A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧Ã...

By HadassaOlv

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♦️ Eleita uma das "MELHORES HISTÓRIAS DE 2020" pelo perfil dos AmbassadorsPT ♦️ ▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼▲▼ Até... More

✥ㅡ CINZAS DAS CHAMAS ㅡ✥
✥ㅡ DESAFIOS ARRUINADOS ㅡ✥
✥ㅡ SONHOS QUEBRADOS ㅡ✥
✥ㅡ PESADELOS ㅡ✥
✥ㅡ MEDO FURIOSO ㅡ✥
✥ㅡ PROMESSAS ㅡ✥
✥ㅡ DIA ESCURO ㅡ✥
✥ㅡ A PRIMAVERA ㅡ✥
✥ㅡ ESCOLHAS ㅡ✥
✥ㅡ A KANAE ㅡ✥
✥ㅡ FÚRIA DE FOGO ㅡ✥
✥ㅡ LIGAÇÕES ㅡ✥
✥ㅡ O TREINAMENTO ㅡ✥
✥ㅡ O SONHO ㅡ✥
✥ㅡ A BRUXA ㅡ✥
✥ㅡ DESCOBERTAS ㅡ✥
✥ㅡ PENSAMENTOS ROUBADOS ㅡ✥
✥ㅡ A MISSÃO ㅡ✥
✥ㅡ FALHAS ㅡ✥
✥ㅡ O ATAQUE ㅡ✥
✥ㅡ A BARREIRA ㅡ✥
✥ㅡ O TRATADO ㅡ✥
✥ㅡ A VISÃO ㅡ✥
✥ㅡ O PARCEIRO ㅡ✥
✥ㅡ TREINOS ㅡ✥
✥ㅡ O LIVRO ㅡ✥
✥ㅡ O JANTAR ㅡ✥
✥ㅡ DESTRUIÇÃO ㅡ✥
✥ㅡ Capítulo Extra ㅡ✥
✥ㅡ A PISTA ㅡ✥
✥ㅡ Capítulo Extra 2 ㅡ✥
✥ㅡ ARMADILHA ㅡ✥
✥ㅡ PRISÃO SILENCIOSA ㅡ✥
✥ㅡ AMEAÇA SOMBRIA ㅡ✥
✥ㅡ INVISÍVEL ㅡ✥
✥ㅡ RUNAS SAGRADAS ㅡ✥
✥ㅡ O POÇO ㅡ✥
✥ㅡ O HOMEM ㅡ✥
✥ㅡ A MALDIÇÃO ㅡ✥
✥ㅡ REVELAÇÃO ㅡ✥
✥ㅡ UM PASSO ㅡ✥
✥ㅡ O CAMINHO ㅡ✥
✥ㅡ CORAÇÃO ABERTO ㅡ✥
✥ㅡ O PLANO ㅡ✥
✥ㅡ A AURAㅡ✥
✥ㅡ AS FERAS ㅡ✥
✥ㅡ A TEMPESTADE ㅡ✥
✥ㅡ O TEMPLO ㅡ✥
✥ㅡ O TRAÇO ㅡ✥
✥ㅡ SEM VOLTA ㅡ✥
✥ㅡ A FILHA ㅡ✥
✥ㅡ A CHAVE ㅡ✥
✥ㅡ A VERDADE ㅡ✥
✥ㅡ MENTIRAS ㅡ✥
✥ㅡ O TRAIDOR ㅡ✥
✥ㅡ A FÊNIX ㅡ✥
✥ㅡ EPÍLOGO ㅡ✥
Agradecimentos + Aviso

✥ㅡ O ESCONDERIJO ㅡ✥

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By HadassaOlv

✥ · ✥ · ✥

   O resto do percurso até minha vila foi feito em completo silêncio desde que saímos da prova do ataque há alguns metros atrás. Korian sabe que o que eu estou sentindo vai muito mais além da simples tristeza; se não encontrar ao menos um sobrevivente, ficarei bem perto de enlouquecer por completo.

   Os pensamentos não ajudam, eu sei. Mas é difícil me concentrar em ter esperança quando sei que essas criaturas que vivem na floresta não possuem o mínimo de consideração pelos humanos. Ainda irei descobrir o porquê disso tudo, e por que diabos atacam sem nem um maldito motivo.

   Quando chegamos, desço do cavalo sem a ajuda de Korian, que parece estar fazendo o possível para preencher a tensão entre todos nós. Eu, fico presa em meus pensamentos. Ele, fica preso em minha cabeça tentando achar algum sentido naquilo tudo.

   A névoa cobre nossos corpos até a cintura, tornando a aparência da floresta ainda mais assustadora. Ainda não anoiteceu por completo, o que me faz estranhar tamanho sentimento de perigo rodopiando ao nosso redor. Não ouço pássaros; a neblina alta e fria nos impede de enxergar o topo das árvores, onde geralmente os ninhos estão montados. Mas não há sequer um som. Estão quietos ou não estão aqui.

   Estreito os olhos para o horizonte, vendo de cima da colina que envolve a floresta o início da vila onde fui criada, sendo imediatamente perturbada com as emoções voltando com força total. Meu coração bate acelerado, nervoso. Preocupado com a possibilidade de não encontrar ninguém. De saber que nada pude fazer para ao menos ajudar aqueles que amo.

   Grant está preso e sofrendo. Sabe-se lá mais o que fizeram para ele. E Lena está aqui. Talvez morta. Ou pior: feita de refém.

   Torço as mãos nervosamente, juntando toda a pouca coragem restante em meu corpo para dar o primeiro passo em direção à descida da colina.

   ㅡ Não sinto cheiro de sangue, humana. ㅡ Korian diz, se aproximando por trás e seguindo meu ritmo.

   Cheiro o ar, me chamando de idiota mentalmente logo depois. É claro que não vou sentir nada.

   ㅡ Não sente? Eles podem ter apagado o rastro.

   Korian balança a cabeça.

   ㅡ Talvez. Mas a ponto de não deixar qualquer pequena pista? Estou achando tudo isso bastante suspeito.

   ㅡ Não é suspeito. Eu já vi aquela marca na floresta antes, o que quer dizer que atacaram a vila.

   ㅡ Como pode ter tanta certeza?

   Dou de ombros, ouvindo os passos fortes dos soldados atrás de nós.

   ㅡ Eu disse que já vi uma vez.

   ㅡ Sabe que essas Bestas são conhecidas por seduzir, não é?

   Me viro para ele.

   ㅡ Como é?
 
   Korian sorri, o olhar em seu rosto me dizendo ironicamente como está feliz por estar me ensinando algo.

   ㅡ São astutas, humana. Fazem jogos de percepção em seus olhos fracos com aquilo que mais tem medo. No seu caso, a faziam acreditar que estavam atacando sua vila.

   Cruzo os braços.

   ㅡ E atacavam mesmo. Onde está a surpresa nisso?
 
   Ele solta uma risadinha.

   ㅡ As Bestas estão atrás da barreira, Asterin. Por mais que ela fique mais fraca no período da noite, eles não conseguem passar. Portanto, não atacavam sua vila. A faziam acreditar nisso para que lutasse contra eles.

   ㅡ Lutar? ㅡ repito, confusa. ㅡ Mas eu lutei com eles. E sempre desapareciam pessoas da vila, inclusive meu irmão.

   ㅡ Você lutou com eles, sim. Fez exatamente o que queriam.

   Ergo as sobrancelhas, puxando seu braço para que detenha os passos. Korian me encara com desinteresse.

   ㅡ E como sabe disso? Por acaso foi você que os mandou atrás de mim?
 
   Ele inclina a cabeça, com um sorriso torto.

   ㅡ Por que eu iria querer alguém como você perto de mim?

   ㅡ Talvez por saber que esse tal "prêmio" que falou pertence a você. Talvez me use como isca para conseguir o que quer, não é? Por isso sequestrou meu irmão. Sabia que eu viria atrás dele  faria de tudo para libertá-lo.

   Korian ri, segurando meu braço e me puxando para voltar ao percurso. Tivemos que deixar os cavalos em cima da colina para que quem quer que estivesse na vila não ouvisse os trotes que nos denunciassem. Por mais que estamos demasiadamente expostos agora.

   ㅡ Eu tenho meus interesses em você, humana, e inclusive já estou te treinando para isso.

   ㅡ O quê? ㅡ recuo, dando um tapa em sua mão. ㅡ Aquele treinamento violento é apenas para seu interesse próprio?
 
   Ele revira os olhos.

   ㅡ Não. Isso também é para você engordar um pouquinho. Seus braços parecem palitos. Não gostaria de quebrá-los sem querer, sabe? Meu interesse é outro.

   ㅡ Outro. ㅡ repito, tentando imaginar qual seria suas escolhas.

   ㅡ Sim, outro. Você vai acabar fazendo isso por mim de qualquer forma, então não irei te pressionar.

   ㅡ Oh, eu irei? Como tem tanta certeza disso?

   Korian sorri de lado, fazendo um fio de desconfiança se enrolar em minha mente. Eu deveria tomar cuidado antes do perigo se instalar? Isto é, se já não estava.

   ㅡ Você já começou, hein? Como faz para que eu faça o que quer sem sequer saber?
 
   ㅡ Simples. ㅡ sorri largamente ㅡ Eu coloco as informações que quero em seus sonhos. Você imagina, pensa o dia inteiro naquilo e no fim consegue entender absolutamente tudo, não é?
 
   O choque me paralisaria se ele não tivesse agarrado meu braço momentos antes e começasse a me puxar com mais rapidez em direção à vila.

   Talvez eu tenha entendido errado.

   ㅡ Você disse o quê? ㅡ apuro os ouvidos, tentando convencer a mente que ela ouviu outra coisa.

   ㅡ Coloco informações em seus sonhos, humana. Textos, mais especificamente. De uma língua morta, extinta há milênios. Geralmente são apenas imagens rápidas, mas você as vê e pensa nelas o dia todo. E entende a língua, não é?

   ㅡ Quer dizer que você controla até mesmo meus sonhos?
 
   Ah, a vontade de enfiar o joelho no meio das pernas dele está cada minuto mais desejável, mas me seguro. Pelo menos até o momento certo.

   ㅡ Sim, controlo. Porque preciso disso e você vai me ajudar.

   ㅡ Eu não vou te ajudar. ㅡ afirmo, categórica.

   Ele quase ri na minha cara.

    ㅡ Você já faz isso, querida.

   Lhe dou o mais forte tapa que consigo em seu braço, e ele me olha, impaciente.

   ㅡ É isso que vocês fazem, não é? ㅡ cuspo, furiosa. ㅡ Sempre abusando de seu poder para conseguirem o que querem na palma da mão e sem fazer esforço algum.

   Korian revira os olhos.

   ㅡ Se vai fazer disso uma grande coisa, saiba que todos os outros jamais serão diferentes de mim. Armamos emboscadas para nossos objetivos, e você caiu na minha. Esses símbolos e palavras que você vê e desenha no seu caderno me ajudam a entender certas coisas.

   ㅡ Ah, entender o quê? E pode me dizer que símbolos são esses?
 
   Ele sorri.

   ㅡ  São feitiços. Você está proferindo feitiços o tempo inteiro e não sabe.

   Estreito os olhos, sentindo o fogo consumindo minhas veias e esquentando meu corpo quase a ponto de combustão.

   ㅡ Então, acidentalmente eu poderia, quem sabe, incendiar a mim mesma?

   ㅡ É claro que não. É uma língua morta e não possui a mesma eficácia.

   ㅡ Então ainda funciona.

   ㅡ Talvez alguns sim, mas em todo esse tempo nunca encontramos alguém que possuísse essa capacidade. De ler e entender essa língua. Por acaso já havia visto em algum lugar?

   Lentamente, balanço a cabeça.

   ㅡ Em uns livros antigos que encontrei na biblioteca de meus... patrões.

   Korian assente.

   ㅡ Vamos pegar esses livros para que estude. Quero que aprenda o mais rápido possível.

   Bufando e sorrindo de lado, me pergunto se ele realmente acha que eu faria uma coisa dessas.

   Volto a caminhar, ignorando-o por completo.

   Ao chegarmos na entrada da vila, minutos depois, meu coração aperta. Apesar de vazia, vejo apenas alguns destroços. Poucas barracas quebradas, outras em destroços e algumas perfeitamente intactas.

   Um brilho de desconfiança acende em meu coração. Principalmente quando aquele sentimento de que algo está terrivelmente errado me atinge em cheio. Aguço os sentidos, tentando ouvir algo ou sentir. O silêncio absoluto e suspeito também parece deixar Korian bastante alerta.

   ㅡ Há algo errado aqui. ㅡ ele diz, as orelhas pontudas eriçadas.

   ㅡ Também notei. As coisas deveriam estar bem destruídas. Eles gostam de deixar pistas por onde passam.

   ㅡ Sim. E o clima está... denso demais.

   ㅡ O que quer dizer?

   Ele inspira forte, franzindo a testa para uma direção onde ficavam os esconderijos para tornados.

   ㅡ Algo passou por aqui, disso não tenho dúvidas. Mas... há algo mais. Estou sentindo cheiro de sangue, magia e... pessoas.

   ㅡ Pessoas?! ㅡ inquiro, agarrando seu braço. ㅡ Tem pessoas aqui?

   Korian inclina a cabeça, atento.

    ㅡ Talvez. Não tenho certeza absoluta. Mas sinto um leve cheiro de humanos.

   Tento sentir alguma coisa, alguma presença. Mas nada acontece. Meu fogo continua alerta, mas não ouço ninguém. Está tudo escuro.

   Caminhamos lentamente na direção que Korian está indo, ele com a espada em uma mão e magia na outra. Faço o mesmo, vendo seus soldados em posição de ataque, todos eles com expressões de pedra.

   ㅡ O que eles estão fazendo? ㅡ pergunto baixinho para Korian.

   Sua mandíbula está tão apertada que poderia quebrar seus dentes.

   ㅡ O ar está pesado, humana. Se você olhar para o lado, vai ver as mesmas marcas pretas na parede daquela instalagem.

   Falo o que ele diz, vendo a mesma "fuligem" estritamente marcada na loja de tecidos de uma senhora chamada Piuna. Ela tinha uma linda coleção de ursos de pelúcia ao redor da loja, expostos em prateleiras longas de madeira. No centro da fuligem, vejo um buraco relativamente grande. E lá dentro da loja as prateleiras estão no chão e os ursos, destruídos. Não há nem sinal de madame Piuna.

   Engulo em seco quando vejo a destruição, sabendo que ela era uma das poucas pessoas que conheço que realmente prezam para a organização. Sempre estava limpando o balcão ou arrumando sua mercadoria quando eu chegava para fazer mais uma compra.

   Interiormente desejo que ela esteja bem. Piuna era gentil e não me tratava com indiferença, mesmo sabendo de minha total inveja quando enchia as mãos de tecidos requintados enquanto vestia trapos. No entanto, mesmo vivendo na miséria, ela jamais me criticou. Pelo contrário. Me dava um doce de graça de sua tigela para vendas e sempre ria da minha cara estupefata. Saía de lá tão feliz que muitas vezes acabava esquecendo de voltar para a mansão; ficava apenas apreciando aquele pequeno círculo colorido e doce em minhas mãos.

   Korian percebe minha tensão iminente. Lentamente, dá passos menores até se igualar a mim, encarando meu rosto com curiosidade.

   ㅡ Você conhecia a mulher dona dessa loja? ㅡ pergunta, desinteressado.

   ㅡ Sim. Ela é... espera. Como você sabe que era uma mulher?

   Ele revira os olhos.

   ㅡ Está escrito na placa, Asterin.

   ㅡ Ah! ㅡ murmuro, vendo a placa ao lado da loja caída ao chão.

   Quando me viro, vejo um sorrisinho no rosto de Korian.

   ㅡ Tão esperta você. Uma pena que...

   ㅡ Cala a boca! ㅡ grito, batendo a mão na boca dele e arregalando os olhos, pensando ter ouvido alguma coisa.

   Vejo a raiva brilhando nos olhos dele, mas não ligo. Ouço atenta, imaginando se agora estou imaginando coisas.

   Mas acontece de novo.

   Bam! Bam!

   Duas batidas seguidas. Eu e Korian nos entreolhamos, e ele agarra meu pulso com força, tirando minha mão de seu rosto.

   ㅡ Vão naquela direção. ㅡ ele ordena a seus homens, e o capitão faz um sinal silencioso para que o sigam.

   Sem nem pensar, corro atrás deles, ouvindo a maldição de Korian. No mesmo momento, sinto as mãos invisíveis agarrarem minha cintura e impedirem o avanço. Luto contra elas, fuzilando-o com o olhar.

   ㅡ Não seja imprudente e não coloque nosso plano em risco, humana. ㅡ ele rosna, lentamente me fazendo andar atrás dele.

   Luto ainda mais.

   ㅡ Me solte logo! ㅡ grito, imediatamente sentindo meus lábios sendo presos juntos.

   ㅡ Cala a boca. Isso pode ser uma armadilha, humana burra. Se não quiser ficar presa o resto da viagem, melhor ficar quieta.

   Murmuro atrocidades contra ele por trás da magia. Ele sorri um pouco, provavelmente apreciando a birra de uma humana presa por sua magia.

   Bam! Bam! Bam!
 
   Os soldados ficam alertas, e logo todos os pelos do meu corpo estão eriçados.

   O esconderijo! É de lá que está vindo!

   Desesperada agora, e vendo os soldados preparados para atacar, luto contra as amarras que me prendem, recebendo um olhar enviesado de Korian.

   ㅡ Fique quieta, droga!
 
   Quando ele se aproxima, sinto uma das mãos ficarem livres momentaneamente. Aproveito seu lapso e fecho o punho, jogando-o com toda força contra sua cabeça.

   Sinto uma pequena felicidade de vê-lo caindo no chão como um saco de batatas. E me ponho a correr.

   Passo pelos soldados, que tentam me pegar. Mas corro e passo por eles, o vento chicoteando meus cabelos com violência.

   Não sinto Korian me agarrando. Suas mãos fortes não me alcançam enquanto corro em uma velocidade poderosa, deixando todos para trás. Sequer sinto meu pé doendo. Ao mesmo em que corro através daquela destruição e sinto um peso na garganta, uma estranha sensação de liberdade flui em meu peito e migra para o corpo até que estou gargalhando sem motivo algum.

   Dou a volta por uma casa destruída, sentindo o fogo consumindo minha pele. Uma adrenalina impressionante corre em minhas veias, marcadas pela força e poder impulsionando minhas pernas a cada passo.

   Bam! Bam!

   Sigo na direção do som, sabendo perfeitamente que todos os outros estão me seguindo como lobos.

   Chego derrapando nas pedras, sentindo Korian em minhas costas dois segundos depois. Ele me agarra pelos braços, puxando meu corpo para trás com força.

   ㅡ Humana burra, o que diabos estava fazendo? Pare de lutar!
 
   ㅡ Lena está lá! ㅡ grito, mesmo sabendo que não sei se é verdade.

   Não sei como, mas me solto dele, caindo no chão no processo.

   Depois de toda a correria, estou quase a ponto de cair em prantos com a dor lancinante alfinetando meu pé direito. Lentamente, me arrasto para a grande abertura de madeira no chão, gemendo em cada processo.

   Bam! Bam! Bam!

   ㅡ Lena! ㅡ grito, tentando abrir a porta. A grama que a escondia está há metros de onde estamos, o que significa que estavam desesperados para entrar. ㅡ Lena, você está aí?

   ㅡ Ast?

   Paraliso, o corpo inteiramente duro quando a voz suave e desconfiada de Lena chega até meus ouvidos.

   Estava baixa e rouca, como se não acreditasse realmente que existisse alguém dentro de fora.

   Agarro o ferro na madeira com mais força, tentando abrir a porta enquanto exclamo:

   ㅡ Lena! Por Taryan, achei que estivesse morta!

   ㅡ Eu também achei. Tira a gente daqui, Ast, por favor.

   ㅡ É claro! ㅡ me viro para Korian quando as farpas apenas cortam minhas mãos. ㅡ Será que dá pra pelo menos uma vez na sua vida você pode me fazer um favor e abrir essa coisa?

    ㅡ Quem está aí? ㅡ Lena pergunta, o tom assustado.

   A tranquilizo imediatamente.

   ㅡ  Pessoas que vão te salvar. Vai logo, florzinha, abre isso! ㅡ grito para Korian.

   Ele, com fúria no olhar, faz o que peço tão delicadamente.

   Com apenas um movimento de sua mão, o trinco se parte e eu posso finalmente tirar as correntes, jogando-as no chão.

   Assim que puxo as portinholas, sou embebedada com o cheiro de sangue que flui para fora do esconderijo. Os soldados de Korian cobrem o nariz, franzindo a testa. Por Taryan, quantas pessoas morreram aqui?

   ㅡ Lena! ㅡ grito, completamente feliz, ao vê-la ali dentro, abatida e ferida. Mas viva. Viva!
 
   ㅡ Minha menina! ㅡ ela grita de volta. Não hesito em me jogar lá dentro, da mesma forma que ignoro o protesto violento de meu pé quando caio sem muita delicadeza.

   Tenho apenas um momento de dor antes que me jogue nos braços dela, sendo imediatamente envolvida em seu calor materno como um manto quente no inverno.

   Ela também chora, seus braços me segurando com força enquanto enfia o rosto em meu ombro, provavelmente com tanta falta de mim quanto eu dela.

   ㅡ O que vocês estão fazendo aqui? ㅡ pergunto, me separando. Ela enxuga meu rosto, sorrindo.

   ㅡ Fomos atacados há alguns dias, Ast. Um bando de miseráveis apareceram aqui e...

   Korian limpa a garganta, atrás de mim. O olhar de Lena se fixa nele. Em um ato de extrema coragem, ela se põe entre mim e Korian, fuzilando-o com o olhar.

   ㅡ O que uma praga como você está fazendo aqui? ㅡ cospe.

   Escondo o riso quando a sobrancelha dele sobe com o desafio.

   Porém, antes que tenha a chance de falar, me ponho entre os dois.

   ㅡ Tudo bem, Lena. Ele está comigo. ㅡ garanto a ela, sorrindo.

   Ela parece quase a ponto de desmaiar.

   ㅡ Você está fazendo amizades diferentes por aí, Asterin Sunnastra? Se misturando com essa gente? Você foi sequestrada! E Grant... Grant sumiu!

   ㅡ Ele está preso. Com eles. ㅡ inclino a cabeça para Korian, que revira os olhos. ㅡ Vou libertar meu irmão, Lena. Mas como... como vocês estão aqui? Que cheiro é esse?

   ㅡ Isso não importa agora, minha querida. ㅡ Ela sorri, mas seu rosto tenso não me engana. ㅡ Você tem que ir embora daqui. Agora.

   ㅡ O quê? ㅡ minha testa franze.

   Lena toma minhas mãos nas suas, apertando os dedos. Atrás dela, vejo todos os moradores da vila. Abatidos e também feridos. Alguns estão com o braço apoiado na tipoia, outros com as pernas e cabeça enfaixados. E outros, no fundo do esconderijo, estão deitados e cobertos por um pano branco grande. Mortos. Engulo em seco.

   ㅡ Ast, você precisa sair daqui agora mesmo. Há Bestas para todos os lados, e estamos desprotegidos. Se você não...

   ㅡ Eu não vou sair. Vou tirar todo mundo daqui.

   ㅡ E levar para onde? ㅡ ela inquire, desesperada ㅡ Certamente não iremos para onde aquele ali mora.

   Além de um bufado, Korian continua calado.

   ㅡ Não. ㅡ respondo ㅡ Não vão para lá. Mas podemos ir para a vila vizinha. Lá tem...

   ㅡ E o que garante que não serão atacados também, Asterin? Já sofremos riscos suficientes.

   ㅡ Vocês vão todos morrer aqui! ㅡ digo, alto, domada pela emoção. Ela não pode morrer. Não Lena.

   Ela sorri tristemente, colocando meu cabelo cor de fogo para trás da orelha.

   ㅡ Esse é nosso destino, minha querida. Lutamos contra eles, e morreremos lutando, mas não iremos para fora de nosso lar. É aqui que vivemos. E aqui morreremos.

   ㅡ Não abandonaremos nossa casa. ㅡ um homem atrás dela diz, inchando o peito com orgulho.

   Com lágrimas silenciosas escorrendo pelo meu rosto, encaro Lena, que parece estar igualmente determinada.

   ㅡ Você tem que sair daqui, Ast. ㅡ ela diz, baixinho. ㅡ Não podem levar meu tesouro de volta. Por favor, vá embora e fique a salvo.

   Abraço-a com força, sentindo sua respiração descompassada sobre meu ombro.

   Quando nos separamos, encaro seus olhos com firmeza e digo:
 
   ㅡ Ainda vou tirar todos daqui e levá-los para um lugar seguro. Devo isso a todos vocês.

   ㅡ Por enquanto, faça aquilo que nasceu para fazer. ㅡ o homem completa, a mão sobre o peito. ㅡ Contamos com você, Asterin.

   ㅡ O quê? ㅡ pergunto, confusa. Lena bate em minhas mãos.

   ㅡ Não ligue para Hart. Ele fala coisas assim sem sentido. Vá, minha menina, e não olhe para trás.

   ㅡ Eu vou voltar.

   Ela sorri largamente, tocando o punho no coração.

   ㅡ Sabemos disso. Vai.

   Me viro para Korian, que ainda parece estranhamente quieto.

   ㅡ Vamos sair daqui. ㅡ digo.

   Quando ele se move para sair, é jogado para dentro de volta com uma violência impressionante.

   Dou vários passos para trás, ouvindo o grito desesperado das pessoas ao redor. Os soldados de Korian rapidamente apontam suas armas e poder na entrada do esconderijo.

   A porta se fecha com um barulho alto e seco. Meu coração palpita nervosamente, e olho para Lena, que parece paralisada.

   Então, aquela mesma voz que preenche meus pesadelos e foi causador de tamanha destruição em minha vida ressoa atrás de mim como um vento frio de inverno:
 
   ㅡ Acabou caindo em minha armadilha, humana Asterin.

✥ · ✥ · ✥

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