Quando nos Vênus, juro a Mart...

By -bullshift

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Jimin amava olhar as estrelas e pedia pelo amor de sua vida através delas. Acreditava que sua alma gêmea era... More

avisos.
prólogo: entre tsurus e almas gêmeas.
a velha melodia sempre retornava.
a garagem do papai.
pré-conceito e expectativas.
ter uma metade.
tornar pessoal.
isso não é valsa.
lugares errados, pessoas erradas.
o mediano entre excesso e falta de expressão.
lista de músicas.
a hipnose dos olhos.
não merecer.
atração interdimensional.
morrer de amores.
asteroides favoritos.
piscinas rasas e vazias.
completamente seu.
um universo, uma casa e um asteroide.
o universo é o limite.
colisão ou conciliação.
a existência deforma o universo.
wish the world away.
no fim da linha.
teoria do globo.
cigarros e origamis.
luas de Galileu.
a noite estrelada.
solidão acompanhada.
plutão já foi planeta.
comicamente assustador.
nunca é realmente o fim.
Vênus de Milo.
pluto projector.
mil tsurus.
nota da autora.
romance planetário.
lançamento do livro físico!

na abóboda celeste.

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By -bullshift

NÃO ESQUEÇAM DE VOTAR :(

Não sabia que precisava ter Hoseok e Namjoon na porta de seu apartamento, com fardos de cervejas, pacotes de frangos fritos e sorrisos no rosto, até ter.

Assim que abriu mais e deu espaço para que entrassem, os olhos curiosos e maravilhados dos dois percorreram tudo, observando os mínimos detalhes na decoração, nas cores, no espaço num geral. Jeongguk se sentia orgulhoso e feliz porque estava nítido nos olhares o quanto gostaram do seu apartamento. É, seu. E se eles estavam felizes, então ele estaria também.

— Uou, é muito mais espaçoso do que eu esperava!

Namjoon disse e colocou os pacotes com a comida sobre a mesa da cozinha. Hoseok se apressou em guardar as cervejas na geladeira e logo o mais novo entre os três os guiava para o quarto. Como adolescentes apressados para começarem a festa do pijama.

Nunca foi do tipo que se animava para mostrar o que o importava ou era especial, mas desde que estava dividindo o apartamento com Seokjin, tudo mudava gradativamente.

E ele sabia que não deveria ter medo de mostrar aos seus amigos quando via os semblantes surpresos e os comentários que não trocaria por nada naquele mundo.

— Porra, olha essas luzes de LED! — Hoseok comentou, sentando na cama e olhando os pôsteres pelas paredes, além das decorações de galáxias. — Que demais! Ficou a sua cara, Kook. Nem acredito que você ainda tinha esse pôster do Bring Me The Horizon que eu te dei quando se formou no Ensino Médio...

Kim assentiu, rindo e se sentando ao lado do amigo.

— Acho que nossos próximos rolês serão aqui. Se ferrou, cara, sua casa agora é nossa. — brincou e viu Jeongguk rir.

O tatuado se conteve para não revirar os olhos, afinal:

— Minha casa já é de vocês, hyung.

E os outros dois riram, gritando entre risadas o quanto Jungkook era meloso e como eles amavam isso. Mesmo que ele fosse fechado, eles sempre souberam que Jeon possuía um coração gigantesco.

O baixista deitou-se na cama após abraçar o corpo tímido de Jeon, encarando o teto enquanto Namjoon mexia no computador do mais novo, sorrindo à medida que colocava uma das músicas novas do Rich Brian. Ele amava, sabia que seus melhores amigos amavam também.

Jeongguk apenas não se manteve deitado com o Jung porque lembrou-se que estava animado para apresentá-los à Plutão. Desde que ganhou o bichinho, queria que seus amigos conhecessem-no. Então abriu a gaiola onde ele ficava, vendo-o descer da rodinha onde gostava de correr para subir nas mãos quentes de seu dono, se aninhando entre as palmas para então Jeongguk o levar até os amigos, fazendo Hoseok se assustar antes de ouvir:

— Esse é o Plutão. — não conseguia parar de sorrir, acariciando os pelos escuros do ratinho que se segurava em seus dedos. — Seokjin-hyung me deu de presente e agora ele faz parte da nossa família. O hyung também tem alguns bichinhos e eles são amigos... Ele é bonito, né?

Era estranho ver Jeon tão animado e confortável com algum assunto, mas eles jamais reclamariam disso. Apenas se sentaram na cama e receberam Plutão entre os dedos, vendo-o observar tudo e se agarrar na pontinha dos dígitos humanos enquanto os cheirava, curioso.

— Os olhos dele.... Parecem com os seus. — Namjoon riu, achando o bichinho completamente fofo. Jung acariciou a cabeça de Plutão com certo receio, mas também sorria. — Vou te visitar só pra passar um tempo com ele. Né, Plutão?

Os três riram e acabaram passando um tempo ali, entre carinhos no animal e conversas sobre como era tranquilo cuidar dele. E Jeongguk não sabia que precisava tanto de um bichinho de estimação até ter um, afinal, já não sentia tanto a solidão que se acomodava consigo quando estava só.

Exigia certo tempo para cuidar de Plutão, mas ele não se importava porque era ótimo quando o colocava entre os cobertores e o via correndo animado por entre os tecidos, como se brincasse de esconde-esconde com seu dono. Jeon estava feliz.

E aquele momento com seus amigos apenas melhorava à medida que o tempo passava. Afinal, após se acabarem de tanto encher a paciência do ratinho, decidiram tomar algumas cervejas na varanda do apartamento. Seokjin estava fora, então Jungkook não sentia-se preocupado em atrapalhá-lo andando para lá e para cá na casa dos dois.

O vocalista do B612 se ajeitou contra o batente da varanda, vendo seus dois amigos se sentando nas cadeiras de praia que haviam colocado ali. Namjoon abria as garrafas e as entregava à medida que Hoseok colocava alguma música na caixinha de som portátil.

Por sua vez, Jeongguk sentia o cabelo – cada vez maior – contra o vento, um arrepio percorria a espinha à medida que sorria e sentia o peito encher de ar. Ar quente. Ou talvez era apenas amor. Não saberia dizer, caso o perguntassem, mas Jeongguk se sentia completamente cheio e era tão, tão incrível.

Estavam na varanda, o lugar favorito de Jeongguk em todo o mundo. E mesmo que amasse seu quarto, a vista dali e a brisa fresca faziam com que Jeon se sentisse avulso à tudo. Era inegável o quanto aquele lugar em específico o fazia bem.

— Eu tô orgulhoso de você. — Hoseok disse, fazendo o amigo tirar os olhos do céu para fitá-lo.

— Obrigado, hyung, é importante. — respondeu com um sorriso tímido antes de beber outro gole da cerveja ainda gelada. Suspirou profundamente e falou baixo: — Mas não sei se é o suficiente.

Namjoon o olhou, questionando:

— Como assim, Jungkook?

Logo, ele respirou mais profundamente do que a última vez. Coçou o queixo e desviou o olhar, pois era difícil se abrir com seus amigos, mas ele entendia que também era necessário. E estava na hora de se abrir, finalmente.

— É... É difícil de criar metas quando você nunca planejou crescer, de fato. — disse, embolando-se um pouco por causa da ansiedade que confundia seus pensamentos. — Tipo, eu nunca quis um futuro. Eu só queria ir para um lugar longe da casa da minha família. — olhou de soslaio para os dois que o encaravam atentamente antes de fitar a rua lá embaixo. — Só queria saber que eu ainda tinha um coração, que não era um inútil, rebelde e sem causa. Queria saber que tava sozinho nesse mundo, e... Eu tô. E isso já não é um problema. Mas agora eu tenho que planejar meu futuro enquanto tento ser minha própria casa em um novo lar.

Seus amigos ficaram em silêncio, como se precisassem de tempo para ingerir todas as suas palavras e o significado não tão simples que existia por trás delas.

A vida de Jeongguk nunca havia sido exatamente fácil, e a personalidade tão fechada e reservada dele era resultado de anos sendo deixado de lado pelos irmãos e pai. Mesmo que fosse complicado lidar com o jeito confuso do tatuado, quem o conhecia sabia que ele precisava de tempo e um espaço que nem todos estavam dispostos a dar.

— Você vai ficar bem, tudo vai ficar bem. — Namjoon disse.

Jung rapidamente concordou:

— Se precisar, você pode falar com a gente, ok?

E Jeongguk sorriu, mas não se sentia satisfeito ainda. Por isso, voltou a se explicar:

— Eu sinto muito por não conseguir falar. — encolheu os ombros, suspirando. — Sei que vocês sempre foram compreensivos quanto a isso, apesar de tudo, mas eu tô tentando me abrir mais. Eu até... Bom... Eu tô pensando em procurar um profissional.

— De que tipo?

Voltou a olhar seus amigos, respondendo:

— Um psicólogo.

Esperou algum tipo de reação, mas não sabia ao certo o que queria receber deles. Ambos apenas se olharam e Namjoon pareceu confuso o suficiente para divagar em voz alta.

— Achei que só quem... Bom, gente que tá bem mal vai em psicólogo.

— Nada a ver, hyung! — Hoseok prontamente rebateu. — Se você não se sente bem sobre algo, já é o suficiente pra procurar ajuda.

Jeongguk assentiu inconscientemente.

— E, caras, não me entendam errado, mas conversar com vocês é bom, só que eu queria uma ajuda profissional pra saber como lidar com tudo e, principalmente, saber o que tem de errado. — viu ambos concordarem, se sentindo aliviado. Não se perdoaria se acabasse falando algo que pudesse ser interpretado de forma errônea. — Não gosto de ser tão fechado, tão inseguro... Tão ansioso. Então, se tiver alguma coisa fora do lugar, vou me cuidar e vai dar tudo certo.

— Claro que nós entendemos. — Hoseok sorriu, erguendo a mão em punho fechado para Jeon bater ali, num toque de amigos.

— E apoiamos. — Namjoon completou. — Estou feliz que você tomou essa decisão, cara. As coisas vão ficar bem, tá certo?

Jeongguk cochichou "certo", sentindo os olhos enchendo de lágrimas como sempre. Começava a acreditar que se tornava mais sentimental a cada dia que se passava.

E, enquanto aproveitavam-se daquele momento entre amigos, conhecendo o novo cantinho de Jeongguk, sentindo os corações aliviados pelo amigo tatuado finalmente estar bem, nada poderia atingi-los. Eles eram algo entre infinito e eterno.

— Parece que estamos naquele filme, — Hoseok comentou logo após beber outro gole de cerveja, rindo sozinho. — As Vantagens de Ser Invisível.

Jeon arqueou a sobrancelha, perguntando:

— Então... Somos infinitos?

— É. — Namjoon respondeu. — E todos os nossos problemas são um infinitesimal.

— Quê?

— Segundo um cara chamado John Kirkby, um infinitesimal é aquilo que é infinitamente menor que qualquer quantidade possível. — deu de ombros, como se fosse uma curiosidade óbvia que todo mundo deveria saber. — É como uma gota de água comparada a toda a água existente no globo terrestre, ou um instante de tempo comparado com um milhão de anos luz.

Os mais novos assentiram como se fosse óbvio de que sim, quando estavam juntos, seus problemas eram menores do que qualquer coisa no mundo.

Porque eles eram os irmãos mais velhos que Jeongguk sempre sonhou em ter, eram a família que entendia Hoseok e os rapazes que não só compreendiam Namjoon como o ajudavam a compreender a si mesmo.

Eram tudo o que amigos e família poderiam ser juntos.

E, talvez por isso, Jungkook não sentia medo algum de se expressar, com frases e pensamentos soltos que poderiam não fazer o mínimo sentido para alguém que não fosse ele mesmo ou... Park Jimin.

— Se nós somos tipo o infinito, então eu sou como aquele astronauta que diz: "Eu só quero ir para casa" — ergueu o olhar para o céu, o universo sendo refletido dos seus olhos para a vastidão. — "Então, venha para casa" o controle terrestre responde. — ele sorri, um sorriso de quem consegue ouvir o próprio pensamento em voz alta, como se seus pensamentos estivessem nas estrelas e elas soubessem exatamente o que responder. — "Então, venha para casa" a voz das estrelas responde.

Namjoon o fitava em silêncio, Hoseok também.

— Eu só não sei para qual casa eu quero ir. — concluiu. — Pelo menos ainda.

E ele apenas se surpreendeu quando ouviu a voz de Jung:

— Casa é onde você tá, cara. Casa é aqui. — Hoseok respondeu, olhando ao redor. Então se levantou e se aproximou de Jeongguk, tocando o peitoral esquerdo do amigo com a ponta do dedo indicador. — Casa é aqui.

Sorriu, rindo de forma soprada enquanto tentava afastar a vontade forte de chorar.

— Se você é uma boa pessoa, então você é a casa de alguém. — o Kim também se ergueu, afagando os fios castanhos e levemente compridos. — E você é a nossa.

Talvez não fosse forte o suficiente para evitar de chorar, mas não se importava naquele momento. Por isso, apenas questionou:

— Então vocês acham que eu sou uma boa pessoa, lá no fundo?

— Esse é o ponto. — Namjoon respondeu. — Eu já não acredito mais em 'lá no fundo'. Eu meio que penso que você é apenas as coisas que você faz e o porquê de fazer.

Então eu sou uma má pessoa. Jeongguk pensou.

— Então, é, eu acho que você é uma boa pessoa. — Namjoon concluiu, surpreendendo-o.

Hoseok os puxou para um abraço, batendo de leve a garrafa de cerveja contra o batente da varanda enquanto eles riam e suspiravam devido ao choro preso no fim da garganta.

— É diferente. — Jeongguk disse, com o rosto enfiado entre os corpos dos seus melhores amigos. — Eu sinto que atrapalho, sabe? Nem vocês, nem minha família, nem ninguém é obrigado a me cuidar e tolerar. Eu sei que passei tempo demais me retraindo, mas é tão difícil colocar pra fora coisas que estão tão presas dentro de mim, sabe? — Hoseok se afastou e eles foram desfazendo o abraço lentamente, fitando o rosto vermelho do mais novo entre eles. — Parece que é mais fácil sufocar com tudo aquilo lá dentro do que falar, de vez. E eu sei que isso causou muita merda entre nós, mas eu simplesmente não consigo e...

— Ei, relaxe! — Namjoon apertou as mãos nos ombros dele. — Você precisa respirar fundo, cara.

— Eu só não quero mais brigas, caras. — ele sussurrou, suspirando novamente. — Não aguento isso. Não aguento magoar vocês.

— Você não magoa, ok? — o de fios roxos, Kim, pediu. — Nunca.

E o tatuado poderia até mesmo soar como um disco quebrado, que repetia várias e várias vezes as mesmas frases, assuntos e inseguranças; mas seus amigos não se importavam. Sabia que, se Jeongguk precisava repetir seus pensamentos em voz alta, era porque eles se mantinham em sua mente durante todo o tempo. Porque para ele que possuía ansiedade e outros transtornos ainda desconhecidos, era óbvio que ninguém gostaria de estar por perto de um renegado que se fechava para o mundo.

Porém, quem o conhecia sabia que ele precisava de cuidados, atenção e alguém lhe dizendo no pé do ouvido o quão interessante, bom e incrível era.

E a resposta de todos os riscos no seu disco vinham do passado, de quando morava com sua família e era sempre diminuído, deixado de lado e visto como algo não importante. Era óbvio que acabaria levando para si, o que mais poderia acontecer?

Jeongguk cresceu com a ideia de que era uma pedra grande no caminho de todos que entravam em sua vida e isso dificultava até para si mesmo entender quem era no universo e o que significava para o mundo.

Então, mais uma vez, ele era aquele astronauta perdido no universo. E enquanto o controle terrestre estava cansado de ouvi-lo reclamar sobre a vida, as estrelas diziam: Jeongguk era tudo, menos vítima do universo.

...

De tudo o que assustava e desestruturava Jimin, ver Taehyung chateado estava entre as situações principais.

As mãos grandes de seu melhor amigo seguravam o rosto calmo entre os dedos, os olhos tão bonitos caídos sobre a vista que possuíam da cidade movimentada e gelada naquele fim de tarde. Kim evitava olhar para o amigo porque sabia que Park o leria com a facilidade que uma criança não só lê como também se apaixonada pelo Pequeno Príncipe.

E, naquele instante, Jimin era a raposa que o observava, decifrava, lia com toda a facilidade do mundo.

Na manhã seguinte ao que Jimin voltou do apartamento de Jeongguk, ele e seu melhor amigo saíram para uma reunião de vendas de quadro. Um empresário havia visto o trabalho de Taehyung na internet e se interessou, então Park ajudaria o mais novo a levar algumas das telas para que, talvez, conseguissem efetuar a primeira venda daquele mês.

Desde que Kim iniciou-se no ramo, o loiro descobriu que o mercado da arte não era tão incrível quando parecia nos filmes, museus e na própria Internet. Vender uma tela por um preço justo era difícil, porque até mesmo quem apreciava arte parecia desprezá-la. Como poderiam nadar contra a maré se até mesmo quem deveria ajudar estava apenas dificultando?

Então, Jimin ajudou o amigo a levar tudo, mas desceu para esperá-lo no carro. Era um momento íntimo entre ele e seus clientes, a obra em si e tudo o que cada pincelada significava para ele. Era quase como um ritual e Park sabia que exigia certa privacidade.

Contudo, quando o artista saiu do grande escritório carregando todos os seus quadros enrolados em plástico bolha embaixo dos braços, Jimin pensou que talvez tivesse de ter ficado. Até porque simplesmente não suportava ver seu melhor amigo daquele jeito, com aquela feição. Amuado e tão triste.

Jimin sentiu-se mal porque sabia que a ligação no dia em que estava na casa de Jeongguk era sobre isso. Sentia que seu melhor amigo desabafaria sobre suas inseguranças da reunião e pediria para ir e ficar consigo porque Taehyung odiava lidar com clientes com um potencial destrutivo sozinho. Odiava estar tão exposto à alguém que provavelmente não se importava consigo ou com a história por trás de cada quadro que pintava. Odiava vender sua arte, mas precisava. Era questão de sobrevivência e uma validação do que fazia.

Então, o loiro entendeu que havia pisado na bola. Tinha de ter atendido o telefone no dia anterior, tinha de procurar saber o que seu melhor amigo queria ou precisava.

Mas, de qualquer modo, o mais alto já estava chateado. O que lhe restava era tentar confortá-lo.

Esquentou a água e serviu dois chás, indo até a varanda para sentar-se ao lado do mais novo antes de tocar a coxa dele de forma carinhosa, como se perguntasse se ele estava confortável com sua presença.

— Desculpa a demora, eu estava no telefone com o Jeongguk... — se justificou porque sentia que precisava, não porque Taehyung o pediu por isso. — Quer me contar o que aconteceu?

Neste instante, os olhos bem desenhados dele foram de encontro com a figura de Jimin, logo tomando rumo ao horizonte. Taehyung suspirou, apertando a xícara entre os dedos longos para finalmente dizer:

— Eu... Eu não sei. — os ombros tensos relaxaram por alguns segundos. — Quando decidi desistir da vida de modelo e voltar para o nosso país, eu tinha confiança de que ser pintor era meu destino. Mas... E se não for? — encarou Jimin, um semblante que beirava ao desespero interno. Os olhos tão bonitos estavam tão tristes. — E se eu não for bom nisso?

Park entendia aquele tipo de medo e insegurança, mas não entendia o porquê de Taehyung, logo ele, estar sentindo aquilo. Era, de longe, a pessoa mais confiante e talentosa que conhecia! Ele não merecia sentir algo tão medíocre.

— Tae, escuta o que você tá falando. — pediu, virando seu corpo na direção de seu melhor amigo. — Desde quando a opinião de alguém interfere no que você pensa do seu próprio trabalho? Você ama pintar!

— Eu... É difícil. — foi tudo o que Taehyung respondeu durante alguns longos segundos. Estava nítido que era dificílimo. — Meus quadros são uma extensão de quem eu sou, do que eu quero ser. Ouvir o que ele disse sobre isso foi... Difícil. Eu me sinto vulnerável, sabe? Sei que isso de estar exposto faz parte do meu ramo, mas nunca vou me acostumar.

Se recordava de uma das vezes em que acompanhou Taehyung até o encontro com um casal de clientes. Era quase palpável o desconforto e indeliberação que transparecia no rosto de seu melhor amigo; o jeito como evitava analisar os rostos que encaravam e julgavam seu trabalho com tanta falta de empatia ou real interesse. Isto é, sabia que quem comprava gostava do que via, mas será que realmente viam o que o Kim queria mostrar?

Gostar por gostar era fácil, mas gostar pelo o quê a obra passava, gostar pela história por trás de cada traço, gostar porque era um pedacinho do artista que estava ali, naquela tela não mais em branco; isso sim era importante para eles, era diferente. Era isso o que realmente valia e, bem, dinheiro nenhum no mundo substituiria esse tipo de sentimento.

Pois será que, ao contar a história por trás de cada quadro, os clientes enxergassem além das pinceladas, cores e formas? Era o que assombrava Taehyung todas as noites.

Era o que o assombrava naquele momento.

— O que ele disse? — Jimin perguntou, tão baixo que se o outro estivesse um pouquinho mais afastado seria impossível que escutasse.

Os olhares se encontraram antes de o pintor responder:

— Que meu traço é infantil e cru. — doía no loiro ouvir aquilo. Sabia que era o tipo de coisa que abalava seu melhor amigo no ímpeto. — Como se eu precisasse melhorá-lo ao extremo, entende? Tipo, eu sei que preciso melhorar, sempre é bom estar melhorando, mas ele disse que pelas fotos não parece tão imaturo e confuso... Que ele ficou desapontado com a qualidade num todo.

Era como se o cliente apenas quisesse matar o lado artístico de Taehyung com aquelas palavras. Jimin conseguia entender o porquê de ele estar tão chateado.

— Ele não sabe o que diz. — disse automaticamente, mas sabia que não deixaria o outro mais calmo depois daquelas palavras tão comuns. Então virou mais seu corpo na direção do outro, chamando a atenção do mais novo. — Taehyung, olhe pra mim. — pediu, tocando novamente na coxa do amigo para que ele o fitasse. — De todos os quadros que eu já vi, de toda a arte que existe no mundo, posso te certificar de que a sua é única e extraordinária. — ele sorriu, mas não parecia convencido. — É... É como um céu noturno. Alguns enxergam as estrelas mais brilhantes, outros enxergam astros além destes e poucos, mas os mais interessados, enxergam tudo. Toda a luz que existe ali. E eu vejo, amigo, cada filete de luz e paixão que você coloca nos seus quadros. Então eu posso te dizer: não é ruim. Longe disso. É perfeito.

Os olhos se encheram de lágrimas e o mais alto suspirou, choroso.

— Você acha? — a voz embargada fez com que ambos sorrissem.

Jimin imediatamente assentiu.

— Eu tenho certeza.

O mais novo estendeu a mão comprida, fazendo Park colocar a palma menor por cima, entrelaçando os dedos enquanto faziam carinho na pele um do outro. Não suportava ver seu melhor amigo tão triste com algo que era tão, tão importante para ele.

Sentia vontade de secar as lágrimas silenciosas que caíam pelo rosto dele, queria poder ir até a casa dos tais clientes e fazê-los escutarem durante horas os diversos motivos que faziam a arte de Taehyung ser tão única e surreal. Queria fazer tanto por ele, Jimin queria dar o mundo a ele.

Se pudesse, Jimin daria Vênus para Júpiter. Assim, facilmente.

— Você não precisa ter medo de pintar, se você gosta. E você ama. — sorriu, vendo-o sorrir também. Apertou as mãos unidas e voltou a falar: — Se não faz o estilo de arte que ele gosta, uma pena. Mas isso não é regra, ok?

Taehyung assentiu, rindo de forma soprada.

— Ok... Mas espero que escute suas próprias palavras.

O loiro o fitou com as sobrancelhas franzidas, sorrindo enquanto fazia uma careta confusa.

— O que quer dizer com isso?

— Sabe, sobre sua profissão. — Taehyung deu de ombros, coçando o queixo timidamente. — Sei que seus pais não te apoiam tanto quanto deveriam, mas eu apoio. Você também é único no que faz, hyung. Nunca se esqueça.

Então Jimin sentiu os olhos marejados e quase riu, apertando os dedinhos nos dele antes de se aproximar o suficiente para que encostasse a cabeça no ombro largo. Então ergueu os olhos para Taehyung, uma lágrima escorrendo pela bochecha até pingar contra o moletom que usava.

Esperou que fizessem contato visual e sussurrou, como um segredo que nem mesmo o universo estava permitido de ouvir.

— Ninguém faz isso como você faz. Ninguém faz isso como eu faço.

Taehyung assentiu, respondendo:

— Ninguém faz isso como eu, ninguém faz isso como você.

E eles permaneceram em silêncio, observando a noite estrelada enquanto as respirações levemente agitadas se acalmavam de forma gradativa. Era tão bom estarem juntos, um sentimento confortável pairava pelo ar mesmo que estivessem daquela maneira: em silêncio.

Na realidade, era praticamente impossível se sentirem desconfortáveis na presença um do outro, até porque faziam a maioria das coisas juntos, além de morarem no mesmo apartamento há um bom tempo.

Mesmo que pudessem se desentender sobre opiniões e situações, ainda eram melhores amigos e estavam ali para se cuidarem. Eram diferentes, sim, muito, mas era exatamente isso que fazia com que funcionassem tão bem.

Eram como uma pintura à óleo e aquarela. Mesmo que, em uma primeira análise, tivesse tudo para não funcionar, lá estavam eles. Lá estava a obra de arte que chamavam de amizade.

— Vamos jogar esse medo fora? — Jimin perguntou, vendo o olhar confuso do melhor amigo. — Posso jogar o meu também.

O mais alto deu de ombros.

— Só não sei como. — Jimin concluiu.

Taehyung olhou ao redor, pensativo antes de dizer:

— Que tal... Escrever e queimar? — Taehyung sorriu, animado com a própria ideia.

— Sempre quis queimar coisas, tipo nos filmes. Tenho medos suficientes para participar das gravações de Fahrenheit 451, — Jimin comentou e o outro riu, então revirou os olhos em resposta à risada de Taehyung. — O quê? Eu escreveria livros e livros de puro medo.

O mais novo riu, ajeitando os fios atrás das orelhas e suspirando, porque achava Jimin incrivelmente bobo apenas porque ele não conseguia ver o quão incrível era. Medroso não cabia em sua lista de adjetivos para Park Jimin.

— Você fala assim, mas é uma das pessoas mais corajosas que eu conheço. — bateu no joelho alheio com seu próprio, querendo irritá-lo.

Mas Park estava mais focado na conversa, ignorando o contato. Ele perguntou, meio surpreso:

— De onde tirou isso?

— Oras, hyung, — o sorriso quadrado se abriu e Taehyung pôs-se a coçar a nuca, fitando o céu antes de deixar o olhar cair sobre o de seu melhor amigo. — você simplesmente procura pela sua alma gêmea desde sempre. Isso, pra mim, exige coragem. Se apaixonar é meio assustador, querendo ou não.

Jimin pressionou as mãos unidas entre as coxas fechadas, rindo de leve enquanto encolhia os ombros, envergonhado. Querendo ou não, ficava envergonhado quando recebia elogios, principalmente os que partiam de seu melhor amigo que admirava tanto.

— É como diz o Pequeno Príncipe, Tae: a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar. — disse baixinho, desviando o olhar para o chão antes de continuar falando. — Eu me abri à possibilidade de ser cativado, de me apaixonar, então eu sempre achei estar preparado.

Nesse instante, Uju apareceu caminhando lentamente entre as pernas de seu dono, esfregando-se no tecido da calça vermelha de Taehyung que, por sua vez, respondeu:

— A gente nunca tá preparado pra nada quando se trata de amor.

Jimin apenas sorriu, confidente consigo mesmo.

— Sim. É verdade. Mas acho que vale a pena.

Ambos trocaram um novo olhar significativo, carinhoso e atencioso. Um olhar que transbordava o amor que sentiam um pelo outro, faltava pouco para não acabarem se debulhando além das lágrimas.

— Obrigado, Chim. — esticou o braço e abraçou o pescoço do amigo, Jimin sempre alcançava o sucesso quando se tratava de acalmar Taehyung. — Vou buscar os papéis, ok?

Assentiu, erguendo-se para ir atrás de algum lugar onde pudessem queimar seus medos sem maiores riscos.

Achou um balde e riu sozinho ao pegar o isqueiro esquecido de Jeongguk em seu quarto, levando tudo para a varanda novamente. Sentou-se e esperou seu amigo voltar, sentindo que deveria se desculpar, afinal, queria ter cuidado dele desde antes. Na verdade, queria ter ido com Taehyung até a reunião com o cliente e gritar com o homem que claramente não entendia nada de expressão e arte por completo.

— Desculpe não ter entrado com você. Eu não sabia... — Jimin tentou justificar outra vez, doía dentro de si a ideia de não ter cuidado de seu melhor amigo.

— Não tem problema. — mas Taehyung realmente não o culpava. Jimin tinha sua própria vida e preocupações. — Esquece isso.

Rasgaram folhas do caderno antigo em mãos e escreviam com canetas coloridas. O isqueiro preto com desenhos feitos de caneta permanente branca estava apoiado na coxa direita de Jimin enquanto Uju balançava o balde, curioso.

Escreviam em silêncio, vez ou outra olhando para o céu atrás de medos que estivessem mais inconscientes do que esperavam. Se era para queimar seus medos, então que queimassem todos. Cada um deles.

— Tudo vai dar certo. — Jimin disse, ajeitando as folhas em seu colo à medida que Taehyung se posicionava perto do balde com o isqueiro em mãos. — Não só sobre o cliente, mas sobre tudo, mesmo. Digo, sinto que tô me encontrando, então... Tudo vai ficar bem. Para nós dois.

Taehyung negou, sorrindo. Jimin, que olhava para a folha pegando fogo aos poucos e perdendo o tom amarelado para receber um preto chamuscado, o fitou, questionando:

— O que foi?

Jogou a folha que estava quase toda queimada dentro do balde, vendo a chama pequena diminuindo até que não sobrasse nada além de cinzas e medos insignificantes.

— Sabe, eu acho que a expressão 'se encontrar' é muito errada. — fitou seu melhor amigo, entregando o isqueiro para ele. — Eu li uma vez que não é como isso funciona, não é como se você fosse uma nota de mil wons esquecida no bolso da calça jeans. Mas, tipo, você também não tá perdido. Seu verdadeiro eu tá bem aí, assustado e escondido debaixo de condições culturais, medos não queimados, opiniões alheias e histórias que você inventou enquanto desenhava quando era criança, que acabaram se tornando suas crenças sobre quem você é e o que você representa no mundo. — deu de ombros, assistindo o papel na mão pequena de Jimin começar a pegar fogo. — Rupi Kaur, a autora do texto maravilhoso que eu li, disse que 'se encontrar' é, na verdade, voltar para si mesmo. É como passar umas férias em outra cidade. Uma viagem, uma memória e um lembrete de quem você era antes do universo colocar as mãos em você.

Park jogou a folha no balde, sentindo o rosto esquentar um pouco devido ao calor que emanava. Taehyung se apressou em queimar sua próxima folha.

— Então... Eu estou voltando? — questionou ao mais alto.

— Sim, hyung. Voltando para casa. — ele sorriu, fitando Jimin.

Não conteve-se em sorrir, sem saber se os olhos lacrimejavam pelo papel queimando ou de emoção.

— Acho que você é a minha casa.

E eles riram, como se os medos não fossem importantes o suficiente para atrapalharem um momento que consideravam terno e tão carinhoso. Porque, quando estavam juntos, tudo ainda era assustador, mas era engraçado, também.

Então, Taehyung bateu de leve no peito, abrindo os braços antes de falar:

— Se você tá procurando pela sua casa, Chim, sou eu.

E Jimin riu porque, sim, era ele. Sempre seria ele.

Naquela noite, o céu pareceu alinhar-se com os amigos que trocavam inseguranças, medos e segredos. Era como tudo parecia funcionar: o universo seguindo o rumo que os pequenos planetas humanóides davam para as coisas. Mesmo que fosse confuso, mesmo que não parecesse fazer sentido; fazia.

Por isso Vênus e Júpiter brilhavam na abóbada celeste, juntos.

Pareciam apenas dois pontinhos brilhantes próximos demais, mais intensos que as estrelas, mais coloridos que os aviões, mais conectados que os satélites.

Jimin não entendeu enquanto revezava o olhar entre o infinito e as folhas de papel pegando fogo. Taehyung não se importou à medida que estava ali, queimando suas inseguranças ao lado de seu melhor amigo, de seu porto-seguro, de Vênus.

Nenhum dos dois parecia entender o que o universo tentava dizer, porque mesmo que estivessem tão próximos, eles não enxergavam o significado de tudo aquilo. Pois os planetas brilhavam no céu e eles brilhavam ali. Juntos.

Vênus e Júpiter, desde sempre, para sempre.

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