobo, não preciso me fazer, até porque se eu não fosse, eu nem estaria com você para início de conversa.

— Tampinha. Abre o bico, quando você começa a falar demais assim, é porque está querendo ganhar tempo, começa a falar.

Passo a língua nos lábios com nervosismo.

— Não é aquilo que se diga... uma boaaate... é uma boate normal. — Minto.

Dou uma gargalhada meio nervoso com a sua cara. Tudo o que eu menos quero é o Jungkook batendo ponto lá na porta todos os dias para saber se eu estou bem ou não.

— É até engraçado, na verdade, se você observar bem...

— Você me disse que era garçom, eu pensei que estivesse em um lugar tranquilo, tipo uma cafeteria... — Ele tenta esconder a sua contrariedade, mas sem sucesso.

— Hã... tão segura quanto a última? Acredite, eu nunca estive tão bem resguardado.

— Difícil de se acreditar, quando você tem um patrão daquele. — Ele revira os olhos como se as palavras fossem repugnantes.

— Está insinuando alguma coisa? Porque eu prefiro que você seja mais claro quando fala comigo. — Digo, com as sobrancelhas erguidas.

— Ele é estranho Jimin. — Ele me encara, abrindo a porta do carro para mim.

— "Estranho"... — Eu repito, adentrando ao veículo. Ele fecha a porta e dá a volta. — Estranho por estranho você também é, dando show por nada.

— Ele não dá uma palavra se quer, parece que se acha melhor do que tomo mundo... — Diz com desdém.

Eu não poderia discordar, porque é realmente a imagem que aquele cara passa para todo mundo. Ele é um tirano quando quer, e quando não quer também. Passa por cima da opinião de todos, é meio egocêntrico, mas essa é a barreira que ele construiu durante a vida dele.

— O-olha, eu não posso mudar o que ele é, e nem o que você acha que ele é. O que eu posso dizer é que apesar de tudo, foi ele quem me estendeu a mão quando tudo deu errado. Eu não vou sair do emprego porque você acha perigoso. — Paramos em um semáforo.

Ficamos em silêncio. Jungkook olha direto para mim, sem vacilar. Percebo que ele está esperando que eu continue.

— Eu achei que tinha dito que consideraria trabalhar na empresa... — Eu engulo em seco.

— E-eu não falaria isso se estivesse sóbrio.

— Sim? — A voz dele está implacável.

— Olha aqui, eu não vou trabalhar na empresa do seu pai.

— Você disse que ia pensar.

— E eu pensei. — Falei apressadamente.

— Pensou?

— Acabei de pensar.

Ele fecha os olhos demoradamente, e respira fundo.

— Pensou nada.

— Tanto faz, não vou largar o meu emprego por capricho teu. Ponto final. — Cruzo os braços na defensiva, pronto para dizer que eu fiz um enorme favor a ele em nem ao mínimo considerar trabalhar para o pai dele, e que dessa forma estou evitando uma avalanche de problemas. Mas quando ele vira seu rosto está tão impassível que perco a coragem.

— Eu não vou mais discutir com você, se prefere trabalhar no mesmo ambiente que aquele cara, a trabalhar comigo, isso é uma escolha sua. — Ele parece calmo, mas não de uma maneira boa.

— Eu só... eu não... Ahhg! Você é mais difícil do que eu. — Eu agradeci por ver a escola vazia mais a frente.

— Mais tarde a gente se fala. — Ele respondeu seco, reduzindo a velocidade do carro.

— Tá. Você é quem sabe. — Digo virando as costas e saindo do carro.

— Eu também te amo! — Ele diz mais como um xingamento do que qualquer outra coisa.

— Pois eu não amo não! Bundão!

O seu rosto forma uma carranca e ele acelera o carro, saindo de lá feito um raio.

— Ahh... — Eu resmungo, batendo com as duas mãos contra o rosto e me pondo a andar em passos lentos para dentro da escola.

Enquanto eu andava o meu celular toca e a foto de Taehyung aparece na frente.

— Fala capivara. — Eu disse. — O que está precisando?

— Se não for pedir muito, de uma corda, porque eu vou enforcar o seu amigo. — Ele respondeu, seguido de um longo suspiro.

— O Hobi?

— Quem mais me irrita desse tanto?

— Eu não sei... — Fingi pensar.

— Na verdade eu liguei porque queria te dar uma missão...

— Iiih... já vi que lá vem bomba. — Confessei, sabendo do que aquele seu tom de voz se tratava.

— Não exagera... — Murmurei para que ele continuasse. — O que você acha de tentar descobrir qual é a do piquenique do Sr. Jeon com o Kai ontem à noite?

— E com quais métodos eu consumaria essas façanhas? — Eu respondi, já cansado da novela.

— Eu sei lá, pergunta pro Jungkook.

— Ah! Claro, você foi ótimo Einstein, eu com certeza vou perguntar, vai ser tipo assim: "E aí Jungkook, pode me contar aqui, se cá entre nós o seu pai tem segundas intenções com o Kai?"

— Parece ótimo! — Ele diz, de maneira encorajadora e meus olhos reviram nas órbitas. — Claro que não é assim seu estúpido, tem que ser mais sutil... será que pode tentar? — A atitude de Taehyung muda imediatamente.

Eu suspiro fundo, sentindo aquela sensação de que tem tudo para dar errado.

— O-olha... eu acho que talvez já esteja na hora de nós pararmos de bancar "As Panteras", não concorda? — Eu digo meio desajeitado.

— Aham, falou o cara que cobrou um milhão e meio do sogrão. — Ele gargalhou.

— Não tem graça. Tae, eu só queria que ele largasse do meu pé antes que o Jungkook aparecesse.

— Não importa, faz o que eu estou mandando. A essa altura do campeonato você não tem mais como sair correndo. — Eu gemi arrastado, me sentindo sem forças.

— Tudo bem... eu faço. — Digo desisente.

— É assim que se fala! Voa Lucy Lyu! — Ele disse sínico.

— Meu nome não é—

Ele desliga na minha cara.

— Filha da puta.

Respiro fundo, sabendo que seria mais uma presepada sem futuro, mas mesmo assim, compartilhando da mesma curiosidade dele. Eu realmente precisava saber o que é que ele estava tramando, ainda que não me envolvesse, seria uma chance de entender melhor e de uma vez por todas livrar o Jungkook da teia de manipulação do pai dele.

Antes que eu desse mais um passo o meu celular toca e eu o atendo sem olhar quem era, sabendo que seria Taehyung com mais alguma idéia mirabolante.

— Alô?! — Eu digo sem a mínima delicadeza. — Qual a parte de que eu vou fazer o que você mandou que você não entendeu?

— Olha, mas eu não sabia que eu mandava alguma coisa nessa relação. Agora eu estou me sentindo importante. — Jungkook ri e eu fico calado, com cara de tacho, querendo amassar a cara dele até virar um tacho. Ele pigarreia. — É-éh... tampinha... — Ele chama manso do outro lado.

Eu cerro os olhos desacreditado.

— Olha, mas você tem que ter muita cara de pau mesmo. — Respondi inconformado.

— Eu só... você sabe...

— Sei de nada não. Você por acaso não está dirigindo, não é?

— Não estou... encostei o carro para te ligar.

— Hã... sei... o que é que o senhor quer? — Perguntei lutando furiosamente contra o riso. Eu poderia facilmente imaginar aquela carinha de cachorro abandonado dele.

— Me despedir direito. Não gosto quando você grita comigo... fica parecendo que está bravo.

— MAS EU ESTOU BRAVO!

— Eu sei, por isso que eu liguei. — Ele disse como se fosse óbvio, sem o menor sinal de medo da morte. Eu parei na porta da escola, olhando para o chão e chutando pedrinhas. — Você me ama... eu sei disso.

— Se sabe por que ligou? — Eu ri um pouco, revirando os olhos.

— Só pra ter certeza... eu estou indo para a empresa, e eu posso acabar ficando preso lá até tarde. Talvez a gente não se veja mais hoje. — Ele respondeu e eu me senti meio besta por não ter me despedido da forma correta.

— Tudo bem... a gente se fala mais tarde, pelo celular.

— Combinado então. Pode desligar. — Ele disse esboçando um sorriso pelo tom de voz.

— Eu te amo. — Eu disse por fim.

— Eu também.

Em um suspiro pesaroso eu desliguei, colocando o celular no bolso e caminhando em direção a sala do diretor Dornellas.

— Finalmente, pensei que não fosse aparecer. — A ruiva de pernas cruzadas comentou rude, olhando para o outro canto da sala.

— Boa tarde pra você também. — Eu disse, me sentando na cadeira ao seu lado, que ficava próxima da mesa do diretor. E só pra clarear a sua consciência, isso seria mais plausível se fosse sua conduta, não a minha. — Falei me sentando, e olhando para a porta aberta.

— Precisa mesmo sentar do meu lado?

— Tá vedo mais alguma cadeira? Pode se sentar no chão se preferir. Tenho certeza de que você dormiu a noite toda, então não me amola, valeu? — Eu disse, apoiando a testa na mão.

— Tanto faz. — Ela me ignorou, jogando os cabelos vermelhos para o meu lado.

Passos foram ouvidos, e o diretor adentrou a sala, deixando uma pilha de papéis em cima da mesa.

— Olha, confesso que esse não era o domingo que eu havia planejado, mas se é assim que vocês preferem passar, a escolha é de vocês. — Ele disse se sentando e olhando para nós dois, com as mãos entrelaçadas sobre a madeira.

— Como se isso fosse uma escolha.

— Diz aí, qual vai ser a punição? — Perguntei cansado, passando as mãos nos cabelos.

Dornellas fez uma pausa, como se tentasse decidir qual seria a melhor resposta.

— Bom, de acordo com o que eu me lembro, vocês foram flagrados brigando no intervalo; certo? — Ele perguntou e eu assenti, Madelaine fez um mais ou menos com a cabeça.

— Vocês discutiram, e Madelaine o atacou com palavras, certo? — Ele perguntou novamente, retoricamente, já que ele lia a ata que havia em sua frente.

— Não foi bem assim... — Protestou ela, com a voz mais leve do que eu esperava.

Eu ergui as sobrancelhas e olhei para ela, indignado.

— Em seguida, Park revidou o ataque de forma física. — Ele me olhou feio, e eu sorri amarelo. — Jogando um copo de chá gelado pelo corpo da vítima. — Ele terminou como se não soubesse o que havia ocorrido, sendo que no dia, ele estava presente.

— Café gelado. — Ambos corrigimos ao mesmo tempo.

Ele fechou o semblante.

O-olha... não foi bem assim... — Eu cocei a cabeça de leve, sentindo a vergonha fugir da minha cara quando eu respondi e Madelaine me olhou desacreditada, eu dei de ombros.

O diretor cerrou o olhar para nós dois.

— Não é bem o que está pensando... — Ela disse, entrando no jogo.

— E o que é que eu estou pensando exatamente? — Perguntou Dornelas.

— Isso não teve nada a ver com brigas... a gente... a gente estava...

— Estava?

— Brincando... — Ela completou.

— Brincando? — Ele perguntou como se fossemos péssimos mentirosos, que éramos.

O diretor se aproximou da gente, se debruçando sobre a mesa levemente.

— É... — Dissemos juntos.

— Vocês devem, estar achando que eu sou algum tipo de idiota.

— Então... sabe o que é... — Ela começou a dizer.

— Scott. Não abuse da sorte.

Madelaine não se intimidou, só deu de ombros, e eu apoiei o rosto na mão, mas mesmo assim ele continuou.

— Tá bom... o que tem aí pra nós? — Eu disse desistente.

Eu perguntei, apontando para os papéis. Iludido que era.

— Aqui? — Ele riu. — Isso aqui não é para vocês. Isso é para mim. Já que tomaram o meu tempo hoje, eu vou estar de folga amanhã e vou adiantar algumas coisas, amanhã tem vôlei com os amigos. — Ele respondeu como se nós realmente déssemos a mínima para qualquer uma daquelas coisas.

Nós nos entreolhamos com os olhos semicerrados.

— Ok. Deixando a reunião dos pelancas de lado... — Eu arregalei os olhos. Madelaine, sendo Madelaine. Nada novo sob o sol. — Que punição terrível tem aí para acabar com o final de semana de dois jovens estudantes? — Ela disse com desdém.

— Vocês vão limpar a arquibancada junto aos funcionários da limpeza.

— O QUÊ?! — Nós gritamos juntos e ele sorriu vitorioso.

— Mas eu acabei de sair da manicure! — Ela disse, mostrando as mãos pintadas de vermelho.

— Que ótimo, sinal que assim que vocês terminarem, poderão voltar até lá juntos. — Ele sorriu cínico, mostrando as unhas.

— Sabe o que eu quero, quero que você pegue as suas unhas e use elas no meio do seu-

— Do seu maravilhoso jogo de vôlei! — Eu disse exasperado, puxando ela com a boca tapada para fora da sala do diretor que sabia exatamente o que ela queria dizer.

— Nesse andamento eu vou colocar vocês para lavar banheiros! — Ele esbravejou lá do lado de dentro.

Madelaine passou algum tempo apenas concentrado em responder mensagens no celular e sem olhar para mim, parecendo tão focada em olhar para o aparelho que eu até cheguei a acreditar que não existia, e que no fim das contas eu era apenas uma miragem. Até que finalmente ela moveu os olhos em minha direção.

— Desculpe, eu só estava mandando uma mensagem para o meu pai. — Eu ergui as sobrancelhas surpreso, com os ouvidos aguçados, ao ouvi-la me pedindo desculpas, isso sim é que era uma situação nova na minha vida.

Madelaine Scott me tratando como uma pessoa não era normal.

— Ah... t-tudo bem, não faz mal.

— Eu estava dizendo o quão azarada eu era de terminar na detenção com você. De todas as pessoas... — Ela pareceu pensar. — De todas as pessoa, logo você. — Ela revirou os olhos. — Mesmo tendo sei lá.. a Suzy fedida, o Jack catarrento, a Beth que come cola escondida na aula de história , logo você...

— É claro, por que qualquer um desses iria se sentir super sortudo de fazer dupla na detenção com você... tendo sei lá...um presidiário violento, um assassino em série, ou mesmo o demônio- Não, pera! O demônio não iria se prestar a uma situação terrível dessas, esse tipo de coisa ele deixa pra mim. — Eu respondi sem paciência, avançando alguns passos a sua frente, me distanciando de si.

— Olha, você não tem o direito de discriminar ninguém só porque essa pessoa é mais bonita do que você!

— Madelaine, vai se foder. — Falei sem paciência, pegando um balde e um par de luvas que estavam no balcão esperando por nós.

Madelaine poderia dizer o que quisesse, eu estava ali para acabar o que fosse o mais rápido possível.

Balancei a cabeça com impaciência, fincando o coletor em uma das milhões de latinhas que estavam por ali e colocando de volta no balde.

— Como é que eu vou fazer essa droga? — Ela franziu a testa, se equilibrando sobre os saltos e jogando os cabelos compridos para trás, se inclinando um pouco para baixo.

Balancei a cabeça outra vez, esse dia seria longo.

— Vai mesmo me ignorar?

— É o que você merece! — Eu respondi sem saco para aguentar toda aquela ladainha dela.

— Eu não sei por que.

— Fala sério?! Já me deu algum motivo para te tratar normalmente?

— Ah sim! Pode ter certeza de que eu dei. Você pode ser lerdo e não captar, mas eu já fiz mais por você do que deveria. — Eu dei uma risada seca, colocando a mão na frente da boca. — Eu estou falando sério, projeto de destruidor de lares.

— E no que você me ajudou, posso saber? — Ergui uma das sobrancelhas com a cabeça inclinada.

— Eu fui quem te disse sobre o lugar onde o seu amigo irritante trabalha, e também fui eu quem te alertei sobre o pai do Jungkook e sobre o meu... — Ela disse a última parte com um bocado de vergonha. — Bom, não é porque você é lerdo e tem uma memória seletiva que nós precisamos ter essa conversa.

— Acha mesmo que eu não sabia sobre a sua família e a do Jungkook? Fala sério Madelaine, esses caras dão pinta de mafiosos mudos. O seu pai quieto, parado, fazendo caridade tem cara de quem matou três. — Revirei os olhos, puxando outra latinha de refrigerante de laranja e jogando no balde.

— Isso não importa, o que importa é que eu te ajudei, mesmo que não precisasse eu tentei.

— Que tal ao invés de me "ajudar"... — Fiz aspas com as mãos. — Começar a me tratar como uma pessoa?

— Mas eu te trato como uma pessoa. — Ela disse com cara de inocente, como se não soubesse do que eu estava falando. — Como uma pessoa que está tentando roubar o meu namorado.

— Ele não seu namorado sua maluca! — Eu disse sem paciência. — O relacionamento de vocês era completamente arquitetado e falido.

— E estava indo tudo bem até você aparecer para estragar tudo! Já conseguiu reparar?!

— E de que vale passar a vida em um relacionamento em que o seu coração não faz parte?

— Você tirou tudo dos eixos Jimin! Esse contrato era o único jeito de eu conseguir de volta o que é meu por direito!

Concordei, balançando a cabeça com a expressão séria.

— Conseguiu ouvir o que disse? — Eu perguntei após alguns instantes e ela ergueu o olhar para mim. — Não é por ele, não é por vocês, é por você. — Respirei fundo. — Viu a diferença?

Me sentei na arquibancada, vendo alguns dos profissionais do lado oposto, limpando a bagunça, diferente do que nós estávamos fazendo.

— Eu não pensei que gostasse tanto dele. — Ela disse baixo, se sentando ao meu lado e tirando as luvas de leve, eu permaneci olhando para o outro lado apenas assenti com a cabeça.

— É isso o que acontece quando você não pensa nas outras pessoas, você não se preocupa com o que elas sentem.

— Você o ama? — Ela perguntou sinceramente, e eu assenti.

— Pode ser... eu não sei, de verdade. A maior parte do tempo, eu passo machucando ele... talvez por pensar demais nele. Talvez, quem esteja certa, seja você. — Respirei fundo, vendo uma revoada de pássaros atravessar o céu.

— Com certeza... — Ela riu seco. — E olha só como eu terminei... — Ela deu de ombros. — Sozinha...

Por um longo momento, nenhum de nós dois disse nada. No silêncio, Madelaine deixou um suspiro pesado escapar.

— Me desculpe, eu estou ficando cansada.

— O quê? Mas você não pegou uma lata se quer. — Ela revirou os olhos.

— Cansada dessa situação. De sempre viver com essa fama... conversar me causa isso. — Observou ela. — Não me leva a mal, mas eu realmente não sabia que você realmente sentia algo por ele...

Eu ergui as sobrancelhas. É muito desaforo uma coisa dessas.

— E você sentiu? — Olhei para o seu rosto pela primeira vez, ela mirava o horizonte, para onde os pássaros haviam voado.

Madelaine riu em seco, e eu fiz o mesmo.

— Todo mundo já sentiu. — Dissemos juntos.

— É o Jungkook no fim das contas. — Ela deu de ombros.

— Vou reformular a minha pergunta... — Eu pensei por alguns instantes. — Você sente algo por ele?

O seu rosto se transformou em uma careta.

Eu balancei a cabeça, concordando, mas com a expressão mínima, entendendo exatamente o que aquele silêncio significava.

Ela abriu a boca algumas vezes, mas nenhum som saiu.

— Tudo bem, eu não estou zangado, eu entendo o que estava acontecendo.

— E-eu... — Ela se enrolou nas palavras. — Não pedi para acontecer... ele só... só era um bom amigo. — Ela deu de ombros. — Até deixar de ser.

— E então... no final das contas, você me odeia porque ama ele?

— E-eu não te odeio. Só acho que meteu o seu nariz onde não deveria, e que tem um senso do ridículo bem limitado.

— Nossa. Quer me dizer alguma coisa? Ser sincera? Vamos lá, não se segura, pode mandar. — Ironizei, movendo as mãos. — Manda mais.

— Você não me entendeu. — Ela disse. — Se gosta tanto dele, por que esperou tanto tempo? Digo... por que, deixar tantas aberturas e ficar de longe?

— Porque eu gosto dele... e não queria que ele se machucasse. As pessoas tem uma ideia deturpada de qual é a minha relação com ele. — Dei de ombros, movendo os cantos dos lábios para baixo momentaneamente.

— E por que você é tão ruim nisso? — Ele riu meio sem graça.

— Em gostar dele? — Eu ri. — Porque eu gosto dele. — Assenti, brincando com os dedos.

Não era do meu feitio ser tão sincero sobre os meus sentimentos, e quem garante que ela não fosse usar isso contra mim uma hora ou outra... mas eu estava tão cansado, sem falar no meu longo histórico em desabafar com desconhecidos.

— Deixa eu ver se eu entendi: você se afasta dele, porque gosta dele. E você é péssimo em se afastar dele, porque você gosta dele?

— É... eu não posso evitar, é um talento meu, ser ruim nas coisas.

Ela moveu o seu olhar para minhas mãos, e mais uma vez, nós nos pegamos em silêncio.

— Depois de te ouvir... eu não sei exatamente se já gostei de alguém tanto assim. Me desculpe... — Disse ela, mostrando-se envergonhada.

— Desculpa? — Eu disse automaticamente meio sem entender. Mais desacreditado do que qualquer outra coisa.

— Não é tão fácil perceber o quanto você faz mal para as pessoas, quando descobre o quanto são boas... eu não te conhecia de verdade Park...

Ela me observou enquanto falava, e parecia não estar certa de que dizia tudo corretamente, mas em seguida, deu fim as suas palavras, mantendo o contato visual, e o silêncio.

— Eu também não... — Respondi, olhando seus olhos.

— Eu não vou mais ficar no seu caminho. — Ela maneou a cabeça. — Eu vou conseguir o que é meu de outra forma... você merece ele mais do que eu.

— Mas e você?

— Vou gastar esse tempo descobrindo se fiz a escolha certa em abrir mão dessa briga. — Ela sorriu.

Percebi no semblante de Madelaine, ela estava confusa, preferia não prosseguir com o assunto agora. Nem me lembro ao certo se eu realmente iria ter mais alguma oportunidade de tocar nesse assunto.

Ela se levantou e deu alguns passos se afastando.

Com um nó na garganta e sem saber se deveria, a minha boca disse antes de o meu cérebro dizer se era conveniente.

— Você não precisa ir... — Ela se virou.

— Na verdade eu ia pegar o meu balde, a gente não limpou nem quinhentos centímetros de chão... — Ela disse meio sem jeito.

— Oh... c-certo...

— Se você puder agora, pode me ensinar a usar esse gancho? — Ela reiterou.

— Ah claro, aperta essa alavanca próxima a sua mão e aí o gancho abre, depois é só soltar, que ele agarra a latinha... ele praticamente trabalha sozinho.

Vi ela tentar umas quatro vezes seguidas, e perseguir constantemente a latinha que rolava a cada toque que ela dava.

— Olha... eu já vi gente ruim em algumas coisas... mas nunca vi alguém ser tão ruim em algo quanto você é nisso. — Debochei, recebendo um olhar mortal, do qual eu já estava acostumado a usufruir.

Entortei a boca de leve, sentindo os seus mirantes queimarem. Após tentativas fracassadas de limpeza, Madelaine desistiu de tentar, e resolveu passar essa função para frente.

— Olha, quer saber, eu não vou fazer essa droga, vamos embora. — Ouvi a sua voz caracterísica, aquela arrogante.

— Mas e a detenção? — Perguntei.

— Detenção na casa do caralho, eu vou pra casa, quem disse eu vou gastar a minha manutenção com essa droga? — Ela disse largando tudo e se pondo a andar.

— M-mas...

— Tudo bem, qualquer coisa, eu digo que vou sujar a barra dele com o meu pai, ele fica pianinho na hora. — Eu já caminhava atrás dela.

Observei enquanto ela ligava o motor da SUV branca que ela dirigia, dava marcha a ré e reduzia ao meu lado, do lado de fora da escola.

— Tchau... — Eu acenei.

— Tchau Park. — Respondeu ela com a voz fraca, acenando de leve, e eu juro que se eu não a conhecesse como o Monstro do Lago Ness, aquele desenho em seu rosto poderia facilmente ser descrito como um sorriso.

Em seguida ela colocou um óculos de sol enorme no rosto, vestiu o seu semblante sério ao som de uma música antiga da Rihanna, tudo o que eu ouvi foram o som dos cascalhos sendo jogados para trás com o giro de suas rodas enormes, com as luzes traseiras desaparecendo à medida que ia se distanciando.

Alguns minutos mais tarde, estava eu diante da escrivaninha de Hoseok, lendo uma agenda com páginas cheias de anotações, reclinado na cadeira, com os pés para cima.

Naquela tarde muitas coisas haviam sido esclarecidas, e agora, tudo fazia o mais completo sentido. A não ser pela letra de Hope, que por sinal era horrível, ele era um gestor e tanto, mas a sua agenda era uma verdadeira zona.

Sobre a escrivaninha, estava o diário de Hobi, com um unicórnio cintilante desenhado na capa. Assim que pousei os olhos sobre ele, a curiosidade me assolou, e o fato de um motoqueiro que só usa combinações de preto e couro ter um diário de unicórnio não era a maior das dúvidas.

As minhas suspeitas em relação a Yoongi e Taehyung chegavam a doer.

Durante o tempo em que eu estava ali, diversas foram as vezes em que eu me peguei pensando se deveria ou não ler aquelas anotações, na esperança de encontrar um assunto que pudesse transformar as minhas dúvidas em certezas.

Por alguma razão, eu evitava fazê-lo, mas pensando outra vez:

— Uma espiadinha não deve matar ninguém.

Verdade? Mentira. Porém se eu não espiasse... eu não saberia, eu não sentiria. E com o coração apertado e a curiosidade aguçada, eu peguei o diário.

Com apenas um dos olhos abertos, como se isso reduzisse a minha culpa eu o abri aos poucos, como se tivesse medo de explodir.

Boa noite diário, é o Hoseok.

Hoje o Jiminie dormiu aqui mais uma vez... esse foi um dia realmente especial, talvez ele tenha de ir para casa alguma hora dessas, mas eu espero que não. Ele parece bem melhor e eu fico feliz de ter a sua companhia mais uma vez, finalmente eu posso sentir como é ter um irmãozinho mais novo para cuidar, é como se ele fosse a minha família e isso me faz realmente feliz.

Abaixo do textinho que encheu os meus olhos haviam alguns coraçõeszinhos desenhados com canetas de cores diferentes. Alguns textos me arrancavam risos, eram breves e curtos, como: "O Jin Hyung me fez muita raiva hoje, ele pensa que é bonito mas fica fazendo papel de trouxa com aquela cara de panela de pressão que ele tem." Com um homenzinho de palitos de gravata com uma panela no lugar da cabeça.

Ri sozinho, com as lágrimas presas na linha d'água dos olhos.

— Às vezes, o mais inteligente a se fazer, é guardar os segredos em uma folha de papel, para que nem mesmo você se esqueça. Mas nesses casos, os que são alheios, devem se manter do lado de fora do diário... nem sempre quem lê um diário está pronto para os demônios que tem do lado de dentro. — Jin disse leve do batente da porta, fazendo com que eu me assustasse e quase caísse da cadeira, fechando o diário as pressas.

—J-j-j-jin! Q-que susto! — Gritei bravo com a mão no peito que subia e descia, me virando de frente para ele e jogando uma bola de papel sem efeito em seu corpo.

Ele cruzou os braços e deu um sorriso convencido.

— Huh... isso não aconteceria se mantivesse esse seu narizinho apenas onde te convém. — Ele disse sério, com os braços cobertos pelo terno, de forma inquisitória.

— Isso não é o que-

— O que eu estou pensando? — Ele deu um sorriso leve. — No que exatamente eu estou pensando?

— Não... nada. — Eu disse com uma carranca, que mesmo estando errado, remetia a eu estar certo.— E-eu não estava bisbilhotando.

— Sei... e estava fazendo o quê?— Ele ergueu a sobrancelha, me deixando nervoso.

— Eu estava vendo o que eu posso aprender aqui, já que vou tomar conta do bar na ausência dele... só isso... você é quem vê coisas onde não tem. Estava pesquisando. — Menti descaradamente, passando a mão pelos cabelos e me levantando.

Errado eu até poderia estar, mas eu ia sair por cima ele querendo ou não.

Virei as costas para sair dali, mas antes ouvi-o dizendo:

— Não é certo bisbilhotar as coisas dos outros!

— Muito sem moral, vindo de quem estava me bisbilhotando bisbilhotar as coisas dos outros... — Dei de ombros me sentindo un vencedor, enquanto me afastava. — Enfim, a hipocrisia.

— Nem você acredita no que está dizendo. — Ele riu.

— Vai rindo, panela de pressão.

— Como é? — Ele levantou as sobrancelhas confuso.

— Nada não. — Disse como quem não quer nada. — O que queria comigo?

Ele andava devagar passo a passo e eu caminhava ao seu lado, com as mãos nos bolsos.

— Bom... essa coisa do Hoseok sofrer um acidente acabou comigo, eu não tenho ninguém em quem eu confie o bastante para colocar no lugar dele por enquanto. — Eu assenti, isso era verdade, eles se conheciam desde a infância.

— Hum... e qual é o meu papel...

— Você não me esperou terminar... — Me repreendeu sem me olhar, e eu me senti uma criança pequena outra vez. — Eu não confio em ninguém, a não ser em você. — Ele parou de andar, se virando para mim e segurando a minha mão.

— Hã... o-obrigado. Mas eu não sei se sou digno dessa confiança. — Disse tentando não me sentir tão nervoso.

— Não seja assim. Nesse momento... pelo menos por enquanto, eu vou precisar de você mais do que nunca...

— Oh. Certo. Tudo bem... mas por que confia em mim? — Eu perguntei sem olhar para ele.

— Você deixou meio milhão de dólares no meio do meu apartamento sem perguntar nada. — Ele riu sem jeito, mas logo retomou a postura séria. Ele pigarreaou. — Quero dizer. Você me passou essa confiança. Talvez eu esteja errado... nunca me arrisquei assim, mas... Jimin. — Ele disse sério, chamando a minha atenção. — Eu preciso de você, da sua ajuda... pode fazer isso por mim? — Ele perguntou, sinceramente. Seus olhos transmitiam insegurança. — Está tudo por um fio, eu não sei a quem mais eu posso pedir algo assim...

Mesmo sem coragem de levantar os meus olhos e olhar para seu rosto próximo, sentindo que ele estava realmente invadindo o meu espaço pessoal, mesmo sem certeza, sem saber: eu disse sim.

—Tudo bem. Eu faço isso. — Respondi, e ele deu um suspiro fundo e um sorriso aliviado se afastando finalmente. — Eu só acho estranho uma pessoa como você dizer que está tudo por um fio...

— Uma pessoa como eu? — Ele cerrou o olhar e eu assenti. — Como assim?

— Ué... como "como assim", olha só tudo o que você construiu... fora que tem tudo... isso. — Eu disse apontando para ele todo, sem saber como explicar.

Jin corou um pouco pela primeira vez e coçou a parte de trás da cabeça.

— Bom, esqueça isso por enquanro. Ainda bem que posso contar contigo. Venha, vou te mostrar tudo por aqui.

Depois de um longo e cansativo tour pela boate seguido de uma organização realmente duradoura das bebidas em exposição e uma verdadeira aula sobre como ministrar as doses e como preparar um drink, bebendo de um copo que eu havia preparado.

— Pode me dizer os nomes de cada um deles? — Ele perguntou arqueando uma das sobrancelhas. Eu estava pronto para ser testado.

— Bloody Mary... — Disse vendo o avermelhado, com uma folha de hortelã repousada delicadamente sobre o líquido. — Cosmopolitan, Margarita, Mojito, Sex on The Beach, Cuba libre, Pisco Sour, Piña Colada, Negroni... e Dry Martini. — Terminei meio incerto, apontando para a taça aberta com uma azeitona verde volumosa do lado de dentro.

— E? — Jin deu uma leve demorada ao pronunciar a letra, como se eu tivesse esquecido algo para trás.

— Aish, claro, eu me esqueci! — Ri sem graça, apontando para o copo ilhabela em formato de cone com limão e gelo. — Caipirinha. — Eu disse para ele que sorriu satisfeito.

— É, acho que vou demitir Hoseok. — Ele brincou, com um sorriso satisfeito no rosto, me fazendo sentir competente o bastante para tratar do que o seu braço direito tratava.

— Para de brincadeira... — Brinquei, dando um soco leve em seu peito.

Ele balançou a cabeça, concordando..

Nos segundos que se seguiram, nós ficamos em silêncio, ele mantinha o olhar tranquilo focado em mim, gerando uma tensão e um desconforto desnecessários para o momento.

— Arham! — Eu pigarreei falso, apenas para quebrar a tensão entre nós. Ele parece ter percebido, julgando por seu olhar de desconforto e pela folgada que ele deu com seus dedos em seu colarinho. — Nós terminamos? — Era até engraçado como ele estava com o olhar perdido no momento, parecia até... vulnerável.

— N-não! Nada disso, espere só um instante. — Ele disse tentando se encontrar, repousando o copo sobre o imenso balcão de madeira que se estendia por metros e metros acompanhando o comprimento da boate. — Não vou levar muito tempo, só preciso te dar uma chave. Tenho uma cópia extra na minha sala, eu vou buscar e a gente termina por aqui.

Jin olhou um pouco para mim, antes de sair andando. Estávamos apenas os dois ali, então ao vê-lo se afastar eu me dei ao luxo de deixar um riso soprado sair, era bom deixá-lo desconfortável uma vez ou outra, assim como ele parece gostar fazer com todos o tempo todo.

— Ele acha que eu não percebo... — Sussurrei para o nada, rindo outra vez, e dando uma volta sobre os meus calcanhares, observando toda a imensidão do local que nesse momento estava tão vazio, livre de qualquer som ou ruído.

Seokjin havia sumido a alguns minutos e eu já me sentia entediado.

Bufei apoiado no balcão, sentindo vontade de me movimentar um pouco. Com as mãos batucando sobre o vidro que recobria os troncos eu respirei fundo. Toda aquela extensão ali, e eu estava a sós. Eu me sentia uma criança curiosa, estava doido para bisbilhotar.

Então em passos leves e incertos eu andei ao redor do balcão, chutando o ar de leve enquanto caminhava com as mãos para trás.

Algo dentro de mim me dizia para ficar quieto e não mexer em nada, conhecendo Seokjin sabia que ele se zangaria se eu bisbilhotasse por aí, porém, a culpa era dele por demorar.

A visão a minha frente era ainda mais intrigante: o palco das garotas, onde existiam três canos prateados.

Inclinei a cabeça e sorri.

Olhei para um lado, para o outro e não vi ninguém. Como disse, o lugar estava silencioso demais.

Em passos lentos, a curiosidade me levou a subir as escadas, ouvir o som dos meus pés tocando aquele palco, me trouxe uma nostalgia curiosa. Como eu poderia sentir a sensação de estar em um lugar no qual eu nunca estive? Com qual conhecimento eu me sentia tão íntimo daquele palco?

Aquela nostalgia não me pertencia. Não era minha.

Respirei fundo, sentindo o ar tremer enquanto saia, ao que toquei o poste prateado e frio que ia do chão ao teto.

Segurei firme com as mãos, antes de dar uma volta, jogando o peso para frente, e rodando com os pés no chão, assim como fazemos na rua quando vemos uma placa. Senti uma sensação boa me percorrer, me forçando a dar um sorriso, ao que eu tropecei no fim da volta.

Me sentia como uma criança aprendendo a andar.

Repeti o movimento mais uma vez, desta vez jogando o peso em meus braços e recolhendo os joelhos rentes ao abdômen e deixando o meu corpo girar ao redor, o que não durou muito, pois logo eu fui direto ao chão, fazendo um barulho oco ressoar o ambiente.

Fiz uma careta de dor, sentindo a minha bunda aguentar todo o impacto.

— Droga... — Sussurrei, olhando para os lados, me certificando de que Seokjin não estava ouvindo. — Tudo bem. — Disse para mim mesmo, me levantando do lugar, decidido a fazer outra vez.

Dessa vez, com o aperto mais firme eu repeti, terminando o movimento em pé.

Sorri satisfeito com o resultado, meu coração estava a mil, eu estava sentindo uma sensação realmente diferente.

Sem que eu notasse, uma música lenta começou a tocar. "WTF Are We Talking For" Labirinth. Porém a julgar pelo quão imerso eu estava naquele momento, o silêncio ou o som mais alto do mundo, não me atrapalhariam. Muito pelo contrário.

Fechei os olhos, deixando o som me invadir por dentro. Seria realmente fácil me lembrar desse momento pelo que era. Gracioso. Vulnerável. Tudo o que eu precisava.

Clique.

Eu me assustei quando abri os meus olhos e vi a luz de um flash me alcançar. Vi uma garota parada a minha frente, do lado de baixo do palco, com o celular na mão.

Senti o meu coração disparar, e o meu rosto esquentar. Era evidente o rubor em meu rosto, senti-me invadido, ao reparar o sorriso, no rosto da garota de cabelos pretos e compridos, com uma franja acima dos olhos.

A minha boca se abriu em um perfeito "O".

— Não consegui me segurar. Você fez tudo de uma forma tão preciosa, imerso. Eu tive que capturar esse momento. — Ela disse com um sorriso, observando o celular.

— O-o quê?! — Disse incrédulo. — Não pode sair fotografando as pessoas como bem entende! Apaga isso!

— Eu não fotografei. — Ela se defendeu, erguendo as sobrancelhas por trás dos fios da franja. — Eu também filmei...

— Como se isso melhorasse alguma coisa. Apaga logo, stalker.

— Oh... assim você me ofende. — Ela riu. — Sinta-se lisonjeado. Eu só gosto de capturar coisas bonitas. — Deu de ombros e eu cruzei os braços.

— Conseguiu o que queria? — Perguntei, com um toque de sarcasmo e uma pancada de irritação.

— Olha, não precisa se irritar. Você ficou ótimo. — Ela virou o aparelho para mim, como se isso melhorasse o meu dia.

A foto mostrava a mim, em movimento. Minhas mãos seguravam o mastro cromado, e minhas pernas estavam soltas no ar.

No fim eu fiquei tão imerso na foto, que não falei mais nada.

— Gosto não foi? — Ela sorriu, virando o celular para si outra vez.

— E-eu...

— Então sou eu quem te pergunto. — Ela tirou os olhos do aparelho, e os voltou para mim, como se eles dissessem "peguei você". — Você, conseguiu o que queria? — Sua sobrancelha se arqueou.

Respirei fundo e examinei o chão, optando por abaixara a guarda, me sentando à beira do palco.

— Eu nunca te vi por aqui. Qual o seu nome? — Ela perguntou, ajeitando o cós apertado de sua calça jeans que era super larga, ela deu uma corridinha rápida e bateu as mãos no palco, se sentando com facilidade ao meu lado.

— Jimin.. — Respondi meio emburrado.

— Ownt... ele faz biquinho pra falar. — Ela disse, segurando o meu rosto com as duas mãos. — Rabugento. Eu sou Lalisa, pode me chamar de Lisa. Muito prazer.

— Prazer... — Eu disse sem jeito.

— Então... você trabalha aqui? — Ela perguntou me olhando nos olhos.

Eu assenti.

— Trabalho no bar, mas vou assumir o lugar do Hoseok por algum tempo...

— Hoseok? — Um ponto de interrogação estampou a sua cara.

— É. Hope. J-Hope. — Respondi e ela fez uma careta engraçada.

— Ah! É, verdade, esqueci que esse é o nome daquela praga. — Ela riu um pouco. — Ele já deveria estar aqui, por que vai ocupar o lugar dele? Pelo que eu sei o Jin nunca o substituiria.

— Oh... você não sabe? — Ela maneou a cabeça. — Ele sofreu um acidente noite passada.

— Puta merda! O que houve? Ele está bem?! — Ela colocou a mão na frente da boca.

— Aham... passou por uma operação no tornozelo, mas vai ficar bem, não vai precisar arrancar... — Dei de ombros e ela arregalou os olhos.

— Hããã?!!

— Brincadeira. — Eu ri, sentindo uma estranha familiaridade entre nós.

— Cara, você me assustou! — Explicou, colocando a mão no peito.

— Jimin, você faz aulas de pole dance? — Ela perguntou parecendo realmente interessada em saber e eu maneei a cabeça. — Caramba. Tô sem palavras. — Ela disse, levantando as duas sobrancelhas.

Ela se levantou, se aproximando do poste.

— Sabe. Isso aqui é bem difícil... não é pra qualquer um. — A forma como ela subiu e girou feito profissional, me fazia discordar um pouco.

— Ah! E-eu não quis invadir nem nada... eu só estava... curioso. Você sabe como é...

— Não! — Ela disse parando de se mover. — Não estava te criticando. Foi um elogio. Você é realmente muito bom para quem nunca fez antes. — Ela parou com cara de pensativa, se apoiando no ferro. — Sabe... eu estava indo para casa dormir. Mas depois de ver isso eu não acho que preciso de muitas horas de sono. Já que o seu corpo me inspirou, eu tenho que tentar uma coisa. Vem aqui. — Chamou, estendendo a mão.

— V-você disse que eu sou bom? — Eu perguntei sentindo que ela estava realmente bem errada.

— Por que parece tão arrebatado com isso?

Olhei para a sua mão estendida em minha direção, apenas uma sugestão dizia para que eu me levantasse e fizesse o que ela dizia. Era como na primeira vez em que a mamãe me convidou para dançar com ela.

Dava para ver a felicidade em seu rosto quando eu me levantei.

— Eu só não acho que eu seja bom, você está exagerando.

— Menino, você tem problema? — Ela perguntou, com os olhos cerrados e as mãos no próprio quadril. — Deve estar se fazendo, só pode.

— Muitos. — Eu cocei a nuca, sentindo o universo me amassar. — Quer ouvir alguns? Um desabafo de vez em quando com um desconhecido sempre me faz bem.

— Desconhecido? Você desabafa com desconhecidos?

— Haham. Por isso que eu evito conhecer pessoas, vai que alguém me diz oi e eu saio contando sobre a minha vida? Aconteceu das últimas três vezes, não da pra confiar. — Dei de ombros.

— Três vezes? — Ela pareceu estranhamente relutante.

— É ué... Yoongi, Hoseok, Jin... — Eu disse contando nos meus dedos. — Ah! Não, dá última vez que conheci alguém, descobri que esse alguém era um irmão meu, do meu pai que me odeia que eu nem mesmo conhecia. — Cocei a cabeça, confuso se estava ou não me lembrando dos fatos com clareza.

— Irmão? Eu não estou entendendo mais nada. — Ela faz uma careta, olhando para o chão com confusão.

— Viu só?! Eu fico confuso do mesmo jeito! Como foi que isso aconteceu? —Fransi a testa.

Eu é quem te pergunto! Como foi que isso aconteceu?! Me conta essa história direito...

— AH! Viu só?! — Apontei para ela que se assustou. — Eu estou fazendo outra vez! Me desabafando com a desconhecida! É automático, percebeu? Quando vejo já abri a caçapa.

— Mas agora vê se continua. A desconhecida quer saber. — Ela cobrou, apontando para si mesma e eu fiz uma careta. — O que foi? Não pode dizer? Qual é eu tenho certeza de que eu sou a melhor desconhecida que você vai ter o prazer de desconhecer. Conta aí, eu adoro um babado.

Eu ri sem graça, pensando se deveria ou não, ela parecia bastante com os meninos.

— Não, na verdade eu estava pensando se deveria...

— Jimin, desculpa a demora, eu estava em chamada com o hospital, eles vão liberar o Hope e-... — Seokjin que sorria com o celular em mãos ia andando até o bar, mas logo começou a olhar para os lados ao não me encontrar, batendo o olho diretamente no palco, onde eu residia de pé.

Jin olhou para Lalisa, e depois para mim, e fechou a expressão, franzindo o cenho. Deu um suspiro descontentado, colocando uma das mãos no bolso do paletó e com a outra mão ele apertou entre os olhos com o indicador e o polegar.

— Que droga você está fazendo aqui Lily? — Perguntou impaciente, caminhando até nós e parando do lado de baixo do palco.

Franzi a testa ao ouvir o apelido, e Lalisa sorriu, escorando-se no mastro metálico, lançando um sorriso ladino e uma piscadela para o mais alto.

— Fala aí chefia, tudo em cima? — Ela disse irônica e ele não esboçou reação. — Eu só estava aqui dando um confere no gatinho. Onde achou um desses? Com esse você deve ter gastado. Que qualidade... — Ela disse me girando uma vez e curvando os cantos dos lábios para baixo enquanto "conferia".

— Que porra você está querendo dizer? — Ele perguntou impaciente, com os lábios entreabertos. Eu observava tudo no mais absoluto silêncio.

— Bom, o mercado de pole está bem escasso, então para você encontrar um, com esse rostinho ainda... deve ter procurado muito.

Ele maneou com a cabeça.

— Na verdade não. — Ele apontou para mim com a cabeça. — Esse caiu no meu colo por acaso. Coisa do Hoseok.

— OOLHA! Quem te viu quem te vê, eu achando que você era só mais um reles trabalhador como todos nós, quando na verdade chegou em carruagem dourada.

— Jin, olha eu não estou entendendo nada do que ela diz. — Confessei confuso e ele tirou a chave do carro do bolso, girando-a nos dedos.

— Não precisa entender, só desce daí. — Ele explicou, me chamando para baixo com um gesto de mão. — O que quis dizer com pole?

— Ah! Você sabe. — Ela deu um assovio baixo, girando no poste.

— Você é dançarino de pole? — Ele ergueu as sobrancelhas me encarando.

— E-eu não! Eu só-

Jin suspirou fundo, olhando o relógio digital do celular.

— Tanto faz, eu nem sei porque dou papo para ela, vamos?

— Vamos em que lugar?

— No hospital. Hope vai ter alta e eu vou buscá-lo. Pode me acompanhar? — Apontou para um lugar ao longe, em direção a porta de saída.

— Ah... certo, tudo bem. — Sorri, me aproximando.

Nós começamos a andar e quando eu olhei para trás para acenar para a recém conhecida, ela pulou do palco com a mesma facilidade que eu dava um passo.

— Hey, espera aí coroa, vamos tomar um daqueles drinks ali. — Ela disse, se aproximando.

— Fique a vontade para tomar todos se quiser, a gente tem um compromisso agora... e ele é menor. — Ele explicou e ela fez uma careta.

— Como assim menor, meu pai, eu não quero ser presa não. Tchau Jimin! —Ela disse se afastando e eu ri, acenando para ela.

—"Coroa". — Eu debochei, sentindo seu olhar queimar sobre mim. — Um dia eu ainda vou descobrir qual a sua idade.

— Ah. Jurou. — Jin disse, olhando de lado, com desdém.

— Aposto que tem aniversário pra dar e vender aí.

— Quer ir pro olho da rua? — Ele retrucou, e eu segurei para não rir.

— Eu só quis dizer que...

— Vou te demitir.

Gargalhei saindo da boate, vendo como a noite escura havia tomado todo o ambiente.

Só chegamos ao hospital meia hora depois.

Quando chegamos fomos recebidos pelo mesmo cara sem educação de ontem. Do lado de dentro, encontramos o Dr. Andrews mais uma vez, e ele deu um grande sorriso ao me ver, mas como o homem de negócios que era, Jin tomou a sua atenção para tratar dos assuntos realmente importantes, esses que eram a alta de Hoseok.

Estávamos parados em frente a uma janela, na mesma sala de espera de ontem. Jin parecia ansioso, era como se fosse retirar seu próprio filho da emergência.

— Hey. — Eu o chamei baixo, batendo o meu ombro contra o seu, que logo olhou para mim atento. — Não precisa ficar tão tenso. Vai ficar tudo bem...

— Eu... não estou tenso. — Ele mentiu, desviando o olhar para o corredor vazio.

Quando se tratava de Hoseok, ele realmente era muito vulnerável, mais do que eu havia conseguido captar.

Olhei para ele, seu cabelo escuro balançando com o sopro de ar frio da noite, deixando as suas bochechas vermelhas, em conjunto com a expressão de preocupação. Era adorável a sua super proteção, me lembrava um pouco o Namjoon quando se tratava de mim.

Maneei a cabeça olhando para o chão, rindo para os meus pés. Ele ainda tinha a audácia de dizer que não estava tenso.

Seokjin mirou confuso, passando a mão pelos cabelos.

— O que foi?

— O quê? Eu? O quê?! Nada... nadinha... — Respondi segurando uma gargalhada presa.

Ele não me lembrava o Namjoon. Ele era uma cópia do Namjoon.

— Olha. Você anda mais saidinho do que o normal, está andando muito com o Hoseok e eu não estou gostando disso.

— Você está falando sério? — Eu ri. — Na moral, você não tem que manter essa sua pose o tempo todo.

— "Pose?" — Ele interrogou, com o cenho franzido.

— Esquece. — Me defendi, levantando uma bandeira branca imaginária.

— Agora você fala. — Ele disse sério, se virando para mim, com uma das mãos no bolso do paletó.

— Não.

— Fala. — Ele riu, apontando a chave do carro para mim de forma ameaçadora e eu levantei as mãos rindo.

— Eu estava brincando! — Me defendi, e ambos caímos em uma gargalhada silenciosa, bom eu caí. Ele colocou o punho na frente da boca, rindo discretamente. Mas para ele, qualquer tipo de emoção humana que não for previamente calculada já é um avanço.

Assim que a crise de risos passou, e eu me recompus, bati o olhar direto no final do corredor.

Jungkook estava parado, olhando para nós, com uma expressão nada boa no rosto.

— O que o seu namorado está fazendo no hospital? — Jin perguntou normalmente.

— É o que eu também me pergunto. — Eu respondi, pigarreando no final, e me colocando a caminhar em sua direção. — Com licença.

— Ok...

Ao que eu caminhava e sua direção, Jung maneou a cabeça negativamente, e deu um suspiro tão profundo que pude ouvir de onde eu estava. Ele estava vestido com uma camisa social e uma calça escura do mesmo tipo, e um sapato social preto fosco. Os primeiros botões da blusa estavam desabotoados e ele segurava uma chave de carro.

— Oi... — Eu disse me aproximando dele e tocando o seu braço. — O que está fazendo aqui? — Perguntei com um sorriso, esse que logo se desfez quando ele discretamente se esquivou do meu toque.

— Pode apostar. Agora eu estou me fazendo a mesma pergunta. — Ele respondeu sério, sem me olhar, e eu senti um desconforto por conta do seu tom.

— Como assim? — Franzi a testa, tentando tocá-lo outra vez sem sucesso, fazendo com que eu recolhesse a minha mão ao meu próprio espaço pessoal.

— Parei de serviço agora. O Taehyung disse que estaria aqui. Eu vinha te buscar para jantar... — Ele olhou por cima do meu ombros, mirando Seokjin, que estava bem mais atrás.

— Oh... — Eu sorri. — Eu adoraria, só preciso de-... — Antes que eu terminasse ele me interrompeu, ignorando as minhas palavras.

— Não se ocupe. Já vi que está bem acompanhado, eu janto em casa. Pode ficar tranquilo. — Ele disse andando e passando direto por mim. Eu fiquei parado, com o braço esticado, sem entender nada.

Quando olhei para trás ele já se afastava a passos rápidos, já havia passado de Seokjin.

— J-Jungkook! — Eu chamei e uma enfermeira me repreendeu, enquanto passava com um paciente em uma cadeira de rodas. — Perdão. — Pedi, começando a correr, o mais silenciosamente que eu conseguia.

Passei direto por Seokjin, que assinava alguns papéis em uma prancheta em frente a um enfermeiro.

— Jungkook! — Eu chamei do lado de fora do hospital, vendo ele acionar o alarme do seu carro, com a expressão séria, sem me responder.

Quando alcancei o carro, ele já estava sentado do lado de dentro, com a chave na ignição.

— Ei! — Eu chamei, sem receber resposta. — O que deu em você?

— O que deu em mim? — Ele sorriu amargo enquanto repetia o que eu havia dito, como se fosse a coisa mais idiota de todas, ligando o veículo.

— É. Exatamente isso. Pode me responder ou vai fazer voto de silêncio?

— Agora eu perdi até mesmo o direito de ficar em silêncio? — Ele rebateu duro e eu revirei os olhos, impaciente, me apoiando na janela.

— Será que dá pra sair daí pra gente conversar? — Ele maneou a cabeça.

— Não posso. Tem visitas na minha casa, eu havia me esquecido. — Ele respondeu, passando a mão no retrovisor, e cerrando os olhos para ele, como se ajeitasse, coisa que eu tinha certeza de que ele não fazia.

— Dá pra largar essa droga e conversar comigo?!

— Não. Você estava bem melhor conversando com o Mister Universo lá de dentro. Eu tenho que ir. — Eu ri desacreditado, passando a mão pelos cabelos.

— Tá de brincadeira...

— Não Jimin, você está. Larguei o trabalho para jantar contigo. Pensei que estivesse na escola, e aí o Tae disse que estaria aqui. Quando eu chego, você está cheio de gracinhas com aquele cara.

Quando eu estava pensando em protestar, Jungkook subiu o vidro do carro, me fazendo dar um sobressalto, pois estava apoiado ali.

— Eu estou cansado. Vou embora. — Ele disse enquanto o vidro subia, sem me dar a oportunidade de responder de volta.

Dei um passo para trás, e ele arrancou o maldito carro, indo embora, como havia dito que faria.

Um perfeito cavalheiro.

Eu ri sem humor, com os braços cruzados. Provavelmente devo ter passado cerca de cinco minutos parado ali, na tentativa de processar o que havia ocorrido.

Do lado de dentro do Hospital Dr. Andrews nos dava uma aula de como deveríamos cuidar dos ferimentos de Hoseok, utilizando de termos médicos complicados demais para alguém como eu entender. Alguém que na verdade não estava ali, eu estava bem longe na verdade.

Uma onda de pensamentos rondavam a minha mente, e eu queria chorar, de raiva. Olhei para cima, sentindo os meus globos oculares arderem, afim, de espantar essa vontade. Parecia ter um ferro em brasas na minha garganta.

Espantei o que nevoava a minha mente, antes que o pensamento se tornasse algo perversamente emocional.

Dr. Andrews sorriu.

— Vocês entenderam? Sabem o que eu quis dizer, não é? — Ele deu de ombros, como se fosse simples. Seokjin estava olhando para mim, de forma atenciosa, ele sabia o que havia acontecido, apenas pela forma como me olhava.

— Sim. — Eu respondi falso e Seokjin mirou o médico, assentindo.

Hum, não, cacete. Eu não sabia o que ele queria dizer.

Finalmente, o momento em que Hoseok definitivamente recebeu alta chegou, e antes de lava-lo para a sua própria casa, Seokjin fez o favor de me deixar na minha.

— Tchau. — Eu disse, dando um aceno para eles, Hoseok estava com uma careta de dor, mas mesmo assim me mandou um sorriso. Eu prometi que no dia seguinte eu estaria na casa de Jin para ajuda-lo a pregar adesivos em sua cadeira de rodas, já que por algum tempo ele estaria impossibilitado de tocar o chão. — A gente se vê. — Eu disse mais desanimado do que gostaria, mandando um beijinho para ele no final, logo ele tampou os olhos com o antebraço, sentindo dor.

— A gente se vê Jimin. — Jin disse do banco da frente e eu me aproximei, já que estava do lado de fora. — Sabe que agora eu vou exigir o triplo, não é? — Brincou, tentando quebrar a tensão e eu sorri assentindo.

— Tudo bem... agora eu vou ter tempo de sobra para a boate.

— Como assim?

— Oh... é que o meu pai me negou o dinheiro que ele me enviava antes, e o salário ficaria dividido entre a mensalidade da escola, e entre as despesas de moradia e aluguel... — Dei de ombros. — Eu vou ter que largar a escola.

— O quê? — Ele ergueu as sobrancelhas, como se isso fosse um crime capital. — Não pode fazer algo assim... vai atrasar a tua vida completamente.

— Bom... é isso, ou morar na rua. — Brinquei sem humor, me afastando um pouco do carro. — A gente se vê. — Eu acenei, e ele também fez o mesmo, levando o carro para longe.

Suspirei fundo, adentrando ao medonho prédio verde.

— Nenhuma chamada... — Eu disse sentado a beira da cama, verificando o telefone.

1 MENSAGEM NÃO LIDA.

Madalena: Não se preocupe eu já estou resolvendo tudo, não me esqueci da nossa conversa de hoje cedo.

Esfreguei e estreitei os olhos, com uma sugestão de sorriso no canto da boca. Não tinha certeza, mas vindo de quem vinha a mensagem, imaginei que fosse mais uma forma de brincar comigo.

Respirei fundo, e pensei uma, duas e três vezes, antes de decidir se deveria ou não responder.

Com os olhos fixos no teclado, eu a enviei.

Eu: Eu não sei exatamente do que você está falando, mas se for sobre o Jungkook, não perca o seu tempo.

Madalena: Eu não acredito que você esperou pra terminar com ele depois que eu decidi te dar espaço. Você é mesmo estúpido.

Eu: É, eu sou. Mas que mal lhe pergunte. Como sabe que a gente está brigado?

Madalena: A julgar pela sua resposta de corno manso, ou pela cara de quem matou um e engoliu quatro que o Jungkook está aqui nesse momento?

Eu: Por que eu me dou ao trabalho de te responder?

Madalena Megera: Que pergunta besta. Você consegue ser mais idiota por mensagem de texto. Eu já disse que é por que você é estúpido ué.

Eu: Espera só pra ver o quão retardado eu fico mandando áudio.

Madalena Megera: Compactuar com você e o seu processo para roubar o meu namorado dói, mas ouvir seus áudios seria suicídio. Eu me odeio, mas não o bastante para virar a sua confidente e escutar as suas lamúrias e chororôs. Me poupe.

Eu: Caralho, você continua sendo uma obra satânica mesmo no telefone.

Madalena Megera: Obrigado por me lembrar que eu sou autêntica.

Eu: Ele... por acaso está na sua casa?

Madalena Megera: Huh... bem que eu senti cheiro de fracasso. Vocês dois nem precisam da minha ajuda para acabar com tudo em um dia.

Eu: Pode responder a minha pergunta?

Madalena Megera: Eu até curtiria te deixar com a pulga atrás da orelha. Mas como eu sou boazinha vou falar a verdade: não, eu estou na dele. Como eu disse, vim resolver tudo. Agora eu tenho que ir.

Eu: Obrigado.

Madalena Não Tão Megera: Disponha.

Madalena Megera Pra Caralho, sem coração sinistra: Continuo não gostando de você, não confunda as coisas.

Eu: Tudo bem, eu estou acostumado a não ser querido por todos.

Revirei os olhos bloqueando o telefone.

Me joguei para trás na cama, sentindo a angústia me tomar. Acho que adormecendo em seguida.

J U N G K O O K

Estacionei o carro de qualquer jeito, sentindo uma raiva enorme dentro de mim. Como eu pude ser tão idiota. A imagem de Jimin todo sorridente e íntimo daquele cara não saia da minha mente.

Desci do carro, deixando algumas lágrimas escaparem. Escolhendo descontar o que eu sentia na porta do carro, que fechou em uma estralo alto.

— Merda... — Disse coçando a cabeça e bagunçando os meus próprios cabelos, ao ver o veículo dos Scott parado no garagem de Maple Hill.

Eu não estava com cabeça para qualquer que fosse o discurso que eles tivessem para mim.

Um dia de trabalho no final de semana, seguido de uma visão de fuder qualquer um como eu tive, não me davam outra saída, a não ser mandar qualquer um que passasse por mim pro meio do inferno.

Quando abri a porta de madeira e coloquei os pés para dentro consegui ouvir o som alto das vozes combinadas dos meus pais e dos Scott.

Contei até dez, e me coloquei a andar.

Em frente ao enorme portal da sala de recepções, eu podia enxergar os quatro mais velhos de pé, com cara de poucos amigos e Madelaine, sentada no sofá de frente para eles, enviando mensagens tranquilamente enquanto eles brigavam com ela.

— Jungkoook. — A voz impaciente de minha mãe me chamou, fazendo com que os meus planos de abandona-los ali e subir diretamente para o meu quarto estivessem fora de questão.

Revirei os olhos e caminhei com as mãos nos bolsos da calça até o local onde eles estavam, Madelaine me deu um olhar e depois se voltou para o celular.

— Jungkook meu filho, que bom que chegou. — Meu pai disse parecendo preocupado.

— Precisa dar uma luz a cabeça dessa garota. — O pai de Madelaine disse sério, com desdém.

— Como assim? — Eu sabia que me arrependeria, mas perguntei mesmo assim. — Tsc... — Estalei a língua descontente e olhei para o meu relógio de pulso. — O que foi que aconteceu agora? — Eu disse a contragosto, cruzando os meus braços.

— Madelaine nos reuniu para decidir que quer... quer terminar com você de uma vez por todas. — A sua mãe disse, sem parecer crer na situação.

Estreitei meus olhos para a ruiva que estava mais concentrada no telefone do que em tudo ao redor, ela apenas levantou o olhar para mim e mesmo que eu estranhasse a situação, eu conhecia Madelaine, e sabia que aquilo em seu rosto, era sinceridade.

— Fala sério, minha filha, você consegue ver? Nem o seu namorado consegue entender o motivo da sua decisão. — O pai dela disse como se lesse a minha expressão. Leu errado.

— Ela está terminando com você meu filho. Você não vai dizer nada?! — Minha mãe disse séria.

E desta vez, eu olhei confuso para ela.

— Vou. Vou dizer... — Respirei fundo, passando os dedos indicador e polegar nos olhos cansado. — Que tal se usarem o termo correto? — Todos eles pareciam ter um ponto de interrogação sobre as cabeças.

— Termo correto? — Sr Scott repetiu.

— Rescisão de contrato. — Eu disse. — Em termos gerais, isso nunca passou de um negócio.

— Re-rescisão de contrato? — A mãe dela repetiu com a mão na boca.

— É isso mesmo mamãe. Você por acaso está surda? Ou é só analfabeta? Quer que eu te explique? — Madelaine disse, se levantando. — Precisa que eu desenhe que nós estamos cansados de sermos vendidos feito mercadoria barata?

— Você enlouqueceu! — Minha mãe gritou. — Vocês dois enlouqueceram!

— Tem noção do prejuízo que trarão ao futuro da empresa? — Meu pai disse com afinco, porém controlado.

— Isso não me interessa. Nos completaremos a maior idade em algum tempo, são as nossas assinaturas que estão naqueles contratos, eu farei questão de contratar um advogado eu mesma para que os documentos sejam extinguidos. Assim como a ambição ridícula que vocês tem por dinheiro. — Madelaine disse se virando e tocando em meu ombros antes de passar. — Eu estou cansada de ser vista como um monstro por todos por causa de um contrato, por causa de um teatro que eles inventaram... eu não sou um monstro. — Ela sorriu passando a mão por debaixo dos olhos. — Eu te amei Jungkook... te amei demais... é muito fácil de te amar, você é o cara bonzinho. Mas eu te amei do jeito errado, então me perdoe. — Ela disse, derramando uma lágrima atrás da outra. — Você merece alguém que te ame da forma certa, que lute por você, para te proteger e acima de tudo, quem mereça que você lute de volta. Você está livre agora...

— Mad... — Eu a chamei, sentindo meu coração apertar.

— Ele é um cara legal... não deixa ele escapar. Você não sabe o quanto ele gosta de você. Não do seu dinheiro, ou do seu status como eu sempre disse... mas do seu amor.

— Você também vai encontrar alguém que te ame da forma como você merece ser amada. — Eu disse a puxando para um abraço. — Eu sorri, sem humor algum.

— Jungkook... algum dia você me amou? — Ela perguntou sinceramente.

— Cada pedacinho de você. — Eu sorri e ela fez beicinho, derramando mais algumas lágrimas, com um sorriso no rosto, onde eu deixei um beijo demorado.

— Eu vou nessa... a gente se vê... cara bonzinho. — Ela disse, se virando, e pela primeira vez, eu vi Madelaine Scott sendo genuinamente vulnerável.

Ela também estava livre.

Livre das máscaras, livre da personalidade que era obrigada a interpretar, livre da pressão de não ser amada de verdade e mais importante, livre para ser ela mesma outra vez, a Madelaine que eu conheci anos atrás.

Suspirei fundo, sentindo um peso cair das minhas costas, e uma vontade enorme de estar com Jimin, era inacreditável, a forma como a distância doía, e mais importante do que isso, a forma como eu o tratei doía.

Os pais de Madelaine saíram correndo atrás dela.

— Não me sigam, ou eu juro que passo com o meu carro em cima de vocês. — Ela ameaçou os dois, jogando os cabelos vermelhos por cima do ombro, soando feito um trovão, fazendo os dois pararem onde estavam, vendo ela sair porta a fora.

Depois de uma semana cheia, preenchida com jantares de negócios chatos nas piores companhias, incluindo a dos meus pais regados a falso moralismo e ostentação. Eu não me importava mais, eu tinha que ver o meu pequeno.

Era bom, passear, provar comidas deliciosas e tomar champanhe e vinhos caros, mas não era o mesmo que ver Park Jimin gritando o meu nome na arquibancada ou dedicar um gol a ele. Não era nada sem ele.

— Onde você pensa que vai? — Meus pais disseram adentrando ao meu quarto, e vendo que eu juntava várias coisas em uma bolsa, sem me preocupar se eles concordavam ou não.

— Vou atrás do meu amor. — Respondi com um sorriso.

Essa era a minha oportunidade, como Madelaine disse, eu estava livre.

— Enlouqueceu?! — Meu pai gritou.

— Pai. Eu passei as últimas semanas fazendo tudo o que o senhor queria, os últimos anos fazendo tudo o que vocês todos queriam, namorando com alguém que eu não escolhi, vivendo de uma forma que eu não concordava, interagindo como o homem de negócios que o senhor quer que eu seja. — Eu disse colocando a última peça de roupa na bolsa. — Eu não me arrependo de nada disso. Não vou destruir tudo o que você construiu por capricho, mas por uma coisa eu não vou me perdoar.

— Pelo quê? — Meu pai perguntou duro, e minha mãe acompanhou tudo do batente da porta.

— Por ter deixado você se aproximar do Jimin, de ter deixado você colocar as suas mãos nele, eu não te disse nada, mas foi a gota d'água e você não vai mais se aproximar do que é meu. Porque se você ferir ele mais uma vez, da forma que for, você me terá como inimigo, e não como filho.

Ele ficou em silêncio, observando quando eu passava por ele.

— Ele vai te destruir. — Ele disse de costas e eu parei de andar.

— As únicas pessoas que fazem mal a alguém aqui, são vocês, e é por isso que eu estou saindo.

— Vai sair de casa? — Minha mãe debochou, entrando me meu caminho.

— Vou atrás do meu garoto, rezando para não ter estragado tudo, que foi a única coisa que eu aprendi com vocês. E você não vai me impedir. — Eu disse, olhando perto em seus olhos, que me atormentaram e amedrontaram por tanto tempo.

Seus olhos pegavam fogo. E como antigamente, ela garrou o meu braço, afundando suas unhas pontudas ali, como sempre.

— Você não vai a lugar algum, porque se sair daqui: Não tem volta. — Ela disse de um jeito definitivo, que pareceu renovar o compromisso de manter as coisas como ela sempre disse que deveriam ser. Como ela queria. E como sempre foi.

— Ele vai sim. — A voz da minha avó veio do lado de fora do quarto, por trás da minha mãe, com os braços cruzados. — E não vai ser você quem vai o impedir de voltar se for essa a escolha dele. Você não tem poder dentro da minha casa. — As unhas de minha mãe nesse momento afrouxaram o aperto, passando a força para seu maxilar travado.

— Helena, você não entende! Esse garoto vai destruir tudo!

— Muita hipocrisia vindo de quem colocou o futuro dos meus negócios nas mãos de duas crianças. Não faça isso Ming Feng, não cave uma cova tão profunda da qual você não vai poder sair.

— Ele é o meu filho! — Minha mãe gritou.

— E você omite o que é direito dele saber! —Minha avó gritou mais alto, soando feito um trovão, feito a matriarca que era.

— Mãe! — Meu pai disse, a repreendendo com o olhar. — Não faça isso!

— Acha que pode me repreender?! — Ela disse caminhando até ele é lhe dando uma bofetada no rosto. — Você é um covarde! Apostou o seu filho como se aposta dinheiro.

— Mãe eu- — Ele tentou dizer com o rosto ainda virado, e vermelho.

— CALADO! Levante a voz para mim mais uma vez, e vai me conhecer de verdade. Chega dessa palhaçada. — Ela disse e ele ficou. — Jeon. — Ela se virou para mim e minha mãe me soltou. — Você vai. — Ela disse e eu assenti, mas antes que eu caminhasse ela continuou. — Mas você volta, quando quiser. Maple Hill é sua. Sempre foi toda sua. O seu avô foi bem claro em vida. Maple Hill era um presente seu, para o seu primeiro neto. E a palavra dele não volta atrás.

Quando ela disse essas palavras foi como se tudo parasse, os olhos do meu pai fixaram em mim, e o que eu via pela primeira vez naqueles olhos era inédito: medo.

MUITO OBRIGADO POR LER, ESPERO QUE TENHAM GOSTADO E PERDÃO POR QUALQUER ERRO, SE CURTIU DEIXE O SEU VOTO E O SEU COMENTÁRIO PARA QUE EU POSSA SABER!

As atualizações estão mais lentas por causa do trabalho, mas eu tentarei voltar o mais brevemente possível!

Existem outros três livros em desenvolvimento, então espero que não desistam de mim!

Um beijo e se cuidem!

@jikookertrouxa no Twitter.

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