The Real Side II: Dark Times

By hiddles-evans

42.9K 4K 1.9K

"Tudo mudou depois de NY". Tony Stark gostava de repetir aquilo e, embora sua filha sempre revirasse os olhos... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 28
Epílogo

Capítulo 27

1.6K 136 60
By hiddles-evans

Avril estava mais do que preparada para iniciar uma palestra sobre como ela podia ser movida para um quarto comum, mas não acabou sendo necessário. T'challa e a irmã tinham um sorriso mal contido no resto ao acompanhar a conversa da mais nova dos Stark e os médicos, a mulher ligeiramente confusa com a velocidade de avanços que eles tinham feito no seu caso e a prontidão para lhe darem alta porque realmente não tinha motivos para a manter internada. Avril não estava se enganando dizendo que estava bem, ela realmente estava. Isso quase fazia com que ela desejasse ter ido para Wakanda mais cedo.

Steve acompanhava com um olhar atento a movimentação da mulher no quarto temporário que haviam designado para ambos, quase sem saber mais como agir em sua presença. A conversa de mais cedo tinha resultado em um alívio imenso sob seus ombros, mas Avril mantinha uma postura pensativa, e ele começava a se preocupar. Por intermédio de Clint e Sam, ele já sabia que a visita de Tony não tinha sido nada pacífica e tinha certo receio em tocar no assunto, mesmo ciente de que precisava fazer isso o mais rápido possível.

A figura silenciosa de Avril sentada com as costas apoiadas na cabeceira da cama com as mãos juntas sobre o colo tinha grandes potenciais de assombrar sua mente.

- Você está quieta demais para quem estava pronta para exigir alta há alguns minutos – comentou ele, suspirando alto antes de se sentar na beirada da cama – Tem certeza de que se sente bem?

- Eu preciso colocar mais algumas cartas na mesa – o aviso pegou Steve despreparado, algo que não passou despercebido por Avril, mesmo que seu olhar unicamente estivesse ocupado em julgar suas unhas mal cuidadas. Parecia muito fora do personagem alimentar aquela conversa, mas Avril estava cansada de ter que andar na ponta dos pés com aquele tópico, tendo que fazer malabarismo para evita-lo sempre que a menor brecha aparecia em seu caminho – Você não me deixou falar mais cedo e eu preciso terminar isso.

Sentindo o coração batendo mais forte contra as costelas em antecipação, Steve apenas assentiu, inconscientemente corrigindo sua postura que já estava mais do que reta.

- Você perdeu a confiança em mim pelas últimas semanas e eu fiquei com raiva sem motivo, já que eu estava sendo teimosa e não queria admitir que você estava certo – como imaginava, Steve estava tão confuso que sequer tentou verbalizar sus dúvidas. O máximo de resposta que Avril teve foi ver sua cabeça se inclinar minimamente, seu olhar se tornando mais estreito. Ela, por sua vez, agradecia mentalmente a medicina wakandiana, já que ao menos agora tinha um melhor controle sob seus poderes e podia manter seus níveis estáveis, não tendo que se preocupar em como suas mãos estariam transpirando caso não tivesse intervenção – Eu tenho que pensar duas vezes em tudo que decido, para toda conclusão que chego. Todo mundo assumiu que foi o período na HYDRA que prejudicou as conexões na minha cabeça, mas não foi lá que eu entrei em contato com uma joia do infinito pela primeira vez.

- Loki – Steve respondeu sem pensar duas vezes, apenas para assistir Avril negar com a cabeça.

- S.H.I.E.L.D. – corrigiu ela, surpreendendo seu interlocutor – Minha habilidade, a percepção espacial, evoluiu com o passar dos anos com todos os tipos de treinamento específico que passei para afinar essa característica. Acesse os registros do Coulson. Houve uma mudança considerável entre 2011 e 2012, o raio de percepção se estendeu mais do que nos outros anos. Meu contato com o Tesseract não foi tão dramático como com o cetro, ninguém deu muita importância. Mas agora sinto como se tivesse uma conexão. Então nós voltamos um pouco para o leve conflito de identidade porque eu não sei dizer o que sou eu e o que são as joias, e o pior é que nem sei se me importo mais.

- Você sabe que não se importa – o comentário de prontidão de Steve tão cheio de sinceridade fez com que um riso breve lhe escapasse, o sorriso cansado em seus lábios se mantendo enquanto sua cabeça tombava para o lado.

- Mas conseguir separar cada coisa na sua caixinha definitivamente me ajudaria a dormir à noite – continuou – Eu estou tentando o máximo que consigo, mas é exaustivo duvidar tanto das conclusões que chego. Então foi errado te julgar por duvidar de mim também.

- Embora não tenha refletido muito sobre as consequências caso desse errado, você foi a mais sensata de nós na última semana, Av – lembrou o soldado – Não estou dizendo para confiar de primeira em qualquer coisa que passar pela sua cabeça, mas você precisa voltar a confiar melhor nos processos que você realiza. Você é uma das melhores estrategistas que eu conheço.

- Você não estava confiando em mim desse jeito durante o último mês.

- Porque eu estava com medo de você estar regredindo e fui burro o suficiente para não falar com você sobre isso – devolveu ele – Não foi certo da minha parte. Não tocar no assunto não faz o cenário ser menos realidade. Já passei por uns mal bocados em todos esses anos, e o período que você ficou sob o controle do Krigor... Eu me sentia inútil porque fui incapaz de te proteger, mais ainda quando você voltou e eu não sabia o que fazer. Me mata um pouco toda vez que eu não consigo te ajudar. Mesmo sabendo que não posso consertar tudo. Eu só... Queria poder acabar com tudo isso, mas eu não consigo.

- Nunca esperei que você pudesse.

- Não muda muita coisa. Eu não sei o que faria se algo acontecesse com você, isso me assusta. Isso só aumenta com o passar do tempo – pela própria voz do soldado Avril podia dizer que tinha mais coisa ali, mas foi sua figura incomodada que mais a perturbou, sua voz chamando o nome de Steve com cuidado. Steve por sua vez respirou fundo, não tinha mais motivos para deixar aquilo em segredo – Foi isso que a Wanda me mostrou. Quando ela estava com o Ultron. Algo tinha acontecido com os Vingadores e só restava você. Você e um filho nosso. Não me entenda errado, você é mais capaz que eu para a maior parte das coisas, mas... O papel de olhar por você é meu, a possibilidade de alguma coisa acontecer comigo e você... Isso me assombra. Eu quase perdi o foco quando você se ofereceu para ficar para trás em Berlim. Pensei que tinha chegado a hora.

- Então seu maior medo é me deixar sem supervisão?

- Até que demorou para você fazer graça – devolveu Steve, sem um pingo de hesitação, assim como o comentário – Estou orgulhoso, em algum nível.

- Eu me sinto assim também, de uma forma – confessou Avril, bastante familiarizada com a confissão do homem – Eu tenho medo de algo acontecer com você e eu não ser capaz de impedir, principalmente se eu for a causa. Me perder para algo ou alguém de novo e partir contra vocês, definitivamente é meu pesadelo particular.

- Ah, esse é bom! – ofegou Steve, estalando os dedos e depois apontando para mulher – É meu medo depois do você ficar sem supervisão.

- Rogers!

- Eu estou sendo sincero! Você que pediu – brincou ele, contente ao continuar a ouvir o riso inconformado de Avril – Não é como se eu dependesse de você ou algo assim, mas... Você significa tanto para mim que eu não consigo aceitar a possibilidade de te perder. Eu já perdi muita coisa.

- Sorte sua que eu sou bastante teimosa no quesito não morrer.

- É, mas não me livra dos ataques cardíacos.

- Eu tenho quase certeza de que o soro te livra disso.

- Às vezes você me faz sentir como se eu ainda fosse o Steve doente antes do exército – continuou ele, agora um pouco mais sério. A forma como seus músculos tensionaram um claro sinal de que as brincadeiras não tinham sido o suficiente para desviar o assunto. Avril apenas pode sorrir em compaixão, com um pouco de alívio. Ambos precisavam disso – Querendo fazer tanto e não sendo capaz. É um sentimento bastante estranho. Você e o Bucky fazem bastante isso, para falar a verdade. Não fui capaz de salvar ele durante a guerra, não consegui impedir a HYDRA de chegar até você. E o soro não me ajudou em nada a ajudar vocês dois mais tarde porque o que vocês precisavam não era alguém derrubando uma parede no soco, e ainda não é.

- Nada disso tudo foi sua culpa, Stevie.

- Eu sei, mas... Eu não sei se me meti nessa confusão toda com ONU porque achei que era certo ou se era para proteger o Bucky. Não sei nem dizer o que faria se fosse você no lugar dele. O sentimento de nostalgia com o meu tempo? Nunca vai passar, mas eu encontrei nesse tempo amigos que conquistaram tudo que desejaram, viveram suas vidas sem arrependimentos. Dói ainda pensar que eu não pude fazer parte da vida deles, mas eu fico feliz por eles, por todos eles. Mas o Bucky não viveu. Não é só sobre ele ter crescido comigo, por todo o problema de deslocamento temporal. Eu falhei com ele uma vez, como posso fazer isso de novo?

- Você não falhou com ele, Steve. Ele sabe disso também.

- Sei que ele voltar para a cryo é a escolha mais inteligente, mas não me tranquiliza.

- Espera, o quê? – a voz de Avril em um primeiro momento soou baixo, seu volume aumentando quando Steve não se explicou em velocidade apropriada – Quem vai voltar para onde agora?!

---

Clint no geral gostava de ficar sozinho e em silêncio, ajudava bastante em monitorar os espaços. Estar em mesa com outras pessoas num refeitório não contava como estar sozinho, mas ao menos havia silêncio, e o arqueiro deveria estar contente com isso. Porém não estava.

O clima entre a equipe não melhorara em nada desde as últimas horas, a única notícia que causara um certo alívio sendo a atualização do quadro de Avril por meio de Bucky, a tensão entre os estrangeiros se mantendo constante desde então. O futuro era bastante incerto para o grupo, e o silêncio entre todos apenas parecia agravar aquela sensação. Por isso a aparição de uma Avril emburrada fez com que o arqueiro soltasse um grunhido de alívio.

- Olha quem resolveu nos dar o ar da graça!

- Eu preciso de comida, ver vocês vem junto – devolveu a mulher, puxando a cadeira vazia ao lado de Wanda para se sentar. A mais nova não chegou a questionar a mais velha sobre como estava de fato, Avril apenas sorrindo brevemente como resposta a seu olhar questionador – Tudo bem, Scott?

Scott ergueu o polegar da mão esquerda depois de soltar o potinho de gelatina que segurava, a colher cheia ainda dentro da boca. Sam fechou os olhos e balançou a cabeça em descrença, causando riso na recém-chegada. Não demorou muito para que alguém trouxesse uma bandeja preparada especialmente para Avril, que torceu o nariz enquanto analisava o que estava sendo obrigada a comer, nada parecendo com o hamburguer que dissera para os médicos que queria comer.

- Vocês vão querer fazer um acordo, não? – comentou ela, cutucando algo que só podia ser um legume cozido com o garfo antes de espetar o alimento e levar à boca, a contra gosto – Bem, eu já paguei um advogado... Não acho que ele vá se importar.

- E você? – perguntou Clint, apenas para ouvir um "o que tem eu?" em resposta – Vai tentar fazer um acordo? Até onde eu me lembre, você estava saindo como refém na história.

Avril soltou um riso irônico.

- Cárcere privado com alguém que não quer me ver nem pintada de ouro? Passo.

- Você devia conversar com o seu p... – começou o arqueiro, apenas para ser brutamente cortado.

- Eu tentei, ele que não quer ouvir – lembrou ela, séria – Não me importo quão frustrado e irritado Tony estava, a viagem da Sibéria para o Raft é bem longa, deu muito bem tempo de ele pensar que ir gritar com a filha presa, imunologicamente comprometida e ligeiramente grávida era uma péssima ideia. Gritar com o Steve? Completamente aceitável já que ele estava no mesmo ambiente que ele, além de estar lutando de volta.

- Eu não estou falando que não foi vacilo, eu só...

- Eu sei, Clint. Eu sei – continuou Avril, atenuando o tom e a altura quando Wanda sussurrou que ela estava se exaltando – Eu só não quero tentar falar com ele enquanto ainda estou irritada. Barnes vai voltar para a cryo, vocês vão se entregar, Nat e Pete estão foragidos também... Faz muito tempo que eu não me sinto tão impotente, ok? A última coisa que eu preciso é ter meu espaço de circulação reduzido.

- Steve não acha que é melhor você se entregar? – soltou Sam, praguejando baixo quando ouviu o dito soldado às suas costas.

- Acho, com certeza. Mas ela não vai me ouvir mesmo se eu tentar – suspirou Steve, seu olhar contrariado nunca deixando a mulher que lhe forçava um sorriso mesmo de boca cheia – Mas ela está certa. Talvez faça mais mal do que bem.

- Então vocês não estão mais brigados? – perguntou Scott, o braço direito se apoiando sobre o encosto da cadeira que ocupava para poder se virar e olhar mais livremente para cada componente do casal.

- Depende do tópico – devolveu Steve, mais sério do que o assunto permitia, o que fez com que Avril já suspirasse cansada. Ela tinha uma leve ideia do que estava por vir, e não queria lidar com aquilo no momento – Bucky quer falar com você.

E ela estava certa.

- E eu não quero falar com ele – resmungou ela em resposta, pegando mais uma garfada do que estava sendo uma refeição melhor do que ela esperava. Que seus médicos não escutassem.

- Você mais do que ninguém devia entend...

- Eu entendo, Rogers – ela logo tratou de o cortar – Mas isso não me deixa mais feliz com a escolha dele.

- Não sei por que estou surpreso que a Avril Grávida não é a minha Avril favorita – a voz de Clint soou com uma sinceridade que a mulher se viu se virando para o arqueiro sem pensar duas vezes, seu cenho franzido deixando claro toda sua confusão.

- Você nem tem uma Avril favorita.

- Bom ponto – o arqueiro se deu por vencido, juntando suas coisas sobre a bandeja antes de se levantar – Boa sorte, Capitão.

Rindo mesmo sem querer, Steve pediu que a mulher procurasse por Bucky depois que terminasse a refeição, algo que ela concordou a contra gosto. Claro, ela estava confinada àquele prédio, não tinha autorização do rei (ela chegara a questionar se T'challa queria levar outro soco, o que causou riso no homem e um olhar indignado de uma de suas generais) para circular pela cidade, mas podia muito bem evitar Barnes mesmo com suas habilidades ainda retornando aos poucos, embora, nas palavras de Clint, não seria nada condizente com seu título de pessoa madura.

Talvez por isso Barnes parecesse tão surpreso ao avistar uma Avril buscando por ele nos corredores dos laboratórios.

- Eu realmente estava preocupado que você fosse fugir de mim – brincou ele um tanto tenso, principalmente quando o olhar de Avril permaneceu sério, firme. Bucky, por sua vez, sentia dificuldade em manter o contato visual. Ele sabia muito bem que estava à sua frente, mas sua figura parecia se alterar a cada batida de seu coração: Dominik de alguns meses atrás, sua versão criança, Valerik, Avril. Só podia ser o nervosismo que a reação da mulher lhe causava, já que ele já tinha resolvido aquela questão. Não havia algo ativado no momento em sua mente que criava aquele instinto de proteção, era algo seu, genuinamente seu. Assim como aquela ansiedade por saber que não tinha a aprovação da mais nova.

- Eu continuo contra isso – devolveu ela, emburrada – Podemos fazer progresso com você respirando.

- Bem, acho que não tem ninguém melhor do que você para entender o que é não confiar na própria mente – disse ele depois de respirar fundo, a palavras parecendo mais difíceis de se formar em sua boca – Eu não quero continuar desse jeito.

Bucky esperava alguns gritos, não iria mentir. Pelo que Steve tinha relatado, Avril já tinha ensaiado muito aquela discussão com o loiro, e não havia poupado a riqueza de seu vocabulário. Então por isso Bucky olhou desconfiado para os lados quando Avril apenas abaixou a cabeça, balançando levemente de um lado para o outro enquanto praguejava baixo.

- Golpe baixo, cara – resmungou ela antes de voltar a erguer os olhos para o soldado. Avril ainda estava visivelmente contrariada, mas havia um que de compreensão em seu olhar – Vai ser mais rápido do que você imagina. Pode confiar.

Barnes estava mais do que certo naquele ponto, não tinha como Avril negar. Depois das últimas conversas mais pesadas com Steve, seria hipocrisia demais da sua parte se posicionar de outra forma. Se lhe fosse oferecida a chance de poder ficar em isolamento daquela forma, com a promessa de que voltaria com tudo em ordem meses atrás, ela teria recusado? Ela recusaria hoje? Era uma oferta tentadora, mesmo naquele momento, onde ela sentia ter o maior nível de consciência até então. Então como poderia se opor à decisão mais altruísta que alguém sem suas ferramentas poderia tomar?

- Vai ser só um cochilo rápido – Barnes dissera com a voz baixa, quase que confortando a ponta que deveria ser à reconfortar, diminuindo a distância entre eles com alguns passos despretensiosos, seus dedos adentrando entre os fios de seu cabelo e jogando a franja para trás, aproximando seu rosto do agora desprotegido da mulher – Mama Rogers.

- V...! Vai para a cryo logo, eu não ligo! – resmungou ela alto, se aproveitando da falta de um braço de Barnes e se esforçando menos para fugir do aperto do soldado, que passou a segui-la corredor abaixo enquanto ria.

----

Depois de um longo dia de trabalho, a última coisa que Carl queria era interações humanas. Tinha perdido a conta de quantos clientes tinham gritado com ele nas últimas horas, e tudo o que precisava era desligar seu celular, fechar as janelas do quarto e fingir que não existia por algumas horas. Todo o percurso do ponto de ônibus até a casa fora feito de cabeça baixa, torcendo para não ser notado por nenhum conhecido. Viver a maior parte da vida em uma mesma localidade tinha suas vantagens, mas também impossibilitava que se passasse despercebido na maior parte do tempo.

Por exemplo, era impossível vir do trabalho pelo caminho mais curto sem que uma parte do casal O'Neil o chamasse para comer um biscoito e os ajudar com o computador de sistema operacional ultrapassado. Em dias de folga ele até ia de bom grado, mas depois de tanto estresse ao longo do dia, não lhe restava muita paciência para auxiliar o casal de idosos. Outra coisa impossível também era ignorar o sorriso educado e a oferta de conversa de Davis toda vez que sua chegada coincidia com a do homem.

- Dia cheio de novo? – assumiu ele, equilibrando melhor as sacolas de papel no braço para pegar a chave da porta com uma habilidade que sempre surpreendia Carl.

- Você também parece ter tido um dia daqueles – devolveu Carl, rindo sem graça. Ele realmente queria dormir, mas não era desculpa para ser mal-educado com seu vizinho de alguns meses. Graham Davis e a esposa até então tinham sido nada menos do que prestativos com todos desde a mudança, e ele realmente não queria sofrer na mão dos outros moradores da rua por ter sido grosso com o casal – Madeline melhorou? Faz um tempo que não vejo ela por aí.

- Melhorou sim! Só é difícil fazer ela se mover para algum lugar sem um ventilador por perto, essa onda de calor veio em um péssimo momento – riu o mais velho dos homens, terminando de empurrar a porta com o pé – Vou deixar a tarefa de fazer ela sair um pouco de casa para o irmão dela quando ele voltar. Ele já perdeu o amor pela vida, eu, por outro lado, quero continuar nesse mundo por mais um tempo.

Carl apenas riu concordando, se despedindo depois de repetir que estava à disposição caso precisassem de algo, Graham agradecendo como sempre antes de entrar em casa e fechar a porta.

Assim que suas mãos estavam livres ao deixar as sacolas na bancada da cozinha, Graham aproveitou para esvaziar seus bolsos, sua carteira logo sendo jogada também sob a bancada, a habilitação de motorista escapando de um dos compartimentos e escorregando para o chão. Praguejando baixo, ele se agachou para buscar o documento, devolvendo o cartão à bancada sem se preocupar em realmente guardá-lo, sua atenção se demorando um pouco mais na sua imagem que registrava. Se tinha uma coisa que ele não estava naquele dia era com paciência, mas nada de sua irritação fora transmitida para a foto.

Era uma foto tão boa que, se olhasse rápido, Steve sequer era capaz de se reconhecer.

O cabelo estava mais curto, porém bem mais escuro do que agora. A barba também não estava tão densa. Um riso forçado lhe saiu pelo nariz depois de abandonar o documento, a recordação de quantas vezes a conversa sobre seu disfarce acontecera ao longo dos anos.

Ele não tinha tempo para aquilo no momento, realmente precisava checar se estava tudo bem com Madeline.

Subindo dois degraus por vezes, em segundos Steve já estava no andar superior, adentrando na então vazia suíte principal. Um ruído mínimo podia ser ouvido do banheiro, e ele bateu com leveza os nós dos dedos na madeira da porta antes de entrar, sem ter dificuldades de se localizar no banheiro pelo vapor do chuveiro já ter se dispersado. Avril estava em frente ao espelho sem ainda ter se vestido completamente, entretida em observar as mudanças em seu corpo, mesmo que ciente de que não estava mais sozinha em casa. Havia um amontoado de roupas dobradas sobre a pia que aguardavam o momento de serem vestidas, com a delicada segunda peça do par de alianças que combinava com a sua no topo do monte.

- Parece que eu parei de treinar – comentou Avril de repente, sua voz sequer parecendo ser direcionada a alguém, embora sua cabeça tivesse se virado minimamente para a porta que fora aberta – Quero dizer, eu parei, mas essa voltinha aqui não é gordura.

Steve apenas soltou um riso pelo nariz, se adiantando para beijar o rosto da mulher antes de começar a trabalhar em retirar suas roupas já impregnadas de suor.

- Quando tempo acha que vai demorar até não conseguir mais caber nas suas roupas? – comentou ele, parando todos seus movimentos no mesmo instante, sentindo o peso de suas palavras – Isso soou muito ofensivo. Na minha defensa, você já está usando as minhas camisetas. Seus peitos estão crescendo mais rápido que sua barriga.

- Você deve estar adorando ter um motivo extra para olhar para os meus peitos – devolveu a mulher, seu rosto se virando instintivamente para Steve quando ele escorregou no tapete em frente ao box.

- Que audácia! – resmungou ele, seu olhar concentrado no espaço que adentrava, ciente de que olhar para a mulher terminaria de assinar seu atestado de culpa – Eu não fico olhando.

- Rogers, alguns tipos de pensamentos afetam o funcionamento do corpo. Eu sei identificar.

- Você fica me analisando? Trapaceira!

Quando o barulho da água caindo voltou a dominar o banheiro, Avril acreditou que teria o mínimo de paz e silêncio para terminar seu ritual de cuidado, mas Steve parecia ter outros planos, seu rosto com os cabelos grudados na testa logo aparecendo na porta que ele não fechara do box.

- Oh, bonita. Quando você termina com um sabonete, normalmente coloca outro no lugar.

- Eu ainda não sai do banheiro, você está invadindo a minha vez – devolveu ela, abrindo a gaveta errada duas vezes antes de encontrar os pacotes fechados de sabonete, entregando o objeto para Steve em seguida depois de se livrar da embalagem.

- Quer se vingar e invadir a minha? Cabe mais um aqui.

- Desculpa, ainda estou na fase de quero deitar e morrer, quem sabe semana que vem.

- Sem problemas – respondeu Steve, seus olhos fechando momentaneamente enquanto sorria – Pode checar as crianças depois? Eu faço o jantar hoje.

Avril concordou e voltou sua atenção para suas roupas – ou roupas do Steve, se fosse ser sincera –, retornando para a suíte e para os aparelhos que deixara sobre a cama. Rastreamento Wanda, comunicação Petr, suporte Sam, atormentar Natasha. Embora fossem tarefas que demandam bastante atenção, não havia uma grande variedade de atividades que podia desempenhar. Sua atuação no campo havia sido drasticamente reduzida nas últimas semanas, e Avril não tinha muito como argumentar contra aquilo, e nem queria. Embora um tanto monótono e doméstico, não era como se ela realmente tivesse como reclamar. Na verdade, era Steve que mais parecia estar prestes a subir pelas paredes do que ela, mesmo ainda participando esporadicamente de algumas missões mais curtas. Talvez porque Avril não estivesse de fato facilitando as coisas para o seu lado. Como no episódio do morador novo.

Steve havia saído em missão junto com Wanda, algo que durara algo como três dias. Sam ficara na central com Avril, em razão da dupla de russos estarem resolvendo outras pendências, e, embora Sam continuasse a insinuar como o mais velho ficava inquieto sobre deixar a casa, Steve estava bastante tranquilo. Sabia que Sam faria tudo o que estava a seu alcance e sabia que Avril era mais do que capaz de garantir a própria segurança também, por isso as brincadeiras apenas ganhavam seu rolar de olhos. Steve sabia que retornaria para casa com tudo exatamente como deixara.

Até que as coisas ficaram ligeiramente diferentes.

A primeira coisa que Steve e Wanda ouviram ao entrar na casa não foram as comuns palavras de segurança combinadas previamente, mas sim uma sequência de latidos irritados. Um cachorro de porte grande e pelagem amarelada estava no corredor de entrada e determinado a não deixar ninguém passar. O animal só se acalmou quando um assobio agudo e alto ecoou pela casa, soltando mais alguns rosnados antes de dar as costas à dupla e seguir para a figura de Avril que descia as escadas, se sentando próximo ao primeiro degrau com o rabo peludo abanando de um lado para o outro.

- O que é isso, Avril? – foi a primeira coisa que Steve perguntou, depois da mulher cumprimentar os recém chegados. Como de esperado, Avril manteve a expressão limpa.

- O que é isso o quê?

- Avril.

- Steve.

Wanda desistiu de assistir a cena, partindo para a cozinha de onde ela ouvia Sam rindo.

- O que é esse cachorro?

- Você já respondeu sua própria pergunt..

- Avril Mari...

- Você que não está sabendo articular per... – Avril desistiu de desconversar no meio do caminho, a expressão nada feliz de Steve e seus braços se cruzando em frente ao corpo não sendo um bom sinal do rumo que aquela conversa iria tomar – Ele me seguiu, fiquei com dó de espantar ele.

- Ele tem que ir embora – disse ele simplesmente, pronto para rumar para a cozinha também, mas sendo interrompido tanto por Avril como por um latido contrariado do cachorro.

- Mas ele é tão quieto! – outro latido. Avril ergueu a mão antes que Steve pudesse dizer mais alguma coisa – Você chegou do nada e ele não te conhece, não pode reclamar de ele estar na defensiva.

- Não tem como nós cuidarmos de um cachorro, Av! Temos outras tarefas.

- Eu nunca pude ter um quando criança.

- Eu também não!

- Aproveita a chance de ter um agora!

- Não, Avril.

Steve retornou para a suíte ainda esfregando a toalha nos fios molhados, não demorando para localizar Avril mais uma vez adormecida sobre a cama, um notebook caindo de seu colo e o bendito cachorro com a cabeça deitada sobre seus pés cruzados. Pela nova movimentação, Curry abriu um dos olhos e soltou um rosnado baixo antes de tornar a fechar, como se não tivesse que se preocupar com possíveis aproximações, confiante de que seu aviso tivesse sido bastante claro.

Por já estar ficando com fome, Steve decidira descer e começar os preparativos do jantar. Completamente decisão própria, Curry.

---

N/A: De oito anos (OITO ANOS) de TRS, esse entrou fácil no TOP3 capítulos mais difíceis de escrever. Eu gosto de criar treta e esqueço depois que tenho que resolver (!!!). As cartas foram colocadas na mesa e eu não sei mais o que fazer com essa fic, tá na mão de deus. Eu ia meter o time skip aqui de cara mas achei essas falas rascunhadas e paciência, tive que postar porque não quis cometer o crime de esconder esses dois cristaizinhos de sinceridade aqui.

Continue Reading

You'll Also Like

62.3K 2.7K 22
𝘙𝘪𝘰 𝘥𝘦 𝘫𝘢𝘯𝘦𝘪𝘳𝘰/ 𝘙𝘰𝘤𝘪𝘯𝘩𝘢 📍 Ámber Smith uma família muito conhecida por ter um patamar altíssimo é uma classe alta por serem abenço...
27.4K 1.3K 31
TEMAS SENSÍVEIS!!!!! assédio Sexo explícito Agressão Assassinato .... •PLÁGIO É CRIME!!!
3.1K 527 22
Aidan Koslov Smirnov é além de encarregado do treino e supervisão dos homens da máfia russa, conselheiro da mesma, mas vive muito bem como médico e d...
61.2K 5K 51
Derek, esse homem tem uma filha, que se chama Alysson, o mesmo tem vício em drogas e bebidas alcoólicas. Enquanto sua filha estuda na faculdade e tr...