Capítulo 70

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O hospital parecia mais frio. Os ponteiros do relógio por vezes pareciam se mexer rápido demais ou devagar demais. Os funcionários do hospital não pareciam mais tão simpáticos ou mesmo competentes. A esperança não parecia mais ser alguma coisa que existe fora de dicionários ou de poemas utópicos.

É isso que o desespero faz: distorce as coisas.

Tudo aconteceu de maneira tão rápida no baile que Livia ainda estava tentando processar os fatos na sua cabeça.

Ela estava com um sentimento ruim e foi conversar com Amelia. De repente, ouviu os gritos desesperados de Sam e rapidamente virou-se para ver o que estava acontecendo.

Seu coração quase parou quando viu.

Jane passara mal perto da pianista e, antes que pudesse pedir a ajuda dela ou de Oliver, começou a vomitar e não demorou muito para que estivesse desmaiada. Sam só a viu quando já estava caindo no chão e o pior passou pela sua cabeça de maneira tão concreta, que ele não pensou em pedir ajuda, mas apenas em chacoalhá-la até que ela acordasse, até que ela voltasse para ele.

Amelia e Ashley, treinadas para aquele tipo de situação, correram até a criança e logo a mais nova se apressou para pegar o seu carro, na intenção de levarem Jane até o hospital. Não foi uma tarefa fácil pedir pela racionalidade de Sam, que estava agarrado a Jane, gritando desesperado, ele não queria soltá-la de maneira alguma, temia que, se a entregasse, não a teria nunca mais. Foi preciso que Jackson e Sofia o segurassem.

Livia nunca havia visto tanta adrenalina dentro de um hospital: Amelia mandou chamar o resto da sua equipe, ela e os enfermeiros que vieram falavam rápido, pediam para que os conhecidos se afastassem e trabalhavam com uma pressa e sobre uma pressão indescritíveis. Ela nunca havia visto, porque geralmente ela era a pessoa desacordada quando um hospital estava em pura adrenalina.

Foi difícil ter que deixar uma Jane desacordada com um monte de pessoas que não eram próximas a ela e ficar na sala de espera, era uma tortura ter que esperar sem saber quais notícias sairiam daquela sala.

Sam andava de um lado para o outro, o rosto ainda vermelho e algumas lágrimas descendo de vez em quando; Jackson tentava pedir para que ele se sentasse, para que relaxasse um pouco, mas era inútil; Violet estava sentada, com Oliver nos braços, que estava agarrado a ela, tão em choque pelo que havia acabado de ver que não dizia uma palavra e chegava a tremer um pouco; Sofia ficara encarregada de deixar Charlie na casa de uma vizinha e de pegar algumas roupas para que pudessem se trocar. Além de chamarem mais atenção do que o normal, não estava muito confortável estar na sala de espera de um hospital com roupas de gala

E Livia tivera um sentimento ruim.

E algo ruim realmente aconteceu.

Ela estava atônita em uma cadeira, sem acreditar. Repassava o último dia em sua cabeça, lembrava do aperto que sentia (que, inclusive, havia se multiplicado), e da voz em sua cabeça, que insistia em dizer que algo ruim aconteceria.

Era estranho, era como se naquele momento um sentimento estivesse mais vívido dentro dela, parecia que a conexão das duas havia se tornado mais firme e resistente, como se Livia finalmente pudesse admitir e sentir que era...

Mãe.

Ela não saberia dizer quanto tempo passou no seu devaneio, quando Amelia apareceu na sala de espera, levando todos a se levantarem dos seus assentos e fazendo com que Sam praticamente voasse para cima dela:

-Dra. Amelia.... E-e então... A minha irmã... Cadê a minha irmã? Ela está bem? P-por favor, me diz que ela está bem...

-Ela está acordada...- a médica logo informou, fazendo o gesto de "calma" com as mãos, mas o seu rosto dizia que eles não deveriam estar tão "calmos" assim- Mas por pouco, por muito pouco. Receio que a hora tenha chegado.- ela titubeou- Precisamos operá-la imediatamente.

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