A Maldição da Lua.

By JUNIOReLIANE

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Amélia Johansson Stohl, é apenas mais uma adolescente norte-americana comum, bem, isso é o que todos pensam... More

Primeiro capítulo
Segundo capítulo
Terceiro Capítulo
Quarto capítulo
Quinto capítulo
Sexto capítulo. - Voltando para Terra.
Sétimo capitulo. - Perdi minha avó.
Oitavo capitulo. - Eles também não!
Nono capítulo. - A minha morte.
Décimo capítulo. - Voltando a Cher Airns.
Décimo primeiro capítulo. - Desconfiança.
Décimo segundo capítulo. - Controle.
Décimo terceiro capítulo.-De novo.
Décimo quarto capítulo-O Resgate.
Décimo quinto capítulo.-O Resgate.-Part. 2
Décimo sexto capítulo.-Enfermagem.
Décimo sétimo capítulo.-A lenda da Maldição
Décimo oitavo capítulo. - Ele tem namorada!
Décimo nono Capítulo. - A aldeia.
Vigésimo capítulo.-A Bebedeira.
Encontro com Claus.
Vigésimo segundo capítulo. - Visão.
Vigésimo terceiro capítulo. - Eu matei ela!
Vigésimo quarto capítulo. - Briga de galinha?
Vigésimo quinto capítulo.-Lembranças.
Vigésimo sexto capítulo.
Vigésimo sétimo capítulo. - A Morte.
Vigésimo oitavo capítulo. - Você quer brincar?
Trigésimo capítulo. - Contagem regressiva.
Trigésimo primeiro capítulo.
Trigésimo segundo capítulo.
Trigésimo terceiro capitulo
Trigésimo quarto capítulo
Trigésimo Quinto Capítulo
Trigésimo Sexto Capitulo
Trigésimo sétimo capítulo
Trigésimo Oitavo Capitulo
Trigésimo nono capítulo
Quadragésimo capitulo
Quadragésimo primeiro capítulo
Quadragésimo segundo capítulo
Quadragésimo terceiro capítulo
Quadragésimo quarto capitulo

Vigésimo nono capítulo. - Duelo.

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By JUNIOReLIANE

Quando finalmente consegui sair daquele pesadelo me encontrei ainda sentada ao lado de Joe no chão.

"Você dormiu..." - murmurou ele sorrindo.

Se ele achava que eu apenas dormi, tudo bem, que continuasse achando isso. Sorte minha não ter gritado ou agido como uma louca durante a ilusão dessa vez.

"É, e acho que fui atropelada por um ônibus enquanto dormia" - me espreguicei e todos meus músculos ainda estavam doendo, Claus me deu uma bela surra.

Quando me levantei tive de me apoiar em Joe pois poderia cair a qualquer momento.

"Preciso de um banho" - murmurei.

"Quer ajuda?"

O encarei por algum tempo. Sério, ele havia realmente perguntado aquilo?

"Acho que ainda sei me lavar sozinha."

Pude vê-lo corar de vergonha, mas logo voltou ao normal, aliás era do Joe que estávamos falando.

"Só queria ajudar..." - disse e ergueu as mãos como quem se rende.

Joe sempre leva tudo na brincadeira, pra ele o mundo é um enorme parque de diversão. Ele me acompanhou até o quarto calado, ele só falou algo quando ouviu meu estômago reclamar de fome.

"Vou procurar algo para comermos."

"Eu adoraria uma pizza."

"Com calabresa e queijo? Vou ver se encontro."

Ele saiu me deixando sozinha no amplo quarto que dividia com Lara. Fiquei parada na porta por algum tempo analisando o ambiente. Depois fui lavar meu corpo nú.

*****

Quando sai do banho encontrei Joe sentado na cama de Lara com uma bandeja daquelas frutas estranhas que parece ser o único tipo de comida que tem nesse lugar.

"Eu disse que queria pizza" - choraminguei.

"Isso aqui é melhor que pizza, acredite" - disse ele mastigando uma fruta vermelha como sangue no formato de um pequeno abacaxi. Cada coisa....

Me sentei ao seu lado na cama, e peguei uma das magníficas frutas na bandeja. Ela tinha o formato de uma bola e era azul.

"Você não vai gostar dessa" - ele pegou a fruta de minha mão e me ofereceu uma outra com o mesmo formato só que na cor roxa com algumas pontas preta, sei lá. Parecia podre.

"Essa não parece ser melhor, não" - fiz cada de nojo e Joe riu.

"Não se importe com a cor, o sabor é ótimo."

Encarei a fruta por algum tempo antes de pegá-la, não parecia ser uma boa ideia comê-la, mas meu estômago não parava de reclamar.

"Acredite em mim, você vai gostar."

O encarei por um segundo, levei a fruta na minha mão e finalmente a levei na boca e dei uma enorme mordida. Era um sabor doce, muito doce, mas bom.

"Caramba..."

"Eu disse que você iria gostar."

Dei mais uma mordida e outra, e outra, e outra e logo acabei com a fruta. Meu desejo era de pegar outra e devorá-la como uma fera, mas apenas uma já foi o suficiente para me saciar e calar meu estômago reclamão.

Limpei as mãos na colcha da cama e vi uma pequena caixa ao lado bandeja. Depois de algum tempo a observando me lembrei de já tê-la visto uma vez. Era a caixa que foi entregue a Lara quando o palácio foi invadido a mêses atrás.

"Onde você encontrou isso?" - perguntei pegando a caixa.

Joe Largou a fruta parecida com um abacaxi que estava comendo e me encarou, depois analisou a caixa em meu colo.

"Estava debaixo do travesseiro, Lara nunca foi muito boa em esconder objetos."

"O que tem dentro, você olhou?"

Ele voltou a comer sua fruta e pareceu ignorar minha presença por um segundo.

"Não sei, não tem como abrir."

Agora sei porque Lara nunca mais falou na caixa, ela não conseguiu abrir e preferiu deixar guardada.

Minha curiosidade estava do tamanho do mundo, eu tinha que tentar abrir a caixa, mas foi impossível. A caixa parecia estar sobre algum tipo de magia, ou usaram alguma super cola quando a colaram. Desisto!

"O que você acha de uma caminhada?" - pergunto a Joe enquanto guardo a caixa debaixo do travesseiro de Lara.

"O que você acha de um duelo?"

A última vez que participei de um duelo foi na primeira vez que participei de um duelo, então não tenho muito o que falar sobre eles.

"Ainda tem isso?"

"Dia sim, dia não. Hoje é dia do sim."

"Nem me lembrava mais disso."

"Haa" - soltou enquanto mordia mais um pedaço de sua fruta esquisita.

"Haa, o quê?"

"Haa, Haa. Nada mais."

"Você parece tão... primitivo falando assim" - me levantei da cama e caminhei até a porta.

"Primitivo?" - ele se aproximou.

"Sim, primitivo."

Joe abriu um largo sorriso exibindo seus magníficos dentes brancos.

"Min Joe, você Amy."

Imitei um revólver com os dedos e dei um tiro em minha própria cabeça, depois virei os olhos e continuei caminhando.

"Você que me chamou de primitivo" - ele passou o braço ao redor de meu pescoço e apoiou seu peso em mim quase me fazendo cair.

Tirei seu braço de cima de mim e o empurrei para a parede.

"Você é primitivo. Uma corrida até o salão?"

Ele pareceu pensar, mas já tinha a resposta bem elaborada na ponta da língua.

"Um... dois... três" - tudo bem, talvez ele tivesse a resposta bem elaborada.

Começamos a correr.

*****

Nunca imaginei que esse palácio fosse ser tão grande, eu sabia que era enorme, mas não desse tanto. Fiquei exausta na metade do caminho, minhas pernas pareciam chumbo, então acabei perdendo a corrida.

"Você está fora de forma" - murmurou Joe enquanto limpava o suor de meu rosto com a barra de sua camisa.

Eu merecia uma revanche, fiquei dias trancada em um quarto sem sair nem pra beber água, enquanto ele passava seus dias treinando, treinando e treinando. Injusto. Me encostei na parede para recuperar as energias e esperar meu ritmo cardíaco voltar ao normal.

Ouvi gritos vindo do lado de dentro do salão. Admito que eu tinha medo de entrar lá com toda aquela gente. Esse povo já haviam perdido a esperança em mim a muito tempo, manter-me afastada deles parecia ser a opção mais certa a se fazer.

"Seu namorado deve estar dando um showzinho lá dentro" - ele sorriu triste. Isso mesmo, não era um sorriso alegre, não era o sorriso que surgia no canto dos lábios de Joe. Era um sorriso forçado de quem queria fazer piada com uma situação que não gosta. - "Vamos entrar?"

Assenti e entramos. Tive a ajuda de Joe para conseguir atravessar a multidão que só me esmagava mais e mais para chegar perto dos competidores: Richard e Austin. Era meio difícil adivinhar quem estava ganhando já que os dois estavam cheios de hematomas, cortes e sangue espalhado por todo o corpo. Mesmo assim eles pareciam se divertir com tudo aquilo, acho que era aquele o real motivo do duelo: treino com diversão.

Richard sabia manusear muito bem uma espada, e isso era tudo o que Austin não sabia fazer. Richard sorriu debochado quando Austin teve de segurar a espada com as duas mãos para conseguir dar um golpe certeiro, que o acertou no braço, fazendo mais um enorme corte.

Austin me viu e sorriu, ele balbuciou algo parecido com um: me desculpe, e simplesmente virou um borrão. Quando pisquei Austin já estava atrás de Richard.

Agora entendi o porque do: me desculpe. Ele usou o cabo da espada para golpear a cabeça de Richard que cambaleou atordoado pelo golpe surpresa. Austin não perdeu tempo, usou o momento de distração de Richard a seu favor. Ele deu um soco em Richard que o fez cair de vez ao chão, depois o chutou no estômago.

"Dois" - gritou Austin e a platéia gritou e batucou com os dedos em suas canecas de alumínio.

"Dois? O que ele quis dizer com isso?" - gritei para que Joe conseguisse me ouvir apesar da gritaria que prosseguia.

"Ele conseguiu derrotar Richard duas vezes em uma escala de três, com apenas mais um golpe que derrube Richard, Austin ganha o duelo" - ele gritou de volta.

"Não era um duelo de espadas?"

"O importante é ficar de pé, o que você vai usar não importa."

"Quem você acha que vai ganhar?"

Eu não tinha esperanças de ver Richard ganhar, aliás ele já foi pro chão duas vezes, apesar de ser maior que Austin, Richard não tinha o dom da velocidade como ele.

"Bom, Richard está invicto desde que cheguei a esse planeta, nunca vi nem ouvi ninguém falar que já chegou a perder um duelo só que seja. Mas tenho esperanças no Austin, espero que ele ganhe. Sinto muito Amy, mas seu namorado terá que ser remendado depois dessa" - ele sorriu.

Richard e Joe nunca se deram muito bem mesmo, então o pensamento de Joe sobre Richard não me espanta nenhum pouco.

"Ele não é meu namorado."

Joe permaneceu calado. Eu poderia jurar que Joe estava amaldiçoando Richard mentalmente. Voltei minha concentração para os dois que ainda duelavam, uma hora com as espadas, na outra com as próprias mãos.

Era quase impossível ver os golpes de Austin, ele era realmente muito rápido, mas Richard era mais esperto. Ele se desmaterializava sempre que se via encurralado e se materializada novamente atrás de Austin lhe dando um soco na face. Era possível ver o ódio estampado nos olhos de Austin.

Fiquei com pena de Richard quando Austin começou outra sequência de socos rápidos e impossíveis de se ver, Richard cambaleiou para trás e quase caiu. Mas antes ele se desmaterializou e quando reapareceu deu um chute bem dado no peito de Austin, que revidou com outra sequência de socos e chutes.

"Richard tá apanhando feio" - murmurei para mim mesma.

"Richard sabe o que faz, é o meu melhor guerreiro, sabia disso?" - Perguntou Travor atrás de mim.

"Acho que Austin vai acabar conseguindo ocupar esse cargo."

Encolhi o pescoço, os golpes pareciam poder me acertar.

"Não vai não. Olha."

Me virei e vi Richard de pé e Austin no chão. 'Perdi alguma coisa?' Richard sorria débilmente enquanto apontava a espada para o pescoço de Austin que ao contrário de Richard mantinha uma fissura seria e a mandíbula rígida.

"Ele não é invencível, é?" - sussurrei para Travor e ele soltou uma longa gargalhada.

Que legal, meu namorado é invencível!

'Seu o quê Amy?' - Gritou a parte consciente do meu cérebro, enquanto a inconsciente insistia em dizer que eu estava certa e que deveria assumir logo o que sinto por Richard. Agora até meu cérebro está em conflito...

Richard se vangloriava junto aos outros quando Travor se aproximou e lhe cumprimentou com alguns tapinhas nas costas.

"Esse cara aqui, é o melhor."

Todos gritaram, exceto eu, Joe e Austin. Joe ainda estava do meu lado, mas seus pensamentos estavam longe demais. Austin estava nervoso demais para conseguir sorrir, e eu estava confusa demais para perceber sobre o que falavam.

"Ele é invencível!" - Gritou um cara na multidão e todos gritaram novamente.

"Não, não, ele não é invencível. Existe um. Apenas um homem nessa sala capaz de vencer esse cara aqui!"

Todos ficaram em silêncio, encarando uns aos outros.

"E quem é esse homem?" - gritou agora uma mulher na multidão. E novamente todos gritaram enquanto.

Travor fez um sinal com as mãos para que não continuassem a gritar. Eu não tinha a menor ideia de quem poderia ser o cara capaz de ganhar de Richard, talvez fosse o próprio Travor, ou alguém que eu não conhecesse, o que tornaria minha lista de possibilidades enorme já que conheço menos de dez pessoas em Cher Airns.

"Vocês querem saber quem é?"

"É..." - gritaram todos em uníssono.

Richard continuava a sorrir enquanto olhava fundo em meus olhos. Eu não conseguia nem sorrir. Eu queria correr, o pensamento de ver Richard todo ferrado por ter levado uma surra de alguém me deixava apavorada. Ele parecia tão confiante de si que por um segundo cheguei a pensar que ele o tal homem fosse um fantasma.

"Eu não vou fazer isso, senhor" - disse Richard em um tom baixo e pouco na multidão conseguiram ouvir.

"Você têm de fazer isso" - murmurou Travor e acho que fui a única a escutar pois os outros apenas se entreolharam e nada disseram. - "Não temos muito tempo mais para treinamentos. Ela tem sangue de guerreira na veias, ele só precisa circular."

"Não posso machucá-la, não consigo" - e então o sorriso de Richard se desfez.

Por um breve momento pensei estar tendo uma alucinação ou que os outros haviam sido congelados e estávamos apenas nós ainda em movimento. Mas quando alguém gritou algum tipo de grito de guerra e foi seguido pelos outros comprovei que tudo estava normal.

Os gritos não me deixaram ouvir o que Travor e Richard continuavam a dizer. Pude ouvir apenas quando Travor pediu novamente para que todos se acalmassem e disse quem era o tal homem.

"Amélia Johansson" - anunciou Travor como se eu fosse o presidente dos Estados Unidos e todos se me olharam, até Joe pareceu sair de seu mundo imaginário e me encarou surpreso.

"Hã... o quê?" - perguntei a Travor enquanto ele se aproximava.

"Ele é todo seu" - sussurrou em meu ouvido e me entregou uma espada que não era a minha espada. - "Você consegue."

Claro que eu conseguia Richard não me machucaria, não é? Aí meu Deus estou ferrada! Empunhei a espada, e só então percebi que estava tremendo.

"Sem ressentimentos" - sussurrou Richard em meu ouvido antes de me dar um beijo na testa.

Ele se afastou e sorriu enquanto empunhava sua espada. Respirei fundo e inalei vários odores e cheiro de vinho. Então eu era o tal homem? Como eu que não consigo nem descascar uma laranja sou a única capaz de abater Richard? Devem estar tirando onda com a minha cara, Richard tem quase o dobro do meu tamanho, imagina a força?

"Quando quiser, querida" - disse Richard sorrindo.

Respirei fundo mais uma vez, enquanto sentia meu coração saltando em meu peito. Não sei como, nem porque fiz isso, só sei que antes de atacá-lo com um golpe bem sucedido, eu sorri.

Richard também sorriu depois olhou para a multidão que nos cercava em um círculo apertado. Ele foi tão rápido que nem cheguei a ver seu ataque, quando me dei conta ele já estava pressionando a lâmina da espada em meu pescoço. A multidão gritou.

"Um" - disse Richard enquanto se afastava.

Mesmo depois da lâmina já não estar mais pressionando meu pescoço eu ainda a sentia cortando minha pele. Passei a mão livre no pescoço para me certificar de que não havia nenhum corte, Richard nunca ousaria me cortar, certo? Errado.

Minha vez de atacar, pensei e sorri. Richard fez o mesmo e caminhou em minha direção com passos apressados depois simplesmente desapareceu e se materializou atrás de mim me dando um forte chute nas costas que me fez cair, e novamente a espada dele estava apontada para minha garganta.

"Dois" - murmurou e sorriu, depois estendeu a mão para me ajudar a levantar.

O observei por alguns poucos segundos, agora sei porque ninguém ganha dele, é impossível. Aceitei sua ajuda. Peguei a espada e logo fui puxada para um abraço nojento, sim nojento! Pois Richard estava com o peito nú e totalmente suado. Ele soltou uma leve gargalhada quando viu minha cara de nojo.

Me afastei e segurei firme a espada, isso terá troco. A multidão estava em um silêncio apavorante, eu conseguia ouvir minha próxima respiração. Richard esperou que eu o atacasse dessa vez, foi exatamente o que fiz. Ele tentou me atacar com a espada mas errou, usei esse erro a meu favor. Chutei-lhe as costelas e depois o estômago, não foi um dos chutes mais fortes do mundo, mas foi o suficiente para o fazer se curvar sobre o abdômen me dando uma chance de vencê-lo, coloquei a lâmina da espada em seu pescoço igual ele fez comigo.

"Um" - disse assim que ele ergueu o olhar e me encarou. A multidão gritou, vibrou, chame como quiser chamar.

Olhei para Joe a tempo de o ver assentir com a cabeça, ao lado de Travor que fez o mesmo.

Voltei minha atenção à Richard que ainda sorria e já estava começando a me irritar tanta alegria. Ele passou a mão sobre as costelas e fez cara de dor, depois fez um sinal negativo com a cabeça.

Voltei ao meu lugar e empunhei a espada novamente. Dessa vez Richard me atacou e desviei por reflexo, abaixei quando ele girou a espada na altura do meu pescoço, ele está tentando me decapitar? Defendi com a espada seu próximo golpe que mesmo assim me resultou em um corte no braço esquerdo.

O ataquei mas ele defendeu como se tivesse previsto o meu ataque e então me atacou, mas consegui me defender no último minuto. Depois de tantos golpes e defesas, o tilintar das espadas se tornou música para os meus ouvidos.

Travor continuava no meio da multidão assistindo a tudo, analisando todos os detalhes com cautela. Austin e Joe estavam postados lado a lado como dois postes, sem demonstrar reação alguma.

Richard e eu continuamos daquela mesma forma, um ataca o outro defende. Um passo pra trás e o outro pra frente. Uma dança lenta onde os casais não podem se tocar.

A multidão voltou a gritar a cada golpe. Tropecei um pé no outro e acabei indo de cara no chão, não dei tempo para que Richard usasse meu tombo a seu favor, sai rolando pelo piso como uma bola, logo me coloquei de pé mas voltei rapidamente para o chão com um chute que Richard me deu no estômago. Sim, ele me chutou. Por um momento eu perdi a noção do tempo, tudo perdeu a nitidez.

"Sem ressentimentos, tudo bem?" - perguntou Richard com um tom sarcástico.

Droga. Eu não podia deixá-lo ganhar, não mesmo! Estamos empatados: dois a dois. Um último golpe e eu ganho, só mais um. Esperei que Richard estivesse bem próximo de mim para ativar meu modo de lutadora.

Ele estava a uns dois passos de mim quando me levantei em um salto e sorri, depois simplesmente usei toda a minha força - que não era muita - em um chute bem dado em seu estômago. Ele deu dois passos para trás e quase, quase caiu. Corri em sua direção ainda com o sorriso no rosto, pulei e bati o pé esquerdo em seu peito para pegar impulso para o salto mortal que dei logo em seguida. Não o esperei se recompor, antes de o atacar novamente com a espada que acabou fazendo um enorme corte em seu peito. Parei quando vi o corte.

Richard olhou para o próprio peito. Pude ouvir a gargalhada abafada de Austin antes de Richard tornar a me atacar de surpresa, quando me dei conta sua espada forçava a minha contra meu peito.

De nada adiantava eu fazer força para afastar a espada de meu peito, ele era mil vezes mais forte. Dei um rápido giro me desviando de sua lâmina e parei novamente forçando a lâmina de minha espada contra seu pescoço. Sorri.

"Três" - sussurrei.

A multidão não estava eufórica como pensei que estaria, eles estavam boquiabertos. Eu ainda não havia reparado, mas a lâmina da espada de Richard também era pressionada contra o meu pescoço.

Estávamos próximos, muito próximos. Eu podia sentir a respiração de Richard em minha face. Encarei seus olhos castanhos, depois seu lábios e novamente seus olhos.

"Desiste?" - perguntou ele olhado fundo em meus olhos como se pudesse ver minha alma.

"Você desiste?" - retornei a fitar seus lábios.

"Não, nunca."

Só percebi que ainda estávamos cercados de gente quando Travor começou a aplaudir e todos o acompanhou. Então, lentamente removi minha espada do pescoço de Richard e ele fez o mesmo.

"Com apenas mais um pouco de treinamento você pode, talvez, conseguir roubar me título de invicto" - disse Richard passando um dos braços ao redor de minha cintura.

Travor se aproximou.

"Eu disse que ela era capaz" - murmurou Travor à Richard.

"Deu empate, senhor."

Travor sorriu. - "Olha, você tem o dobro do tamanho dela, o triplo da força e seu treinamento é quatro vezes mais avançado que o dela. E Amy ainda conseguiu empatar contigo, o que nenhum outro homem chegou a conseguir. Para mim, ela ganhou."

"Pra mim, isso foi um empate" - Richard pegou a espada de minha mão e se desmaterializou voltando logo em seguida sem as espadas. - "E você Amy, foi empate ou não?"

Na verdade foi empate. Mas é como Travor disse: Richard tinha muito mais chances de ganhar do que eu, mas não ganhou então...

"É claro que ela ganhou" - gritou Joe sorrindo.

"É, ela ganhou" - agora quem gritou foi Austin. Acho que ele estava ressentido por não ter ganho.

A platéia gritou um: é, bem alto. Abaixei a cabeça enquanto sorria depois encarei Richard.

"Bem... acho que eu ganhei."

Richard me olhou com cara de ofendido depois sorriu e por fim me beijou. Nossa plateia voltou a gritar.

Travor se afastou enquanto murmurava algo parecido com: podem ir se lavar e cuidar desses cortes. Travor fala como se não soubesse que existem ervas-medicinais nesse planeta capazes de nos deixar novinhos em folhas em menos de um minuto.

"Vamos prosseguir com o duelo. Eu quero mais dois desafiantes, alguém se arrisca?" - perguntou Travor a multidão eufórica que gritava por mais.

Me afastei de Richard, não sei de onde ele tira tanto fôlego. Começamos a caminhar em direção a porta de saída do salão de treinamentos. Passei sem olhar para Joe, ainda me lembro do que Lara me disse, apesar de ainda não ter comprovado que Joe realmente gosta de mim, prefiro não encará-lo depois de ter acabado de beijar outro homem.

"Eu vou" - respondeu Joe se aproximando de Travor.

"Joe, certo, alguém mais?" - perguntou novamente Travor se dirigindo a multidão.

"Eu também." - gritou alguém na multidão e me virei para ver com quem Joe iria duelar.

"Fernanda, está certo. Peguem suas armas."

"Eu prefiro usar minhas próprias mãos, senhor" - disse Joe se virando para trás e me encarando. - "Sei usá-las quando quero."

Travor pareceu pensar, acho que ninguém nunca foi estúpido o suficiente para preferir usar as próprias mãos ao invés de uma arma branca. Mas Travor apenas assentiu.

"Tudo bem, e você Fernanda. Prefere usar as mãos também?"

"Prefiro usar minhas katanas"-Responde Fernanda.

"Tudo bem. Podem começar" - Travor se afastou e voltou para o seu lugar na multidão. Que rei mais estranho esse Travor!

********

"Por acaso Joe estava me ameaçando?" - Perguntou Richard rindo enquanto voltávamos a caminhar.

Nada respondi, apenas deixei a pergunta se perder no ar.

A ferida que fiz no peito de Richard estava horrível, a pele em seu redor já estava começando a morrer. Então usei a desculpa de que ele deveria ir visitar Angel para ver Lara, acho que ele entendeu qual o motivo de eu persistir tanto para que ele fosse à enfermaria sabendo que ele poderia dar um jeito no corte com apenas um pouco das ervas-medicinais existentes aqui em Cher Airns.

"Sabia que não era necessário toda essa atuação para ver sua amiga?"

Ele me deu um selinho e me abraçou, um segundo depois já estávamos na enfermaria. Meu coração acelerou quando vi Lara ainda deitada na cama, mas agora sem as feridas, e com uma cor mais... viva.

"Lara..." - me aproximei da maca e analisei de perto sua pele cheia de cicatrizes.

"Deixe-a descansar. Ela precisa, Claus envenenou a faca que Emily usou, por isso foi difícil e doloroso fazer com que essas feridas se fechassem" - disse Angel se levantando de uma cadeira no fundo da enfermaria.

"Ela está bem agora, certo?"

"Sim, mas ela terá de ficar algum tempo de repouso para que os cortes nas voltem a se abrir."

Senti um forte alívio ao ouvir que Lara estava bem. Entendo que ela iria pirar quando visse as cicatrizes em seu corpo, e que eu teria de a aguentar reclamando pelo resto da vida... agora ela estava bem e isso é o que importa.

"O que você quis dizer com doloroso?" - A voz de Richard atrás de mim me tirou de meus pensamentos.

"O cortes eram muito profundos, pro mais que tenhamos remédios capazes de tornar qualquer ferida apenas uma cicatriz, eles são capazes de cicatrizar apenas a primeira e segunda pele, mas o cortes de Lara eram mais profundos, então eu tive de dar alguns pontos e de usar o Salgura."

"Salgura?" - perguntei.

"Um outro tipo de medicamento existente apenas em Cher Airns. Já usei uma dose em você Amy. O Salgura examina o DNA do ser ao qual foi aplicado e o restaura com perfeição. Ele conserta osso fraturado e fecha feridas, assim como cura outras doenças imunológicas. Mas isso dói, dói muito."

Passei a mão nos cabelos louros de Lara. Eu a nem estava mais prestando atenção no que ela dizia, apenas uma coisa se passava por minha cabeça naquele instante: Lara me chamou várias vezes enquanto Emily a cortava em pedacinhos, mas eu estava perdida demais em minhas ilusões para ouvi-la, ajudá-la. E o pior, eu já havia a matado uma vez e agora ela sabia disso. Lara estava tão presa quanto eu em minha mente quando me lembrei do acidente. Ela estava lá e viu tudo tão bem quanto eu, mas eu não pude ouvi-la gritar, me chamando. Lara teria ficado comigo o tempo todo se estivesse em seu lugar, mas eu não, eu estava ocupada demais conversando com a Morte. Nossa, que hilário! A Morte veio conversar comigo quando minha melhor amiga precisava de mim.

Eu já estava com o rosto encharcado de lágrimas. Eu me odeio! Eu estava lá embaixo, me divertindo enquanto Lara estava aqui agonizando de dor enquanto Angel fazia o seu melhor para ajudá-la, eu devia ter me negado quando Angel mandou Joe me tirar daqui. Eu devia ter ficado ao lado dela o tempo todo. Ela sempre esteve do meu.

Minhas lágrimas pingaram no piso. Não acredito que você está tendo uma crise de arrependimento agora Amy! Gritou a parte diabólica do meu cérebro, a parte que mais odeio!

"Amy" - Richard segurou meus braços com cuidado para não tocar na parte onde eu havia me cortado, me virou para ele e me abraçou, encharcando minha camisa branca com o sangue que emanava da ferida que eu fiz em seu peito. Mais um íten para minha lista de arrependimento.

"Ela está bem agora Amy, só está descansando. É sério" - disse Angel massageando meu ombro esquerdo.

Me afastei de Richard, ele tinha que cuidar logo daquela ferida. Me aproximei novamente de Lara e lhe dei um beijo na testa, ela se mexeu um pouco o que já era bom, ela estava realmente consciente, apenas dormia normalmente.

"O que houve com vocês?" - perguntou Angel se referindo aos cortes e hematomas que tínhamos no corpo.

"Duelo" - respondeu Richard enquanto me dava uma piscadela.

"Por acaso você, Richard... Invicto durante tempos, teve de duelar com duzentos homens?" - perguntou Angel enquanto o puxava por uma das mãos até uma prateleira cheia de potes com ervas-medicinais.

"Não, foi apenas um, uma na verdade."

"E quem é essa mulher que conseguiu te deixar nesse estado? Por acaso eu conheço?" - perguntou enquanto pegava um doa potes e tentava abrir.

Não sei muito sobre Angel, mas sei bem que não há um habitante em Cher Airns que ela não conheça.

"Você conhece uma garota chama Amélia Johansson?"

Ela entregou o pote de ervas para que Richard abrisse antes de me lançar um olhar confuso.

"Amy? Como você conseguiu deixar ele nesse estado?"

Me sentei em uma beirada na maca ao lado de Lara. Mesmo não querendo mais, eu ainda chorava e assim que me lembrei de algo que Claus disse meu choro só aumentou. O pai de Lara talvez estivesse do mesmo jeito ou pior preso em alguma das cadeias de Claus e sem ajuda.

Por fim acabei me deitando na cama com cuidado para não tocar em Lara e para não bater nada no corte em meu braço ou em qualquer outra parte machucada de meu corpo. Observei Lara dormindo por um longo tempo, ela parecia estar tão relaxada, seu corpo totalmente entregue àquela maca dura. Enquanto a observava me lembrei de uma velha canção de ninar que a mãe dela cantava para nós duas quando eu dormia em sua casa. Eu poderia cantá-la, se me lembrasse pelo menos de como se começa a letra e se eu não estivesse com tanto sono.

*****

Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi o sorriso no rosto de Richard que provavelmente havia acabado de sair de um banho bem quentinho.

"Bom dia" - disse ele sorrindo enquanto continuava a caminhar comigo nos braços.

"Tem certeza de que é bom dia?" - perguntei encarando seus olhos escuros.

"Não. Já é noite" - ele continuou caminhando lentamente, sem a menor pressa.

"Porque está me carregando?"

"Porque você estava dormindo e eu não queria te acordar."

Ótimo! Como se já não bastasse eu ter o tamanho de uma criança eu tinha de ser tratada como uma também.

"Pode me por no chão agora."

"Não. Eu gosto de te carregar."

"Aonde estamos indo?" - perguntei soltando minhas mãos de seu pescoço para tirar alguns fios de cabelo de meu rosto.

Ele não respondeu, apenas continuou caminhando como se fosse uma tartaruga.

"Porque não nos tele-transporta para o nosso destino?"

"Assim é muito rápido, quero mais tempo com você."

"E por isso tem de andar nessa lerdeza?"

Ele sorriu, depois parou de andar. Me colocou no chão, finalmente.

"Já chegamos reclamona."

Richard abriu a porta de seu quarto e indicou para que eu entrasse. Entrei, e se não fosse por uma única toalha branca que estava jogada sobre a cama, eu poderia dizer que o quarto estava impecável, organização total. Tudo estava perfeitamente organizado em seu lugar.

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