The Real Side II: Dark Times

By hiddles-evans

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"Tudo mudou depois de NY". Tony Stark gostava de repetir aquilo e, embora sua filha sempre revirasse os olhos... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo

Capítulo 23

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By hiddles-evans

A tensão entre os dois era tão grande que sequer Natasha arriscou dizer alguma coisa no breve tempo que guiou a dupla até a sala onde Tony tentava retomar as rédeas da situação. Steve parecia estar se contendo, seu olhar dificilmente seguindo para a mulher ao seu lado, mas toda aquela energia estava sendo direcionada a ela, mesmo que inconscientemente. Avril por sua vez parecia estar em outro mundo, embora igualmente tensa. Mesmo conhecendo a peça há anos, Natasha não sabia dizer o que estava de errado naquela história, embora agora tivesse certeza que tivesse. Muita coisa havia mudado nos últimos meses, mas, mesmo com a recente falta de confiança em si própria, aquelas reações mal controladas não faziam o perfil de Avril. Natasha já a tinha visto em seus momentos mais impulsivos, e mesmo assim a mulher não ficava naquele estado. E não era por causa de Barnes.

Tinha alguma coisa a segurando.

Tony terminava uma ligação nada agradável quando o trio adentrou na sala que lhe tinha sido cedida, agradecendo com a cabeça a Natasha antes de ela dar meia volta e deixá-los sozinhos. Seu olhar se demorou minimamente na figura da filha e seguiu para o soldado. Com Avril pelo menos ele tivera a chance de conversar e tentar fazer com que ela desistisse da ideia, além de ter acompanhado a operação. Agora Rogers? Não dava para saber o que se passava pela cabeça do homem.

Muito menos o que podia ser feito para ele concordar deixar que outros resolvessem a situação.

- Olha só se não é meu casal problema! – sequer Tony sabia dizer se aquilo era pra soar como uma brincadeira ou não, mas não estranhou a expressão fechada de ambos no final. A garrafa de material escuro que estava sobre a mesa ele jogou para a filha, que se sentara em uma ponta. Steve permaneceu de pé, logo atrás de suas costas – Eu sei que você não gosta de beber algo que não sab... Certo, você já está bebendo.

Avril não parecia nem um pouco feliz com o que estava ingerindo, mas ainda tomou mais um longo gole antes de parar para respirar.

- Não me deixaram parar no caminho para comprar água, então vai isso mesmo.

Tony tentou dar um sorriso divertido, mas acabou apenas com um triste enquanto prometia à filha que providenciaria algo decente para que ela comesse também.

- Não vi a Pepper aqui.

- Bem, nós... Nós estamos...

- Estão grávidos?

Tony entregou o jogo naquele momento como nunca fizera antes, completamente desprevenido. Sua sorte foi que a mais interessada em manter informações fora do alcance do soldado tivera problemas com o restante de sua bebida, boa parte do líquido errando a entrada. Ele até teria tentando sair em auxílio da filha, mas Steve fora mais rápido, uma mão tirando a garrafa de sua posse e outra em suas costas, em movimentos ritmados tentando fazer com que ela se acalmasse.

Avril apenas assentiu com a cabeça quando Steve perguntou se ela estava bem, sequer ousando tirar seu olhar do chão. Em um momento a mão que passava por suas costas foi para o topo de sua cabeça, passando os cabelos para o outro lado em um toque igualmente carinhoso. E ela quis chorar.

Talvez Steve nem tivesse ciência do que fazia. Alheio ao fato de que tinham se afastado tanto nas últimas semanas que aquela mera preocupação podia causar uma reação daquelas.

- Nossa, o gosto disso fica ainda pior saindo pelo nariz – resmungou ela depois de respirar fundo, sua ação de voltar a se apoiar contra o apoio da cadeira sendo o suficiente para que Steve retomasse seu lugar às suas costas – Não quero isso mais, não.

Quando finalmente olhou para o pai, Tony tinha uma expressão bem menos idiota no rosto, mas ainda permanecia a nada discreta permissão que solicitava.

Conta.

Me deixa contar.

Avril nem precisou pensar para fazer que não com a cabeça, algo completamente instintivo. Era um péssimo momento. Tanto para Steve como para ela. A última coisa que ela precisava agora era ter que lidar com o soldado. Sua maior vontade era pegar o quinjet e sumir sem deixar rastros, colocar sua mente no lugar e só então pensar na possibilidade de atualizar alguém na história.

Só que nada disso parecia estar para acontecer logo.

- Nós estamos dando um tempo – contou Tony a contragosto, a expressão surpresa e logo triste do soldado fazendo com que voltasse um pouco mais para o momento – Não foi culpa de ninguém.

O olhar de Steve recaiu sobre Avril, que apenas apoiou os cotovelos sobre a mesa, usando as mãos para dar suporte ao seu queixo. Ela já sabia, ele logo constatou.

Definitivamente não estava sendo uma boa temporada para os Stark.

- Tony, sinto muito – disse o soldado por fim, tomando o lugar vago ao lado de Avril, ficando assim entre pai e filha, já que Tony ocupou o lugar de frente para a mais nova – Eu não fazia ideia.

- Alguns anos atrás eu quase perdi a Pepper e eu destruí meus trajes. E então teve a volta da HYDRA e o problema Ivanov, com essa coisinha do seu lado quase acabando com a minha sanidade – Tony rapidamente apontou para Avril, que apenas deslizou um pouco em seu lugar, as mãos unidas sobre a mesa parecendo ser todo o alvo de sua atenção – E Ultron também, minha culpa essa. E as coisas continuaram, e eu nunca parei. Porque na verdade eu não quero parar. Pensei que talvez o Tratado... – ele parou mais uma vez, seu olhar passando por seus interlocutores quietos antes de respirar fundo e se colocar de pé – Na defesa dela, eu sou problema demais. Mas você já sabe disso, está com problemas com a sua própria Stark, não é?

- Pai, não é momento para isso – Avril se opôs em velocidade recorde, a voz bem mais firme do que a hesitação dos seus olhos transmitia. Steve olhou do mais velho para a mulher, mais uma constatação um tanto definitiva diante de si: terceiros estarem entrando naquele problema dava uma fachada mais realista ao problema, não era algo de sua cabeça ou algo bobo que eles resolveriam sem intervenção. Por mais das implicâncias iniciais que fizera, anos atrás, Tony dificilmente se intrometia quando não era estritamente necessário, quando não era algo sério. E dessa vez tinha um detalhe diferente: Tony estar cedendo à vontade da filha e a forma como estava fazendo aquela abordagem entregava que aquela conversa já tinha acontecido entre ambos. Avril provavelmente tinha buscado o pai.

Ambos não sabiam como resolver aquilo.

- Eu ainda acho que vocês já se deixaram tempo demais em banho-maria, mas quem sou eu para dizer alguma coisa, não é, criatura que eu ajudei a trazer ao mundo? – devolveu Tony irônico, nem um pouco surpreso ao ver a filha o fuzilando com os olhos – Acredito que o Ross já tenha falado com você, a propósito.

- Que eu estou em prisão preventiva? Já me informou, sim.

- Você por acaso falou com seus advogados nesse meio tempo? – continuou ele, o pronome frisado fazendo com que a mulher abrisse um sorriso cínico. Ela ainda tinha que tirar a limpo a história do rastreador, embora não fosse um bom momento para aquilo também – Quando que você vai parar de agir pelas minhas costas?

- Nelson e o Murdock já estão a caminho, pedi que eles dessem mais atenção para a defesa do Barnes – contou ela, ignorando o comentário solto do pai – Peça que o resto da equipe faça o mesmo. Eu posso segurar o grosso por um tempo sozinha, não é como se eles pudessem fazer muita coisa contra mim agora.

- Não vai ser necessário – Tony a cortou, conseguindo de uma vez a atenção curiosa da dupla – Steve e eu vamos resolver as coisas, não é, Capitão?

- Como assim? – perguntou Avril, seu olhar mais desconfiado do que do soldado, ainda mais quando seu pai deu a volta pelo canto da mesa, girando sua cadeira para que ficassem frente a frente. Tony se inclinada minimamente em sua direção, dificultando a tarefa de fugir de seu olhar.

- Não há alvoroço nenhum se a operação foi executada por heróis registrados. Toda a confusão das suas ligações para o Barnes é fácil de ser explicada, nem esquenta com isso – explicou ele, a voz calma e baixa, mas o suficiente para que Steve às suas costas ainda pudesse acompanhar – Você volta para casa no fim do dia, sem estresse.

- Mas e o B...?

- Deixe que nós garotos lidamos com isso – continuou ele, conquistando milagrosamente o silêncio da filha. Avril não queria continuar, mesmo que dissesse o contrário. Seu abalo era visível por não conseguir a solução que esperava e estava com medo de causar mais problemas. Queria passar a responsabilidade para alguém, mas não se achava no direito de tirar o time de campo. Constatar aquilo apenas fez com que Tony quebrasse mais um pouquinho por dentro – Você tem que descer para a análise psicológica. Mas não se preocupe em criar uma boa impressão, você volta para casa em qualquer cenário, entendeu?

Avril ia abrir a boca, mas a pressão em sua garganta lhe fez mudar de ideia. Ah, aquele era um péssimo momento para não conseguir usar seus poderes. O próprio Tony não sabia dizer se ria ou se chorava junto ao assistir seus olhos marejarem, seus lábios sendo espremidos em uma linha fina enquanto ela tentava miseravelmente se controlar.

Ele cometera um erro imenso ao se deixar dobrar pelas afirmações da mais nova. Acreditara em suas palavras sobre poder entrar em ação, mesmo que fosse algo mais burocrático. Tony odiava quando a filha mentia, mas era pior quando Avril não tinha consciência daquilo. Ela não estava em condições, e sequer eram físicas. O timing dos acontecimentos era o pior possível, ela tendo que tomar responsabilidade por coisas que ficaram longe do seu controle quando menos confiava em si mesma. O medo estava claro em seus olhos e não ter alcançado sucesso em suas últimas ações estava pesando ainda mais em seus ombros.

Ciente de que também não podia confiar em sua voz, Tony passou uma mão pelos cabelos da filha, a puxando para perto e assim poder beijar sua testa. Avril aproveitou o gesto para se acalmar, a colônia familiar e o toque conhecido sendo o suficiente para que ela voltasse um pouco mais para os trilhos.

Mas não o suficiente para que arriscasse olhar para o soldado.

Steve acompanhou com o cenho franzido a mulher deixar a sala acompanhada de um agente que apenas se apresentou e permitiu que ela continuasse em silêncio. Depois de tantas idas e vindas dos últimos anos, Steve podia ser considerado um especialista em perceber o estado da mulher, mas, devido à distância criada entre eles nas últimas semanas, ele não chegara a perceber como Avril aparentava estar cansada. Física e mentalmente. E o pior era ele não conseguir entender os motivos por não estar ocupando o lugar ao seu lado como deveria.

Tony depositar um estojo de canetas sobre a mesa que fez com que ele voltasse para a realidade, contando sua história que Steve apenas respondeu no automático.

- Até agora não aconteceu nada que não possa ser desfeito. Se você assinar, legitima as últimas 24 horas. Barnes é transferido para um centro psiquiátrico nos EUA invés de uma prisão em Wakanda e Avril também fica livre das acusações de hoje – continuou Tony, quase agradecendo em voz alta quando Steve se colocou de pé e pegou uma das canetas – Eles podem até passar uma temporada dividindo um corredor, se bobear.

Steve parou no meio do caminho, seu olhar confuso de voltando para o engenheiro.

- Pensei que você tinha dito que ela voltava para casa – estranhou o soldado, e Tony respirou fundo e fechou os olhos. Tão perto. Tinha chegado tão perto. Argh, Avril era incapaz de colaborar de fato.

- O caso da Avril é diferente da Wanda. Podemos mantê-la confinada no complexo por um tempo também, mas vamos precisar de um controle de danos antes da ONU colocar em ação o processo contra ela – explicou ele, torcendo para que aquilo não fosse novidade para o soldado. Ou ele estaria com problemas.

- Espera, você está dizendo que a Wanda está confinada em casa? Ah, Tony! Quando eu acho que voc...! – gemeu o soldado descrente, balançando a cabeça de um lado para o outro antes de se voltar para o mais velho – Por que a ONU tem um processo contra a Avril?!

- É contra a Dominik, para ser mais preciso. Eles ofereceram um acordo: ela se aposentava e eles jogavam o processo para debaixo do tapete – continuou Tony, assistindo a compreensão aos poucos se apossar do rosto do soldado – Só que ela insistiu em assinar para ir atrás do Barnes.

Steve queria rir. Agora o comentário de Petr durante a discussão da equipe sobre o tratado fazia total sentido. O mais velho da dupla tinha notado o desconforto da irmã e sua relutância referente a algo que escondia. Só que de costume não era apenas um detalhe ocultado do coletivo. Avril tinha seus segredos enfileirados em ordem de importância e descartava alguns para despistar quem estava a sua volta.

- Então toda aquela conversa em casa não passou de um teatrinho? – grunhiu o soldado, uma ira nova aparecendo em sua voz – E você ainda foi capaz de concordar com tudo isso, Tony?! Eles ameaçaram a sua filha!

- Avril ia se aposentar de qualquer forma, eles aceleraram o processo. Ela só quis se poupar do estresse – retrucou ele sem pensar duas vezes, a justificativa já bem elaborada em sua memória fazia dias – Não foi bem uma ameaça, foi mais um favor. Consegue imaginar o que aconteceria se ela assinasse? Os crimes dela são públicos. Eu não concordei com ela assinar para tentar aliviar para o Barnes, mas Avril fez o que achou que era certo e não tinha como eu me opor.

- Então Avril está de acordo em manter a Wanda em confinamento? Ela é só uma criança!

- Estou fazendo o que precisa ser feito para que não fique pior!

- Continue dizendo isso.

Tony grunhiu alto em frustração, sua exaltação muito parecida com a do soldado. Avril o mataria por usar aquela carta, mas ele não via outra saída. Ele precisava tentar.

- Se não tornarmos a ação de hoje oficial, Avril fica sob os cuidados da ONU até o julgamento, em prisão especial – Steve chegou a hesitar pela mudança na postura de Tony. Ele até então realmente parecia capaz de lhe acertar um soco no rosto caso tivesse a chance, mas agora sua energia parecia ter tomado outra natureza. Ele continuava possesso, claro, mas adotara uma postura mais concentrada, seu maxilar completamente tensionado enquanto falava – Eu não sei que droga de crise vocês estão passando, mas é muito baixo da sua parte permitir algo assim, Rogers.

- Não tenho certeza se Avril e eu ainda concordamos com o que é certo ou errado.

- Avril está grávida, Rogers. Certo e errado não importa mais – Tony sequer se importava tanto com o tratado naquele momento. Preservar o futuro dos Vingadores era sua função, mas ele tinha outro papel fora do traje Homem de Ferro, e aquele à sua frente também tinha, e estava prestes a ganhar novos. E isso que mais o irritava. Rogers estava sendo cabeça dura e colocando muita coisa em risco, coisa que Tony talvez sequer fosse capaz de proteger sozinho, mesmo querendo dar a alma por isso. Se algo acontecesse a sua filha e seu possível neto por causa do soldado, Tony não tinha ideia do que poderia ser capaz de fazer – A última coisa que ela deveria estar se preocupando é em se desdobrar para limpar a sua barra e a do seu amigo, mas olha onde ela está.

Algo dentro de Steve dizia que ele devia parar por alguns segundos e refletir um pouco mais. Apenas por dois segundos. Só que seu sangue já agitado silenciou a voz, e ele já abria a boca antes que algo pudesse de fato fazer sentido.

- Ela n... Ela... Sério mesmo que você está me dizendo isso para me fazer assinar?! – soltou ele exasperado, balançando a cabeça em descrença antes de se adiantar para a mesa com a caneta em mãos a frente – Sabe de uma coisa? Eu odiaria quebrar conjunto.

Um agente estava do lado de fora pronto para guiar Steve, mas o soldado saiu a frente pisando duro, vez e outra alterando seu trajeto quando o agente comunicava às suas costas que estava fazendo o caminho errado. Apenas alguns andares depois que a consciência começou a voltar em sua mente, e Steve se viu preocupado.

Avril tinha sacrificado alguns segredos para proteger um maior, Tony podia ter tentado fazer a mesma coisa até desistir da estratégia da filha. Mas não podia ser, certo? Ela teria contato. Não era algo que ela esconderia, certo? Claro, Avril tinha um bom histórico de esconder coisas, vide aquele mesmo episódio, mas aquilo era um nível completamente diferente, não era?

Sentado na mesa da sala de espera Steve quase socou a mesa, relaxando os dedos antes que danificasse algo. Seu contato com Avril tinha sido reduzido além do máximo nas últimas semanas, era difícil assim supor alguma coisa. A única coisa que ele notara era como a mulher aparentava estar mais cansada ultimamente, quase doente.

Não podia ser isso, não é?

- Carter? – ele chamou por Sharon depois de outro leve grunhido frustrado, a mulher apenas erguendo os olhos sérios para ele – Eu consigo falar com a Avril?

Carter apertou um botão no teclado que trabalhava, a imagem de uma Avril quieta no canto de uma sala sendo exposta para a dupla. O mesmo agente de mais cedo estava sentado à porta, com um carrinho de serviço ao seu lado, com pratos que não conseguiam distinguir àquela distância, mas que certamente era comida. Avril estava sentada de cabeça para baixo em uma poltrona giratória, as pernas penduradas no encosto da cabeça, os braços descansando sobre a barriga e a cabeça apoiada de leve no apoio das pernas. Seus olhos estavam fechados e ela parecia falar algo, mantendo alguma conversa simples com seu vigia, mas mesmo assim ela ainda parecia a figura da exaustão.

O peito de Steve pareceu se apertar ainda mais.

- Ninguém entra, ninguém sai, Capitão – comentou Sharon, voltando sua atenção para o seu trabalho. Ela fora capaz de notar uma preocupação extra no soldado, mas não se achou no direito de questionar. Aquilo parecia muito mais papel de Sam, que não pensou duas vezes.

- O que foi, Steve?

- Tony me disse algo e agora estou com medo de que ele não estivesse mentindo – contou o loiro, seu olhar em nenhum momento abandonando a figura quieta da tela – Teria sido muito baixo até mesmo para ele, sendo verdade ou não.

Sam pensou em questionar o que Tony tinha dito, mas Steve estava tão tenso e silencioso que acabou optando por deixar o assunto de lado. O soldado não parecia disposto a conversar sobre aquilo, talvez fosse melhor não insistir. Aparentemente, a pessoa com quem ele precisava conversar estava um tanto indisponível.

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Os pelos Avril se eriçaram assim que as luzes comuns se apagaram e as de emergência tomaram o ambiente, seu olhar indo no mesmo instante para o segurança na porta que lhe fazia companhia.

- Deve ter sido só uma queda de energia – o homem tentara lhe transmitir alguma segurança, mas sua postura agitada contagiou a mulher que não era capaz de monitorar sequer aquele pequeno ambiente que ocupavam.

Depois de anos de carreira, havia alguns sons característicos que Avril era capaz de identificar em qualquer lugar e hora. Qualquer um pode reconhecer o som de alguém caindo, mas o som de alguém sendo atirado contra algo era levemente mais específico.

O agente gritara uma ordem apressada para que Avril não saísse dali, e, em um primeiro momento, ela não se opôs. Ela não estava em condições de entrar em combate, contra quem quer que fosse, embora ela tivesse uma leve suspeita – e ela queria muito estar errada. Só que sons de ossos sendo quebrados chegaram aos seus ouvidos, e não teve outra coisa que ela pudesse fazer.

Não dava para se ausentar.

Assim que passara a porta, Avril já teve que desviar de um punho metálico que tentara lhe agarrar. Ela apenas conseguira colocar uma distância mínima entre eles graças a um agente que investira contra Barnes, ganhando assim algum tempo de preparo.

Ela devia dar as costas, correr o mais rápido que podia, mesmo sendo bastante arriscado perder a noção de onde o Soldado estava. Avril estava com todos os seus poderes de percepção comprometidos, a capacidade de poder prever seus movimentos sendo uma das poucas coisas que podia garantir que ela saísse daquela inteira.

Ela precisava de suporte. Só que assistir o Soldado apagar outro agente como se fosse um brinquedo era algo que não dava para fazer quieta.

Barnes não entraria no modo Soldado sozinho. Alguém tinha que ter dito as palavras.

E não tinha como contatar ninguém no momento. Era ela ou ela.

O Soldado tinha completa ciência de sua localização, e, mesmo com a quantidade de agentes que partiam contra ele, Barnes continuava tentando ir em direção a ela mesmo quando Avril ainda hesitava. Ela era o alvo mais uma vez, a mulher logo constatou. Só que isso não interferia em nada em sua tarefa.

Seu rosto pareceu inexpressivo quando a mulher se lançou contra ele, segurando o punho que tentara acertar seu rosto enquanto chutava um alguém para longe. Avril girara o próprio corpo para tirar o aperto do homem, tentando lhe acertar um chute de costas que fora mal sucedido, embora tivesse o atingido. Barnes aproveitou do movimento mais lento da mulher para devolver o pé ao chão para lhe chutar o joelho oposto. Não tinha como ela impedir a queda, mas Avril lhe acertou um bom chute com a perna que não conseguira voltar ao chão em seu queixo, fazendo com que ele recuasse minimamente. Com um impulso das pernas depois de contrair ao máximo o abdômen, Avril se colocou de pé, já tendo que sair em auxílio do agente que logo teria o pescoço quebrado. Um extintor estava nas proximidades, e ela não hesitou em pegar a peça, o movimento sendo o mais cuidadoso para acertar a lateral da cabeça do soldado. Acabou que Barnes optou por soltar sua última vítima, erguendo o braço metálico para que a região recebesse o impacto. Com o objeto agora fazendo o trajeto oposto que a força de Avril, ela perdeu momentaneamente o equilíbrio. Barnes iria se lançar contra ela naquela brecha em sua defesa, e, na tentativa de ganhar um pouco mais de tempo para se recompor, a mulher arriscara um chute frontal, tendo o tornozelo segurado com bastante facilidade pelo seu atacante. Ela tentara aproveitar a outra perna para se defender, mas o chute não conseguira completar o movimento já que Barnes a lançou contra a quina de duas paredes, metade de suas costas e sua cabeça colidindo com força total, seus sentidos sendo comprometidos. Quando ela voltou a entender a cena, já era tarde.

Avril com uma mão tentava afastar os dedos metálicos do Soldado que estavam ao redor de seu pescoço, a outra mão segurando seu punho real para que não lhe acertasse qualquer outro golpe. Uma de suas pernas buscavam o contato com o chão que fora perdido ao ser erguida, a outra entre os dois, tentando criar alguma distância entre eles. Seu rosto já estava bastante avermelhado pela falta de ar, o brilho amarelado de seus olhos ganhando um leve fundo alaranjado.

- Seu dever é me proteger, Soldado – sua voz saíra quase inaudível, mas ele ouvira. Avril não fazia ideia de quais eram as palavras de comando de Barnes, e sua única esperança no momento era que ainda pudesse usar os mecanismo de segurança de sua mãe, a língua russa podendo ser um bom elo para desestabilizar Barnes.

Pareceu funcionar por um breve momento, seu olhar vacilando sobre o seu. Ou foi isso que Avril quis acreditar na hora, alheia ao movimento do soldado se buscar algo em seu bolso com a mão real.

Avril não teve tempo de reação. Quando notou a seringa na mão de Barnes, a agulha já adentrava na pele de seu pescoço, e o que quer que fosse aquilo invadia sua corrente sanguínea.

E então ele se afastou.

O corpo de Avril foi ao chão sem delicadeza, a nova pancada na cabeça atrapalhando a sua já precária percepção. Ela não sabia dizer se era a substância ou não, mas seus músculos estavam mais pesados do que se lembrava. A tarefa de se colocar de pé parecia impossível, mas algo no seu inconsciente não aprovava que ela fechasse os olhos e descansasse um pouco.

Seu olhar turvo localizou uma pessoa diferente no ambiente, seu olhar satisfeito estudando o espaço, até sua atenção recair na mulher. Avril sabia quem ele era, embora não soubesse dizer. O homem em um primeiro momento chegou a se adiantar para ela, mas alguma movimentação fez com que ele mudasse de ideia, retornando para a sala de que saíra.

E então tudo ficou quieto.

Quando Avril recobrou os sentidos, o alarme ainda piscava pelos corredores. E ela própria estava no modo emergência. Não havia pensamentos lógicos em sua mente, apenas o instinto de sobrevivência.

Seus braços cederam algumas vezes na tentativa de se erguer, e ela tropeçara mais vezes do que se orgulharia enquanto corria pelos corredores que até pareciam todos iguais, mas que ela logo conseguiu encontrar a saída. Fazia tempos desde que se sentira tão vulnerável e exposta, o ambiente do ataque parecendo quase ser uma fonte disso. Do lado de fora ainda imperava o caos e a correria, então ela apenas continuou sem que ninguém a identificasse. Todos estavam preocupados e assustados demais para notarem a mulher cambaleante que desapareceu em uma das ruas secundárias.

Avril apenas voltou aos seus sentidos minutos mais tarde, a uma boa distância da base.

O estabelecimento parecia se dividir entre bar e restaurante, os clientes bem mais preocupados em acompanhar o noticiário nas televisões do que realmente conversarem entre si. A agitação deles era compreensível, claro, pela proximidade deles entre o local, e a mulher agia então se aproveitando dessa distração.

O homem em que esbarrara no caminho até o banheiro não percebera o bolso da jaqueta mais leve pela recente ausência de sua carteira, nem o casal entretido na matéria notara a chave do carro desaparecer de sobre a mesa que ocupavam. Um moletom escuro também viera parar em suas mãos no curto trajeto, que logo cobriram a camiseta simples que usava, mas que poderia ajudar na sua identificação. Seu cabelo estava preso no topo de sua cabeça para não passar a impressão de que tentava esconder o rosto se deixasse ele solto, mas uma franja fora improvisada para não permitir o reconhecimento com tanta facilidade.

Da mesma forma que entrava sem ser percebida no local, Avril também saíra. Seus passos calmos até o veículo recém-adquirido contrastavam com os batimentos acelerados e desritmados de seu coração. Até chegar ao seu destino provisório, ela apertou mais o casaco contra o corpo, falhando na tentativa de se transmitir algum conforto. O aparelho que inicialmente não era seu vibrava no bolso, avisando alguma mensagem que não seria lida pelo destinatário, quase na mesma frequência de seus dedos. O ideal era ter Sexta-Feira dirigindo por ela naquele momento, mas não tinha como ela arriscar. Alguém da HYDRA tinha se infiltrado, não tinha como ela confirmar no painel, e o painel controlava seu pai. Não tinha a quem ela recorrer no momento. Precisava sair dali, e rápido. E precisava fazer algo a respeito da substância desconhecida que percorria sua corrente sanguínea, e definitivamente não estava causando bem.

Quase uma hora depois que Avril estacionou o carro, parada em um subúrbio até então desconhecido. O dono do celular roubado não fora rápido o suficiente para bloquear o aparelho, então ela conseguira alterar as configurações de acordo com a sua necessidade enquanto dirigia. A rua não tinha movimento, e ela esperava do fundo do coração que as casas ao redor realmente estivessem sem seus moradores, que ninguém estivesse a observando pela janela, porque ela não sabia dizer se estavam ou não. Com a cabeça contra o encosto, ela respirou fundo enquanto seus dedos ainda trêmulos digitavam agilmente um número conhecido. Com o aparelho contra o ouvido, Avril percebeu como estava com sede, a garganta ardendo e com dificuldades para respirar. Ela imaginava que perderia a consciência enquanto ouvia os toques da chamada, mas sequer chegara a soar o segundo toque por completo para a ligação ser concretizada.

- Oi, Barton – soltou ela em meio de um grunhido baixo, a voz rabugenta do arqueiro lhe trazendo algum nível de conforto mesmo sendo grosso ao atender a ligação de um número não identificável – Eu sei que você está fora dessa, mas eu preciso muito de você. Não te ligaria se não fosse necessário.

- Estou um pouco ciente da situação – devolveu ele, alheio ao tom particular que sua antiga protegida expunha. Clint já estava com tanta coisa para resolver em um espaço de tempo minúsculo que aquele pequeno detalhe passou despercebido pelos seus ouvidos - Rogers já me chamou e já estou a caminho.

- A caminho para quê? – devolveu ela confusa sem pensar duas vezes, seus olhos instintivamente se abrindo, como se assim fosse ficar realmente mais desperta – Merda, o buraco é ainda mais embaixo do que eu estou pensando, não é? Onde você está?

- Indo buscar a Wanda.

Aquilo estava bem longe de acabar bem. Até onde conseguia buscar em sua memória, Wanda tinha perdido a permissão de sair do complexo para acalmar a ONU, a envolver no que quer que fosse aquilo era uma medida que traria consequências pesadas para todos. Como que ela podia contornar aquilo? O que podia ser feito para amenizar a situação? Como que ela podia fazer algo útil em um cenário como aquele?

- Clint, preciso que você vá no meu quarto, na parte do guarda-roupa do Steve – sua mente não parara de tentar encontrar uma saída, mas pelo menos sua boca lembrou de passar as instruções para o que precisava, mesmo com a dificuldade de sua respiração inconstante – Tem uma caixa de madeira escura no meio das roupas dele de treino. Preciso que você traga para mim.

- Não é lá que fica seus antídotos mais fortes?

- Ótimo, você sabe o que está procurando.

- Avril, o que aconteceu?

- O cara que aparentemente estamos enfrentando. Ele usou alguma coisa em mim – contou ela - Não é o mesmo de sempre, mas espero o antídoto de sempre funcione.

- Desculpe, mas eu tenho que perguntar: como que ele conseguiu injetar algo em você?

- Rogers não te contou que eu fui presa? Eu estava sozinha lá embaixo contra o Soldado Invernal, e eu não queria machucar o Barnes... – Avril soltou uma risada sem humor, sua cabeça se voltando contra o encosto enquanto fechava os olhos com força – Foi o segundo pensamento mais idiota que eu tive hoje.

- E qual foi primeiro?

- Que eu poderia controlar a situação sozinha.

Clint pisou com vontade no pedal do freio, agradecendo a rua vazia por não causar nenhum acidente. Sua testa foi instintivamente contra o volante, os olhos fechados com força enquanto tentava se preparar. Ele conhecia aquele tom. Preferia não ter que ouvir aquele desespero de novo.

- Vamos consertar tudo, entendeu, filhote? – murmurou ele de volta, quase perdendo a linha ao ouvir um tímido "eu não sei o que fazer, Clint" – Eu e você, como nos velhos tempos. Nenhuma situação está tão ruim que não possamos dar um jeito junto, ok? Fique onde está que eu vou te buscar.

- Não precisa – ela negou de imediato, pelo menos a voz voltando a adquirir alguma firmeza – Me fala onde o Capitão marcou com você e eu vou para lá. Não é bom eu ficar muito tempo no mesmo lugar, estão procurando por mim também.

- Eles estão indo para o aeroporto. Avril? – houve um breve silêncio na chamada, e Clint podia ter jurado ouvir um leve fungado no meio tempo até a mais nova responder com um baixo "sim?" – Tenha cuidado, tudo bem? Você é uma fugitiva agora também, e não acho que eles vão ser mais carinhosos com você do que com o Barnes.

- Saudades do tempo que as pessoas me subestimavam – a risada fraca foi abafada pelo som do veículo voltando a ser ligado – A vida era bem mais fácil.

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N/A: DEUS AMADO EU NÃO AGUENTO MAIS STOGERS NÃO,SANTA CUZISSE.

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