A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧Ã...

Por HadassaOlv

311K 24.6K 32.6K

♦️ Eleita uma das "MELHORES HISTÓRIAS DE 2020" pelo perfil dos AmbassadorsPT ♦️ ▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼ Até... Más

✥ㅡ CINZAS DAS CHAMAS ㅡ✥
✥ㅡ DESAFIOS ARRUINADOS ㅡ✥
✥ㅡ SONHOS QUEBRADOS ㅡ✥
✥ㅡ PESADELOS ㅡ✥
✥ㅡ MEDO FURIOSO ㅡ✥
✥ㅡ PROMESSAS ㅡ✥
✥ㅡ DIA ESCURO ㅡ✥
✥ㅡ A PRIMAVERA ㅡ✥
✥ㅡ ESCOLHAS ㅡ✥
✥ㅡ A KANAE ㅡ✥
✥ㅡ FÚRIA DE FOGO ㅡ✥
✥ㅡ LIGAÇÕES ㅡ✥
✥ㅡ O TREINAMENTO ㅡ✥
✥ㅡ O SONHO ㅡ✥
✥ㅡ A BRUXA ㅡ✥
✥ㅡ DESCOBERTAS ㅡ✥
✥ㅡ PENSAMENTOS ROUBADOS ㅡ✥
✥ㅡ A MISSÃO ㅡ✥
✥ㅡ FALHAS ㅡ✥
✥ㅡ O ATAQUE ㅡ✥
✥ㅡ A BARREIRA ㅡ✥
✥ㅡ O TRATADO ㅡ✥
✥ㅡ A VISÃO ㅡ✥
✥ㅡ O PARCEIRO ㅡ✥
✥ㅡ TREINOS ㅡ✥
✥ㅡ O LIVRO ㅡ✥
✥ㅡ O JANTAR ㅡ✥
✥ㅡ DESTRUIÇÃO ㅡ✥
✥ㅡ Capítulo Extra ㅡ✥
✥ㅡ A PISTA ㅡ✥
✥ㅡ O ESCONDERIJO ㅡ✥
✥ㅡ Capítulo Extra 2 ㅡ✥
✥ㅡ ARMADILHA ㅡ✥
✥ㅡ PRISÃO SILENCIOSA ㅡ✥
✥ㅡ INVISÍVEL ㅡ✥
✥ㅡ RUNAS SAGRADAS ㅡ✥
✥ㅡ O POÇO ㅡ✥
✥ㅡ O HOMEM ㅡ✥
✥ㅡ A MALDIÇÃO ㅡ✥
✥ㅡ REVELAÇÃO ㅡ✥
✥ㅡ UM PASSO ㅡ✥
✥ㅡ O CAMINHO ㅡ✥
✥ㅡ CORAÇÃO ABERTO ㅡ✥
✥ㅡ O PLANO ㅡ✥
✥ㅡ A AURAㅡ✥
✥ㅡ AS FERAS ㅡ✥
✥ㅡ A TEMPESTADE ㅡ✥
✥ㅡ O TEMPLO ㅡ✥
✥ㅡ O TRAÇO ㅡ✥
✥ㅡ SEM VOLTA ㅡ✥
✥ㅡ A FILHA ㅡ✥
✥ㅡ A CHAVE ㅡ✥
✥ㅡ A VERDADE ㅡ✥
✥ㅡ MENTIRAS ㅡ✥
✥ㅡ O TRAIDOR ㅡ✥
✥ㅡ A FÊNIX ㅡ✥
✥ㅡ EPÍLOGO ㅡ✥
Agradecimentos + Aviso

✥ㅡ AMEAÇA SOMBRIA ㅡ✥

2.8K 328 370
Por HadassaOlv

✥ · ✥ · ✥

ㅡ Parece que chegou sua hora, Asterin. ㅡ o imortal sussurra em meu ouvido enquanto me contorço inutilmente no chão. ㅡ Não adianta lutar. Ninguém vai ouvir você.

Uma risadinha de escárnio segue suas palavras. A chuva torrencial cai sobre nós como uma facada a cada vez que toca meu corpo. Não sei porque, mas o imortal fica apenas me observando deitada e chorando enquanto suas garras perfuram minha perna esquerda. Trinco os dentes, tentando encontrar qualquer coisa ao redor que possa me ajudar a lutar contra ele.

Outro risinho.

ㅡ Não há como lutar, querida. Não contra mim. Porque eu... ㅡ estremeço quando ele se inclina e encosta aqueles dentes manchados de vermelho em meu ouvido. ㅡ... vou te provar primeiro.

Lágrimas fortes e furiosas se derramam de meus olhos quando ele prende meus braços à terra com sua magia.

O imortal passa a garra afiada sobre meu rosto, não cortando exatamente. Mas me fazendo endurecer, esperando a dor, a tortura.

Mas ele apenas sorri, e nada faz. Seu rosto está esculpido em pedras, a expressão tão feroz quanto as presas despontando de seus lábios. Um resquício de sangue naquela boca torta me faz chorar ainda mais.

ㅡ Ah, não chore, pequena humana. ㅡ O imortal se inclina, e automaticamente jogo o rosto para longe de seu alcance quando lambe as minhas lágrimas. Ao sentir aquela língua asquerosa se esfregando em meu rosto... luto com todas as forças que tenho, mas nada é páreo para seu poder.

Uma risadinha soa em meu ouvido. Fecho os olhos, nada determinada a assistir meu próprio sofrimento enquanto ele se diverte às custas de meu sangue.

Mas então, justo quando decido simplesmente derivar para longe, sinto os dentes afiados se cravando com vontade em meu pescoço.

Gritos se derramam de mim, o corpo convulsionando enquanto ouço aquele grunhido de satisfação ecoando do peito oco desse imortal. Ele bebe meu sangue com vontade, as garras prendendo meu pulso, se deliciando com a forma que eu me contorço.

ㅡ Asterin.

Uma voz longe soa. Abro os olhos, mirando o céu escuro acima de nós, e solto outro grito quando a mão da criatura se fecha em meu rosto por completo e vira minha cabeça totalmente para o lado. Para ter melhor acesso, percebo. Ele abre um sorriso animalesco para mim antes de afundar os dentes em minha pele novamente.

ㅡ Asterin, acorde.

Me contorço inutilmente no chão, chorando. Rezando para alguém me salvar, mesmo sabendo que é impossível.

ㅡ Acorde, humana inútil. Agora!

✥ · ✥ · ✥

Me empurro sentada violentamente, arfando como nunca vi antes. Meu peito bate descompassadamente, e minhas roupas estão ensopadas de suor.

Estou na floresta? Fecho os olhos, estremecendo ao sentir as lágrimas silenciosas escorrendo por meu rosto. Posso sentir o peso dele me aprisionando, aquelas garras cortando minha pele e os dentes afundados em meu pescoço...

ㅡ Pare com isso e acorde, Asterin. ㅡ Korian... a voz de Korian.

Tremendo tanto que meus dentes se batem, abro os olhos em pequenas frestas, encontrando apenas um lugar escuro e pequeno para olhar. Uma cela.

Olho para o chão, sentindo a mesma umidade imunda de antes. Os tijolos manchados de uma coisa verde escorregadia. A parede da prisão se erguendo sobre mim e o pequeno buraco na parte de cima. Não há luz aqui, o que deve significar que ainda está de noite. Não amanheceu.

Aperto a mão no coração, me encolhendo no canto.

ㅡ Você está viva? Deve ter acordado a prisão inteira com os gritos.

ㅡ Eu... ㅡ minha voz rouca me faz franzir a testa. Limpo a garganta e tento novamente: ㅡ Eu estava... gritando?

A voz dele sai seca.

ㅡ Como se estivesse sendo assassinada.

Engulo em seco, tremendo tanto que meus dentes batem um no outro.

ㅡ Com o que estava sonhando?

A voz dele, mais leve do que eu jamais ouvi me alcança lentamente, e finalmente posso perceber a verdade rondando suas palavras. Ele quer mesmo saber.

Encosto a cabeça na parede úmida que nos divide e digo em voz baixa:

ㅡ Com o imortal que me... perseguia. Hethan. Ele me encontrou na floresta uma vez, quando fugi de Kennai porque estava com fome.

ㅡ Com fome?

Balanço a cabeça, mesmo que ele não possa me ver.

ㅡ O pai dele tinha me deixado de castigo durante a noite inteira, sem direito a jantar. Quando acordei no dia seguinte, estava com tanta fome que mal pensei antes de subir em cima de uma cadeira e tentar alcançar a despensa. Hethan me encontrou na floresta quando fugi.

Sinto a confusão em suas palavras quando fala.

ㅡ Espera. Hethan... na floresta?

ㅡ Uh. Sim. ㅡ minha testa se franze com o tom dele.

ㅡ Você tem certeza que foi ele? Quando foi isso?

Paraliso levemente. Este é um dos momentos onde as memórias em minha cabeça se misturam e eu acabo esquecendo de algumas coisas. Na verdade, esqueço de quase tudo. Como por exemplo: como me livrei do imortal que me perseguia? Os pesadelos foram de acontecimentos reais ㅡ eu sei graças às cicatrizes que marcam meu corpo ㅡ e não há nada que possa explicar a existência dessa falha de memória.

Algo ou alguém fez isso?

ㅡ Não sei exatamente. ㅡ digo à Korian ㅡ Mas foi há alguns anos.

ㅡ Alguns anos. ㅡ ele repete ㅡ Por que não se lembra? Batia a cabeça com frequência na infância?

ㅡ Não, senão seria como você. ㅡ digo, sorrindo um pouco. ㅡ Mas sempre me fiz essa pergunta e nunca sei a resposta. Será que eu...

A porta da minha cela se abre de repente, e um guarda gigantesco ㅡ com a expressão mais dura do que pedra, cenho franzido e roupas inteiramente pretas que marcam cada músculo de seu abdome e braços poderosos ㅡ emerge para dentro, parecendo bastante confiante enquanto tira outro par de algemas iguais às minhas do bolso traseiro. Ele inclina a cabeça quando não me mexo, os olhos vermelhos brilhando com fogo. Com fome.

Atrás dele, outro homem igualmente duro aguarda do lado de fora, a mesma roupa preta envolvendo seu corpo e metade do rosto. Nos ombros, uma armação de escamas afiadas segue o deltoide até os bíceps proeminentes, diminuindo gradativamente conforme chega em seu antebraço, onde é visto apenas uma fina fileira de lâminas que me cortariam ao meio. Suas mãos, envolvidas com uma luva preta, soltam suavemente sua magia no ar. É possível ver o poder fluindo de seus dedos cobertos conforme eles me encaram com impaciência.

Por acaso estão esperando que eu me solte dessas algemas do nada e comece a passear pela cela?

ㅡ Esta é a primeira. ㅡ O homem da frente diz, sua voz grave como um touro. ㅡ Pegue a outra garota na cela à esquerda, e o semideus à direita.

Minha testa se franze quando os dois grandões trocam um olhar e o de trás sai para acatar sua ordem.

ㅡ Há mais pessoas aqui? ㅡ pergunto.

O homem nem se mexe. Com um estalo dos dedos, minhas algemas se soltam conforme ele rosna:

ㅡ Cale a boca.

Faço uma careta. Por que ninguém gosta de conversar com pessoas presas? É algum tipo de preconceito?

Sabendo que não poderei fazer nada enquanto estiver presa aqui, caminho tropeçando até ele, a dor esfaqueando meu corpo violentamente a cada passo. Meu pé direito dói como o inferno.

Lentamente, tentando esconder as lágrimas enchendo meus olhos, apoio os pulsos nas algemas que ele segura. Quando o metal frio aperta meus braços até o ponto de quase cortar minha circulação, faço uma careta. Para onde estamos indo, afinal de contas?

ㅡ Isso não interessa. Cale a mente antes que eu a cale para você.

O rosnado furioso não me surpreende.

Ele prende uma corrente grossa no espaço vazio entre meus pulsos presos juntos, puxando-a várias vezes para se certificar de que está bem preso. Por fim, quando se dá por satisfeito, caminha me arrastando junto para fora da cela, franzindo a testa para o outro guarda que segura a corrente que prende uma mulher magra e com cabelos loiros intensos.

Ela está murmurando algo.

ㅡ Ele não... vai conseguir. ㅡ A mulher arfa, caindo contra o guarda quando ele a puxa para frente. ㅡ Me deixe ali... por favor. Não vou aguentar chegar.

O guarda bufa sem misericórdia e agarra os cabelos dela, retirando-a de seu peito. Ele faz uma careta quando ela geme.

ㅡ Não encoste em mim, Inferior asquerosa. Melhor caminhar direito se não quiser ser arrastada.

E vai embora, literalmente arrastando a mulher, que tropeça no primeiro passo e cai no chão.

O ódio sobe como uma onda vermelha pelo meu corpo, turvando minha visão. Luto para me soltar das mãos dessa gente nojenta, ganhando apenas um aperto mais forte. Encaro o homem com fúria, que parece bastante satisfeito com minha raiva.

ㅡ Ela é como você. Teimosa até o fim. Melhor ficar quieta se não quiser ter o mesmo destino que ela.

A morte, eu imagino.

Quando ouço um grunhido atrás de mim, me torço completamente até encontrar Korian sendo amparado por um guarda que o agarra pelo ombro. A ferida ㅡ provavelmente sendo mantida aberta com a magia desses homens ㅡ agora sangra gravemente, deixando os lábios dele ainda mais pálidos. Um imortal pode morrer de hemorragia?

Quando Korian olha para mim, vejo ali a verdade. Ele pode.

✥ · ✥ · ✥

Ajoelhada. Contida. Ferida.

É uma escolha interessante de decisões que tomei nos últimos meses. E nos últimos anos. Talvez devesse jamais ter permitido que o imortal que me perseguia no jardim no dia da chuva me fizesse sua refém. Ou que meus lábios proferissem aquelas barbaridades contra alguém que poderia me comer viva naquele momento, permitindo que meu corpo sentisse cada pequena dor enquanto lentamente devorava minha carne. Podia ter jamais permitido que essas ações me levassem para Fanillen.

E podia ter imaginado que isso me tornaria uma prisioneira pelo resto da vida.

O trono de Dakar se agiganta sobre mim. Sua magnitude forçada enquanto lentamente se senta sobre ele me atinge em cheio. Faço uma careta para a enorme coroa vermelha com espinhos brilhando em sua cabeça, parecendo mais uma arma do que um apetrecho.

Sua mão batuca levemente no encosto do trono enquanto ele me avalia intensamente da cabeça aos pés. Os olhos vermelhos brilham com fome e necessidade, as presas despontando em seus lábios como um sussurro de promessa para o que me prepara caso eu apenas dê uma resposta errada. Dakar esconde suas emoções muito bem, mas pela sua postura relaxada forçada, posso presumir que ele deve estar desesperado. Uma joia vermelha brilha acima de seu peito, bastante parecida com a que eu tinha antes de terem a arrancado de mim.

Korian está ao meu lado, ofegando de dor. Sempre que tento erguer a mão para pressionar seu ferimento, a magia do guarda atrás de mim proíbe meus ossos de fazer qualquer movimento.

ㅡ Bem, parece que a festa ficou um pouco mais animada. ㅡ A voz de Dakar, alta e grave, penetra meus ouvidos, mais parecendo uma lâmina me cortando ao meio.

Não digo nada.

Ele sorri.

ㅡ Por que está tão tensa, humana? Em breve estará bem longe de meu reino, posso garantir.

Novamente, relembrando das lições de Korian, não esboço qualquer emoção em meu rosto. Continuo perfeitamente petrificada, a expressão neutra.

Dakar me observa com os olhos em fendas. Provavelmente sentindo a força que estou tendo para me manter completamente paralisada. É uma tarefa bastante difícil quando tudo dentro de mim grita perigo.

ㅡ Humana. Eu acredito que meus dois espiões traidores tenham lhe contado o segredo que todos os reinos escondiam. ㅡ Ele sorri.

Minha rainha.

Lembro-me perfeitamente das palavras de Malina quando me encontrou quase morta na vila. E as mesmas palavras murmuradas por Lena quando me viu sendo levada. A total confiança em seus olhos me atraiu mesmo quando viu que eu estava totalmente à mercê dessas pessoas. Seu olhar jamais vacilou; ela realmente quis dizer aquilo.

Mas como? Por que?

ㅡ Já deve ter a resposta dessa pergunta, querida. Você é uma rainha.

A voz de Dakar penetra meus ouvidos pouco a pouco.

A percepção dessas palavras chega como um furacão em uma cidade grande, destruindo tudo ao redor. Vermelho turva minha visão abruptamente, o fogo antes inexistente começa a brilhar furiosamente em meu peito, esquentando meus membros e tomando conta de meu coração.

Mas não consigo controlar. Contida de magia para magia, sinto o sangue se esvaindo de meu rosto em questão de segundos. A palavra "rainha" sussurrada em minha cabeça com a mesma intensidade de una faca sendo cravada em meu peito me faz arquejar em busca de ar conforme o fogo me rodeia com fúria poderosa, rodopiando ao redor de meu corpo com rapidez. Os guardas guincham, provavelmente sendo atingidos pelas chamas vermelhas e laranja, mas meus olhos desfocados miram o chão.

As linhas ondulantes no mármore perfeitamente limpo brilha em meus olhos, mas não os vejo realmente. Meu corpo tomba no chão, contorcendo conforme as chamas quentes e escuras preenchem cada centímetro de mim, roubando a sanidade de meus pensamentos.

Korian grita meu nome, mas sua voz soa abafada contra meus ouvidos zumbindo. Dakar também fala alguma coisa, a voz grossa e poderosa me trazendo lentamente para a realidade novamente.

Minha visão fica turva, e sinto os olhos se revirando enquanto tento manter o controle do meu fogo. Minhas mãos se contorcem sem sentido, os dedos cavando o chão graciosamente limpo, tentando encontrar algo que nem eu mesma sei.

ㅡ Asterin.

A voz dele. Korian...

Tento murmurar alguma coisa, mas o fogo preenche minha boca. Sinto a língua queimando quando ofegos quentes saem de meus lábios.

ㅡ Asterin! ㅡ repete, a voz dura.

Então pouco a pouco, sinto a energia retornando para meu corpo inerte. E a voz de Korian soa um pouco mais clara.

ㅡ Bom. Continue assim. Se acalme e não pense em mais nada.

Ele parece desesperado. Mas por que?

ㅡ Agora, lembre do que eu ensinei. Não. Não pense no que ele disse ou o fogo vai voltar. Imagine todas as chamas indo embora. Você já fez isso uma vez e pode fazer de novo. Exatamente assim.

Tento seguir suas instruções, mas a cada pequeno movimento a dor esfaqueia meu peito, me fazendo choramingar como uma criança. O ar quente escapando de meus lábios me faz perceber que ㅡ mais uma vez ㅡ quase me queimei viva.

Me contorço quando meus olhos ficam desfocados novamente e outra onda de fogo queima em meu torso.

Sinto uma movimentação como se Korian estivesse tentando se libertar das algemas.

ㅡ Asterin! ㅡ ele grita, furioso ㅡ Não ouse morrer agora, sua humana inútil. Concentre a droga da sua mente na minha voz. Agora!

O tom furioso acompanhando as palavras cheias de desespero contido me atingem com força, puxando minha atenção rapidamente. Minha cabeça gira com violência na direção de Korian, e consigo apenas ver sua silhueta borrada me encarando com determinação. Ele franze a testa para o que quer que esteja vendo em meu rosto.

ㅡ Assim. Isso mesmo. ㅡ Ele balança a cabeça, sorrindo um pouco. ㅡ Agora aprenda a dividir seu poder. Respire bem devagar. Uma vez, comigo. Isso. Exatamente assim. Mais uma vez.

Puxo a respiração, meu peito arqueando com a dificuldade da entrada do ar. Korian empurra contra as restrições, e vejo os guardas se entreolharem antes de encararem seu soberano, Dakar. Por fim, soltam os ombros de Korian, que mesmo ferido, vem direto para mim, agarrando meu rosto nas suas mãos.

Ele chia, soltando minha pele. Ao olhar para as suas palmas, franze a testa antes de me encarar novamente.

ㅡ Asterin, você está queimando. Por fora, mas se não extinguir o fogo agora, vai se queimar por dentro.

Algo em sua voz me alarma. Ele tem a expressão cuidadosa e amedrontada quando toca a lateral de meu rosto com a ponta dos dedos.

ㅡ Está ficando mais fria. Assim, concentre-se em minha voz. Imagine que o fogo está minando de seu corpo, se dividindo. Você consegue fazer isso, Asterin. Já treinamos isso.

Posso sentir definitivamente o calor subindo pelas minhas veias. Porém, diferente das outras vezes, onde me sentia estranhamente bem ao senti-lo, agora parece que vai me atravessar por completo. Rasgando e queimando. Fazendo meus membros virarem cinza dentro do corpo.

Lentamente, balanço a cabeça. Korian assente, as mãos segurando meu rosto conforme faço o que ele indicou. Tremendo, puxo uma respiração pesada. Ele me incita, e faço novamente. As labaredas ao redor de nossos corpos lentamente se dissolvem em fumaça leve, enchendo o salão sombrio com o cheiro forte.

Korian sorri levemente.

ㅡ Todo esse poder dentro de uma humana que quase se queima viva a cada vez que o usa. Que desperdício.

O fogo queima em meu coração quando uma risadinha borbulha fora de minha boca repentinamente, dissolvendo o resto do calor que sobra em minha pele.

ㅡ Ora, veja só. ㅡ A voz de Dakar me atinge como um balde de água fria. ㅡ Parece que os dois têm mais intimidade do que eu imaginava. Isso será bem mais fácil.

O olhar forte e destemido de Korian segura o de Dakar enquanto ele lentamente me puxa sentada. O clima ao redor do salão pesa consideravelmente quando, em uma demonstração de poder, Dakar se ergue de seu trono e sua magia contida rodopia em todo espaço.

ㅡ Ele me odeia. ㅡ digo fracamente, a voz bem longe de ser a minha realmente.

ㅡ Não parece como se ele a odiasse, humana.

ㅡ Solte a garota.

A voz grave do guarda chega em meus ouvidos um segundo antes de Korian ser brutalmente afastado de mim. Um rugido de dor acompanha o movimento quando ele é arrastado pelos dois homens corpulentos. Quando meus olhos encontram o dele, tento me arrastar em sua direção, mas um olhar duro me mantém parada.

ㅡ Bem, Asterin. ㅡ Dakar chama minha atenção ao rir suavemente. ㅡ Parece que você mesma, com esse seu poder tão poderoso, e sendo a descendente da deusa mais poderosa e antiga de Taryan, vai cavar a sua própria cova conforme faz o que eu quero.

Ergo o queixo enquanto apoio as mãos trêmulas no chão para me levantar. Korian me avisou sobre isso uma vez e estava certo quando disse que jamais deveríamos mostrar fraqueza perante nosso inimigo, mesmo que estejamos morrendo de dor por dentro. Nesse momento, é bem difícil não estremecer perante sua fala. Eu, a descendente de uma rainha poderosa? Difícil.

ㅡ O que faz você pensar que eu faria qualquer coisa por você? ㅡ pergunto, estreitando os olhos. Minhas pernas falham quando tento me colocar de pé mais uma vez, estragando totalmente o momento onde deveria me manter forte.

Dakar sorri, o rosto uma máscara de ironia quando estala os dedos. Atrás dele, dois guardas todos vestidos de preto que eu não tinha visto antes correm em direção à uma porta dourada lateral.

O soberano fica em silêncio, o sorriso ainda no rosto. Um fio de medo começa a surgir em meu corpo, gelando minha espinha. O gelo aumenta mais quando os dois homens fortes retornam com as enormes mãos envoltas no braço de outro homem desacordado. Os pés dele raspam no assoalho, e posso ver a trilha de sangue que fica no mármore. A cabeça do homem ㅡ coberta com um saco preto ㅡ pende para a frente, depositando assim todo o seu peso nas mãos dos homens que o seguram.

Quando ficam diante de Dakar, soltam o homem ferido sem cerimônias sobre o chão na frente dele. Dakar, com um sorriso gigante, segura a gola da roupa rasgada que o homem usa e a ergue, recebendo um pequeno gemido. Encontrando meu olhar, ele sorri.

ㅡ Este é o porquê que eu sei que você vai nos ajudar.

E retira o saco, me mostrando o rosto machucado e ensanguentado de meu irmão.

✥ · ✥ · ✥


Seguir leyendo

También te gustarán

35.9K 2.2K 9
"Então você é um cara durão, um cara que gosta de pegada bruta, um cara que nunca tá satisfeito... Eu sou do tipo ruim, do tipo que deixa sua namorad...
3.5K 111 13
meu nome é John Blath, por 6 anos fiquei perdido em uma mata no sul da África, todos pensaram que eu estivesse morto, mas depois de todo esse tempo...
81.2K 3.1K 20
✿︎| 𝙻𝚒𝚟𝚛𝚘 𝚍𝚎𝚍𝚒𝚌𝚊𝚍𝚘 𝚊 𝚒𝚖𝚊𝚐𝚒𝚗𝚎𝚜 𝚙𝚛𝚘𝚝𝚊𝚐𝚘𝚗𝚒𝚣𝚊𝚍𝚘𝚜 𝚙𝚎𝚕𝚘𝚜 𝚙𝚎𝚛𝚜𝚘𝚗𝚊𝚐𝚎𝚗𝚜 𝚍𝚊 𝐬𝐨𝐧𝐬𝐞𝐫𝐢𝐧𝐚. Sᴏɴsᴇʀɪɴᴀ...