CABARET

By JikookerTrouxa

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[E.L.E.N.C.O]
[P.I.L.O.T.O]
[1] BLOODY MARY
[2] MARGARITA
[3] MOJITO
[4] PIΓ‘A COLADA
[5] SEX ON THE BEACH
[6] COSMOPOLITAN
[7] CUBA LIBRE
[8] PISCO SOUR
[9] NEGRONI
[10] MARTINI
[11] MOSCOW MULE
[12] WHISKEY SOUR
[13] VODKA
[14] MANHATAN
[15] APEROL
[16] RUM
[17] TOM COLLINS
[19] SHERRY COOKING WINE
[20] CHIVAS COLLINS
[21] SAZERAC
[22] LADY WINTER
[23] WHITE RUSSIAN
[24] BELUGA
[25] PENICILLIN
[26] CLERICOT
[27] BERRI BLOSSOM
[28] LAGUNA
[29] CHAMPAGNE COCKTAIL
[30] PAINKILLER
[31] DARK 'n' STORM
[32] LONG ISLAND ICE TEA
[33] JUNGLE BIRD
[34] DU ALASKA

[18] CAIPIRINHA

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By JikookerTrouxa

ELES.

- Eu também... - Digo tímido, desviando o olhar de si.

- Também? - Ele sorriu, levantando o meu queixo levemente, usando o polegar e o indicador.

Assinto leve e ele da um sorriso soprado, mostrando os dentinhos da frente, exatamente como um coelhinho faria.

- Também o quê? - Ele disse outra vez. Seus olhos cor de caramelo escuro me esquadrilharam da cabeça aos pés.

- Eu também te amo, bobão. - Disse meio sério, meio rindo, batendo de leve em seu peito.

- Desculpa, é que eu ainda não estou acostumado a ouvir isso de você. - Ele coçou a parte de trás da cabeça levemente.

- Eu também não estou acostumado a dizer... - Ele ergueu uma das sobrancelhas com um sorriso moldando os lábios. - Não em voz alta.

- É estranho...

- O que é estranho? - Desta vez fui eu quem ergui a sobrancelha.

- Querer tanto você... acho que estou acostumado com o Jimin fujão. - Ele deu de ombros.

- Se quiser eu fujo. - Brinquei, e ele arregalou os olhos na hora.

- Não! Não faz isso não! - Revirei os olhos quando ele passou um dos braços longos pela minha cintura, me prendendo a si como se eu fosse realmente fugir a qualquer instante.

- Fala sério cárcere privado, eu não vou a lugar algum. Relaxa. - Falei me desvencilhando de si minimamente. - Nesse andado eu não vou conseguir respirar.

- É que eu te amo. - Ele repetiu com um sorriso. E eu ri de volta, sentindo a sua diversão em dizer essas palavras o tempo todo.

Mantive meu olhar em seu rosto por alguns instantes, e ele ficou com uma expressão cômica de quem faz coisa errada.

- Eu vou continuar repetindo, pode ir se acostumando. - Ele me prendeu outra vez, me tomando parte do ar.

Meus ombros caíram com a sensação de derrota. Não adiantava eu lutar contra.

- Jimin. - A voz de Helena veio do nada, eu nem havia reparado a sua chegada.

- Sra-... - Ela fechou o semblante, cruzando os braços levemente. - Helena... - Me corrigi a tempo de ela desfazer a cara feia, que deu lugar para um sorriso, mas isso não iria fazer com que eu me desfizesse do hábito de chama-la de senhora. Era um costume.

- Como você está meu bem? - Ela perguntou segurando a minha mão de leve.

- Eu estou bem... - Dei de ombros. - Só queria ter o meu irmão aqui.

- Cada coisa em seu próprio tempo Jimin. Ele apareceu quando foi necessário, e vai voltar quando tiver de voltar, aposto que você não vai nem perceber. - Disse tranquila, com um ar maternal do qual eu não desfrutava a tempos.

- Difícil pensar assim, quando tudo o que eu tive foram alguns minutos. Eu pensei que estivesse acostumado com a sensação do vazio, digo... da família, a senhora sabe. Mas agora, eu já sinto como se tivessem arrancado uma parte de mim.

Ela pareceu se comparecer de minhas palavras, abrindo os braços para mim.

- Jungkook! Larga ele um pouco, parece cachorro de rua. - Ela disse e ele me largou a falso contragosto. - Hora, venha aqui, coisinha mais fofa. - Ela sorriu, e eu não perdi a oportunidade de me aninhar em seus braços, sentindo seu perfume doce adentrar as minhas narinas. - Vocês vão se encontrar, você vai ver. - Afagou os meus cabelos.

- Obrigado. - Senti meu rosto esquentar, em contato com o colo de seu peito.

- Ahh... eu não sei mesmo o que você vê no meu neto. - Ela sorriu leve, quando nos separamos eu me atrapalhei um pouco.

- Ei! - Jungkook chamou sua atenção.

- Você é muita areia pro caminhãozinho dele. - Ela brincou e eu concordei com a cabeça dando de ombros.

- É o que eu sempre digo. - Eu disse olhando pra ele.

- Tem razão, já viu isso vovó? Tanta qualidade em um metro e setenta? - Disse me puxando pela cintura.

- Huum... - Ela fingiu pensar. - Eu acho que não.

- Galera. - Taehyung chamou. - Vamos?

- Pra onde? - Jungkook perguntou.

- Pra roça. - Eu respondi e alguma coisa me acertou. - AÍ! - Passei a mão na cabeça e olhei incrédulo para Taehyung, que tinha uma expressão séria no rosto.

- Bem feito. - Jungkook debochou, e eu dei um soco em seu braço. - Au.

- O que me jogou?! - Eu perguntei.

- Eu nem sei, vi pela frente e joguei. - Ele deu de ombros. - Vai vir também Dona Helena? - Ele perguntou simpático.

- Um dia talvez, não agora. - Ela respondeu. - Tenho coisas a fazer. - Ela sorriu.

- Ah... que pena, por quê? - Eu perguntei.

- Eu não vim para demorar, só vim para ver como o Jungkook iria se sair. - Ela sorriu, passando a mão no rosto de Jungkook.

- E para salvar o dia. - Tae comentou oportuno.

- É... - Ela riu. - Me desculpe por aquilo Jimin.

- Tudo bem. - Eu maneei a cabeça. - A senhora conseguiu mais alguns minutos com o meu irmão, e isso não tem preço.

- Eu fico feliz... bom, eu vou indo. - Ela disse, deixando um beijo em meu rosto e outro no do neto. - Meus parabéns filho. - Ela disse.

- Obrigado. - Jungkook disse orgulhoso.

- Você não inútil. O Jimin, você não fez mais do que a sua obrigação.

Fiz uma careta debochada.

- Sinceramente? Quer saber? Adota ele! - Jungkook disse falsamente ofendido.

- Eu bem queria. Jimin, você é o neto que eu nunca tive. - Ela brincou.

- Eu já nem sei mais por que é que eu existo. - Ele dramatizou.

- Eu também não. - Respondi, e ele apertou as minhas costelas de leve, fazendo um arrepio me percorrer.

Ele mordeu o lábio inferior.

- Enfim, brincadeiras à parte, meus parabéns meu amor, você jogou maravilhosamente bem.

- Ficou louca Dona Helena? Toda hora estava no chão, parecia até o Neymar. - Taehyung fez uma careta e nós  gargalhamos quando Jungkook saiu correndo atrás dele.

Voltei o meu olhar para ela, que também observava os dois de longe, dando voltas e voltas pelo gramado, Taehyung gritava feito um cabrito.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela se pronunciou.

- Soube que enfrentou o meu filho. - Ela disse cuidadosamente, observando se Jungkook poderia nos ouvir.

Eu gelei na hora, não fazia idéia se por algum acaso do destino ela tinha consciência de todo o contexto da situação.

- E-eu... - Gaguejei.

- Não se preocupe filho. Não estou fazendo nenhuma crítica, sei bem da posição do meu filho quanto ao seu relacionamento com Jungkook, e não compartilho da mesma opinião, você já deve imaginar... - Ela disse, e eu assenti. - Você é uma pessoa forte, e eu admiro isso. Conte comigo, para o que precisar. - Ela terminou e sorriu, deixando um de seus cartões em minhas mãos, antes de sair.

- Tampinha! - Jungkook gritou é eu me virei, ainda meio sem entender.

Ele estava segurando Taehyung sobre um dos ombros.

Fazendo um esforço, eu sorri, afastando os pensamentos aleatórios que me rondavam: O que ela quis dizer? Do que ela falava? E mais importante, do que ela sabia?

Jungkook olhou para mim e piscou, enquanto Tae se debatia em seu ombro.

- Espero que gostem de Taehyung no espeto. - Ele brincou e eu ssorri meio sem jeito.

- Eca, não, vê se eu tenho cara de Yoongi. - Sorri, e todos eles se juntaram ao mesmo tempo.

- Vamos? - Ele chamou.

Os meninos já se afastavam aos poucos, e eu estava virado, olhando a avó de Jungkook se afastar.

- Tampinha? - Disse, tocando o meu ombro de leve.

- Hã?

- A gente vai ficar para trás. - Ele sorriu. - Depois vocês conversam melhor, você pode ir lá em casa se quiser. - Eu e Maple Hill, com certeza.

- Ahn... claro. Vamos.

- Onde estam o resto dos meninos? - Tae perguntou quando nos aproximamos, eu estava aéreo. Involuntáriamente. Irrefutávelmente.

- O quê? Quem? - Ergui as sobrancelhas.

- Kai, Dylan... - Tae levantou a mão, contando nos dedos.

- Boa pergunta... - Dei de ombros.

- Cadê seu marido Tae? - Jungkook perguntou.

- E-ele está no carro... - Ele olhou para mim, como quem pé de socorro.

- Ué... mas porá-

- Dor de cabeça. - Eu respondi. - Ele estava morrendo de dor.

Tae não negava isso.

- O meu carro está do outro lado, você vem comigo? - Jungkook perguntou.

Eu assenti, com um sorriso no rosto.

- Vou... eu vou sim. - Ele sorriu de volta.

- Vocês sabem chegar?

- A gente pode seguir o... - Franzi a testa. -  Onde é que está o Namjoon? - Tae fez a mesma expressão.

- Ele e o Jackson pareciam meio... digamos... - Jungkook coçou a cabeça. - Hostis? Eu não entendi direito.

- Tudo bem. Eu ligo no caminho. Sigam o Yoon.

- Tudo bem. - Kook assentiu.

Ele deu um passo a diante e olhou em minha direção.

- Vamos? - Estendeu a mão e minha direção.

Eu olhei na direção de seu gesto, eu não acredito que iria fazer aquilo em público.

Ainda mais depois de tudo. Mas após o meu blefe eu posso ter de me preocupar, em quantas vezes eu poderei fazer isso.

- Vamos. - Agarrei a sua mão, e entrelaço nossos dedos.

Por um momento, Jungkook não disse nada. Mas seu rosto vai ficando cada vez mais e mais vermelho.

- Caramba. - Ele diz, e segue com um assobio leve.

- O quê? - Dou um sorriso vago e olho para nossas mãos.

- Eu vou demorar a me acostumar com isso. - Ele dá de ombros, e nós começamos a andar.

O seu rosto fazendo aquela expressão doce me faz sentir levemente culpado.

Eu prometi que faria do jeito dele, mas depois de cinco minutos eu já estou escondendo algo novo dele.

Eu sei, eu sei, eu sei. Isso é ruim. Guardar segredo de Jungkook. Não contar sobre a sua nova investida, nem sobre o dinheiro nem sobre nada disso. Mas como posso começar agora? E se eu me arrepender? E se eu confessar que banquei o estelionatário pro pai mafioso dele e provocar uma briga enorme, e então meia hora depois de ter resolvido a gente voltar a mesma bagunça de antes?

Prefiro continuar assim.

Para falar a verdade eu não estou exatamente mentindo... tecnicamente ele não me perguntou nada, então eu estou na verdade omitindo. Certo? Certo.

Eu posso até não ter um pingo de vergonha da cara, mas eu tenho justificativas para o caso de ele descobrir que eu não tenho vergonha na cara.

- Deixa de ser bobo. - Eu ri estranho, me sentindo a personificação da culpa e ele me olhou estranho, rindo também.

- Com isso eu também vou demorar a me acostumar. - Ele debochou, e eu ri junto, normal desta vez.

- Ridículo.

- Parece uma hiena.

- Seu nariz, grandão aí nessa sua cara de palhaço.

- Não é só o nariz que é grande. - Ele riu, fazendo uma expressão sacana.

- Puta merda, vou fingir que não escutei. - Gargalhei, e ele me segurou por trás, pela cintura, rindo também.

- Antigamente você iria ficar louquinho se eu te dissesse uma coisa dessas. - Ele deu de ombros.

Eu o olhei por cima do meu, sentindo sua respiração em minha nuca.

- Eu realmente não sei se você está sendo convencido ou se está se sentindo negligenciado.

- A segunda opção. - Ele riu. - Eu me insinuo para você e você me ignora.

- É que não é tão fácil assim meu bem.

- Ah! Como se eu não soubesse disso. - Ele respirou fundo, se fingindo de cansado.

- Se você tivesse sido mais receptivo quando a gente era mais novo... - Eu disse, sabendo que ele iria entender o que eu queria dizer.

Ele faz uma pausa.

- O-olha! - Ele diz incerto e eu cai o em risos outra vez, sentindo seus braços me apertarem.

- Viu só?! Sabia que concordava comigo. - Eu acusei.

- Eu nem sei do que você está falando... - Ele se faz de rogado.

De repente, está concentrado, enquanto caminhamos lentamente.

- Hum... você se lembra de quando nos conhecemos?

- Lembro. - Dou um sorriso. - É claro que eu me lembro...

Ele repousa o queixo no meu ombro.

- Eu nunca me arrependi tanto de ter saído de casa... - Brinco.

- Há! Só se for de ter quase perdido os dedinhos, porque se for por ter me conhecido pode ir retirando o que disse.

- O quê? Por quê? - Eu ergo as sobrancelhas.

- Eu sou a melhor coisa que já aconteceu na sua vida. - Ele diz convencido e eu sinto meu rosto esquentar. - Estou mentindo? - Ele aperta as minhas costelas, fazendo com que eu risse involuntariamente.

- Eu não sei... talvez. - Brinco.

- "Talvez". - Ele retruca. - Você ainda tem dúvidas? Porque eu tenho certeza... - Ele da uma risada soprada. - Você foi a melhor coisa que já aconteceu em toda a minha vida.

Eu me viro para ele e o mundo todo some em seu olhar.

- Você é a melhor coisa que me aconteceu, hoje, ontem e sempre... em toda a minha vida. - Digo deixando um beijo demorado em seus lábios.

Jungkook abraça a minha cintura, erguendo um pouco o meu corpo.

- Eu quis você, no minuto em que eu te vi. - Ele se inclina, e beija o meu rosto, me abraçando em seguida.

- Sei que quis. Deu pra perceber. - Eu ri e ele fez o mesmo. - Principalmente quando você me chutou.

- Eu te quis, só não sabia. - Ele gargalhou. - Mas quando nós fomos crescendo, e eu vi que você chamava a atenção dos outros, eu tive consciência de que eu não iria conseguir te segurar ao meu lado. Eu morria de ciúmes. - Ele riu.

- Ah! Quer dizer que se ninguém me desse idéia você não ia acordar pra vida garoto?! Eu sabia que você era lerdo, mas tá passando dos limites.

- Você me entendeu! - Ele falou se esquivando dos tapas.

Um carro preto reduziu a velocidade ao nosso lado.

- Escuta aqui, vocês vão continuar se agarrando aqui? Porque se foi isso eu vou pedir uma pizza. - Taehyung disse com cara de tédio.

- Foi mal. - Jungkook disse e nós fomos para o carro, seguindo o carro de Yoongi.

Dentro do carro enquanto eu colocava o cinto ele olha brevemente para trás, para sair da vaga e logo se vira para mim lançando um sorriso rápido, eu reparo seus dentes certinhos iguais aos de um coelhinho, o que me faz rir por um instante.

Fico distraído com os contornos de suas sobrancelhas e com os seus cabelos balançando na brisa. Eu me pergunto se ele faz a mesma coisa.

Ele inclina a cabeça de leve.

- O que foi? - Pergunta, com um sorriso.

Dou de ombros, sem graça.

- Não é nada. - Balanço a cabeça, mas ele não parece convencido.

- É sério. Por que estava com aquela cara? - Ele continuou.

- Nada, estava aqui olhando como você tem cara de pastel. Dirige aí!

- Hã... acredito.

- Tem razão, não era isso. - Digo sem receber seu olhar, já que ele prestava atenção ao sair do estacionamento, o carro de Yoongi ia logo a frente.

- Era o quê?

- Estava olhando, que você pelo visto está afim de morrer. - Digo e ele grande a testa para o nada, rindo um pouco.

- O que eu fiz dessa vez? Já estava na hora, se derem quinze minutos que a gente está bem, você arruma motivo pra brigar. Desembucha tampinha. - Ele fala, levando o que eu disse zero a sério.

O sinal fecha, e o carro reduz a velocidade.

Quando ele me olha rindo vê que eu estou sério, e seu semblante se desfaz de forma cômica, dando espaço para uma expressão de medo.

- Eita, eu achei que você estivesse brincando. - Ele diz cauteloso.

- O senhor coragem foi embora não é? - Eu cerro o olhar para ele que assente freneticamente.

- Foi, ficou só o Jungkook bundão mesmo. Sujou pro meu lado?

- Ainda não, mas vai sujar se você não colocar a merda do cinto.

- Ahn... desculpa. - Ele pia, colocando-o em frente ai peito, deixando um "click" no final. - Pronto?

- Pronto, ele está aí pra ser usado, não é enfeite. Palhaço. - Eu digo e ele ri.

- Ok. Desculpa, à partir de hoje eu vou usar.

- É bom mesmo. - Digo e ele pega a minha mão sorrateiramente.

O sinal abre.

Ele aperta de leve e alisa o peito dela com o polegar, repousando-a sobre a sua perna. Eu já havia me esquecido disso.

Quando olho para o seu rosto ele finge que não fez nada, dirigindo em silêncio.

- Você está tranquilo? - Ele diz do nada, após alguns instantes de silêncio, chamando a minha atenção subitamente para seu rosto, o qual eu olho com dúvida. - Digo, sobre o seu pai ter aparecido e tal... ele disse... - Jungkook pigarreou visivelmente incomodado com o assunto. - Ele disse coisas bem pesadas para você.

Permaneci em silêncio por um momento, pensativo.

- Sabe, não precisamos falar sobre isso se não quiser. - Falou ele, apertando um pouco o volante.

- Não. Tudo bem... - Eu dei de ombros de leve, olhando para o caminho à frente. - Eu só estava pensando, sabe, no que dizer.

- Eu sei. - Interrompe Jungkook com pesar, e bate a palma da mão na testa. - Não deveria ter falado sobre isso, não queria deixar o clima estranho.

- Não deixou. - Eu ri. - O meu pai como pauta já deixou de ser um tabu a séculos, desde que eu percebi que o que tinha de tóxico no nosso "relacionamento", se é que eu posso chamar assim, vem dele.

Ele murmurou baixo, me dando a deixa para continuar.

- Ele queria arrumar um jeito de me afastar do Wonho, porque para ele vai ser bem ruim ter o filho que ele quis, do meu lado. - Eu ri seco.

-  Isso não é justo. - Ele diz com a expressão séria.

- O que não é justo? - Ergui uma das sobrancelhas e ele olhou em meu rosto, mas logo voltou sua atenção para a faixa.

- Ele não sabe o quanto você se esforçou, não sabe o que é estar no seu lugar...  só você sabe o tamanho das dores com que teve que lidar. Só você sabe a coragem que teve que ter para lutar contra algumas coisas. Só você sabe a quantidade de dias em que sofreu, a quantidade de lágrimas que derramou, ou quantas vezes foi dormir pedindo forças para sabe-se lá quem. - Seu semblante fechou e ele fez um bico.

Ele parecia bem envolto naquele assunto, até mais do que eu mesmo.

Eu sabia cuidar de mim e já tinha provado isso, a muito tempo. Mas essa não era a questão.

- Você nem mesmo merecia estar nesse lugar. A obrigação dele era te amar, e cuidar de você como um pai. Era isso que ele deveria fazer. - Ele bufou, como quem guarda a opinião por um longo tempo. - Eu só... não é justo.

Ele estava realmente preocupado em como eu me sentia. Em como eu sempre me senti. Era como se agora ele mostrasse que mesmo de longe, mesmo sem eu perceber, ele estava de lá, observando tudo de longe.

- Olha... eu vou ser sincero. É muito fofo da sua parte, juro. - Disse calmamente. - Mas eu vou te educar, da mesma forma que eu me dediquei a me educar: - Ele pareceu prestar atenção. - O primeiro passo para se decepcionar com alguém, é depositar confiança e expectativas nesse alguém. É inevitável, como ser humano é impossível, então já que é inevitável e impossível, o mais inteligente é depositar as expectativas em quem você realmente pode confiar, em quem merece. Se não for assim, você vai estar sempre decepcionado. - Virei-me para ele é apertei sua perna, onde a minha mão estava.

Ele estava com lágrimas nos cantos dos olhos.

Não poderia mentir, e fingir que cada uma das palavras que o homem que ajudou a me criar diz sempre que me vê não machucam, mas se isso tudo já faz mal, pro que deixar fazer para mais alguém além de mim?

Essa história de dividir a dor, ou compartilhar para facilitar, nem sempre é o melhor. Às vezes, o melhor é simplesmente enterrar fundo.

- Não dói? - Ele disse simples, me pegando de surpresa.

Era como se ele lesse os meus pensamentos.

Dei uma risada sem humor.

- Dói. Mas é exatamente isso o que eu espero dele, então ele não atende menos do que as expectativas que eu deposito. - Dei de ombros. - Esperar algo dele me fazia mal. Eu deitava à noite, na esperança de que fosse acordar um dia e ele viesse me buscar para viver com ele, e com quem mais fosse, eu não me importava, eu só queria fazer parte de algo...

Era a primeira vez em que eu conseguia me abrir dessa forma. Dizer como eu me sentia só sempre fazia com que eu me sentisse humilhado, abandonado.

- Eu passei muito tempo esperando por movimentos e declarações que não existem. Por um pedido de desculpas que não vai acontecer. Por aquele: "Olha, errei com você, me perdoa?" Que eu nunca vou ouvir... é a pergunta é: por que esperar por algo, por alguém que nunca vem?

Ele soltou uma respiração lenta e pesada, e eu limpei o canto dos olhos.

- A obrigação dele, não era me amar. - Repeti suas palavras. - Amor a gente sente, a gente não pede.

- Sabe... - Ele sorriu. - Quando eu crescer quero ser forte como o meu tampinha.

- Você já é... - Eu ri baixo, desviando o olhar. - Me aguentar esse tempo todo não deve ser fácil. - Brinquei.

- Poxa, verdade.

Jungkook sorriu e pegou minha mão. A dele era quente e macia. Confortável.

- Que mal lhe pergunte... - Eu comecei e ele murmurou para que eu continuasse. - Por que se importa com isso? - Ele franziu a testa.

- Como assim?

- Digo... sobre a forma como meu pai sempre lidou comigo. Não me leva a mal, não quero ser estranho, mas é só que você nunca tocou nesse tipo de assunto antes.

Jungkook deu de ombros, meio desconfortável, mas sem soltar a minha mão. Pelo contrário, ele manteve nossos dedos entrelaçados.

- Isso é simples... - Ele disse como quem não quer nada, reduzindo o carro ao mesmo tempo que o veículo de Yoongi fez o mesmo no semáforo vermelho. Ele se virou e olhou meu rosto. - Eu me importo com você.

Ele roubou o meu fôlego. Tudo o que eu consegui fazer foi baixar o olhar para o assoalho do carro, sentindo o meu rosto se aquecer, enquanto um sorriso bobo surgia.

Ele sorria abertamente, olhando para mim.

- O que foi? - Ele disse risonho.

- Nada...

- Ficou com vergonha foi? - Jungkook toca de leve minhas costelas, fazendo com que eu tenha um sobressalto.

- Que vergonha o quê garoto? Dirige aí vai!

- Tudo bem. - Concorda ele, com aquela cara de convencido.

- Você não trabalha aos sábados?

- Eu trabalho. - Assenti. - Mas tirei um prazo hoje, por causa do jogo.

Respondi, olhando pela janela.

- Matou serviço por causa de mim? - Ele ergueu as sobrancelhas, mais convencido ainda. - Poxa, você me ama mesmo hein? Nem sei por que que enrolou esse tempo todo.

- E-eu... não tem nada disso. Tá se achando não é garoto? - Fiz uma careta.

- Eu não me acho. Eu sou. - Deu de ombros. - E você me ama.

- Amo nada, é que eu estou sem créditos no celular e queria que você recarregasse. - Dei de ombros.

- Hã... - Ele murmura. - Eu recarrego se eu ganhar um agarradinho.

- O quê? Tá com fome? Quer ração? - Eu disse, com um sorriso nos lábios.

Ele ri, passando a língua do lado de dentro da bochecha.

- Não. Eu estou atrás de comer outra coisa... - Ele deu de ombros e eu arregalei os olhos para ele.

- Jungkook!

- Ah! Me desculpe! Não quiz deixar você sem graça. - Ele zomba, falsamente preocupado.

- Até parece.

- Vai logo. Admite, você faltou só pra me ver. - Ele diz calorosamente, mordendo o lábio inferior.

- Olha. Não foi só você quem jogou. E mesmo que fosse, eu não iria...

- Ah não? Iria pelo que então? - Ele ri.

- Pela pipoca rançosa.

- Rançosa? - Ele gargalhou incrédulo, focando na estrada.

O ambiente por ali era mais ermo, mais calmo. O trânsito de carros era praticamente nulo e a via não era mais iluminada por postes.

- É, ensebada. Sabe, aquela manteiga velha, que tem gosto de... de eca.

- Você é muito estranho. - Ele gargalhou.

- É ruim ué... vou mentir? - Dei de ombros, olhando a estrada passando depressa pela janela. - Começa com gosto ruim, e termina com gosto lixo.

- Chega, eu entendi. Você odeia a pipoca. - Eu assenti.

- Isso.

Ele riu.

- Mas talvez seja verdade... - Eu disse baixo, desistente, vendo seu olhar encantado para o meu lado. - Mas não vai se achando não, não vai mais acontecer, tenho contas a pagar.

- Você me faz feliz... - Ele disse, perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração beijar o meu rosto. - Sabia?

- Humm... - Fingi pensar. - Sabia. - Eu ri. - Porque você faz a mesma coisa. Bobão.

- É... fiquei sem palavras. - Eu ri e ele repousou a mão em cima da minha coxa, dando um aperto de leve.

Sem palavras.

...

No momento em que chegamos a casa de Taehyung, os portões se abriram e nós seguimos o outro carro por um caminho sinuoso, até pararmos em frente a uma construção que mais parecia ser algo que se vê nas montanhas.

Apesar de eu sempre chamar de "roça" por ser no meio do mato, e um pouco distante da cidade, não era uma cabana feita de troncos de árvores, mas sim uma mansão construída em um misto de alvenaria, madeira é o mais sinuoso dos detalhes, pedras enormes entremeadas com madeira e uma faixada enorme de vidro. Uma vegetação exuberante a cercava por todos os lados, assim como Maple Hill, mas de forma aconchegante, verde, não vermelha e sem o ar de máfia.

Descemos do carro, e no mesmo instante o carro de Namjoon entrou atrás, Yoongi e Tae estavam esperando nos degraus de pedra.

Quando eles se aproximaram Nam me deu um olhar breve com um semblante ssério incomum, ele andava de mãos dadas com Jackson, que para a surpresa de todos, desta vez não dizia absolutamente nada.

Eu vi isso acontecer uma vez na vida, quando ele caiu de boca na areia na época do jardim de iinfância, mas cinco minutos depois ele voltou a falar feito louco.

Jungkook lançou um olhar leve, como quem diz: "É disso que eu estava falando." Eu respondi apenas com um aceno de cabeça, e subi os degraus das escadas junto a eles.

Entramos em uma sala grande, com vigas de madeira escura expostas que se encontravam no centro do local sutilmente cavernoso, levando em consideração a temperatura baixa e a altura do teto, que por sinal era bem alto. O piso era feito da mais fina cerejeira, revestia todo o espaço suntuoso. Vários tapetes de cores escuras e rústicas cobriam o assoalho ao lado do sofá macio bordô.

A sala era iluminada e arejada, cercada de janelas enormes.

- Este lugar é incrível. - Jungkook comentou, olhando para o teto e ao redor.

- Obrigado. - Tae disse, jogando o celular em cima do sofá. - Fiquem à vontade. - MÃE! - Ele gritou, fazendo sua voz ecoar por todo ambiente.

- Olha, quer saber você nunca me disse que era rico assim, se eu soubesse eu tinha namorado com você, e não com o Namjoon. - Jackson brincou, ainda soando meio estranho.

- Eu não sou rico. - Tae disse, ao lado de Yoongi, que digo taça freneticamente no aparelho, com um semblante sério. - Os meus pais são ricos.

De verdade: o que está acontecendo com esses caras?

- Olha, quer saber, isso é coisa que só gente rica diz! - Jackson se defendeu.

- Burguês, safado. - Eu debochei.

- JIMIN! - A voz serelepe da mãe de Taehyung veio junto dela que se encaminhava até nós, trajando um vestido azul claro soltinho, com um avental por cima.

Ela vinha caminhando de braços abertos da cozinha, onde o dom de músicas dos anos oitenta tocavam.

- Que saudade meu bem! - Ela me abraçou com força, quase quebrando os meus ossos.

- Ahhg! Tia Seo-Yun! - Sofreguei sentindo ela diminuir o aperto. - Assim eu não consigo respirar. - Eu ri.

- Isso é culpa sua! - Ela bateu com a mão na lateral da minha cabeça. - Por passar seis meses sem me visitar uma vez se quer! Seu desnaturado!

- Me desculpa... - Eu ri. - Eu ando meio ocupado.

- Tanto faz. Problema é teu, tem que arranjar tempo para vir me ver.

- Mãe, ele é meu amigo, não seu. - Tae brincou.

- Cala essa boca e me respeita que daqui a pouco eu chego em você. - Ela ameaçou, apontando o indicador para ele, que riu na hora.

- Mas é que aqui é longe demais, eu precisei de passaporte.

- Quando eu cheguei no meio do caminho eu jurava que o Taehyung tinha sido criado na selva... isso ia explicar bastante coisa. - Jackson comentou.

- E eu lá tenho cara de Mogli?

- Tem. - Eu concordei.

- Eu já falei que o problema é teu. - Ela deu de ombros. - E quem são essas gracinhas aí? - Ela disse, apontando para Jungkook e para Jackson.

- Ahn... Eu sou Jungkook, deve se lembrar de mim. - Ele estendeu a mão, pegando na mão dela com delicadeza.

- Ah! Jungkook! É claro que me lembro! Você e o Tete viviam em pé de guerra. - Ela riu. - Que cabeça a minha, como você cresceu em menino.

- Eles ainda vivem. - Eu disse rindo.

- É bom saber. - Ela sorriu. - E você bonitinho, qual o seu nome?

- É Jackson. - Ele se apresentou.

- Ah! Igual a égua do Tete! - Ela disse e eu fiz uma careta, caindo em gargalhadas junto aos outros, até Namjoon entrou nessa.

- Menina acredita que eu só fiquei sabendo a pouco tempo? - Ele disse sem parecer ofendido.

- Garoto, vai no celeiro pra você conhecer ela.

- Pode deixar.

- Namjoon! Você também sumiu garoto, ultimamente eu só tenho visto o imprestável do meu genro.

- Que bom né... - Yoon disse de lá com um sorriso falso no rosto.

- Meninos venham aqui eu estou fazendo algumas coisas para vocês comerem. - Ela se dirigiu até a cozinha, que era praticamente conjugada com a sala.

Atravessamos um arco enorme para sair no outro cômodo, que era tão grande quanto o outro, provido de uma iluminação avantajada, e uma "parede" de vidro, que dava visão para a piscina.

- Gente o Taehyung tinha que ter me avisado que ele era o príncipe da selva... - Jackson disse.

- Por quê? - Ele perguntou confuso, pegando uma uva de um dos balcões.

- Eu ia ter te pedido dois e cinquenta pra comprar um doce.

Eu estava rindo, completamente imerso na conversa deles, tanto que só notei a mão de Jungkook me puxando quando eu já estava saindo do lugar.

Olhei em seus olhos e ele tinha um sorriso tranquilo no rosto.

- Vem aqui. - Ele me puxou para segui-lo ao redor da cozinha, até sair na parte de fora da casa, onde tinham mesas e poltronas ao redor da piscina.

- O que foi? - Eu perguntei baixo, vendo ele dar a volta e parar atrás de mim, com as mãos na minha cintura, pousando o queixo no alto da minha cabeça.

Ele ergueu o meu queixo como resposta, de modo que eu pudesse aproveitar da outra vista.

O que eu vi roubou o meu fôlego.

- Nossa... - Sussurrei, em completa reverência. Sua mão apertou um pouco seu corpo no meu, fazendo um raio de eletricidade formigar a parte de trás do meu pescoço.

Eu estava diante da visão do céu mais bonito que eu já havia visto, a lua estava enorme, e eu acho que nunca tinha visto tantas estrelas em um só céu.

- É lindo. - Eu disse baixo.

- Eu prefiro a visão daqui de baixo. - Jungkook se inclinou na minha direção e sussurrou no meu ouvido.

- Gente, a minha mãe fez bolo. Vocês não vem? - Tae chamou, colocando metade do corpo para fora da cozinha, através do vidro.

- Vamos. - Ele respondeu.

- É lindo aqui. - Eu disse para Tae e ele olhou para o céu, dando um sorriso leve em seguida.

- Da cidade não dá pra ver o céu assim. - Ele disse enquanto entrávamos.

Quando nós voltamos para o lado de dentro da cozinha, Seo-Yun olhou para o nosso lado, colocando uma louça clássica sobre o balcão com um bolo cheio de chocolate por cima.

Ela cerrou os olhos para mim, mirou o olhar para Jungkook que por sua vez não percebeu, lerdo que era, e depois olhou para nossas mãos unidas.

- Ah não! - Ela bateu a mão na testa e eu franzi o cenho.

- O que foi tia? - Eu perguntei.

- Vocês dois estão namorando?! - A mulher parecia ter recebido uma notícia terrível.

- E-eu... nós... eu- - Olhei para Jungkook e ele deu de ombros, Taehyung também estava sem entender. - É... algo assim. Por que? Algum problema?

- Mais ou menos. - Ela disse sôfrega. - No fundo, no fundo eu sonhava que um dia o Tae ia largar aquele inútil ali e do nada me dissesse que estava namorando com você. As minhas orações foram por água abaixo.

- Ah... - Eu ri.

- Mamãe! - Taehyung gritou incrédulo.

- Eu também te amo sogrinha. - Yoon entrou na brincadeira.

- Desculpa senhora mãe do Taehyung, mas eu estou escalando essa montanha a muitos anos.

- "Montanha". - Yoongi repetiu irônico e eu o olhei com os olhos cerrados.

- Tá mais para um degrau. - Tae debochou.

- Há há há, vai rindo. É por isso que você não vai ter esse corpinho aqui. - Eu disse dando uma voltinha.

- Olha, apesar de que dá até pro gasto. - Tae disse com a mão no queixo, com uma expressão safada no rosto.

Yoon deu um murro no braço dele.

- Ah! Que dor! Eu estou brincando amor.

- É bom mesmo. - Eles deram um selinho.

- Mas pensando bem... - Ele disse me olhando outra vez.

- Vai brincando. - Yoongi ameaçou.

- Tira o olho, não é pro teu bico. ,- Jungkook disse, abraçando a minha cabeça.

- A mas agora eu estou bem mesmo. - Eu disse abafado por seus braços e os outros começaram a rir.

- Olha só... - Uma voz masculina mais grossa disse adentrando ao ambiente.

- Papai. - Taehyung cumprimentou, eu não podia ver por motivos de cara tampara por braços.

- Me larga bobão. - Eu sussurrei para Jungkook que o fez discretamente.

- Olha só se não é o pequeno Park Jimin. Pequeno Park Jimin nada, como você cresceu garoto. - O homem disse, repousando um molho de chaves sobre o balcão, parando e olhando para mim por um instante. - Que prazer inesperado.

- Oi Sr. Kim. - Eu sorri de volta.

- Que formalidade é essa garoto, não vai me dar um abraço? - Ele disse abrindo os braços e eu sorri indo em sua direção.

Ele me deu um abraço bem paternal, bagunçando os meus cabelos em seguida.

- Tá vendo só isso? O jardineiro de bonsai ganha abraço e eu não ganho nem o boa noite. - Tae reclamou, falsamente ofendido.

- Deixa de ser dramático Tete.

O pai de Taehyung era o mais próximo de uma figura paterna que eu tinha, além claro, dos esforços do Namjoon durante todos esses anos, afinal, querendo ou não, Namjoon e eu tínhamos a mesma idade.

Ele me encarou e deu um sorriso, balançando os fios outra vez e indo em direção à esposa.

- Amor. - Ele deu um beijo na testa da mesma.

Taehyung me olhava com uma expressão terna no rosto.

- E vocês estão bem garotos? - Hae-Won perguntou, passando e dando alguns soquinhos em Yoongi.

Eles lidavam muito bem com o relacionamento dos dois.

Os garotos responderam juntos. Enquanto o pai de Taehyung conhecia Jackson que era um dos dois novos rostos ali eu me aproximei de Jungkook, que parecia estar meio alheio ao ambiente.

- Você é próximo deles? - Ele sussurrou, colocando alguns fios do meu cabelo no lugar.

Eu maneei a cabeça afirmativamente.

- Eu passava bastante tempo aqui... na época em que nós andávamos afastados, eu não tinha tanto com quem estudar, ou brincar... os pais do Tae me traziam sempre após as aulas, ou me pegavam em casa nos fins de semana sempre que iam fazer alguma coisa. - Eu expliquei, sentindo uma nostalgia boa ao me lembrar. - A maior parte das vezes eu ficava por aqui. A mãe dele sempre pegava os meus boletins, cuidava quando eu tinha febre... eles foram incríveis.

- Oh e você meu jovem? - Hae-Won perguntou para Jung, que moveu seu olhar do meu rosto para ele.

- Ah, sou Jeon Jungkook, é um prazer Sr. Kim.

- O prazer é meu rapaz. Mas Jeon? Das empresas Jeon? - Ele ergueu as sobrancelhas.

- Isso senhor. - Jungkook assentiu meio sem jeito.

- Ah. Bacana... Eu conheço o seu pai. - Eu não sabia ao certo, se isso era uma coisa boa ou ruim. - Ele faz os jantares de negócios em um dos meus restaurantes.

O homem passou a mão pelos cabelos, ele era incrivelmente parecido com Taehyung.

Ou melhor, Taehyung era incrivelmente parecido com o pai. Ou seja: ambos eram incrivelmente bonitos.

- Ele tem... uma grande personalidade. - Talvez isso tenha saído como um elogio torto, ou como uma crítica direta. Bom, nunca saberíamos, mas era visível que Jungkook apesar de não discordar da opinião alheia, estava visivelmente desconfortável.

- É, ele tem uma fama recorrente... - Jungkook riu sem graça, colocando as mãos nos bolsos.

- Bom... - Hae-Won sorriu amarelo do mesmo jeito.

Um silêncio desagradável se instalou mo ambiente.

- Ele é o namorado do Jimin amor. - Seo-Yun disse dramaticamente, chamando a atenção de todos, e ainda bem que o fez, eles começaram a rir, Jungkook e Hae-Won também.

Aparentemente Jungkook seria perseguido pelo sobrenome pelo resto de seus dias. E na maioria das vezes não seria da forma agradável de ser reconhecido.

Eu já havia notado, ele preferia se apresentar para os outros apenas como Jungkook, sem usar do sobrenome, mas às vezes escapava, e esse "às vezes", às vezes fazia com que ele perdesse completamente o brilho no olhar.

Ele disfarçava bem, mas eu via no fundo do seu olhar que não era de tudo força, grande parte era mágoa.

- Não pode ser. - Hae-Won brincou, colocando as suas mãos na cabeça. - Tá falando sério?!

Jungkook riu e eu também.

- Olha lá... lá vem. - Taehyung brincou.

- Para ser sincero, eu estava esperando um dia em que o Tae ia entrar aqui de mãos dadas com esse aí  e do nada me dissesse que estavam namorando. - O homem disse, dando de ombros.

- Vamos parar pai! Não constrange ele, quem faz isso sou eu. - Tete brincou cerrando os olhos.

- É brincadeira filho, fico feliz por vocês. - Hae-Won riu, tocando o ombro de Jungkook. - Namjoon filho, já faz um tempo... - Ele se aproximou do meu pai com uma animação de quem encontrava o melhor amigo de infância e eles ingataram um diálogo que provavelmente duraria séculos.

- Jungkook. - Seo-Yun chamou e ele a deu atenção no mesmo instante.

- Sim?

- Eu conheço a sua avó Helena. - Ele sorriu. - Ela faz grandes doações para a minha clínica. - Ela parecia realmente agradecida.

- Ah! Com o quê a senhora trabalha?

- Eu tenho uma clínica veterinária, e com os fundos arrecadados nós fazemos trabalho voluntário para os que não tem condições de pagar um bom tratamento. A sua avó é uma grande contribuinte, agradeça a ela por mim. - Ela disse, entregando um pratinho de sobremesa com uma fato a do bolo para Yoongi, que assim como Jackson parecia meio aéreo.

- Pode deixar, eu passo para ela os seus agradecimentos. - Ele sorriu, mantendo um diálogo leve com ela.

Lentamente eu me afastei de si, dando alguns passos até a cadeira alta que Jackson ocupava no balcão. Ele estava olhando para o mármore como se fosse a coisa mais interessante do mundo, com uma expressão contida.

Namjoon conversava com Hae-Won e eu parei atrás de Jackson, apoiando o meu peito em suas costas, minhas mãos em seus ombros e repousando o queixo em seu ombro também.

- Hey... o que foi que aconteceu com o senhor? - Eu sussurrei, olhando para o mesmo ponto que ele.

- Hã... nada. Está tudo bem. - Ele sorriu, virando o rosto brevemente para mim e depois para o balcão outra vez.

- Nada disso moço, eu te conheço esqueceu? Desde o jardim de infância, quando você socou a minha fuça. - Eu brinquei, me sentando na cadeira ao lado. Ele respirou fundo, se virando para mim, dando um sorriso soprado. - Desembucha vai.

- Bom... primeiro... me desculpe por socar a sua fuça...

- E por me morder... - Eu disse risonho.

- E por te morder... - Ele parecia arrependido.

Eu ri, passando a mão nos cabelos.

- E por puxar o meu cabelo..
E por...

- E por todo o resto. - Ele disse antes e eu comecei a rir, fazendo com que ele fizesse o mesmo. - Eu te batia muito. - Ele constatou gargalhando , limpando as lágrimas.

- E eu não sei?! Você me sovava feito um pão. - Eu respondi, dando um soco leve em seu braço.

- Eu não me orgulho disso.

- Eu também não me orgulharia, você deveria ser preso. - Eu senti seu humor melhorar um pouco naquele momento. - Tá vendo? - Eu sorri. - Era esse sorriso aí que eu queria ver...

Ele me olhou e moveu os móveis para cima uma vez.

- Quer falar sobre o que está acontecendo? - Eu perguntei cautelosamente, tomando cuidado com o tom de voz.

- Ehn... - Ele apontou com a cabeça para Namjoon. - Eu só... só não acho que estejamos no mesmo mmomento só isso. - Ele disse mordendo o lábio inferior, Taehyung chegou e apoiou seu cotovelo no meu ombro.

- Como assim?

- Eu não acho que ele queira nada sério agora... mas não tem como eu obrigar... não é? - Ele riu leve, suspirando fundo.

- Não pode... - Eu respondi cuidadosamente e Taehyung concordou com a cabeça, eu segurei sua mão. - Mas pode falar o que sente para ele, e aí vocês podem resolver. - Ele negou com a cabeça.

- Acho que... não vai mais para frente do que isso. Infelizmente. - Ele limpou rápido uma lágrima.

- Ah... Jack. - Eu disse baixo, abraçando seu corpo, Tae fez o mesmo.

- A gente fala sobre isso depois, eu não quero deixar o clima estranho. - Ele sorriu forçado, passando as mãos no rosto.

- Tudo bem... mas tenta conversar com ele. - Eu pedi e ele assentiu.

- Ehn... Chim. - Tae disse baixo chamando a minha atenção. - Posso te roubar por um instante?

Aquela expressão dizia apenas uma coisa: problemas.

- Você vai ficar bem? - Perguntei para Jackson e ele assentiu. - Certo.

Eu me afastei junto a ele, nós saímos da cozinha e fomos até a sala de entrada de antes, onde estava consideravelmente mais escuro.

Yoongi estava sentado no sofá em frente a lareira acesa, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos e com uma cara de preocupação.

O vermelho das chamas refletindo em seus fios pretos só intensificou mais o ar de: fodeu.

- Jimin. - Ele se levantou de onde estava e eu me aproximei. - Na verdade, fui eu quem te chamei. - Eu assenti leve, mantendo o olhar em seu rosto. - Não sei se reparou, mas eu saí assim que o jogo acabou...

- É... eu reparei sim, até comentei com o Taehyung... - Eu respondi, olhando para Tae, que confirmou. - Mas, qual o problema? - Eu perguntei, com a testa franzida e os braços cruzados.

- Então... é aí que começa. - Ele respirou fundo. - Como você deve saber, a minha família, assim como o meu patrão, o pai do Jungkook não sabem sobre o meu relacionamento... só vocês e os pais do Tae sabem. - Eu assenti.

- Bom, eu sei mas- ... - Comecei, mas ele me cortou.

- Quando eu vi pai dele eu precisei sair, para não comprometer esse... segredo. - Ele disse sem jeito, mas Tae não pareceu se incomodar. - Eu fui para o meu carro, para esperar o Tae. - Eu respondi com um murmúrio silencioso, balançando a cabeça. - Quando as pessoas foram se despersando aos poucos, após o final do jogo, eu pude ver o Sr. Jeon... Ele estava conversando com aquele amigo do Jungkook, Jong-in, se não me engano.

Ele disse e eu franzi a testa.

- O Kai? - Perguntei e Taehyung assentiu.

O corpo de Yoongi se retesou antes de dizer.

- É... eu não sei se você consideraria isso algo suspeito, mas eles pareciam reservados, e mais do que isso íntimos, e se tem algo que eu posso te garantir com conhecimento de causa, é que, o Sr. Jeon não dá nenhum passo em falso, tudo o que ele faz tem algum motivo. - Seu tom ficou muito sério, e eu consegui entender o por quê.

Ele ficou estático por um instante, enquanto eu encarava o chão. Ele variou o olhar entre mim e o namorado, parecendo preocupado.

- O-Olha eu não quero sabotar o seu relacionamento e nem nada, eu só queria- - Ele parecia nervoso.

- Está tudo bem Yoon. - Eu disse segurando a sua mão. - Você fez bem em me dizer, eu só não entendo... por que o Kai... - Meu rosto se contorceu, em uma expressão de perplexidade.

- Bom... espero que isso te ajude, tenha cuidado. - Ele segurou o meu ombro, e olhou em meus olhos.

- Obrigado Yoon...

- Eu acho melhor a gente voltar. - Tae disse com uma expressão curiosa no rosto.

Nós concordamos, e assim fizemos.

- Vocês vão ficar todos aqui? - Seo-Yun perguntou comendo uma fatia do próprio bolo.

- Hã... não sei, vamos? - Fiz uma expressão confusa e Tae assentiu.

- Se vocês quiserem. - Ele deu de ombros.

- Ahh! Que ótimo! A tempos não utilizamos os quartos de hóspedes, senti falta de vocês meninos. - A mãe de Tae gritou batendo palminhas. - De repente é tudo tão nostálgico.

-  Vamos Amor, deixe-os conversar. - Hae-Won disse chamando a esposa.

- Ah! Mas tem tanto o que eu quero colocar em dia com eles. Jimin, come um pedaço de bolo! - Ela ordenou é eu entortei o canto da boca.

- É verdade Jimin, você não comeu nada até agora, você emagreceu. - Hae-Won disse.

- Ah... eu não-

- Vai comer bolo Jimin. - Ela mandou outra vez sem se deixar ser puxada.

- Tá bom... - Eu disse, me sentando a beira do balcão e pegando um prato. Todos tinham sido vítimas dela.

- Não sobe no meu balcão garoto!

- Deixa ele, vêm. - O pai de Tae chamou risonho, finalmente vencendo e a levando para longe. - Tá parecendo uma doida.

Ela se afastou e eu olhei para a beirada do mármore, onde Jungkook comia, também obrigado.

- Uau. - Ele disse rindo.

- Essa é a minha mãe. - Tae disse rindo, brincando com o garfo na tigelinha vazia.

Jungkook se distraiu com o bolo, e passou a mão no canto da boca levemente, olhando para o céu la fora.

Ele estava de pé, debruçado com um braço na beira do balcão a outra mão livre estava no rosto, onde ele passava o polegar.

Eu morri o lábio inferior e engoli em seco. Ele sorriu, me pegando em flagrante em seguida piscou um dos olhos de forma galante me fazendo instintivamente mover o olhar para o meu colo onde repousava a louça branca, dando um sorriso sem graça.

Depois de me empanturrar de bolo forçado, Jungkook me carregou para o lado de fora da casa de Taehyung, com a desculpa de que segundo ele: "precisava de um ar."

Era nítido que não havia nada de ar nenhum, ele só queria perambular por aí a sós, e ninguém o privou disso.

Ele parecia realmente à vontade ali, observei-o por algum tempo, antes que eu quebrasse o silêncio.

- Está curtindo o seu ar? - Debochei, fazendo aspas com as mãos quando disse.

Jungkook balançou a cabeça e sorriu, então passou o braço por cima dos meus ombros me puxando para perto, eu ri também.

- Sabe que eu não queria ar nenhum.

Ele abriu um sorriso de gato que engoliu o canário e beijou o meu rosto, inclinando-se mais.

- Eu estava pensando... - Ele começou.

- Hum?

- Você tem alguma coisa para fazer amanha à tarde? - Ele perguntou e eu me pus a pensar.

- Bom... eu acho que-

Foi aí que um estalo se deu dentro da minha mente.

- Merda! - Eu bati com a palma da mão na testa.

As sobrancelhas de Jungkook se franziram.

- O que foi tampinha?

- A detenção! Esqueceu?

- Detenção? - Ele entortou ainda mais a expressão, com a mão no queixo.

- É... eu joguei café na Madelaine. - Revirei os olhos e ele tentou segurar o riso, parando de andar, eu fiz o mesmo.

Pisquei os olhos, abri e fechei a boca e pisquei outra vez. Ele estava brincando.

Eu cerrei o olhar.

- Tá rindo de mim?

- E-eu... - Ele deu um passo para trás. - Talvez.

- Cusão! Isso é culpa sua! - Acusei furioso.

- Culpa minha?! - Ele gargalhou. - Quem não assumia os próprios sentimentos era você, se quer culpar alguém, culpe o Dylan que te deu o café! - Ele debochou.

- É isso que tem pra me dizer? - Ergui as sobrancelhas e estralei o pescoço e os dedos.

As sobrancelhas de Jungkook se transitam outra vez e ele levantou as mãos em sinal de paz, em frente ao corpo.

- Você está arrependido das suas decisões tampinha? - Ele riu.

- Porta... eu não estou não! - Balancei  a cabeça e cruzei os braços sobre o peito. - Bem, nem tanto assim. Eu poderia ter morado melhor o copo de café, mas eu não me arrependo não. Eu só não quero ter que pagar por isso. - Dei de ombros.

- Hum... então temos um pequeno problema, mas estou certo de que vamos resolvê-lo. Eu posso ligar para o meu pai e aí ele-

- NÃO! Não, não, não, não, não! Nem inventa de envolver o seu pai. - Eu disse balançando as mãos. - Não quero mais dívidas com o seu pai. - Eu disse involuntariamente, sem perceber.

- "Mais dívidas"? - Ele ergueu as sobrancelhas. - Com o assim mais?

- A-ah, eu quis dizeer... - Pigareei nervoso. - Você sabe... você, você é uma dívida!

Ele forçou o olhar contra mim.

- É sério isso? - Ele perguntou desconfiado.

- "É sério isso?" - Eu repeti com uma voz ridícula, em um tom propositalmente sarcástico.

Ele balançou a cabeça e riu, parecendo convencido.

- Eu não falo assim, valeu? - Ele disse me abraçando de lado.

Entortei o canto da boca sem que ele pudesse ver.

Essa foi por pouco.

Num piscar de olhos nos colocamos a andar outra vez, e eu abracei seu busto com os dois braços, ainda de lado.

- Por acaso você sabe onde é que nós estamos indo? - Ele riu soprado e maneou a cabeça.

- Não faço idéia.

- Hum... inútil. Pelo menos eu sei. - Eu ri e ele apertou o meu corpo no seu.

- E onde nós estamos?

- Pra lá, fica o jardim. - Eu apontei para o Laos da frente da casa. - Pra lá o estábulo. - Falei, movimentando o meu dedo nas direções aleatórias. - E pra lá a área de lazer deles, foi de onde a gente veio.

- Aqui é enorme. - Ele comentou.

- Falou o príncipe de Los Angeles. - Eu ri.

- Eu prefiro aqui. - Ele deu de ombros. - Não tenho vontade de viver e Maple Hill.

- Por quê? - Eu franzi a testa.

- Aquele é o lar dos meus pais... não é o meu, eu não tenho... você sabe... lembranças muito boas de lá. As que eu tenho, são com você.

- Isso foi fofo... - Eu disse, sentindo seu corpo quentinho contra o meu.

Fiquei tenso. Ele não havia respondido só a verdade, ele havia feito uma declaração.

Declaração essa que aqueceu o meu coração feito brasa

- Pode parecer besta, vendo que a gente só se acertou hoje, e que a gente não namora oficialmente... - Ele disse meio enrolado. - Mas eu não vejo o meu futuro sem você.

- Se serve de consolo... - Eu disse parando de andar e ficando frente a frente com ele. - Eu também não. - Disse, beijando seus lábios de leve, ele segurou o meu queixo e eu a lateral de seu rosto.

Próximo a nós as luzes acesas chamaram atenção.

- Chegamos. - Eu disse puxando a mão dele.

Ele riu soprado, me seguindo devagar.

- Chegamos inf- PUTA QUE PARIU! - Ele arregalou os olhos. - Que lugar é esse?

- O celeiro. - Gargalhei. - Pois é... - Eu disse compreensivo dando tapinhas em seu peito.

- O que eles são? - Ele fez uma careta.

- A mãe dele é veterinária. Eles vem de uma família de veterinários...

- Isso explica o...

- O zoológico? - Eu ri.

- Isso. - Ele riu também, entrando no local que tinha cheiro de cavalo com cavalo.

- Quando ele me disse que tinha um bode eu achei que fosse brincadeira. - Ele disse.

- Nada disso. Esse é o Namjoon. - Falei apontando para o bode.

O estábulo era grande, e bem iluminado, os pais de Taehyung praticavam cavalgada, então eles tinham alguns cavalos, além de alguns outros animais avulsos.

- Isso sim é que é uma notícia boa. - Ele brincou, indo passar a mão no bode.

- NÃO! - Eu gritei.

- Por que não? - Ele diz ele levantando as mãos na altura do peito.

- O Namjoon morde. - Respondi naturalmente.

- Morde?

- Morde. - Assenti. - Caralho desse bode filho da mãe quase me arrancou dois dedos uma vez. - Falei lançando um olhar mortal para o animal.

Deixei escapar uma lufada de ar.

Péssimas lembranças do bode.

Ele gargalhou.

- O que foi? - Ergui as sobrancelhas, sem tirar os olhos do chifrudo.

- A sua cara está engraçada. Cara de medo...

- Cara de medo de bode você quis dizer. - Fiz uma careta. - Vem, vou te apresentar para Jackson.

- O nosso amigo?

- Não, a égua deles.

- Uau.

Eu me aproximo de um dos espaços do alojamento, onde estava Jackson, a égua.

- Ela é linda. - Ele disse rindo.

- Não é? Ela é um doce. - Eu disse passando a mão nela de leve.

Ele ficou parado por algum tempo em silêncio com a mão na cabeça dela da mesma forma que eu.

Jungkook olha fixamente parando de movimentar a mão, seus olhos ficam presos em mim.

Eu dou um riso sem graça sem entender o que ele estava olhando.

- O que aconteceu? - Eu ri. - Você ficou quieto do nada.

Ele estava com os cabelos meio bagunçados pelo vento dali, seu casaco aberto, e seu rosto completamente inexpressivo, a não ser por um sutil sorriso frouxo que ele tinha nos lábios.

- Nada... - Ele tirou a mão do animal, sorrindo amarelo. - Só gosto de te olhar. - Ele moveu os ombros para cima e para baixo uma vez.

- Ahn... deixa de ser bobo. - Senti meu rosto queimar e olhei para o chão.

- Bobo nada, eu vou registrar, vem aqui. - Ele chamou, passando a mão no bolso e retirando o celular.

- Que registrar o quê! Nem vem. - Falei me virando e me pondo a andar.

- Vem aqui! - Chamou, passando o braço pela minha cintura e colando o seu corpo em minhas costas.

Ele esticou o braço livre e bateu a foto antes que eu pudesse impedir.

- Impressionante. - Ele murmurou, focando o olhar na tela.

Aquilo soou como um elogio, e eu me dei por vencido, deixando-o fazer o que bem entendesse.

- Você está lindo.

- Como assim? - Gargalhei. - Eu não estou fazendo nada além de ficar aqui parado. - Respondi franzindo a testa.

- É exatamente por isso. Você é lindo parado. Isso pra mim é o suficiente. - Se aproximou, passando a mão em meus cabelos, puxando os fios para trás, da mesma forma que eu fazia, e consequentemente movendo a minha cabeça um pouco.

- Sabe que está passando a mão de cavalo no meu cabelo, não sabe? - Eu questionei rindo um pouco.

- Sei. - Ele disse entre risos, passando outra vez.

Quando ele terminou a seção de fotos, nos sentamos lado a lado na traseira da caminhonete retrô do pai de Taehyung, olhando o céu que parecia tão mais estrelado do que na cidade e a lua se destacando entre as estrelas.

- Tampinha... - Ele chamou baixo, depois de algum tempo em que ficamos em silêncio.

- Hum? - Eu perguntei.

- Já sabe o que vai fazer depois da escola?

Eu franzi o cenho.

- Difícil, já que eu não tinha planos de sair da cafeteira até um tempo atrás. Depois disso, tudo o que veio acontecendo, aconteceu tão de repente que eu não parei para pensar, e agora... bem... - Eu rio sentindo o meu rosto barrar o sereno que batia e se alimentava do meu calor. - Eu nem mesmo vou conseguir me formar. O diretor só me deu mais uma semana, e eu já passei por ela.

- Isso quer dizer que...

- Que na segunda eu provavelmente já não vou mais estar lá. - Eu disse, deixando os meus ombros caírem um pouco.

Ele ficou em silêncio, e eu recolhi as minhas pernas, cruzando elas em minha frente.

- Me deixa pagar para você. Por favor. - Ele pediu.

- Eu não-

- Não pense nisso como eu pagando as suas contas... pense como... - Ele gaguejou um pouco. - Como um investimento. Você me paga em dobro quando puder. Que tal?

Eu ri baixo, desviando o olhar para o gramado baixo a nossa frente.

- Não me entenda mal... eu não estou tentando ser orgulhoso, é só que... não é a sua obrigação, entende?

- Exatamente! Você não está me obrigando, eu vou fazer porque eu quero, porque eu te amo. Te amo mais  do que tudo. Pode pensar nisso? - Ele pediu segurando as minhas mãos.

- Eu não quero que as pessoas tenham mais motivos para dizer que eu só me interesso pelo seu dinheiro, isso só iria reforçar o estigma.

- Só... pensa.

Com aqueles olhinhos redondos brilhando, como é que eu poderia dizer não?

- Tudo bem. Eu vou considerar. Não se preocupe. - Eu sabia muito bem do valor que aquelas palavras teriam, e ele era pouco, ainda que como prometido, eu fosse pensar.

Era o primeiro dia em que nós conversávamos tranquilamente, em um lugar onde eu não teria de me preocupar em me esconder do pai dele, ou de Madelaine.

Jungkook estava usando do charme para me persuadir, e eu tenho de admitir, aquilo estava realmente funcionando comigo.

Aquele físico alto e musculoso, com a cintura estreita, estava me confundindo mais do que o normal.

- É mesmo? - Ele assumiu uma postura alegre, inclinou-se para frente e segurou a minha mão.

- Eu nunca minto. - Menti. Enfim, a hipocrisia.

Não era exatamente verdade. Eu mentia sempre que era conveniente ou estava em apuros, é instintivo, todos fazem o mesmo. Mas, ainda que isso me conviesse, não era um desses momentos.

Jungkook abriu um sorriso, claro e satisfeito, de quem havia dado conta do recado.

- Acho difícil acreditar nisso.

- Que eu falo a verdade? - Eu ri.

- Não... - Ele se aproximou do meu rosto. - Que vai pensar no assunto. Você é um fujão... lembra? - Ele se inclinou sobre o meu corpo, subindo vagarosamente em sobre corpo.

Apoiei-me sobre os cotovelos, ficando reclinado, quase deitado sobre a carroceria da caminhonete.

Seu rosto se aproximou sem desviar o olhar nem por um momento. Seus lábios foram de encontro ao meu pescoço, sua mãos subiu a parte interna da minha blusa, deixando meu abdômen de fora, onde sua mãos repousava. A sua perna subiu vagarosamente, parando entre as minhas pernas.

- Espero que ninguém apareça. - Ele sussurrou em meu ouvido, só a luz do luar estava sobre nós, senti seus lábios passeando a lateral do meu pescoço em uma trilha de beijos leves, até parar outra vez em minha orelha.

Jungkook sabia o que estava fazendo. E fazia muito bem.

Senti-lo tão no controle me trouxe a nostalgia do nosso último encontro desastroso na sala vazia do colégio, onde eu tive a oportunidade de admirar o seu corpo sob a luz dourada de quente do sol.

Agora, sob uma atmosfera completamente oposta, sob os raios lunares e a brisa fria da noite, esse sentimento de nostalgia se transformava em excitação.

- Isso seria uma tragédia. - Abri um grande sorriso.

Sua resposta para mim foi um beijo longo e demorado, antes que ele colocasse o peso do corpo entre os joelhos que estavam entre minhas pernas, me forçando a cruzar as pernas sob seu quadril. Ele tinha uma mão pouco acima da minha cabeça, onde suportava boa parte do peso de seu corpo.

Eu ergui a coluna involuntariamente, na tentativa de suportar um gemido contido na garganta quando ele mordeu de forma delicada a pele na altura da minha clavícula.

A respiração dele estava acelerada.

Eu estava disposto a dar o próximo passo com ele, apesar de nervoso.

Com a mão trêmula eu subi os dedos frios levemente pela lateral de seu corpo, usufruindo do toque da pele macia e nessa mesma direção, deslizando pelo seu braço acima da minha cabeça, onde cruzei nossos dedos. A palma de sua mão estava suada, ele também estava nervoso.

Ele subiu na direção do meu rosto, erguendo o meu queixo na direção do seu rosto, em um pedido silencioso para eu eu o olhasse. Com um sorriso leve e sedutor ele quebrou o silêncio entre nós.

- Não vai fugir? - Ele questionou rouco, com as pupilas dilatadas.

Eu sorri enquanto mordia o lábio.

- Você vai? - Devolvi em um sussurro, sentindo seu olhar queimar sobre o meu, irradiando luxúria.

Ele se afastou minimamente, mantendo um sorriso sacana, enquanto mirava meus olhos.

Jungkook suspirou fundo, aproximando-se de mim, deslizando a mão por baixo das minhas costas ao redor da minha cintura e me puxando contra o seu corpo. Engoli em seco quando em um movimento forte ele investiu o quadril contra mim, com a mão apertando forte a minha cintura, senti o volume duro de seu membro pressionar contra mim. Ele estudou o meu rosto e se inclinou para mais perto. Tão perto que eu podia sentir o sopro de sua respiração contra meus lábios.

- Isso responde a sua pergunta?

Ele se aproximou, findando a distância entre nós, em um beijo suave.

Estendi o braço segurando-o pela nuca, curvando o meu corpo em sua mão que apertava meu quadril. Me aproveitando da pressão firme de seu aperto em um impulso certeiro eu girei nossos corpos, caindo sentado sobre seu quadril.

- Oh! - Ele gemeu baixo de forma explicita, de olhos fechados, ao sentir o meu peso sobre o membro dele. Sua voz firme como o fio de uma navalha.

- E por acaso isso responde a sua pergunta? - Desafiei, com a voz mais rouca que o normal.

Levantei os quadris e me movi outra vez. Jungkook tentou reprimir um gemido, deixando-o rouco na garganta e segurou os dois lados da minha cintura, me impedindo de me mover.

O sorriso mais sexy que já vi surgiu em seu rosto.

Seus olhos estavam escuros. Eu podia dizer que ele estava tentando se controlar, pois apertou os olhos com força e respirou fundo, intensificando a pressão sobre minha cintura.

- Não pode ser aqui. - Sua voz soou contrariada e necessitada, seu maxilar travado dizia o mesmo. - Tem que ser perfeito. - Exigiu, se sentando e colando o seu peito com o meu enquanto tentava normalizar a respiração, coisa que o volume sinuoso abaixo de mim contradizia.

Apesar de tudo suas palavras foram doces, e isso me deixou feliz, meio eufórico, de uma forma que eu não sabia explicar.

Eu desviei o olhar sem jeito, e dei um sorriso.

- Está brincando comigo? - Ele perguntou em um tom divertido e eu o olhei, sem entender.

- Como assim? Do que você está falando? - Eu perguntei, repousando ambas as mãos sobre seus ombros.

- Se continuar fazendo essa cara eu não vou conseguir me livrar disso. - Ele disse risonho, olhando para baixo.

Eu também estava com dificuldades.

- A-ah, mas eu não fiz nada. - Senti meu rosto esquentar.

- Fez, me olhou com essa carinha inocente de quem não sabe muito bem como me render. - Ele disse sem vergonha alguma. - Se isso for "fazer nada"...

- Tudo bem, eu vou parar de não fazer nada. - Falei, tampando o meu rosto com as duas mãos.

Ele segurou as minhas mãos devagar, retirando-as da frente do meu rosto lentamente. Assim  que abri meus olhos, ele sorriu e me beijou.

Abri um grande sorriso.

- Acho melhor se a gente entrar. - Falei, sentindo o frio mais forte.

- Certo. Vamos. - Eu me levantei de cima dele e ele pulou da caminhonete, se colocando a andar ao meu lado.

Quando chegamos a cozinha Yoongi estava a sós, passando algumas vasilhas na água. Seu olhar foi parar em nós dois assim que adentramos ao local.

- Vocês sumiram. - Ele disse olhando para os objetos que lavava.

- É... a gente precisava conversar um pouco. - Eu respondi resignado e Jungkook me lançou um olhar safado.

- Entendo. - Ele respondeu, se virando outra vez, já com tudo finalizado. - Vocês já vão dormir? - Ele passou os dedos pelos cabelos pretos e eu assenti, olhando para Jungkook só para conferir.

- Vamos sim, eu estou morto. - Respondi, sentindo realmente cansaço.

- Imagino. - Ele riu, com o duplo sentindo. - Vamos, eu levo vocês até o quarto.

- Fica sempre aqui? - Eu perguntei indiscreto, enquanto caminhávamos, eu já tinha intimidade, ele já tinha perguntado se eu usava drogas, então eu tenho esse direito.

- Não sempre, mas a minha casa está sempre vazia, sendo assim não tem muito o que fazer... aqui a gente tem mais liberdade, e os pais do Tae realmente gostam quando ficamos. - Eu assenti.

- Onde estão os outros?

- Jackson e Namjoon foram deitar antes... o clima estava pesado. - Ele observou enquanto subíamos as escadas e eu assenti.

- Eu que o diga...

- O Tae está tomando banho.

- Ah, claro, uma vez no ano ele faz isso. Estava na hora. - Debochei.

- É bom não deixar ele ouvir uma coisa dessas. - Ele riu. - Tipo, nunca. Nunquinha mesmo.

Nos aproximamos de uma porta branca. Yoon parecia estar concluindo a conversa, Jungkook estava atrás de mim. - Bom, é aqui. - Ele abriu a porta grande. - Tem um banheiro aí dentro, nos armários vocês vão achar toalhas, roupões e cobertores. Boa noite.

- Já trabalhou em algum hotel? - Perguntei em meio a uma risada.

- Não.

- Pois deveria pensar no assunto.

- Olha, vai logo dormir. Você é chato. - Ele me empurrou e se despediu de Jungkook com um aceno.

Jungkook deu alguns passos vagarosos pela frente, parando próximo a janela.

Mordi o lábio de leve vendo sua silhueta se mover quando ele respirou fundo.

Eu me aproximei, passando os braços pela sua cintura e colando o meu peito em suas costas. Seu sobressalto me arrancou um sorriso.

- Se assustou? - Sussurrei, suprimindo um sorriso.

- Um pouco, estava distraído, não estou acostumado a ser mimado assim. - Ele respondeu se virando vagarosamente dentro do meu abraço e parando frente a frente comigo. Seus dedos deslizaram por trás das minhas orelhas, ajeitando o meu cabelo nessa área, enquanto me olhava.

- Estava distraído com o quê? - Pisquei, vendo ele tensionar um pouco e sua expressão vacilar. - Vai querer me dizer? Ou eu vou ter que arrancar a força? - Questionei beliscando a área das suas costelas.

- Não é nada. - Ele desviou, retirando as minhas mãos de leve.

Eu ergui as sobrancelhas confuso.

- Claro que é alguma coisa, você estava normal lá fora, depois que a gente entrou você não deu uma palavra.

- Olha... é só que-... - Ele respirou fundo. - Tem certeza de que quer isso?

- Isso o quê? Eu não entendi o que está querendo dizer.

- Eu não consigo não sentir que estou te forçando a algo.

- Me forçando? - Perguntei incrédulo. - Como assim? Foi você quem parou tudo lá em baixo.

- Você não entendeu. - Ele recuou um pouco, se afastando alguns passos. - Tem certeza de que é isso o que você quer? A gente ainda não falou sobre o meu pai, sobre a Madelaine, sobre tudo. Eu sinto que estou colocando mais problemas na sua vida.

- Olha, eu decidi não pensar sobre isso. E você também não deveria... vamos matar um leão por dia. Tudo bem?

Puxei ele pela mão, colando o seu corpo no meu outra vez, sentindo-o respirar pesado.

- Eu não mereço você. - Ele disse me abraçando.

- A gente decide se você merece ou não depois. Agora eu vou tomar um banho, e venho deitar contigo. - Ele assentiu.

Jungkook já havia tomado banho após o jogo, então só restava a mim, e assim eu fiz, sentindo a sua insegurança me assolar enquanto a água caia.

"Tem certeza de que é isso o que você quer?"

Pensei longamente em sua pergunta. Tanto que quando percebi os meus dedos já se encontravam enrugados e o meu corpo febril pela temperatura da água.  As suas palavras colocadas de forma tão sincera, os seus olhos carregando aquela expressão insegura fazia com que eu me sentisse total e completamente impotente... inseguro.

A forma que ele tinha de expressar a própria preocupação era mostrando que estava pensando em mim, mas a essa altura do campeonato eu também já não tinha mais tanta certeza se esse era o caminho certo a ser tomado. Tantos "e se", tanto achismo, tanta incerteza, que fazia com que eu perdesse toda a coragem que eu havia tomado mais cedo.

Eu era eu outra vez.

Quando o relógio marcou 00:00 eu saí de dentro do chuveiro, pedindo aos céus para que ele tivesse adormecido, para que eu não precisasse juntar os meus olhos aos seus; não com toda aquela fraqueza em seu olhar. É nessas horas em que nós devemos ser fortes por dois. Piegas, porém uma verdade irrefutável.

Contrária a minha vontade, quando eu me esgueirei para fora do banheiro minimamente deixando com que apenas o meu rosto e um dos meus ombros saísse dali, eu pude ver, Jungkook estava deitado sozinho, a parede inexistente ali no quarto que encontrava-se com as costas da cama era feita de vidro, deixando assim apenas a luz forte do luar impedir o quarto de ficar completamente escuro.

Seus olhos miravam que miravam as paredes se voltaram para mim, lentos e calmos, ele deu um sorriso leve com a beira dos lábios, e depois puxou as cobertas para o lado, a parte que não cobria a metade de baixo do se corpo como se essa fosse a minha deixa para e juntar a ele.

Tombei a cabeça sutilmente ao receber o seu olhar e ele sorriu movendo em seguida o dedo indicador para mim.

Eu engoli em seco por um momento, respirei bem fundo, e caminhei passo a passo, lentamente em sua direção. Seu sorriso se desfez e seus olhos me acompanharam, ele passou a língua sobre os lábios brevemente tendo pressa em se ajeitar no local, se sentando direito, mas sem desviar o olhar nem por um instante.

Senti o meu rosto se aquecer, eu estava apenas com uma peça íntima, e ele estava com o olhar preso em mim.

Na beirada da cama eu avistei a sua blusa branca perfeitamente dobrada, e em um movimento inseguro eu a peguei, sentindo vergonha de ficar tão desnudo em sua frente.

- Não! - Ele teve pressa de dizer, me impedindo de vestir a peça. Eu olhei em seus olhos sem dizer nada e ele pareceu ver que se exasperou.  - N-não precisa vestir nada... eu... eu gostaria de te ver assim, se você deixar.

- Eu não sei se-

Antes que eu terminasse ele tirou a coberta de cima de si, mostrando que ele nada rajava, além de uma cueca boxer preta, da mesma cor da que eu vestia.

Senti o meu rosto queimar, eu não sabia o que fazer. Como eu disse: eu era eu outra vez.

Ele estava sentado, com uma das pernas dobradas e o pé apoiado no lençol da cama, e a outra esticada, o seu peito não era escondido por nada.

Eu fico sem jeito, desvio o molhar para a parede ao lado. Olho para o teto. Olho para os meus pés, e mesmo assim, sinto que não serve de nada, partindo de que ele ainda estava ali, me olhando.

- Ah! Droga. - Ele exclamou baixo e eu mirei seu rosto. - Eu não consigo me acostumar com o quanto você é lindo.  - Meus olhos arregalaram. - Olha só, você está vermelho! - Ele tampa o rosto por um momento com ambas as mãos.

Ele me fita por muito tempo, com um sorriso contido morando nos lábios, claramente encantado.

Sei disso, porque eu também estava.

- Você não vem? - Ele bateu no colchão de forma convidativa, e eu assinto.

Em passos leves eu paro ao lado da cama, e subo, me sentindo estranho.

- Sabe que eu não quis te assustar não é? - Ele perguntou e eu respondi com um aceno de cabeça. - Não sabe não, porque se não não estaria em silêncio esse tempo todo. - Ele respirou fundo e olhou para a cama, deixando os braços caírem derrotado. - Eu estraguei tudo. Não queria que achasse que eu estava querendo pular fora.- Ele maneou a cabeça.

- Não estragou. - Eu disse, segurando sua mão. - Você também tem todo o direito de ter as suas inseguranças. E para isso que eu estou aqui.

- Então por quê?

- Eu só... - Respirei fundo. - Concordo com você. - Ele me olhou como se tivesse arruinado tudo. - Concordo que não vai ser fácil para nós, mas isso não quer dizer que não vai funcionar. Não quer dizer que eu não esteja disposto a tentar.

Ele respirou sôfrego, olhando para as palmas das mãos, que estavam sobre o colo.

- Me desculpe... - Ele disse com  a voz embargada mordendo o lábio inferior e eu franzi a testa. - Me perdoe por não conseguir ser forte por você, ainda é o início e eu já estou nas últimas.

- Ei, não está nas últimas. - Eu disse virando o seu rosto para mim, enquanto as lágrimas caíram livremente como eu nunca havia visto. Ele sempre as segurava. - Ninguém precisa ser forte o tempo todo.

- Eu não sei o que quer dizer. - Ele riu seco. - Antes eu disse que era difícil te amar... - Ele deu de ombros. - Mas não é verdade. Te amar é fácil, te amar é simples... porque você é uma pessoa boa de se amar. - Ele comprimiu os lábios, passando o torso da mão no rosto. - A pessoa difícil aqui sou eu... e eu realmente não sei o que você vê em mim... você é forte, interessante, sempre lutou por tudo e nunca desiste... tudo o que vem de mim, vem assinado em baixo com o brasão da minha família.

- Não foi fácil assim. - Eu disse ansioso para o tocar. - Realmente nunca foi fácil para mim. Sempre tem algo no caminho. - Admiti. Jungkook olhou longe, dentro de mim.

No que se refere a homens bonitos, Jeon Jungkook estava no topo. Ele nem precisava se esforçar para ter uma boa aparência. Era naturalmente bonito. Casual, profissional, alegre, triste, com raiva , ele era de parar o coração em qualquer uma dessas formas. Ele era irresistível. Tinha talento em quase tudo, tinha grandes notas, um senso de humor maravilhoso, um senso de proteção sem igual, um caráter impecável, e um coração de criança. Estava sempre rodeado de gente, foi algo que me vez sentir distante diversas vezes.

- Mas isso não diz nada sobre o que você é. Eu sei no quanto você é incrível... as suas vivências não tem de ser as mesma das minhas. Cada um vence as próprias batalhas, de formas diferentes. Eu vejo, desde quando nós éramos novos, eu te admiro mais do que ninguém, e é por isso que eu escolhi você e só você para dividir cada segundo de paz entre cada uma delas...

- E durante? - ...

- Bem... - Eu sorri, vendo seu semblante abatido. - Durante elas eu vou estar dividindo tudo com você. Porque eu escolhi te amar... porque é fácil te amar.

Seus olhos encararam os meus, uma sugestão de sorriso nos lábios. Ele apoiou as costas na cabeceira da cama e respirou. Eu observava o seu peito subir e descer.

- Eu achava que saberia que amava alguém quando fosse fácil. As coisas simplesmente se encaixariam... sabe?

Assenti.

- Os planetas se alinham e tudo simplesmente funciona? - Eu ergui as sobrancelhas e ele riu. - Olha... a Disney está perdendo uma princesa sonhadora.

- Mais ou menos por aí. - Ele brincou, limpando os resquícios de lágrimas que ainda estavam em seus olhos.

- Por que você achava isso?

Eu ri curioso, encostei as pernas em meu peito e apoiei o queixo sobre os joelhos, olhando em seus olhos.

- Eu já não tenho mais certeza... acho que ainda não tinha conhecido você. - Ele deu de ombros de leve. - A sensação é diferente com você.

Jungkook sorriu, se ajeitando na cama, deitando o corpo e esticando o braço por cima do meu travesseiro, me convidando a me juntar a ele através do olhar. A profundidade de seus olhos me roubou o fôlego. Foram longos momentos até que eu pudesse me mover.

Vagarosamente eu toquei seu rosto, deixando um beijo leve em seus lábios e em seguida me deitando sobre o seu corpo, a cabeça estava em seu peito e sua mão acariciava os meus cabelos, sentir seus batimentos tão próximos foi como um mantra.

Com os dedos indo e voltando em seu peito, Jungkook me puxou para si, apertando o meu corpo o seu de uma forma gostosa. Agarrei-me a ele, em alguns momentos eu adormeci, sentindo a certeza de que eu estava exatamente onde eu queria estar.

A última coisa que me lembro de ter escutado, era sua respiração lenta e tranquila.

...

Meu telefone emitiu um sinal sonoro na mesa de cabeceira da cama, o que com toda a certeza não era algo que costumava tirar o meu sono, porém por mais incrível que pareça, foi o que aconteceu.

Com os olhos cerrados e a mente lerda, tratei de discretamente apanhar o celular. Para a minha dor, era apenas uma mensagem qualquer de operadora, chamando a minha atenção por nada.

Jungkook se moveu minimamente, se acomodando ao local. O que eu também fiz por fim. Sentindo a lerdeza da madrugada me assolar eu me deitei próximo a ele, puxando a coberta felpuda sobre os nossos corpos.

Assim que eu toquei a cabeça no peito de Jungkook, o som da porta batendo me fez dar um sobressalto; Jungkook por sua vez era uma pedra.

Assim que abri os olhos, tentei tapar o olhar com a mão, sentindo a luz entrar junto de Taehyung.

Aliás, Taehyung exasperado, detonado, deformado, remelado, desesperado e tudo com "ado" que possa imaginar.

- T-Tae. Tá fazendo o quê aqui a essa hora? - Franzi o olhar. - Eu tenho certeza de que você não é sonambulo.

Ele meio cambaleando, veio em minha direção, como quem diz: "AH! É aí que você está!".

Ele parecia confuso demais.

- Ah! É aí que você está! - Ele disse, lendo os meus pensamentos. Ele estava indo para o banheiro.

- Nem que eu dormisse na privada, tá e achando com cara de barata? - Falei, vendo ele se identificar. - Quer uma bussola?

- Ho-Hoseok sofreu um acidente. - Ele disse nervoso.

- O quê?! - Arregalei os olhos, sentindo o peso de suas palavras. - Como assim?! Taehyung tá sonhando? - Perguntei me sentando na cama.

- Não! Me ligaram do hospital. A gente precisa ir pra lá, tipo agora!

- Eu não- Meu Deus. - Bati a mão na testa, olhando o relógio digitar do celular. - Ele saí da boate nesse horário.

-Parabéns Sherlock, deve estar orgulhoso. VAMOS LOGO! - Ele gritou correndo do quaro e eu me levantei.

Jungkook parecia estar morto, porque nem se explodissem a casa ele não faria questão de acordar.

- Hey! Acorda. - Cutuquei uma vez.

Ele se revirou na cama, se enrolando nas cobertas e me dando as costas.

Eu me virei, vestindo a calça que eu havia deixado dobrada no banheiro.

- Acorda! - Chamei outra vez. - Jungkook!

- Oi? - Ele murmurou, sem dar atenção.

- Eu estou indo até o hospital, um amigo sofreu um acidente.  - Respondi sem olhar, com o foco em vestir a minha roupa as pressas.

- Eu devo estar sonhando. - Ele resmungou virando pro canto.

- Quem me dera. Levanta daí! - Mandei, puxando os seus pés e trazendo ele pra baixo na cama. - Satisfeito? Levanta.

Suspirei alto, saindo do quarto, Jungkook ficou para trás, vestindo as suas roupas feito uma lesma.

- Estou pronto. - Jungkook disse quando desceu as escadas quase caindo.

- Certo. A gente vai na frete, e vocês seguem. - Tae disse.

Yoongi estava estático, com um dedo entre os dentes, parecendo preocupado.

Apanhei o casaco de Namjoon do sofá e o vesti, ficando gêmeo de Jungkook que parecia aéreo.

- O que foi?

- Como assim o que foi? - Respondeu girando a chave na ignição. O carro fez um ruído, antes de dar um ronco forte quando Jungkook virou o volante fazendo movimentos circulares usando a palma de uma das mãos.

- Você...

- Nada. Só não estou entendendo o que está acontecendo.

- Ele sofreu um acidente, foi tudo o que o Taehyung me falou. O que tem pra entender? - perguntei discando o número de Seokjin.

- Quem é ele?

- Hoseok. - Ele franziu o cenho. - Outro Hoseok. Meu amigo do trabalho. - O som da moça falando que não havia como completar a ligação atravessou o telefone. Bati com a mão na testa.

Eu gemi arrasado.

- Droga. - Ele questionou com o olhar. - Seokjin não atende.

Ele estalou a língua.

- Ei. Tem hora pra tudo. E essa, não é a hora do chilique. -Fiz cara feia e ele riu soprado. Eu podia imagina-lo dando de ombros se ele não estivesse o fazendo ao meu lado. - Para de ser palhaço. Brincadeira tem hora. - Dei um murro leve em seu braço, colocando o aparelho para chamar outra vez, sentindo um aperto no coração.

- Aí. Não bate, quer causar outro acidente? - Ele comentou e eu ignorei.

- Que droga! - Exclamei, vendo a chamada cair na metade outra vez.

- Calma. - Ele disse sério, tocando a minha perna. - Quer usar o meu? - Ele o estendeu do bolso da calça e eu assenti.

O celular dele funcionou perfeitamente, logo um Seokjin desconfiado e nada receptivo atendeu.

- Alô? - Ele disse seco, podia ver a sua cara de tacho daqui.

- Jin! Sou eu. - Falei, como se isso esclarecesse os segredos do universo.

- E quem é você?

- Sou eu! - Repeti, levantando o tom de voz.

- Tudo bem "sou eu", o que é que está escrito na sua certidão de nascimento? Ou te batizaram assim mesmo? - Ele disse grosseiro, como sempre.

Revirei os olhos.

- Jimin. - Eu quem fui duro dessa vez.

- Ah... tá fazendo o que acordado a essa hora? - Perguntou, mudando completamente o tom de voz. - Se estiver com outra bolada pra guardar eu não estou em casa. - O que não era nenhum segredo, o som das meninas da boate rindo ao fundo denunciavam isso. - Mas se estiver procurando alguém... - Ele disse sugestivo e eu repeti o giro com os olhos.

- Jin! Para, é coisa séria.

- Hã? Pode dizer.

- O Hoseok sofreu um acidente. - Eu respondi sem rodeios e houve um silêncio momentâneo ali, trazendo uma sensação ruim. - Jin? Está aí? - Perguntei.

- Como é? - Ele parecia realmente preocupado.

- E-eu não sei. Não entendi ainda, eu estou indo para a emergência. - Mordi o lábio inferior e engoli em seco, passando a mão nos cabelos.

- Jimin, por favor, me diz que não foi nada sério. - Me deu um nó na garganta ouvi-lo falar pela primeira vez de forma tão vulnerável.

Pelo que eu entendi, as únicas pessoas que eles tiveram por muito tempo foram um ao outro. Eles cresceram juntos.

- Eu estou indo agora. Te envio notícias assim que ele chegar lá.

- Jimin. Ele acabou de sair daqui. - Ele disse com a voz embargada.

Fechei os olhos e senti o coração parar de bater.

- Jin, vai ficar tudo bem. - Sussurrei. Um dilúvio de lágrimas se formou, pronto para estourar a barragem dos meus olhos e se libertar.

- E-eu- ... - Ele falhou a voz por um instante, respirando fundo em seguida. - Eu estou a caminho.

Balancei a cabeça como se ele pudesse ver e apertei as mãos, sentindo o meu estômago embrulhar.

Quando eu vi a construção iluminada com um mais vermelho na frente, senti o calor dominar o meu corpo feito lava ardente em direção ao topo de um vulcão.

- Preciso desligar. Se eu não chegar me envie informações o quanto antes. - Ele disse de forma abrupta, como se estivesse correndo. O som comum aos meus ouvidos de seu elevador foi a última coisa que eu ouvi antes de um breve "Ok" e por fim, desligar.

O meu celular tocou algumas vezes.

- Nam? - Identifiquei com o aparelho na orelha, eu já havia visto a sua foto comigo na frente do visor da tela.

- Onde vocês estão? - Sua voz apesar de sonolenta estava agitada. - Eu ouvi uma movimentação, e vocês saíram. Aconteceu alguma coisa?

Assenti, mesmo sabendo que ele não veria.

- Meu amigo sofreu um acidente. A gente acabou de chegar no hospital do centro. Desculpa não ter te avisado.

- Oh tudo bem... quer que eu vá aí? - Ele perguntou de forma paternal.

- Pode vir. Nós vamos entrar agora.

- Certo, estou a caminho. - Ele garantiu, passando um pouco de segurança de forma que só ele conseguia. A voz tranquila de Namjoon me acalmava.

Quando Jung parou o carro, eu abri a porta depressa, pulando pra fora em uma velocidade jamais presenciada.

- Vamos. - Eu agarrei a sua mão, arrastando-o junto de mim. Taehyung estava atravessando o estacionamento na direção contrária a nossa, em passos tão rápidos quanto os meus.

Assim que adentramos ao local, havia algumas poucas pessoas sentadas na recepção, a maioria eram funcionários que circulavam por ali.

- Com licença! - Pedi com pressa, mais exasperado do que eu pretendia. Mas quem pode culpar? - O meu amigo acabou de dar entrada-

- Boa noite. - O atendente disse na maior má vontade possível. - Vocês precisam deixar os documentos e aguardar.

- O quê?! - Eu franzi o cenho. - Como assim?! A gente precisa ver ele, precisa saber como ele está! - A minha voz parecia uma navalha afiada.

- Escuta moço, não tem ninguém aguardando, a gente precisa saber do nosso amigo! - Tae praticamente implorou, com os olhos cheios d'água.

- Apenas a família pode visitar. - Ele disse sem pestanejar.

- Nós somos os únicos! Agora libera a porcaria da catraca!

- Vão precisar voltar quando for horário de visitas. - Ele sorriu. Sua voz soava preocupada, mas era tudo mentira. Era a droga de uma mentira.

- Olha, se precisar pagar pode liberar e eu pago, mas nós precisamos ter notícias. - Yoongi tomou a palavra, pediu com a voz rouca, puxando o meu corpo um pouco para trás. A sua postura era mais controlada, apesar de também estar abalado.

- Tampinha, calma, a gente vai conseguir entrar. - Jungkook disse baixo, segurando a minha mão.

- Como calma Jung?! Esse cara não tem um pingo de humanidade sequer.

- Se o senhor não parar de insistir, eu vou ser obrigado a chamar a segurança. - O homem respondeu de um jeito rude.

As lágrimas começaram a cair dos meus olhos.

- Eu não acredito nisso. - Eu disse. As lágrimas caíam do meus olhos mais rápido do que eu conseguia enxugar.

- Com licença. - Uma voz mais grave tomou lugar. Um senhor mais velho vestido de branco disse, se aproximando. - O que está havendo aqui? - Ele franziu o cenho.

- Os senhores aqui estão causando tumulto, pode pedir para que se retirem?

Apertei os dentes, a irritação tomando o lugar da tristeza e a substituindo por raia incandescente.

- Não é esse o ponto. - Yoongi disse, Taehyung colocou as mãos nos olhos, limpando-o das lágrimas.

- Por favor... - Ele sussurrou com os olhos vermelhos.

- O senhor tem que entender doutor... - Cerrei os olhos, vendo o nome em seu crachá. - Andrew... - Eu franzi a testa sentindo uma sensação estranha ao pronunciar seu nome.

Houve uma longa pausa em que eu não ouvi nada além de um longo suspirou, seu olhar estava paralisado em mim.

Respirei fundo e passei a mão por baixo dos olhos.

Dr. Andrew moveu  a mão para a minha surpresa, nos chamando para dentro.

- Libere-os. - Ele disse consternado.

- Mas-

- Eu sou o diretor desse hospital, e eu estou dizendo. Libere-os. - Ele disse duro, se virando de costas. Taehyung olhou para mim e nós suspiramos aliviados.

Fechei os olhos e engoli o nó na garganta.

- Qual o nome do paciente? - Ele perguntou, com um Ipad em mãos.

- Jung Hoseok. - Yoongi respondeu mais rápido do que todos.

- Certo. - Ele assentiu. - Se não me engano... - Ele disse prolongando a última palavra, enquanto olhava para o aparelho. - Ele deu entrada às quatro e quarenta e três, e está em cirurgia.

- Cirurgia?! - Dissemos em uma única voz.

- Sim. Eu vou verificar o estado atual dele, podem aguardar aqui por um instante. - Ele disse se virando para nós educadamente, dando um longo olhar em meus olhos, fazendo com que eu desviasse o meu para o chão.

- Obrigado. - Eu respondi sem muito ânimo, Namjoon e Jackson vieram andando pelo corredor. Ele me deu um abraço e um no Tae.

- Alguma novidade? - Ele perguntou.

- Eu não sei... - Respondi vagamente. Tanto para acalmar Taehyung que estava realmente mal, quanto para tentar acalmar a mim mesmo. - O médico foi procurar saber agora...

- Ahn... - Ele murmurou.

Jackson estava conversando com Jungkook.

Olhei brevemente para o lado,, enquanto andava de um lado para o outro, coisa que eu continuaria a fazer, se do corredor em questão não viesse caminhando, Seokjin, alto, com seus cabelos perfeitamente alinhados e terno impecável.

Seus olhos meio perdidos logo me alcançaram. Ele caminhou normalmente, ajeitando a luvas de couro excessivamente chiques em suas mãos. Por cima do terno ele vestia um casaco comprido, que batia em sua coxa, perfeitamente combinado com seus sapatos sociais.

Por um instante eu olhei para Jungkook, e para o meu azar, ele tinha os olhos presos ao mesmo local que eu, assim como todos por ali.

Era fácil imaginar aquela cena em um filme, acontecendo em câmera lenta.

- Jimin... - Ele disse baixo, quando se aproximou, olhando brevemente para todos ali e se voltando a mim. - Onde ele está?

- Está em cirurgia, mas-... - Ele passou a mão coberta pela luva na testa e mordeu o lábio inferior.

- Eu não acredito nisso. - Sua respiração irregular se tornou audível. Era visível a luta em sua voz, a tentativa de conter a própria frustração.

Pude ver a linha d'água em seus olhos bem vermelha. Ele havia chorado.

Pois é. Seokjin, durão como apenas ele mesmo, havia chorado. Ele estava vulnerável, bem ali.

- V-vai ficar tudo bem. - Eu disse baixo, sentindo seus sentimentos mesmo à distância.

Não havia mais o que fazer, e mesmo que nem eu soubesse o que estava acontecendo do lado de lá das paredes, era no que eu gostaria de acreditar.

Dei um abraço leve em Jin, que o aceitou de bom grado, se abaixando um pouco para receber o afeto.

- Não se preocupe. - Eu sorri forçadamente, deslizando as mãos por suas costas.

- Isso é impossível. - Ele respondeu sério, cheio de sentimentos, desviando o olhar e se sentando em uma das cadeiras com as pernas abertas e os cotovelos apoiados nas mesmas, ele apoiou o rosto nas mãos, respirando fundo.

Taehyung sentou ao seu lado, passando a mão em suas costas, Yoongi também foi até lá.

Eu por outro lado, estava apreensivo, ao mesmo tempo que lutava com o olhar forte de Jungkook em mim.

Ele se aproximou, com o semblante sério.

- Tá de brincadeira não é? - Ele sussurrou e eu fiz uma expressão confusa para ele, cruzando os braços em seguida.

- É bom você não estar falando do que eu acho que você está, por que se estiver, você estará sendo um puta de um egoísta e aí eu vou fazer questão de chutar a sua bunda daqui até Maple Hill, que é onde você vai passar a noite, se não parar de me fazer raiva. - Eu disse sério, em um tom baixo e ele estalou a língua.

- Olha... é que-... - Ele tentou se justificar e eu ergui as sobrancelhas para ele, o repreendendo com o olhar. - Eu também não sou de ferro. - Ele sussurrou.

- E eu não sou palhaço. Então controla o seu ciúmes. - Eu disse por fim e ele assentiu, coçando a cabeça em seguida com uma cara de cachorro que caiu da mudança.

Ele não é mal. Só precisa de pulso firme.

- Estou atrapalhando? - O doutor Andrew retornou finalmente, parando ao nosso lado, com o Ipad em mãos.

- De forma alguma doutor. - Eu disse de prontidão e Seokjin levantou o semblante, antes que todos viessem ao redor.

- Certo. - Ele leu alguma coisa. - O seu amigo sofreu um acidente de moto, ele freou bruscamente para não acertar um animal que passava. - Ele cerrou os olhos enquanto averiguava os fatos detalhadamente.

- Qual o estado dele? -Taehyung perguntou nervoso.

- Ele está como eu havia dito antes, em cirurgia, no momento. A moto que ele pilotava era muito pesada, e devido a queda ele fraturou o tornozelo. Além disso ele teve algumas escoriações e ferimentos leves. O seu amigo teve sorte, acidentes como esse costumam ser mais graves. - Ele ficou em silêncio por alguns instantes, conferindo tudo. - No mais, ele está estável.

- Ah! - Eu suspirei aliviado, sentindo a adrenalina se dissipar aos poucos em forma de lágrimas. - Ainda bem. - Eu disse, puxando os fios para trás.

- Pelo que consta em meus registros... - Ele deslizou o dedo na tela. - Ele não tem família... ou estou errado?

Eu maneei a cabeça.

- Bom... ele vai precisar de interação quando o tratamento terminar, e além disso temos alguns detalhes, os materiais de emergência, os medicamentos... devemos falar de valores agora? - Ele perguntou normalmente.

- Bem... - Eu comecei.

- Eu arcarei com tudo doutor. - Seokjin disse de prontidão. Os seus olhos estavam sutilmente inchados.

- Certo, por favor, deixe os seus dados na recepção. Senhor... - Ele olhou bem para o aparelho. - Taehyung... Kim Taehyung. - Ele disse.

Seokjin, eu, Taehyung, Yoongi, e o mundo todo franziu o cenho sem entender.

- Não. O meu nome é Kim Seokjin. Sou amigo dele.

- Oh... me desculpe. É que o número de emergência dele... é Kim Taehyung. - Ele deu de ombros. - É algum de vocês?

- S-sou eu... - Tae levantou a mão timidamente.

Por que Taehyung era o contato emergencial do Hoseok?

- Bom. Não tem problema algum. Senhor Kim, quando puder, se dirija a recepção. - Ele disse brevemente, antes de se virar.

Suspirei fundo.

- Com licença... - O médio disse antes de se retirar.

- Pois não? - Eu respondi.

- Qual o seu nome mesmo?

- Park Jimin... - Eu respondi sem entender.

Ele refletiu um pouco, antes de falar novamente.

- Eu sabia... - Ele sorriu. - Eu não me esqueceria desse rosto.

Eu franzi a testa sem entender e como se fosse um flashback, sua voz soou através de seus olhos castanhos.

- Quando alguma coisa ruim estiver acontecendo, pense em coisas boas... - Eu sussurrei baixo, olhando em seus olhos outra vez. Ele assentiu.

- Como vai Jimin? - Ele perguntou. - Já faz algum tempo não é?

- Dez anos. - Eu respondi.

- E como tem sido?

- Difícil. Desde a primeira vez.

- E como você tem lidado com isso?

- Eu tenho sido forte doutor... - Eu sorri. - Desde a última vez.

- Como? - Ele perguntou.

- Eu tenho eles...

OBRIGADO POR LER! SE TIVER GOSTADO, POR FAVOR DEIXE O SEU VOTO E O SEU COMENTÁRIO, VOU TENTAR RESPONDER A TODOS, COMPARTILHEM COM OS AMIGOS!

Muito obrigado por ler! Pelos 35K e pelos 12K de comentários, obrigado por todo o amor e por toda a cobrança nesse período em que eu fiquei sem postar!

Felizmente essa ausência foi por bons motivos, então aqui o meu pedido de desculpas em forma de 17000 palavras.

P.S: O capítulo foi dividido. Esse final era parte do meio, então aguardem a próxima semana! Gente, o Dr. Andrews era p médico que atendeu o Jimin quando a mãe dele faleceu.

Ó, foi corrigido não, tenho preguiça.

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