Capítulo 34

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Para uma experiência completa, leia ouvindo "All I Want", de Kodaline.

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Em poucos segundos, a loja que a Irmã Grace havia indicado virara o lugar que Livia mais gostava em toda a vila.

Era pequeno, aconchegante, teto baixo e paredes de madeira. Na Vitrine, atrás do nome do estabelecimento que ela sequer prestou atenção, estavam expostos diversos novelos de lã de muitos tamanhos e cores diferentes, tantas que algumas Livia nem conhecia. Sem titubear, ela abriu a porta, fazendo tocar um sininho e chamando a atenção da senhora atrás do balcão, antes concentrada em seu próprio tricô colorido.

-Bom dia, querida.- ela largou o tricô e desceu os óculos, pendurando-o em seu pescoço pela corrente presa a ele- Como posso te ajudar?

Livia contou o dinheiro que tinha em mãos, não havia levado muito. Apesar de trabalhar no Coffee durante meses sem a necessidade de pagar aluguel tê-la colocado na melhor situação financeira na qual ela estivera em oito anos, não queria queimar tudo o que tinha deslavadamente como se sempre fosse ser daquela maneira. Precisava de cautela.

-Bom dia. Eu só quero um novelo de lã azul e um par de agulhas novo, desse aí atrás da senhora.

-Ah, claro... O novelo pode pegar, meu bem.- apontou para onde estava a lã e, quando Livia se afastou, fez a próxima pergunta- De que cor quer as agulhas?

-Amarelas.- respondeu, colocando o novelo e o dinheiro em cima do balcão. A senhora começou a contar e separar o troco, novamente com auxílio dos óculos.

-Você tricota? Para estar querendo "um par de agulhas novo"?

-Sim, eu perdi o velho há algum tempo, já procurei em toda tarde.

-Tenho certeza de que este daqui também vai te agradar.- sorrindo, ela estendeu uma sacola com as agulhas, a lã e o que sobrara do dinheiro.

-Obrigada.







De todas as cidades que Livia já havia passado, ela nunca se sentira tão tentada a observar quanto se sentia em Stratford, enquanto fazia o curto percurso da loja até o convento.

Percebeu que já havia feito aquele trajeto diversas vezes: para ir ao mercado, à escola e, dependendo de onde estivesse, à praia, mas nunca havia reparado na loja de tricô ou nos jardins justapostos das casas sem cercas.

Geralmente não reparava nos detalhes mais profundos dos lugares, não tinha tempo o suficiente para criar tamanha conexão e, na verdade, também nunca queria. Não queria nem em outras cidades, nem em Stratford. O que desejava mesmo era parar com suas agulhas, seu novelo de lã e transformá-lo em duas meias que serviriam para protegê-la do frio.

E seria perfeito, porque ficaria exatamente do jeito que ela queria, nem um defeito que pudesse apontar. Ela ficaria satisfeita.

Já no seu destino, dirigiu-se ao quarto que voltara a ficar depois que fora liberada do hospital há alguns dias, onde sua mala amarela a esperava pronta, fora arrumada no dia anterior.

Eram dias desde que recebera alta e um inteiro sem derramar uma lágrima sequer.

A Irmã Grace estava sentada na cadeira, com Jane adormecida em seus braços, ninando-a.

-Obrigada por ficar com ela, Irmã.- agradeceu, pegando a garotinha para que a senhora voltasse aos seus afazeres- Espero não ter demorado muito.

-Não demorou nada, meu amor. Jane é uma benção... Depois que você a amamenta, ela não dá trabalho algum.

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