The Real Side II: Dark Times

By hiddles-evans

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"Tudo mudou depois de NY". Tony Stark gostava de repetir aquilo e, embora sua filha sempre revirasse os olhos... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo

Capítulo 9

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By hiddles-evans

Enquanto Avril não tomou um reforço da vacina anti-tétano, ninguém lhe deu ouvidos. Ela duvidava se faria mesmo algum efeito em seu organismo, mas, como mal também não faria, acabou por ceder, pelo menos assim podia deixar de vez a ala hospitalar e obter respostas de verdade.

Até agora, ela não tivera notícias de seu pai, Thor, Visão e Wanda, e, se passasse mais um minuto daquela forma, pessoas inocentes pagariam o preço, porque ela iria sim começar a gritar com quem não merecia, e pouco se importava sobre isso. A movimentação nos corredores era intensa: pessoas buscando por familiares, querendo saber do estado dos feridos movidos para a UTI... Poucos notavam a passagem de Avril entre eles, o uniforme padrão da S.H.I.E.L.D. que ela mais uma vez usava sendo o suficiente para quase um disfarce não planejado, mas que fora bem-vindo. Se fosse reconhecida como Vingadora, poderia desencadear reações positivas e negativas, e ela não tinha tempo para nenhuma delas.

Chegando na ponte, os agentes que ocupavam as estações pararam momentaneamente para fazer notada sua presença, logo voltando aos seus trabalhos em seguida. Alguns rostos eram conhecidos, outros nem tanto. Avril estava há tanto tempo afastada da S.H.I.E.L.D. que não se surpreendia em não reconhecer mais a equipe principal, e aquela sensação lhe deixou desconfortável. Tantos anos na agência, e agora mais do que nunca ela se sentia uma estranha, ainda mais depois da temporada na HYDRA.

- Hill?

- O tal Visão está com a Wanda na ala leste – informou a mulher, que já não aguentava mais os pedidos de sua superior sobre atualizações da equipe – Seu pai está sem energia no solo, Thor está com ele.

- Seu status, agente? – pediu Fury, deixando de lado as telas onde acompanhava as informações mais importantes para se virar para Avril com as mãos juntas atrás das costas – Preciso de equipes de resgate no solo, avaliar a situação no que restou na cidade e coordenar o fluxo de informações daqui de cima com lá embaixo.

- Fico com a equipe de resgate, sem problemas – disse ela sem pensar duas vezes. Já queria se oferecer mesmo para ajudar no solo, Fury talvez ainda a conhecesse muito bem – Sabe o status do meu irmão? Ele é bem útil nesse cenário também.

- Está se equipando no momento. Sua equipe vai estar no hangar 6.

- Entendido, senhor.

Avril girou os calcanhares, ajustando o canal que precisaria usar no aparelho em seu ouvido, rumando para onde acreditava que deveria ser a área de preparação de agentes, onde todo o equipamento que poderia precisar para resgastes estariam à sua espera. Ali ela encontrou um novo par de luvas que não eram tão resistentes quanto o que seu pai projetara, mas daria para o gasto. Não havia mais luta agora, era resgate. O máximo de força que faria seria para erguer destroços e ajudar soterrados. Pensando bem, talvez fosse melhor levar um par extra.

- Agente Stark – uma voz conhecida a chamou quando deixava a sala, um sorriso satisfeito aparecendo em seu rosto ao dar de cara com a pessoa depois do portal – Sua equipe está pronta.

- Fala, James – suspirou ela, esticando a mão para o antigo colega. Por cima do ombro do homem, Avril viu seu irmão se aproximando, algo em sua postura adiantando que algo estava errado – Pete? Tudo bem?

- Esse traje é desconfortável demais... – resmungou ele, arrancando uma risada compreensiva de James – Como conseguiram passar tanto tempo usando isso? Credo.

Avril tentara se preparar para o que estava prestes a presenciar quando o quinjet pousou na parte da cidade que não se arriscara nos ares, mas não conseguiu ser realista o suficiente, mesmo já tendo mentalizado o pior. Aquele cenário era como nada que tinha visto antes: havia um buraco imenso no solo, prédios que nem estavam tão próximos à cratera também tinham desmoronado, o tremor da retirada de parte da cidade causara danos estruturais e diversas explosões. Isso sem contar a queda dos destroços da cidade que eles tiveram que explodir. A mulher nunca tivera que classificar um cheiro como aquele que dominava quilômetros e quilômetros em todas as direções, mas a partir de hoje o reconheceria como cheiro de desastre.

E dos grandes.

Seu uniforme padrão da S.H.I.E.L.D. ajudara bastante a evitar reações raivosas dos habitantes de Sokovia, mas um ou outro acabava por reconhecê-la tanto pela fisionomia como por algum colega a chamando pelo nome. Em um determinado momento, um grupo chegou a criar um tumulto e recusar a ajuda dos jovens Vingadores, mas tudo foi esquecido quando o prédio que eles esvaziavam começou a desmoronar, e ainda havia pessoas dentro dele. O grupo se silenciou quando a dupla não hesitou em voltar ao prédio, desviando com agilidade dos escombros que despencavam sem piedade. Petr foi o primeiro a retornar, com alguém que não sobrevivera aos ferimentos nos braços. No grupo de revoltosos, um homem se distanciou dos demais, um grito doloroso saindo do fundo de sua alma enquanto corria em direção do agente, reconhecendo a filha em seus braços. O momento apenas não seguiu porque o estrondo de mais um andar despencando assustou a todos, a maior parte do grupo chegando a se afastar por precaução. Apenas Petr e mais alguns seguiram a direção oposta, devido os gritos de pedido de socorro de Avril e de vozes infantis.

Depois dos dez minutos mais longos de sua vida, tanto Avril como as duas crianças estavam seguras fora do prédio já no chão, outra equipe da S.H.I.E.L.D. se assegurando do bem-estar de todos. A mulher tentou discutir, mas aparentemente a agência tinha novos protocolos para agentes que queria permanecer em ação depois de terem soterrados, e, julgando pelo cansaço que começava a ficar difícil de disfarçar, Avril aceitou ser levada de volta para o helicarrier, se livrando do pano imundo que usaram para improvisar um curativo em sua testa antes de subir no barco com mais algumas vítimas que precisavam de atendimento urgente.

E foi assim que Avril terminou pela segunda vez no dia em uma das alas da enfermaria, um novo recorde pessoal. Pelo menos dessa vez sua visita foi mais rápida, saindo de lá em minutos apenas com um pano embebido de sabe-se lá o que para limpar os ferimentos de seus braços agora expostos, já que a parte de cima de seu macacão fora aberta e estava pendurada em seu corpo, a regata clara que vestia por baixo agora sendo a única peça que cobria seu tronco. Não muito contente com ter que ficar de molho agora, Avril ainda deu algumas voltas pelo helicarrier, tentou se oferecer para ajudar onde quer que fosse, apenas para ser ordenada a retornar ao seu quarto – que ela sequer sabia onde era.

Nessa busca um tanto não muito empenhada em encontrar o bendito quarto, Avril acabou encontrando Natasha em um dos laboratórios, sentada contra uma parede de vidro, uma garrafa de água pela metade nas mãos.

- Um lugar desse tamanho e aqui que você escolheu para descansar? – estranhou a mais nova, seu tom sarcástico não sendo muito bem recebido pela ex-espiã – Cadê o Banner?

Mesmo se não fosse quem fosse, Avril teria percebido naquele momento que algo realmente estava errado, principalmente pela forma com os olhos de Natasha vacilaram e evitaram encarar Avril, quase que com vergonha.

- Eu não sei – foi a resposta que a ruiva deu, virando o rosto mais ainda – Ninguém sabe.

- Espera, ele simplesmente... sumiu? Isso não parece em nada com o Banner – o tom de acusação aos poucos foi tomando a voz de Avril, que começava a ficar irritada pela mais velha não ter tentado negar – Natasha, o que você fez? Não me olha desse jeito, você fez alguma coisa.

Natasha podia ter mentido? Podia. Teria surtido efeito? Provavelmente apenas feito com que ela se sentisse mais estúpida, já que a última pessoa para quem deveria tentar mentir era Avril. Até mesmo Fury fosse ser mais fácil de enrolar, nada comparado àquela pirralha quando já estava desconfiada.

- Ele já queria fugir, mas... – a mulher respirou fundo, quase rindo quando ouviu o próprio barulho falho que produzia ao inspirar – Eu sabia que precisavam de nós. Não dava para simplesmente dar as costas.

- Você o forçou a se transformar – deduziu a mais nova, a expressão no rosto da russa já sendo mais do que o suficiente para confirmar a história. Ela até chegou a abrir a boca para responder, mas nenhum som saiu e ela acabou por forçar um sorriso estrangulado – Droga, Nat... Você quer um abraço? Um soco na cara?

- Só quero ficar um pouco sozinha.

Avril sabia que talvez fosse bom deixar Natasha sozinha, que companhia não lhe faria mal, mas ela continuava a mulher letal que sempre fora, e a última coisa que Avril precisava naquele dia era de uma mordida de aranha, por isso assentiu e deixou o recinto, mas apenas depois de pedir que Natasha a procurasse caso quisesse alguém para conversar.

Logo em seguida, enquanto ela perambulava pelos corredores, acabou esbarrando com um Steve Rogers de tipoia no braço pelo qual ficara pendurado horas mais cedo. Ele tentara convencer os médicos de que não precisava daquilo, que logo os ligamentos de seu ombro estariam melhores, mas estava tão cansado que em certo ponto desistiu de contrariá-lo e apenas concordou. Quanto mais gastava tempo ali, mais demoraria para encontrar Avril.

Não que isso tivesse sido rápido também, já que ela passou uma eternidade em expedição no solo.

- Avril!

- Steve, oi – ofegou ela, depois de uma rápida checagem no homem por ferimentos, mesmo já tendo feito isso mais cedo e o soldado não ter tido a chance de se machucar mais desde sua partida – Você não devia estar descansado?

- Como estão as coisas lá embaixo?

- Nada bem – a mulher acabou por responder, mesmo sua pergunta tendo sido ignorada. Talvez o protocolo devesse ser amenizar seu depoimento para fazer com que Steve se desligasse um pouco da situação e pudesse se recuperar com mais paz, só que nem ela conseguia fazer aquilo no momento. Eram coisas demais para se preocupar – E a garota?

- No quarto. Alguém precisa ir falar com ela.

O pedido não apenas ficou expresso no silêncio sugestivo, como seus olhos também logo trataram de finalizá-lo.

- Vai você, vou acabar piorando tudo se for eu – Avril fugiu da tarefa, até começando a caminhar para trás, visualmente mostrando que não iria voltar atrás – Não tenho tato para isso, e ela não gosta da minha família, vamos evitar confusões por hora.

Steve esboçou um sorriso discreto em concordância, chegando até a imitar a mulher e se virar para seguir a direção contrária. Ele apenas não seguiu aquela rota porque um chamado tímido e inseguro. Num piscar de olhos, era outra mulher em sua frente.

- Stevie? Sobre o que a gente estava conversando ontem, eu...

- Av, não – seu corte fora um tanto brusco, mas o soldado julgou que não era uma boa ideia deixar aquele assunto se estender, muito menos ali. Falando por si só, Steve sabia que estava bastante abalado, chegava a ter medo de quanto aquilo afetara a ex-espiã, e, mesmo que não fosse admitir, tinha medo de descobrir – Ambos estávamos alterados, não se dê o trabalho. Conversamos sobre tudo isso em outro momento, tudo bem? Temos muita coisa para cuidar agora. Vá descansar um pouco. Eu seguro as pontas.

Se Avril chegou perto de seu bendito quarto, ela não tomou ciência disso. Só para deixar o corredor depois de Steve já levou um tempo. Seus pés pareceram terem se grudado ao piso depois de ele avançar em sua direção, o toque de seus lábios em seu rosto ainda um pouco sujo sendo mais leve apenas que uma de suas mãos em sua cintura. Havia passado tantas horas em batalha, tanto tempo em tensão a espera de um ataque que algo sutil e delicado como aquilo lhe parecia algo completamente estranho, um gesto que seu corpo não sabia mais reconhecer, muito menos aceitar. Ela hesitara no primeiro instante, e sabia que Steve também notara, mas ele teve a delicadeza de não comentar nada e seguir seu caminho.

Horas mais tarde, depois de ter evitado ao máximo qualquer tipo de contato social, Fury encontrou a jovem Stark em um dos laboratórios que tinha uma vista privilegiada do vasto céu que agora era ocupado por várias e densas nuvens. Algumas estrelas se destacavam no tom escuro de azul, mas nenhuma conquistava a atenção da mulher. Seu olhar era única e exclusivamente da lua que aos poucos era coberta pela sombra do próprio planeta.

- Por que não está no seu quarto, Stark? – debochou o ex-diretor, quando entendeu que ou a mulher não estava notando sua presença ou não se importava com ela – Monstro debaixo da cama?

Avril estava debruçada sobre uma das mesas do laboratório, seus pés sequer chegando a tocar o chão pela altura do banco em que sentava. Quando Fury se anunciou, ela apenas mexeu os olhos em sua direção, voltando a focar na lua logo em seguida, nem um pouco entretida.

- Não sei se debaixo da cama.

A resposta não passara de um resmungo, tanto o tom de voz como o conteúdo da mensagem fazendo o homem bufar alto. Nem quando ele era pago para isso, ele era pago para isso. Em nenhum momento quando aceitara aquele cargo anos atrás alguém lhe avisara que teria que lidar com Avril Stark, e essa falta de aviso começava a lhe irritar.

- Vou me arrepender de perguntar, mas o que te incomoda?

Assim que viu a mulher respirar fundo, abrir a boca e tornar a fechá-la, completamente incerta, Fury soube que estava nada mais do que certo. Em nenhum momento ele planejara, mas continuava se encontrando naquele cenário: algo explodindo na cara de todos, Avril consideravelmente atingida, e ele assumindo a posição de ouvinte, de, se não colocar a mulher de volta aos trilhos, pelo menos puxar com mais empenho o freio para que ela sozinha resolvesse seus problemas de rota.

Apenas por consideração de tudo isso que Fury se sentou no banco vago ao lado da engenheira. Não era como se ele se importasse de fato.

- Eu fui... Eu sou uma agente de campo experiente – a correção não lhe pareceu tão natural como esperava, mas não deixava de ser verdade, e agora mais do que nunca Avril se sentia daquela forma. O trabalho de campo da S.H.I.E.L.D. nunca fora simples ou livre de acidentes, todos sabiam e até os agentes apenas de laboratórios tinham contato com isso, ninguém na agência podia ser despreparado. E o pior que era aquela sensação que mais dominava a mulher – Trabalhei umas poucas vezes em resgate, deve dar para contar em uma mão só. Quando estava na HYDRA, eu era apenas um soldado, mas mesmo assim era diferente. Nunca tive em um cenário como esse. E nem estou falando da cidade voando... É só...

- Guerra – completou Fury, ele próprio estremecendo ao som da palavra – Você nunca teve em um cenário real de guerra até hoje. Isso muda as pessoas, você sabe. Vai ficar bem?

- Você fala como se eu tivesse escolha – Avril não gostava nem um pouco daquele tom amargurado que acabava a colocando em posição de vítima, mas, quando se deu por si, a resposta um tanto malcriada já tinha lhe escapado, e seus ouvidos já capturavam a risada rouca do homem ao seu lado, que se virara para levantar e apoiara uma mão carinhosamente em seu ombro.

- Você tem, você se permitir ter já é outra história... – disse ele, o toque em suas costas logo sumindo assim que Fury passou a rumar para a saída, aumentando a altura de sua voz para que nenhuma palavra fosse perdida – Não fique fugindo do sono, Stark. Sei que vai conseguir uma maneira de lidar com isso tudo. Se você não conseguir, ninguém mais vai.

Um pouco mais tarde, quando uma das nuvens interrompeu o contato visual intenso que mantinha com o satélite natural, Avril se forçou a levantar, ciente de que não encontraria seu quarto com tanta agilidade, que assim ainda teria um certo tempo livre para tentar colocar sua mente no lugar. O problema era que, ou seus pés já conheciam aquele percurso mesmo com sua memória desconhecendo a informação, ou seus instintos estavam em seu auge, ao ponto de ela sequer perceber que rastreava algo.

Ou melhor, alguém.

Steve estava deitado de costas para a porta, encolhido na cama que era muito menor do que a que eles costumavam dividir da Torre, ainda mais por se tratar de um colchão de solteiro. Com as políticas nada amigáveis da S.H.I.E.L.D. sobre relacionamentos entre colegas de trabalho, não surpreendia ninguém a ausência de camas que fossem desenhadas para comportar duas pessoas, mas também não era desculpa para aquela miniatura de cama. Assim que ouviu a porta se abrindo, ele passou sem pressa alguma pela transição de passar a deitar de bruços, ocupando assim praticamente todo o colchão, mas facilitando a tarefa de Avril de se ajeitar contra ele. A única parta de seu traje que Avril se livrou foram as botas antes de subir no colchão fino e aceitar de bom grado aquele calor agradável que ela não sabia mais ao certo se merecia, mas que não era momento de questionar.

Nenhum dos dois chegou a dormir de fato, mas pelo menos conseguiram esvaziar um pouco a mente.

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Hill sequer precisou repassar qualquer exigência das diversas autoridades internacionais ou de veículos de mídia, a iniciativa da coletiva de imprensa partiu dos próprios Vingadores, e aconteceu logo depois do retorno da equipe para NY, um pouco mais de uma semana depois do desastre de Sokovia.

A parte da equipe que não descera para a coletiva ficou na cozinha, recorrendo a alguns petiscos para distrair a ansiedade que sentiam. Até os mais controlados tinham que admitir que estavam um tanto nervosos, sem saber o que esperar daquelas quase duas horas que foram reservadas para perguntas e declarações oficiais – que eles sabiam que seriam as mais lentas possíveis. Tony e Steve estavam ali apenas como apoio moral, Avril seria a encarregada de conduzir toda a coletiva, e sua expressão não deixava dúvidas de que estava preparada para isso. Tony eles já sabiam que estaria com roupas civis, mas ninguém podia descordar que era um tanto estranho ver o casal com as peças mais sociais possíveis em um momento onde estava ali por sua vida de heróis, o uniforme de ambos muito bem guardados em suas respectivas partes do closet compartilhado. Steve parecia desconfortável com a gravata preta que acompanhava a camisa clara – ou talvez fossem as centenas de jornalistas no auditório –, mas Avril parecia estar em casa. Sua expressão serena e ao mesmo tempo dura conversava com seu vestuário impecável, nenhum fio de cabelo fora do penteado baixo, assim como não tinha uma linha fora do lugar no suéter que cobria a camisa clara que usava. Claro que ela estava tão nervosa como os homens de cada um de seus lados, com o mesmo nível de remorso por tudo que acontecera, só que não tinha uma pergunta que qualquer jornalista ali poderia fazer que a pegaria desprevenida, e isso já era o suficiente para deixá-la um pouco mais calma.

Eles poderiam a tirar do sério com uma facilidade surpreendente, mas não significava que ela não veria isso chegando.

- Se você vai querer nos acusar de algo, por favor, pelo menos seja coerente – demandou a mais jovem na mesa, ignorando o beliscão de aviso que tanto seu pai como Steve lhe deram na perna – Se tínhamos o objetivo de criar um robô assassino, para que nos daríamos o trabalho de tentar pará-lo?

- Talvez ele tenha saído do controle de vocês – retrucou o maldito jornalista, satisfeito com a reação que ele acreditava ser mais descontrolada da mulher – Parou de obedecer.

- Claro, porque tem muita coisa que um grupo de pessoas como Os Vingadores não consegue resolver por conta própria, precisamos mesmo de um robô assassino – para um auditório tão cheio, Avril não esperava um silêncio tão absoluto como aquele, onde até a respiração de muitos ficou difícil de ouvir por tão sem reação que ficaram. Era uma manobra arriscada? Demais. O pessoal do movimento anti-herói deveria estar se deliciando naquele momento, ainda mais com uma integrante da equipe dizendo com todas as palavras que eles eram, sim, poderosos e possuíam um grande poder de destruição, logo tentariam usar aquela declaração contra eles, mas não hoje. Hoje aquela era a defesa deles – Não estamos recuando na responsabilidade de nenhum dos acontecidos, inclusive, medidas de recuperação de todas as áreas destruídas já estão em prática. Temos ciência de que isso nunca vai apagar o que aconteceu, e sentimos imensamente por isso, mas não há mais o que possamos fazer. Ninguém nesse prédio aprendeu a voltar no tempo, e tenho certeza que, se conseguíssemos, vocês ainda achariam algum detalhe para nos culpar, não é mesmo?

- Você acha que a situação é engraçada, Stark? Pessoas morreram!

- Eu sei muito bem o que aconteceu, nós estávamos lá. Apenas voltamos dois dias atrás quando a maior parte das buscas por sobreviventes e o remanejamento deles para áreas seguras já tinha sido feito – lembrou ela, o corpo mais debruçado sobre a bancada, as mãos espalmadas próximas à base do microfone à sua frente – Então não venha dizer que estamos dando as costas aos nossos erros, ou que não estamos fazendo o possível para amenizar o estrago. Mais alguma pergunta?

Horas mais tarde, Avril foi a primeira a começar a descaracterização.

Assim que as portas do elevador se fecharam, ela desceu de seus saltos e jogou os braços para trás da cabeça, puxando a gola do suéter e o puxando para finalmente se livrar da peça, toda a organização de seu cabelo partindo junto com o agasalho. Enquanto Steve apenas se livrou da gravata, Tony aproveitou para se livrar também da camisa, os três heróis já trajando as já tão comuns expressões exaustas dos últimos dias.

- Hill, mais alguma atualização de Sokovia? – pediu Steve, assim que se juntaram ao restante da equipe na cozinha, aceitando sem pensar duas vezes a garrafa de cerveja que Clint lhe estendera.

- As buscas continuam, todos os sobreviventes e atingidos estão sendo atendidos.

- Lá embaixo... Foi brutal – comentou Pepper, quase rindo de piedade da figura de Avril que se sentou ao seu lado e deixou a testa bater na mesa – Você saiu bem. Esperava uma abordagem menos agressiva, não vou mentir, mas eles não estavam permitindo.

Avril virou o rosto apenas para sorrir agradecida para a mulher, só então se permitindo contar quantas pessoas estavam no ambiente.

- Cadê a garota?

- Assistiu apenas o começo, depois foi para o quarto. Um pouco pesado demais para ela ainda – contou Clint, e os três recém-chegados apenas assentiram em compreensão. Wanda quase sempre se ausentava quando precisavam abordar o desastre de uma forma mais burocrática, e ninguém conseguia julgá-la por isso.

Com o passar do tempo, a cozinha começou a ser esvaziada, e o grupo se resumia a Avril, Clint, Natasha, Petr, Steve, Tony, e Thor, que ficavam mais apreciando o que bebiam e comiam do que de fato conversando. Até o dono da Torre trazer um assunto importante, que não tinha sido debatido até então.

- Thor vai voltar para Asgard, Barton para a fazenda... O que o resto de vocês vai fazer?

- Você já tem algo em mente – arriscou Steve, mesmo relutante em saber o que o engenheiro podia estar planejando. Da última vez que ele pensara em algo isolado do grupo, eles terminaram com um robô assassino, então seu receio era justificável.

- Se vocês estiverem dispostos, principalmente porque o trabalho vai sobrar mais para vocês... – começou Tony, apontando logo de cara para as três pessoas que coincidentemente estavam sentadas lado a lado. Natasha buscou algum sinal de já conhecimento dos planos de Tony no casal à sua direita, mas Steve e Avril pareciam tão confusos quanto ela – Temos duas crianças que precisam de treinamento, pelo menos no sentido mais leve da palavra. Wanda não tem completa noção dos poderes, e acho que poderíamos ajudar, se ela quiser. E o Visão... Wilson e Rhodes também foram de bastante ajuda...

- Você quer recrutá-los – resumiu a russa mais velha, e Tony assentiu.

- E Petr também. Com ele não rolou uma oficialização.

- Ei! – reclamou o homem, agora decidindo prestar mais atenção na conversa por seu nome ter sido citado – Avril também não.

- Ela está na equipe desde o começo, só demorou um pouco para entrar em ação – retrucou Natasha, revirando os olhos ao ouvir a risada alta e divertida de sua antiga pupila em seguida.

- Mas se formos fazer isso, não dá para ser na Torre – comentou Avril, depois de voltar ao assunto quando Steve lhe pediu foco – É arriscado, além de pouco espaço.

- As Indústrias Stark tem um terreno no norte do estado que não usamos há anos... Passei essa manhã para o nome dos Vingadores. Bem afastado de civilização, bastante espaço – Tony foi listando as vantagens, assistindo o trio trocar olhares significativos e discutindo silenciosamente – Ainda dá para passar parte da iniciativa científica para lá também, passar parte do pessoal da Torre para lá, e ainda chamar mais gente.

Steve até chegou a abrir a boca para dar uma resposta quando Avril e Natasha colocaram as mãos sobre a mesa e se apoiaram mais contra o encosto de suas cadeiras, mas a chegada repentina de mais pessoas na cozinha fez com que todo o grupo esquecesse o assunto, encarando ambos os homens que agora pareciam um tanto constrangidos.

J.A.R.V.I.S. não avisara que Avril não estava sozinha no cômodo.

- Prof. Gerard! Encosto! – festejou a mulher, um tom extremamente falso ao se direcionar a Andrew, que devolveu o mesmo sorriso cínico a ela – No que posso te ajudar?

Ainda um bom sem jeito, Erik Gerald caminhou para o lado da mesa onde sua antiga aluna estava, lhe entregando um tablet com diversos arquivos abertos que precisavam de sua autorização imediata. O grupo assistiu Avril passar os olhos por cima das informações com agilidade, a caneta em sua mão vez ou outra assinando alguma permissão, e em raras ocasiões barrando certos pedidos que não estava de acordo com suas exigências, circulando o que precisava ser alterado e explicando para o homem que acompanhava com o máximo de atenção que tinha.

- Mande tudo para meu laboratório – pediu ela, devolvendo a tela ao homem – Dou uma olhada mais tarde, professor.

- Acho que já faz alguns anos que pedi para deixar o "professor" de lado, Srtª Stark – comentou Gerald, conseguindo fazer Avril abandonar a expressão centrada de antes, um sorriso travesso se desenhando em seus lábios.

- E eu me lembro de já ter pedido que me chamasse de Avril, mas você insiste em me ignorar.

Tony pigarreou ao fundo, quebrado o contato visual que a dupla mantinha, e ele em seguida revirou os olhos.

- Srtª Stark, eu preciso de algumas outras confirmações suas – lembrou o professor, depois de quase ter começado a se despedir do grupo, e para a surpresa de Avril, ele não voltou a lhe entregar o tablet – MIT pediu hoje de manhã.

- Eles vão querer manter o calendário mesmo com tudo o que aconteceu? – estranhou ela, chegando até a girar mais em seu assento, se virando completamente para o homem que parecia tão incerto como ela. Aquele era um assunto delicado, ele tinha assistido toda a conferência junto com toda sua equipe de cientistas – Não me importo de deixar para o semestre que vem, se for o caso.

- Na verdade, as confirmações são mais a respeito disso. Eles não têm certeza se você ainda estaria disposta a seguir o calendário, em razão dos últimos acontecimentos.

- É daqui algumas semanas, não sei se os ânimos já terão diminuído até lá.

- O que você vai fazer lá? – perguntou Tony, interrompendo a discussão que ninguém além da dupla estava entendendo.

- Eles querem que eu participe de uma semana de palestras, dê algumas aulas... Que foi? Eu tenho título acadêmico, esqueceram? – resmungou Avril, assim que viu todos a olharem desconfiada – O "doutora" na frente de Stark não é enfeite... Você vai me acompanhar, professor?

- Eu e o Sr. Baker.

- Ah não.

- Minha reação foi essa – Andrew soltou uma risada sem humor, cruzando os braços em frente ao corpo ao ganhar o olhar nada feliz de Avril.

- Isso tem dedo da Pepper.

- Mas é claro – devolveu ele sem pensar duas vezes – Sem contar que não é inteligente te soltar em uma sala sem alguém para apoio teórico.

Clint estava com uma torrada a caminho da boca, sua mão ficando suspensa ao passar então a encarar Avril, esperando a retaliação.

- Você quer questionar meus conhecimentos? – disse ela lentamente, perdendo toda a compostura quando Andrew simplesmente assentiu – Perdeu a noção do ridículo?

- É minha área também, tenho o mesmo grau de formação que você.

- Engraçado, e quem Fury colocou na frente da Fase 2 mesmo?

- Você está se referindo ao programa que explodiu na sua cara?

- Ei, a parte de armamento estava perfeitamente bem. O resto que explodiu na minha cara, que não entra nessa discussão.

- Conveniente, não?

- Crianças... – resmungou Tony, ciente de que aquilo poderia levar o resto da noite, ainda sendo otimista. Teria que ter uma conversa bem séria com Pepper por ter achado que aquilo era uma boa ideia.

- Quem é esse cara?

- Argh, esse é o tal irmão perdido? – bufou Andrew, apontando para o Petr confuso – Me diga que ele é mais agradável do que você.

- Já não gostei de você, cara – foi a única resposta que o Ivanov mais velho deu, o que culminou em um sorriso satisfeito de sua irmã caçula.

- Me explica um negócio, Avril... O MIT convidou você para dar aula? – começou Tony, e Andrew ainda teve a audácia de soltar um "oh oh, problemas", o que quase resultou em um pedaço de pão voando em sua direção, se Steve não tivesse segurado o braço de Avril – Eles queriam um convidado especial e você foi o primeiro nome? A Stark que nunca sequer estudou lá?

- Sua agenda estava mais cheia que a minha, então Pepper passou o compromisso para mim – respondeu a mais nova, a fala lenta e um pouco travada entregando a resposta improvisada – Ela não falou contigo sobre isso?

- Boa jogada – murmurou Gerald ao seu lado, assim que Tony pareceu comprar a desculpa de última hora e voltava a atenção a sua comida.

- Você não viu o resto do meu repertório – devolveu Avril rindo de leve – Você pode cuidar das coisas relacionados ao MIT para mim, certo?

Gerald assentiu, e logo deixou o cômodo junto com Andrew, a dupla usando o tablet que trouxeram para se organizarem para as novas tarefas adquiridas.

- Vai trocar o Capitão pelo Erik, Stark? – brincou Clint.

- Quem? – devolveu Avril distraída, apenas entendendo o erro que cometera quando todos começaram a rir e o soldado ao seu lado soltou um "ei" ofendido – Não "quem Steve"! Ai meu Deus, desculpa! Eu esqueço qual é o primeiro nome dele, acostumei com o sobrenome.

- Em um pouco mais de duas semanas já é a segunda vez que você aparentemente me troca, deveria ficar preocupado? – o soldado entrou na brincadeira, sorrindo ainda mais satisfeito quando Avril se engasgou com sua bebida, seu corpo não tendo sido capaz de ingerir o líquido e rir ao mesmo tempo.

- Antiga paixonite da faculdade, completamente inofensiva – disse ela, depois de controlada a breve crise de tosse – Mas com o Thor eu ficaria esperta, porque se ele piscar para mim eu vou para Asgard com ele.

- Já pisquei várias vezes, milady, e ainda não vi suas malas prontas.

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N/A: Vocês podem não acreditar, mas eu adoro quando os capítulos terminam com piadinhas. Amém AOU terminando, pode entrar lacuna mais divertida dessa fic toda.

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