Capítulo 79

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Em pouco mais de um ano, uma década se faria desde que Livia deixara a vila de Stratford e todos que estavam nela para trás.

Quase dez anos depois e... Finalmente.

Tudo fazia sentido.

Livia não deixara as agulhas na outra casa de propósito, ela as havia perdido lá.

O jeito que ela agia com Jane após oito anos de separação e a tristeza que expressava quando era julgada não era culpa... Era saudade e uma tentativa de tolerância diante de atitudes que ela sabia que não merecia, mas os outros não.

O fato de Violet não ter qualquer tipo de raiva dela, não era porque a garota era um ser evoluído (ou trouxa), era porque, o tempo inteiro, ela sabia de toda a verdade.

O modo como Catarina a defendeu naquela conversa no carro... Não era que ela estivesse sendo passional e só se importando com a pessoa que amava, ela sabia da verdade, sabia que Livia não era culpada.

E... Carolyn.

De alguma maneira, Carolyn também descobrira e por isso, todas as noites contava histórias a Jane sobre a outra mãe dela, a de cabelo rosa, porque sabia que nada do que Livia havia feito durante os seus meses na vila era fingimento e que não os havia abandonado.

Na verdade, Livia havia colocado a sua vida em extremo perigo para salvar a de todo mundo. Ela abriu mão de estar em um dos únicos lugares nos quais já teve alguma felicidade para que todos que ela amava pudessem ter uma vida melhor.

"Amava", Sam nunca havia ouvido um "eu te amo" de Livia, na verdade, ele nunca a ouvira dizer isso a ninguém, e, por mais que ele entendesse o passado difícil dela, precisava admitir que, vez ou outra, durante o período em que estiveram namorando, se perguntou se Livia o amava mesmo, já que nunca dizia.

É que ela nunca tivera coragem de dizer em palavras, mas o amor estava presente. Em cada gesto, em cada atitude, em cada momento. Sam se achou um idiota por nunca ter olhado por esse lado. Ele se achou um idiota por ter desistido da história deles naquele final de tarde e ignorado todo o resto que haviam vivido juntos.

"As cicatrizes", ele pensou, levando as mãos ao rosto em um movimento brusco. As cicatrizes que ele viu na praia quando ele e Livia estavam realizando o primeiro desejo de Jane, ele tinha certeza de que eram novas. Só podiam ser dos capangas que, de fato, haviam ido atrás dela.

Na carta, Livia afirmou achar que "despistar os capangas" era o mínimo que poderia fazer em troca de tudo o que fizeram por ela. Ele pensava diferente: nada do que fizesse jamais seria o bastante para retribuir o maior presente que Livia deixou em Stratford, que foi Jane, e algo que era uma verdade irrefutável: ela salvou a vida de todos eles.

Sem pensar direito (ou pensando até demais), Sam puxou a primeira blusa polo que encontrou no seu armário e vestiu-a, sua pequena mala estava no canto do quarto, ainda com a maioria dos pertences que levara para a última viagem, ele só se lembrava de ter tirado o perfume dali. Terminou de fechá-la e saiu arrastando-a escadaria abaixo.

Sofia e Violet estavam sentadas no sofá da sala, suas mãos estavam dadas em uma certa apreensão, Violet estava com medo de ter feito a coisa errada, ou melhor, de alguém ficar com raiva dela por ter feito o que parecia certo. Sofia já havia reparado nisso e garantiu que, caso Livia dissesse alguma coisa, estaria pronta para assumir a culpa, ela já ia falar com a garota de qualquer jeito e se desculpar pelas coisas horríveis que havia dito e feito durante as poucas semanas que passaram juntas após todos aqueles anos.

Sam quase que passou direto pelas duas.

-Sam...- Sofia o chamou, mas ele não a ouviu, estava tentando destrancar a porta da frente com tanto nervosismo que não conseguia. As duas levantaram e foram até ele, sua amiga o virou para si pelos ombros- Ei, que mala é essa? Para onde você está indo?

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