Capítulo 18

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Livia escolhera muito bem a família que deixaria o bebê, era o que ela pensava.

Estava totalmente ciente das instabilidades dos pais de Sam nos últimos meses, mas cada página que passava do álbum de fotos que Tom dera em suas mãos aumentava a sua certeza sobre ter feito a escolha certa. Ela sorriu vendo, em fotos, a história da família, desde que Carolyn e Tom eram dois jovens ansiosos e felizes, prestes a entrar na grande aventura que era ter um filho.


Viu várias fotos constrangedoras de Sam quando ainda era bebê, vestido de coelhinho, tomando banho na pia de uma casa antiga e dando um presente de dia das mães a Carolyn.

Contemplou a vibração da família que mal podia esperar pela chegada da segunda criança, Sam e Tom desenhando na barriga de Carolyn com um batom, um pacote de mantas e lençóis onde a cabeça de Belle podia ser identificada, fotos dela com o irmão e o olhar intenso que um lançava para o outro.

Fechou o álbum pela terceira e última vez, finalmente conseguira chegar ao final, estava um pouco difícil dar a atenção que ela gostaria ao objeto com clientes chegando ao Coffee e precisando do seu atendimento. Ela queria ter visto o álbum na noite anterior, antes de dormir, mas não conseguiu, sentia-se totalmente incapaz de olhar o rosto de Sam sozinha, em seu quarto, onde estranhos não lhe fariam ter vergonha de chorar copiosamente.

Dois dias desde que pedira o afastamento de Sam e Livia sentia como se algo a estivesse rasgando por dentro. Quando parava e pensava na voz dele, em suas palavras e no seu toque, só conseguia prestar atenção em uma sensação terrível invadindo seu interior, que doía e a agoniava como uma dor física, e se concentrar em prender o choro. Ela nunca havia sentido aquilo e era horrível.

Era horrível ter cada célula do seu corpo chamando por Sam, querendo-o perto de si e saber que o que tinha que fazer era justamente ignorar aquilo e não cogitar a possibilidade.

-Livia, coloca mais um pouco de creme neste café?- Paty entregou uma xícara a ela. Livia arqueou uma sobrancelha: lembrava claramente que a regra do gerente era "nada de creme extra"- O gerente disse que essa cliente é especial.- ela começou a cochichar e olhou para os dois lados antes de completar- Ele está caidinho por ela.

-Ah, entendi.- ela assentiu e devolveu a xícara para ela com o creme extra.

-Você fica aqui no caixa um pouquinho? Vou avisar que ela está aqui, acho que ele mesmo vai querer terminar de atendê-la.

-Claro, pode ir.

Assumindo o balcão e sem nenhum novo cliente, Livia encontrou-se com a cabeça vazia mais uma vez e, não querendo que seus pensamentos se direcionassem para Sam, começou a pensar na lã nova que havia comprado.

"Posso fazer meias, dois pares, talvez. Eu faço meias muito bem, quase tão bem quando faço cachecóis, hoje à noite me sento com minhas agulhas e faço. Isso, hoje à noite, talvez daqui a 4 ou 5 dias fiquem prontas."

Ela ficou repetindo afirmações sobre as meias em sua cabeça, até entrar em um transe completo e escapar da própria mente. Voltou à realidade muitos minutos depois, por causa de uma voz feminina que já devia ter chamado pelo seu nome mais de 10 vezes. Sorte que não era o gerente.

-Ah, oi, me desculpa.- ela balançou a cabeça- O que a senhora vai querer?

-Não sou cliente, querida.- a voz tornou-se familiar, Livia levantou a cabeça e deparou-se com Carolyn sorrindo em sua frente.

-Carolyn? O que está fazendo aqui?- ela tentou sorrir de volta. Era inevitável sentir vergonha e lembrar de Sam com a mãe dele bem em sua frente. Livia só queria que ela falasse qualquer coisa sobre ele, viesse com qualquer notícia, mas não ia perguntar, não podia saber, ia ser pior, ela tinha que fazer o certo.

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