✥ㅡ TREINOS ㅡ✥

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   Encontre-me na sala de jantar em meia hora. Vista seu casaco e não se atrase, humana.

   K.

   Minhas sobrancelhas sobem com o bilhete que estava em minha cama ao voltar de meu pequeno passeio até a biblioteca secreta. Meus dedos ainda coçam para trazer de vez aquele livro dourado para meu quarto, mas sempre que o toco, uma vozinha na minha cabeça sussurra perigo. Então o devolvo à estante velha até quase morrer de curiosidade mais uma vez e retornar até lá. E o livro que o estranho me deu na cidade abandonada ainda é um mistério.

   Me sentia altamente violada enquanto caminhava pelos corredores, sabendo que olhos invisíveis estavam sobre mim em todos os momentos; olhos de Korian. Ele mesmo me avisou que conhecia todos os movimentos em seu castelo, desde os prisioneiros ㅡ como eu ㅡ até os passos de cada um de seus soldados. Se um homem poderoso como ele ainda consegue ser manipulado, não quero nem imaginar em como o poder de Korian se sobressai ao lado do pai. Que sumiu totalmente  nesses dias.

   Amasso o papel, sentindo-me estranhamente assistida o dia inteiro por ele. Usou a magia, com certeza, para colocar o papel aqui dentro ou simplesmente adentrou em meu quarto como o dono maldito que é.

   Jogo a pequena bola no chão do quarto, quase soltando um grito estrangulado quando ele reaparece em minha mão, desta vez sem nenhum amassado. Meus dentes rangem quando toco meu coração acelerado e leio o que tem na folha.

   Quando você amassa o papel, é como se esmagasse meu cérebro. Não faça isso de novo e se arrume. Prefere que eu a traga aqui da forma que está agora, apenas de camisola e sem nada por baixo?

   ㅡ Merda! ㅡ xingo, correndo para a janela. Algum meio dele estar me espiando pelas paredes ou telhado. Desgraçado maldito. Como sabe que estas camisolas são tão confortáveis que eu não vejo a necessidade de usar algo mais?

   Uma risada ecoa em minha mente. Agarro meu crânio, afundando as unhas em minha cabeça para fazer este som sair. Korian sussurra em minha cabeça o tempo inteiro, e muitas vezes acordo de madrugada com a sensação de que ele está em meu quarto me observando dormir. E pode estar mesmo. Foge antes que eu acorde realmente como se nada tivesse acontecido.

   Raiva volta ao meu corpo. Não tenho privacidade nem liberdade. Uma bela escrava eu sou. Saí da mansão achando que, de alguma forma, conseguiria ao menos um pouco da liberdade que sempre quis e agora estou assim. Uma idiota completa.

   Amasso novamente o papel, jogando-o desta vez no copo com água que colocaram de manhã em cima da cômoda dourada. No exato momento em que o papel se molha e afunda, uma batida forte soa na porta.

   Dou um salto, agarrando o primeiro roupão que encontro e abro a porta, encontrando um Korian com o rosto todo molhado segurando um pedaço de papel. Escondo o riso quando sua expressão de ódio encontra meus olhos, prometendo vingança. Tão patético este imortal agora. Bem, se continuar me enviando bilhetes cheios de ordens desta maneira, ficarei mais do que feliz em afogá-lo todas as vezes.

   ㅡ Nunca mais faça isto novamente. ㅡ ele rosna, tirando o cabelo molhado da testa. Um sorriso irônico involuntário surge em meu rosto, e preciso fazer uma força enorme para não rir.

   ㅡ Novamente? Então vamos continuar trocando bilhetinhos amorosos? Não me tente, príncipe. Ficarei mais do que feliz em te afogar todas as vezes.

   Ele imita meu sorriso, estalando os dedos. Em um piscar de olhos, a água vai embora de seu corpo, secando seu cabelo e deixando-o esvoaçando como sempre. As roupas ligeiramente úmidas voltam a ser impecáveis novamente, e até os amassados vão embora. Ele se tornou mais uma vez a pintura impecável que seu pai criou; monótono, vazio. Uma escultura esculpida pelo pai.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOWhere stories live. Discover now