Never Stay

By EAIsASecret

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"Nunca amar alguém é o caminho mais fácil para não partir seu coração, mas se isso também significar que você... More

Nota da Autora
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Um bilhete
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Para Sam
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Epílogo
Para o time
Livro novo e 8 mil leituras
10 mil leituras e publicação do livro novo

Capítulo 24

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By EAIsASecret

⚠️ ALERTA DE GATILHO ⚠️

Oiii, amoras 💛💛💛
O assunto depressão continuará a ser tratado e, por isso, preciso dar o ️ alerta de gatilho ⚠️ mais uma vez. Livia vai contar sobre como quase definhou quando soube que sua irmã, Jane, estava morta.

Não deixei o resumo nesse capítulo porque ela já contou isso em capítulos anteriores, então é algo que vocês já sabem. No entanto, se sentirem que não podem ler de jeito nenhum, me peçam o resumo do capítulo, que terei o prazer de escrever e mandar para você.

Centro de Valorização da Vida - Ligue 188 e nunca, jamais desista de você, sempre há esperança 💛

* * *

Sam ficou esperando por Livia na calçada da rua, um pouco antes da sua casa, ele não queria que ela entrasse lá, não queria que ela visse Carolyn e o quarto de Belle ou Jane vazio depois que tudo o que havia ouvido dos seus pais.

Aquela foi a primeira vez que a imagem de Livia lhe trouxe agonia em vez de paz, quando ele a avistou chegando, a culpa o consumiu de maneira tão forte que poderia explodir (de novo). Ele não sabia o que dizer a ela, não sabia como agir perto dela, então, quando ela parou em sua frente, ele a abarcou de imediato, coisa que fazia sempre, mas daquela vez estava fazendo com mais de força.

Livia ficou um pouco surpresa com tanta urgência, mas encostou suas mãos nas costas dele e não questionou até sentir ou mesmo ouvir o coração dele batendo extremamente rápido e seu corpo tremer.

-Sam... Você parece tenso, está tudo bem?

Ele hesitou antes de respondê-la, tentando recobrar o autocontrole. Apesar de querer muito falar com ela, não era exatamente naquele momento que aquilo deveria acontecer.

-Eu estou bem.

-Está tremendo...- ela pegou as mãos dele- Sam...

-Está tudo bem, está tudo bem, meu amor...- ele alisou os braços dela, tentando ser convincente.

-Me conta o que aconteceu... Por que não me esperou na sua casa?

-Para você não ter que andar tanto, Sofia e Violet vão nos esperar perto daqui. Você está bem mesmo em contar a verdade a ela?

-É claro, qualquer coisa que a faça melhorar.

-Você é incrível... Sabia disso?- involuntariamente, uma lágrima desceu. Livia ia falar, mas Sam foi mais rápido- Você sabe que, independentemente das circunstâncias, eu faria qualquer coisa por você, não sabe? E pela Jane também.

-Eu sei disso...- ela sorriu- Sam... O que está acontecendo?

-Nada... Nada, vamos nos encontrar com as meninas, elas já devem ter chegado.

Não era surpresa as ruas estarem escuras à noite, nada de ruim acontecia em Stratford e por isso as meninas não estavam com medo por estarem praticamente sozinhas. Elas estavam sentadas em um banco, Violet com a cabeça repousada no ombro da namorada e sentindo um pouco de frio, por isso Sofia tentava aquecê-la.

Fora difícil convencer Violet a sair de casa, Sofia não dissera que elas iam encontrar mais duas pessoas, se não ela não teria saído de jeito nenhum. Torcia para o amigo e Livia chegarem logo, porque não sabia por quanto tempo Violet ficaria sentada naquele banco sem questionar o que estavam fazendo.

Na verdade, o jeito que ela estava totalmente imóvel e calada perturbava Sofia, ela gostaria de vê-la ter a reação que fosse.

-Sofia...- Violet desencostou dela, assustada e, quando a outra menina olhou para o lado e viu Livia vindo de mãos dadas com Sam, entendeu o porquê- V-você os chamou aqui?

-Chamei, Vi, mas calma, eles vão ajudar você...

-Não, não! Eu não quero que mais ninguém me veja assim, Sofia, você sabe disso!

-Eu sei, meu amor, calma, eu não fiz por mal...

-Não, não!- ela levantou do banco- Eu não vou falar com eles, eu vou para casa...

-Não, Violet, espera!- Livia a ouviu de onde estava e tentou se apressar, apesar de não conseguir correr- Eu só quero conversar com você, prometo ser rápida.

-E ele?- ela apontou para Sam.

-Ele é inútil.- Sofia afirmou e o garoto fez uma expressão levemente revoltada- Não se preocupa com ele, finge que nem está aqui.

-E sobre o que você quer conversar?

-Violet, senta comigo...- Livia a levou de volta para o banco e segurou a mão dela, apertando-a. Ela não disse, mas partiu o seu coração ver como Violet estava e principalmente saber que a simples conversa que teriam poderia ter evitado aquilo- A Sofia ligou para o Sam mais cedo e disse que te achou, ele falou comigo sobre o quadro de depressão que melhora e piora, sobre o que você está passando agora, sobre não conseguir dormir, fazer as coisas que fazia antes e, principalmente, comer...

-Ai, meu Deus, Sofia!- com os olhos se enchendo de lágrimas, ela voltou-se enraivecida para a namorada- Que parte de "não conta para ninguém" você não entendeu?

-Calma, Violet, olha para mim...- delicadamente, Livia puxou o rosto dela de volta. Sofia deu um passo para trás, ela queria envolver-se o mínimo possível na conversa das duas- Sofia não fez por mal, ela fez porque te ama e porque sabe que você não tem motivo nenhum para estar assim.

-Do que está falando?

-Eu posso te contar uma coisa?

Violet assentiu e, pela primeira vez naquele momento, apesar de ainda aparentar um pouco de raiva, ela começou a prestar atenção, uma das suas melhores habilidades era a de ouvir. Livia hesitou antes de começar a falar, mas tinha certeza de que era aquilo que queria fazer.

-Eu te contei que, há alguns anos, eu tinha 14 anos, voltei a Chicago, meu local de nascença, porque queria rever a minha irmã, a Jane, lembra que te falei dela? Deu nome para esta garotinha daqui.- ela alisou a própria barriga.

-Sim, eu lembro, a irmã que fazia tricô com você...

-Pois é... E você também sabe que ela já não estava mais viva quando a procurei e que uma enorme parte de mim foi embora junto com ela.

-Sim, eu sinto muito por isso, Livia...

-Hoje a dor de tê-la perdido ainda é muito grande, mas não tão insuportável a ponto de eu não aguentar mais, só que na época era, eu não via sentido nenhum em continuar lutando se a minha irmã estava morta, digo... Lutar por quem, sabe? Na época, eu achava que ninguém mais além dela lutaria por mim, então por que eu faria isso?

-Livia...

-Desisti de mim mesma quando deitei no chão de uma barraca e me entreguei ao fato de que eu não tinha forças e alimento. Não lembro quantos dias passei sem comer, parei de contar depois de 4 ou 5, eu mal conseguia distinguir o dia da noite. Só que... Um grupo de voluntários, especificamente uma garota de cabelo violeta, mostrou que eu estava errada em muitos aspectos. Um deles era eu achar que ninguém lutaria por mim, porque ela lutou até onde foi possível e...- ela deu de ombros- Me salvou. Eu sempre quis agradecer a ela e, quando nos encontramos pela primeira vez, na frente da escola, eu te reconheci na hora. Não te falei nada porque é muito difícil lembrar daquela época e eu não queria ter que entrar nesse assunto, mas se eu soubesse, Violet, o quanto o nosso primeiro encontro te afetou, o quanto você se sentiu impotente por achar que não conseguiu me salvar, eu teria dito tudo, eu sinto muito e te agradeço por me dar a chance de estar aqui hoje. Eu não morri, Violet, por sua causa.

No meio da fala de Livia, a expressão de Violet já começou a mostrar algo além de apatia: incredulidade, o que era esperado, mas a esperança de todos que estavam ali era que ela expressasse felicidade. Ao ouvir o "eu não morri, Violet, por sua causa", ela ainda prosseguia com a mesma expressão de antes e não deu tempo de mudá-la antes do abraço que ela deu na outra garota, sem aviso prévio.

-Era você... Era você...- ela afirmava mais para si mesma do que para Livia, estava chorando, o que indicava mais uma emoção- Você está bem...

-Estou...- elas se soltaram e Livia sorriu para ela- Agora você também pode ficar.

-Eu não acredito, estivemos juntas esses meses todos e você está bem e... Estou tão feliz em saber que é você...- ela a abraçou de novo e depois voltou-se para sua namorada, que emanava alívio pelo seu plano estar funcionando- Sofia... Me desculpa ter brigado com você por trazê-los aqui, eu...

-Não de desculpe, está tudo bem.- ela deu uma piscadinha- Eu sabia que você ia brigar, mas ia entender depois.

-Eu e a Sofia vamos dar uma volta por aí e deixar vocês duas.- Sam falou- Acho que vão ter muito o que conversar.

-Certo, obrigada.- Violet enxugou o rosto com o moletom- Amor, não volta tarde para casa, hein? Seus pais me matam!

Sofia riu e beijou a bochecha de Violet, era bom ouvi-la de novo querendo ser responsável só por ser um ano mais velha:

-Acho que eu é que estou responsável por você hoje... Dê notícias aos seus pais.

-E eu te encontro amanhã.- Sam também abraçou Livia- Se divirtam.

* * *

-Okay, eu acho que nunca tinha comido tanta batata frita em toda a minha vida!- Violet exclamou quando o garçom trouxe mais cinco porções do petisco para as duas. Elas haviam ido para a lanchonete mais próxima que acharam e, apesar de terem chegado lá no calor das emoções e ainda chorando um pouco, logo a conversa sobre o trágico passado de Livia foi encerrada e se voltou para diversos outros assuntos: falaram sobre estarem formadas, trabalho voluntário, cabelo colorido, fofocaram um pouco, Violet convenceu Livia a provar hambúrguer vegano e, durante todo esse tempo, foram pedindo porções e mais porções de batata frita. De repente, a intimidade que já tinham parecia muito maior.

-Eu acho que se a Carolyn e o Tom me vissem aqui, me matavam...- Livia constatou, despejando uma quantidade enorme de ketchup em cima das batatas.

-Faz meses que você vive de alimentação saudável, uma vez na vida não faz mal, Lagartinha.- Violet pegou uma batatinha e comeu- Passei a amar batata frita depois que viajei para o Brasil, muitos restaurantes lá só tem isso de opção vegana. Você ainda não sentiu nenhum desejo ou algo parecido?

-Nenhum, até agora, que quanto mais batata frita eu vejo, mais eu quero.- ela riu e olhou para baixo, como se estivesse olhando para o bebê- Não conta nada aos seus pais, hein?

Violet titubeou e encarou Livia:

-Posso te fazer uma pergunta?

-Você está com a sua expressão séria...- ela observou- Vai lá, antes que eu fique nervosa.

-Agora que já se passaram alguns meses, você está um pouco diferente, talvez tenha mudado de opinião sobre alguma coisa... O que pretende fazer depois que a Jane nascer? Não só em relação a isso, mas... Com a sua vida, no geral.

-Hum...- Livia balançou positivamente a cabeça, em um sinal de que estava pensando e que a pergunta fora difícil, mas ela mentiria se dissesse que não havia pensado naquele assunto nos últimos tempos- Sabe... As coisas mudaram muito para mim desde que eu fugi de Nova Iorque, minha vida sempre foi uma caixinha de surpresas, mas o último ano tem se superado... Eu não esperava ficar tanto tempo em um lugar, estar grávida, conhecer vocês, namorar o Sam, me formar na escola... E... Bom, todas essas mudanças foram por causa da Jane, eu nem teria vindo para cá se não fosse por ela, mas...

-Você não se arrepende...- Violet riu de lado ao completar o que tinha certeza que ela queria dizer.

-Não... Não mesmo, eu faria tudo de novo pela Jane... Todas as mudanças que ela me proporcionou foram positivas e eu fico feliz que ela vai ter a vida que merece, então, depois que ela nascer e passar algum tempo, provavelmente vou tentar ajeitar a minha vida de alguma maneira, talvez até estudar mais. O Sam vai para a faculdade, Sofia também, você não vai ficar aqui para sempre, o bebê vai estar muito bem assistido e eu não quero ficar morando na casa de outras pessoas, dependendo delas para sempre, aceitei temporariamente porque estou carregando a filha deles. Mas... De qualquer forma, eu não pretendo me afastar muito daqui, nem da família do Sam e... Eu quero acompanhar a Jane de perto por, pelo menos, um ano.

-Essa última frase saiu em um tom diferente, tem mais coisa aí. Me conta.- ela pegou mais uma batatinha.

-Vai ter que prometer guardar segredo, não me abri com absolutamente ninguém em relação a isso.- ela condicionou e Violet estendeu o dedo mindinho para ela, em um sinal de que estava jurando- Eu deixei claro que não queria contato com o bebê no começo, mas, com o passar dos meses, eu observei alguns pontos e quero ficar mais próxima durante o primeiro ano para ter certeza de que a Jane vai ser alguém para acrescentar na família do Sam, não uma substituta da Belle. Não me entenda mal, confio na Carolyn e no Tom de olhos fechados, mas é muito visível que eles não superaram a morte da filha, é claro, quem é que supera isso? Eu só não quero que a Jane nasça com a obrigação de ser ela.

-E você acha que isso vai acontecer? Digo, eu não conheço muito bem os pais do Sam, mas, pelo que a Sofia me falou, fiquei sabendo que o casamento quase terminou depois do falecimento dela...

-É... Eu não posso ter certeza sobre o que vai acontecer. Eles falam bastante sobre a Belle, já me mostraram as fotos dela várias vezes, sempre que me pedem para sentir a Jane chutando se lembram de como ela fazia... Jane vai dormir no quarto dela, ter a família dela, viver rodeada das memórias dela, então inconscientemente pode haver essa tentativa. Eu entendo a dor deles, de verdade, e a Jane é filha deles, eu estou bem com isso, só quero estar perto por algum tempo para ajudar no que precisarem, porque eu sei que é difícil e que eles estão se esforçando.

-Eu acho que vai ser muito bom para ela ter todos vocês, já que convivem tão bem, sabia? Vocês vão contar, daqui a alguns anos, que você é a mãe biológica?

-Ah... Eu não sei. Da minha parte, prefiro que ela não saiba. Eu posso ser só a namorada legal do irmão dela, que mora em outras cidades e pinta o cabelo de rosa, fica ótimo assim.

Violet riu:

-E eu vou ser a amiga da namorada legal do irmão e namorada da melhor amiga do irmão, que pinta o cabelo de violeta.- ela passou a mão pelos seus fios, que planejara ajeitar e deixar do jeito que gostava assim que pusesse os pés em casa. Ao ver o garçom passando por elas, o chamou- Am... Tobby... Traz mais batatinhas?









-Violet acabou de mandar mensagem...- Sofia a lia na tela do celular, ela e Sam estavam caminhando pela última hora, literalmente andando em círculos, esperando pelas meninas- Ela vai deixar a Livia em casa, está tudo bem com elas. Ou seja, a gente ficou andando aqui esse tempo todo para absolutamente nada.

-Para nada não, foi bom te ver com uma expressão mais leve, você estava tensa demais, nem parecia você. Posso dormir na sua casa? Não estou muito a fim de voltar para a minha hoje...

-Pode, claro. O que houve na sua casa?

-Meus pais decidiram que se precipitaram em relação à adoção, agora que a Livia já está no estágio final da gravidez.

-O quê?!- ela exclamou- Sam... A Livia sabe disso? Ela tem que ser a primeira a saber!

-Eu vou contar, eu só... Não queria fazer isso hoje por causa da Violet, queria que elas tivessem um momento leve juntas...

-Eu também, mas isso é de extrema irresponsabilidade! Confiando no acordo com os seus pais, a Livia mudou a estrutura de toda a vida dela! Desistir agora é uma puta sacanagem, ela não tem como criar a Jane...

-E você acha que eu não sei disso? Acha que não falei tudo isso a minha mãe? Era isso que eu estava escondendo de você mais cedo... Eu sei o quanto os meus pais estão sendo irresponsáveis e o quanto isso pode prejudicar a Livia e a Jane, mas elas vão ficar bem, elas precisam ficar bem, porque eu vou dar um jeito em tudo... Assim que eu tiver uma solução, vou contar a ela.

-Sam...- Sofia parou de andar e puxou o braço dele, para que ele parasse também e olhasse para ela- Precisa contar a ela logo. Livia pode querer tomar outras providências, de repente até ir embora aqui...

-Não!- ele se alterou um pouco- Não, não, Livia não precisa mais viver assim, ela tem a mim agora, independentemente dos meus pais, eu vou ajudá-la, vai ficar tudo bem.

-E o que você vai fazer? Largar tudo e fugir com ela?

-Se for preciso, sim!

-Bonitinho. Louco, mas bonitinho. Agora me responde, você acha realmente que a Livia vai querer que você largue tudo por ela e pelo bebê? Você acha que ela vai ficar com o bebê depois que ele nascer? É claro que não, Sam! Ela já disse várias vezes que não quer contato com a criança e que não pode cuidar, no instante que você contar, ela provavelmente vai procurar outra pessoa para adotá-la e tentar seguir com a vida de algum jeito... Esse processo vai ser extremamente desgastante e difícil, quanto menos perto do parto você disser, melhor!

-Para quê? Para ela fugir?! Para ela voltar para a rua, passar fome e frio de novo?

-Para ela fazer o que achar melhor...- ela explicou- Sam, não importa o que aconteça, se os seus pais vão ou não adotar a Jane, não importa se Livia ganhar na loteria ou o quanto ela está diferente, por enquanto ela não pertence a uma cidade, ela não pertence a um lugar, mas sim ao mundo inteiro... Na tentativa de protegê-la, você não pode querer prendê-la ou esconder a verdade.

-Eu não quero, eu nunca quis isso, pelo contrário... Ela mesma disse que vai passar mais algum tempo aqui, para se recuperar desses meses ou algo assim, ela sabe que não precisa mais viver fugindo...

-Eu só quero que você saiba que "um tempo aqui" não é para sempre e, mesmo que vocês tenham combinado o contrário, já conversamos sobre isso, estamos falando de uma menina que foi largada pelos próprios pais, ela não conhece o conceito de lar. Você a vê conversando ou falando constantemente sobre os amigos das outras cidades? Não! Eu não estou dizendo que ela vai dar à luz e ir embora no mesmo dia, só não quero que você crie esperanças demais sobre algo que não tem certeza. Livia é uma das minhas melhores amigas atualmente, eu sei que é difícil aceitar que talvez alguém que gostamos tanto vá embora, mas é necessário.

-Para, Sofia...- ela implorou- Não quero que ela sofra mais... Eu a amo...

-Eu sei... O problema é que você a ama mais do que talvez ela ame a si mesma ou a qualquer um e isso é muito perigoso.

* * *

-Obrigada por me deixar aqui.- Livia abraçou Violet mais uma vez, na porta da sua casa- Eu te vejo amanhã?

-Sim, é claro. Dorme bem.

-Tá, me liga quando chegar em casa.

-Pode deixar.

Livia entrou, trancou a porta e não acendeu a luz. Mesmo sob um teto, com a possibilidade da clareza, preferia o escuro próprio da noite quando ela vinha, era uma forma de se conectar consigo mesma e de relaxar mais rápido.

Ela sentiu Jane se esticar dentro dela e a dor que sentia nas costas se acentuar, o bebê estava mexendo muito desde a lanchonete e, por isso, ela tentaria, daquele momento em diante, manter o máximo de silêncio possível, pois havia dias que quanto mais ela falava, mais Jane se agitava.

Levantou três almofadas do sofá, na esperança de encontrar um novelo de lã cor-de-rosa que largara em algum lugar e não lembrava qual era, mas, por fim, decidiu que o procuraria no outro dia. Subiu, tomou um banho, ainda em silêncio e, mal tendo dormido desde a noite retrasada, nunca ficara tão feliz em finalmente colocar o seu pijama. Mas, mesmo tendo ficado sem falar durante a última meia hora e tendo também tomado um banho relaxante, Jane continuava mexendo como se estivesse na balada mais agitada da cidade (de Nova Iorque, não de Stratford).

-Jane, a gente precisa estabelecer um limite urgente sobre o que é dia e o que é noite. Eu sei que é difícil para você, tudo é sempre escuro aí dentro, mas vamos combinar assim: quando eu ando e falo, é dia, aí você pode mexer à vontade, só que quando eu deitar, calada, e não mover um músculo, é hora de dormir, entendeu?

Ela chutou de novo e de novo, de novo, de novo... Livia entendeu aquilo como um "entendi, mas não me importo".

-Okay, eu estou muito cansada, vou usar a estratégia infalível.

Com certa rapidez, ela pegou o seu travesseiro, uma manta e os levou para o andar de baixo. Forçando a vista no escuro, apertou os botões corretos, errando alguns e tendo que começar de novo algumas vezes, até enfim estar escutando a faixa 12 de um CD branco, que fora intitulado manualmente com marcador permanente de "CD de música clássica".

Em uma das primeiras limpezas que fizera naquela casa, encontrou um rádio portátil e uma caixa com vários CDs antigos. Logo, ela juntou os dois e deixou as faxinas muito mais felizes. Na visão de alguns poderia ser antiquado ainda escutar músicas em um rádio portátil, mas ela não se importava, sequer contava a alguém que um dos momentos que mais gostava era o que se deitava em algum lugar, fechava os olhos e focava no prazer que era estar em um ambiente totalmente preenchido pelas faixas 3, 12 e 15 daquele CD, suas favoritas.

Poucas semanas antes daquele dia, quando Jane não a deixava dormir, ela descobriu que, colocando suas músicas clássicas favoritas para tocar, a melodia suave acalmava não só a ela, mas também à criança em seu útero. Portanto, ouvir música clássica com Jane virou uma prática quase que constante, uma vez que aquele último trimestre vinha sendo desafiador.

Ela deitou no sofá, ainda com o bebê fazendo uma festa, e se cobriu com a manta. Como sempre, fechou os olhos, prestou atenção na melodia do piano e acariciou a barriga, por tempo o bastante para Jane parar de se mexer gradativamente e dormir.

Deixando-a descansar também.

* * *

Iiih... O que é que a Lili vai fazer quando souber o que os pais do Sam andam conversando? 😬

Não esqueçam de deixar a estrelinha 🌟

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