Assim que acabou aquele ataque, o que se escutou naquela pousada foi muita gritaria e pessoas correndo na rua desesperadas. Foram muitos tiros para aquele tranquilo vilarejo e todos ficaram muito impressionados, se perguntando o que estava a acontecer.
Rapidamente Antônio Dias Filho saiu daquele quarto, desarmado, já que as suas armas estavam todas descarregas, e ao chegar na calçada, começou a gritar:
- Já acabou pessoal. Os homens que vieram para atentar contra a minha vida já estão mortos no meu quarto na pousada.
Pouco a pouco as pessoas foram saindo de suas casas e se aglomerando próximas a ele, que andava de um lado para o outro em silêncio, quando o comandante de polícia chegou ao seu lado e o questionou:
- O que aconteceu Juliano?
- Dois homens senhor. Dois homens estavam na hospedaria e foram até o meu quarto para me matar.
- Porque eles foram te matar Juliano?
- Um deles antes de morrer, me disse que foi a mando de Tenório meu senhor. Disse que Tenório, funcionário da senhora Scarlett o contratou para que ele pudesse fazer esse serviço sujo contra mim que nunca fiz nada de mal a aquela senhora. Diz ele já gritando ao final de sua fala, assustando a todos os moradores que aglomeravam naquela rua.
- Tem certeza disso que está dizendo Juliano? Questiona aquele comandante preocupado com a repercussão que aquela ação poderia gerar.
- Tenho senhor. E digo a todos vocês moradores. Afirma Juliano naquele momento já gritando, para que todos pudessem ouvir: - Eu não sei o que aquela senhora tem contra mim. O que sei é que ela hoje mandou dois homens para me matar. Eu enviarei hoje mesmo uma carta para o meu pai no sul, explicando essa situação. Como todos sabem o meu pai é muito influente e conhece pessoas ligadas ao rei. Se eu morrer, Scarlett será a culpada.
Como aquele homem era muito querido naquele vilarejo, a repercussão do povo foi imediata em apoio a ele. Moradores foram o abraçar, comovidos com aquela situação. O comandante, quase um capacho de Scarlett, estava muito preocupado, o deixando na rua a falar com o povo, enquanto com os seus policiais entrou naquele quarto e viu as marcas de tiros e aqueles dois homens desconhecidos mortos.
Juliano foi então a polícia para prestar depoimento sobre aquela ocorrência, quando ele reafirma que Scarlett ordenou o ataque contra ele na pousada e que aquilo era um completo absurdo, já que ele nunca havia feito nada contra aquela senhora. Prestando queixa contra ela.
Assim que ele saiu daquela delegacia, foi aos bares da cidade e começou a espalhar aquele fato ocorrido para todos os moradores, que imediatamente prestaram apoio a ele, ficando contra Scarlett. Aquele ataque, na visão das pessoas daquele vilarejo, sem qualquer motivo, estava pegando muito mal para a reputação daquela senhora. Juliano havia conseguido virar a narrativa contra Scarlett e daquele momento em diante, certamente ela não poderia armar um novo ataque tão cedo contra ele, pois, em caso de morte, ela imediatamente se tornaria a principal suspeita.
No dia seguinte, na sexta-feira, aquele comandante vai logo pela manhã na fazenda de Scarlett para conversar com ela. Sendo recebido por aquela senhora em seu quarto, ao lado de Tenório:
- Bom dia senhora! Está melhor? Questiona aquele comandante assim que entra naquele espaço.
- Sim senhor. Estou muito bem graças a Deus e com o senhor?
- Comigo também está tudo muito bem. Senhora, eu vim aqui porque ontem aconteceu uma coisa muito estranha naquele vilarejo.
- Me diga senhor. O que foi?
- Tentaram matar Juliano dentro da hospedaria. E o homem no final do ataque, antes de morrer, disse que havia sido Tenório que o contratou.
- Maldito. Tinha que dar com a língua nos dentes! Afirma Scarlett tranquilamente, já sabendo que aquele comandante nada faria contra ela ou o seu matador Tenório.
- Então é verdade não é Scarlett? A senhora tentou mesmo matar Juliano. Posso saber porque fez essa tentativa?
- Desconfio que tenha sido ele o mandante do meu ataque. Antes de ele chegar nessas terras ninguém ousou fazer isso. Foi só ele chegar que o ataque aconteceu.
- A senhora é poderosa, mas com todo o respeito, não pode ficar mandando matar as pessoas ao seu bel prazer senhora. Isso pode gerar consequências.
- Deixa de bobagem comandante. O senhor sabe que já ordenei a morte de vários e nunca me aconteceu nada. Diz Scarlett de forma repreensiva, compreendendo o seu poder quase supremo naquele vilarejo.
- Mas, Juliano é diferente, ele é muito querido no vilarejo, conquistou a admiração do povo. É um fidalgo de família muito rica e influente lá no sul e já disse que vai escrever para o seu pai informando o que aconteceu aqui, sem que ele tivesse feito nada contra a senhora.
- Deveria ter o matado de vez. Isso vai me gerar problemas comandante?
- Se a senhora ficar quieta não. Eu posso dar um jeito de minimizar essa ocorrência como sempre tenho feito. Posso dizer que aquele homem não afirmou de qual Tenório ele se referia no inquérito, coisas desse tipo. Mas, esse homem não pode mais ser atacado. Se ele morrer a senhora será suspeita e como ele prestou queixa e falou para todo o povo o que aconteceu, eu não terei como segurar se ele vier a morrer em um novo ataque. Eles vão te processar Scarlett e a senhora poderá ser presa.
Scarlett suspira naquele momento e diz:
- Eu entendi. Eu não vou fazer nada contra ele. Pode ficar tranquilo comandante. Só farei alguma coisa contra ele, se tiver certeza que ele está envolvido no meu ataque.
- Eu acho isso improvável senhora. Juliano é um homem bom, meu amigo e estava comigo na hora que o ataque ocorreu. Eu não acredito que ele tenha qualquer participação com esse atentado contra a senhora.
- Talvez eu tenha me enganado mesmo dessa vez. Mas, eu já entendi senhor. Pode ficar tranquilo que não farei mais nada contra esse homem.
- Assim será melhor para todo mundo senhora.
- Alguma novidade quanto a investigação do ataque contra mim? Questiona Scarlett.
- Ainda sem novidades senhora. Recebemos a informação de que o tal do João Destruidor tem atuado em ataques no sertão da Bahia, bem longe daqui, dificilmente, conseguiremos capturá-lo.
- Entendo. Espero chegar ao verdadeiro mandante um dia. Afirma Scarlett.
- Não existem crimes perfeitos senhora. Um dia chegaremos até ele. Cedo ou tarde! Agora eu preciso me retirar. Tenho que trabalhar nesse inquérito, para enviar para a cidade grande. Desejo melhoras para a senhora.
- Muito obrigada comandante. Passe bem. Diz Scarlett com um semblante passivo, quando vê aquele comandante a sair do seu quarto acompanhado por Tenório.
Assim que Tenório retorna, ela diz:
- Acho que deveria ter ordenado mesmo que você fizesse esse serviço. Aqueles inúteis não fazem nada correto e ainda dão com a língua nos dentes antes de morrer.
- Se a senhora quiser eu ainda posso fazer. Diz Tenório.
- É melhor não. O comandante está certo. Se aquele homem morrer eu serei a principal suspeita. Ele não pode morrer agora.
- Eu sinto muito pelo que ocorreu senhora. Aqueles homens foram muito bem recomendados na cidade grande.
- Eu sei disso Tenório, eu não tenho dúvidas que eles eram bons, mas, parece que o tal do Juliano era ainda melhor e isso me deixa ainda mais intrigada. Quem é esse homem misterioso? Quem é o pai dele? É isso que preciso descobrir. Diz Scarlett em um tom desconfiado, enquanto Tenório acompanha a sua linha de raciocínio.
- Eu ficarei de olho nele senhora. Eu farei o possível para descobrir as origens desse homem e o que ele quer fazer aqui.
- Faça isso Tenório, por favor. Eu preciso saber o que tem por trás desse homem, porque, mesmo com o comandante dizendo que estava com ele na hora do ataque, eu tenho uma certa convicção de que ele está metido nessa história do meu ataque.
- Sim senhora, eu vou começar a averiguar isso agora mesmo.
- Obrigada Tenório! Diz Scarlett ao ver aquele homem se retirar.