Capítulo 65

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A não ser que o milagre pelo qual todos estavam rezando e esperando acontecesse, os dias de Jane estavam visivelmente chegando ao fim. Havia momentos em que algum acontecimento ou distração trazia de volta a criança feliz e alegre que ela fora em tempo quase que integral antes da doença, mas também havia momentos em que parecia ser absurdamente egoísta querer que ela aguentasse ficar daquele jeito por mais um minuto que fosse.

Com isso, dois dias depois que ela ganhou o cachorro, as preparações para a festa do pijama começaram: Sam prepararia a sala; Violet, Sofia e Jackson comprariam a maior quantidade de doces que eles conseguiriam comer e Heather escolheria filmes legais para que vissem juntos.

Livia ficara responsável por comprar uma caminha para o cachorrinho (que, depois de muito debate, havia sido nomeado "Charlie") e, já com o objeto comprado, a poucos passos do hotel, percebeu que estava a poucas horas de uma festa do pijama sem que tivesse um pijama decente para a noite, ela costumava usar roupas velhas ou algo folgado para dormir. Por isso, precisou voltar, passar em mais uma loja, comprar um pijama e aí sim, chegar ao hotel.

Quando finalmente abriu a porta do quarto, franziu o cenho: Catarina estava encostada na janela, com a expressão mais séria que ela poderia estar e que não era do seu feitio, e com tal atenção no movimento da rua que não percebeu quando sua noiva chegou, nem mesmo se assustou com o barulho que a sacola fez quando alcançou o chão, junto com a caminha. Na verdade, parecia que ela nem tinha ouvido.

-Catarina?- Livia colocou a mão no ombro dela, fazendo-a finalmente notar a presença de mais alguém no quarto e levar um susto. Os olhos de Catarina estavam um pouco inchados e suas bochechas estavam em um tom de vermelho claro- Você está bem?

-Estou.- ela respondeu sem qualquer firmeza e, como que para fugir do assunto, buscou pelo quarto alguma coisa da qual pudesse falar no lugar dos seus sentimentos, encontrando as compras de Livia jogadas na entrada- Conseguiu comprar uma caminha bonitinha?

-Consegui e também comprei um pijama...- Livia a observou ir até a cama e se sentar, encolhida como um feto no útero- O que você tem?

Catarina hesitou, estava tentando evitar o contato visual com a sua noiva, mas Livia demorou menos de 10 segundos para acomodar-se na frente dela, com o olhar pedindo por respostas.

-Eu estava no telefone com a minha mãe...- começou, Livia insistiria de qualquer maneira- E... Bom, alguns exames ainda estão para sair, mas... O meu pai teve um ataque cardíaco e está internado, parece o estado é um pouco grave.

Os olhos de Livia se esbugalharam imediatamente e um aperto tomou conta do seu peito. O pai de Catarina era uma das pessoas mais gentis e complacentes que ela já conhecera, era o melhor sogro que ela poderia desejar e, apesar de não ser muito comunicativa, era uma das pessoas com quem mais gostava de conversar na Califórnia.

-Catarina... E-eu sinto muito, por que não me ligou? Eu teria vindo correndo...

-Por isso mesmo, não preciso de um pai infartado e de uma noiva atropelada.- ela afundou o rosto em um travesseiro que puxou. Pelo tom que ela estava falando, Livia sabia que estava com muito medo, o que foi confirmado quando ela levantou o rosto, com mais algumas lágrimas prestes a descerem- Eu não posso perdê-lo, Lili, não posso perder o meu pai...

"O que dizer para uma pessoa nessa situação?", foi o que Livia pensou. Ela e Catarina eram muito diferentes em vários aspectos: a residente dava mais atenção aos seus sentimentos e Livia costumava varrê-los para debaixo do tapete; uma via o mundo com mais sensibilidade, a outra com uma frieza estratégica; uma gostava se der abraçada e de ter companhia em momentos tristes, a outra preferia ter espaço, era complicado saber o que a deixaria melhor. Mas ela acabou concluindo que, naquele caso específico, havia apenas uma coisa que poderia ser dita e ela era tão óbvia quanto poderia ser.

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