A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIO

✥ㅡ RUNAS SAGRADAS ㅡ✥

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   Guerra.

   A palavra ecoava em minha mente durante os próximos dias sem descanso. Ficava ocupada demais com meus próprios pensamentos para me importar com o fato de que todas as manhãs a mulher que dividia a cela comigo era levada para só ela sabe onde e retornava com novas feridas. Não tão profundas ou violentas como as primeiras, mas com outros conjuntos de cicatrizes.

   Eu não precisava ouvir um "obrigado" para saber que ela estava agradecida pelo meu esforço em diminuir seu desconforto quando voltava. Os olhares furtivos daqueles olhos vermelhos em minha direção carregavam tanto o agradecimento como curiosidade. Eu sabia o quanto doía ter a pele brutalmente rasgada, a carne profundamente aberta. Sabia como era o desespero de tentar abrandar a dor, mas nada podia ser feito. Deveria apenas deitar e esperar que cicatrizasse. Quando isso não acontecia, então só esperava a morte mesmo.

   A mulher ㅡ Yura, como se apresentou ㅡ estava sentada no lado oposto de onde eu estava, as costas suavemente encostando na parede úmida. No dia anterior, nenhum homem veio levá-la, de modo que as feridas puderam se curar mais um pouco. Também, se viessem, sobraria quase nada de minha camisa rasgada para contar história. Acabava dilacerando o tecido para envolver as feridas e Yura, me compadecendo por sua dor.

   Enquanto isso, quando não estávamos no meio de conversas sussurradas onde ela muito sutilmente nos dava informações que poderiam ser úteis se conseguíssemos sair daqui, eu deitava em meu canto e compassava mentalmente os desesperos atuais povoando minha vida.

   Uma rainha, eles disseram. Não princesa ou humana com poderes, mas rainha. Uma nobre e poderosa mulher que nasceu do coração da deusa mais poderosa que já existiu em Taryan e deixou este mundo como a mais corajosa rainha. Lutou em uma guerra, defendeu seus homens, mas recebeu um brutal ataque que arrancou sua vida. Há quinhentos anos.

   Eu talvez tenha rido disso na cara de Dakar há quatro dias atrás. E talvez ele tenha usado sua magia para apertar meu pescoço e cortar meu ar até que eu estivesse implorando para respirar. Aqueles olhos vermelhos penetrantes me observavam com deliberada frieza, os músculos de seu corpo apertados como nós, demonstrando sua impaciência com minhas reações. Mas Dakar, sendo um homem astuto, colocara meu irmão ao seu lado e a mesma parede invisível nos separando, de modo que eu apenas podia olhar para o rosto machucado dele e silenciosamente pedir por socorro. Mesmo que soubesse que ninguém viria.

   Yura me observa cautelosamente conforme bato a mão direita na perna em um tique nervoso. A proposta que o soberano do Reino Drysand me oferecera horas atrás seria algo que qualquer humano aceitaria sem hesitar, mas eu sabia que alguma armadilha espiava por trás de cada palavra.

   Korian também me prometeu a liberdade. E, aparentemente, ainda estamos noivos, por mais que Dakar tenha soltado uma gargalhada alta e exagerada quando descobriu isso.

   Mas ele é um homem ambicioso. Sua mente trabalha o tempo todo em busca de todas as vantagens que puder conseguir para trazer a si mesmo a magnitude que sempre desejou. Seu caráter, banhado em maldade e corrompido pelo mais pecaminoso desejo, sempre mostrou sua verdadeira faceta. Ele não se dá ao trabalho de fingir ser quem não é. Se ameaça, cumpre. Se promete, cumpre. Não hesita ou pensa antes de fazer. Apenas faz. E se alegra com a maldade.

   Ao encarar aqueles olhos vermelhos profundos penetrando meu corpo como se quisessem ver além dele, vi um passado sombrio espreitando através daquelas íris sombrias. Uma vida maculada pelo sofrimento que formou o homem frio e aparentemente destemido que me encarava com tamanho desdém. Porém, abaixo disso tudo, um pequeno fio de medo brilhava. Até mesmo as memórias mais sombrias que você tenta esquecer te fazem temê-las, mesmo que o monstro seja poderoso o suficiente para fingir que elas jamais existiram.