sobre todas as bandas de rock...

By namsahi

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TAEKOOK ⇔ RETRÔ!AU É início dos anos 2000, mas Kim Taehyung está preso em algum ano entre 1970 e 1980. Com... More

aviso + informações
prólogo
QUEEN
ELVIS PRESLEY
CHOPIN E GUNS N' ROSES
BRITNEY SPEARS NÃO É ROCK N' ROLL
JIMI HENDRIX
EU PROMETO OUVIR JANIS JOPLIN
INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DO ROCK I
CONQUISTADOR DE REFERÊNCIAS BARATAS
SINTOMAS DE CATÁSTROFE AO SOM DE LED ZEPPELIN
A MELODIA QUE PREENCHE O BURACO DA MINHA EXISTÊNCIA MEDÍOCRE
EU PREFERIA QUE TUDO FOSSE UM SONHO
A PARTIR DE HOJE EU ODEIO A BLOCKBUSTER
VOU JOGAR FORA TODOS OS DISCOS DE ROCK QUE COMPREI POR VOCÊ
CAINDO NO MAR (E NO AMOR... OU NO ÓDIO?)
PRELÚDIO - QUEEN & LED ZEPPELIN
MONA LISA E TAEHYUNG, DUAS ARTES QUE RESULTAM EM UMA - AMOR
TE GRAVEI ESSE CD
APRESENTANDO AEROSMITH E AS LOUCURAS DE JEONGGUK
AMAR É SER FLEXÍVEL
PINK FLOYD
VOCÊ É ARTE
PARA QUE SERVEM OS MELHORES AMIGOS (MESMO ESQUECIDOS)
TODO MUNDO É BI, E EU AGUENTEI A BRITNEY SPEARS POR VOCÊ
DEZ COISAS QUE EU AMO EM VOCÊ
SPRITE & LE JARDIN FÉÉRIQUE
VOCÊ TINHA QUE TER PUXADO SUA PERSONALIDADE DE ALGUÉM
O PASSADO TEM O MAU HÁBITO DE PERMANECER NO PRESENTE
QUER DANÇAR COMIGO?
QUEM É VIVO SEMPRE APARECE
FELIZ NATAL NA MATRIX
FOGOS DE ARTIFÍCIO E CINZAS
EM COMBUSTÃO
LAR NEM-TÃO-DOCE LAR
O QUE VEM DEPOIS DA MORTE
JÁ DIZIA FLEETWOOD MAC, YOU CAN GO YOUR OWN WAY
VOCÊ NUNCA VAI ENTENDER...
NÃO POSSO FECHAR A PORTA
DEIXE TUDO PARA TRÁS
epílogo
extra: EU NÃO ME ARREPENDO
perguntas e respostas
Livrinho físico!

...O QUANTO ME CUSTOU TUDO ISSO

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By namsahi

[14.12.19]

desculpem pelo sumiço.. mas pelo menos voltei, né?

pra quem não lembra, vou ajudar: a mãe do jeongguk tinha pedido para tomar café com o tae... boa leitura!



OUTUBRO DE DOIS MIL E DOIS

Minhee tomou mais um gole do cappuccino. Já era o segundo que tomava. Esperava por Taehyung há meia hora e agora começava a se convencer de que ele não viria. Se fosse realmente assim, ela terminaria aquele cappuccino e iria embora pesarosa.

Enquanto olhava para a própria bolsa e imaginava a papelada que guardava ali dentro, ela se perdeu pensando no próprio casamento. Estava tão distraída que não percebeu quando a cadeira à frente foi puxada sem ruído e Kim Taehyung se sentou.

— Oi, Sra. Jeon — ele disse e ela se assustou.

— Oh, Taehyung! — a mulher sorriu. — Me chame de Minhee, lembra? Eu fico feliz que você tenha vindo, querido.

— É, eu... — não completou a frase, talvez por não saber como concluí-la. Lembrava que podia chamá-la apenas de Minhee, era isso que devia ter dito. Mas não saberia o que dizer além disso, nem como perguntar o que ela queria de uma forma que não soasse grosseira, então se calou. Pediu um café, e os dois ficaram em silêncio enquanto Minhee o examinava com cuidado. — Então... — Taehyung começou, sem saber o que dizer e, no entanto, desconfortável com o silêncio.

— Você parece bem — ela concluiu subitamente. — Está bem mesmo?

— Estou — ele sacudiu a cabeça de leve. — Um dia de cada vez, é assim que dizem, né?

— É, é assim que dizem — ela sorriu. — Taehyung... eu... eu preciso saber — Minhee disse e ele a encarou, esperando que explicasse o que queria dizer com aquilo. — Eu preciso saber o que aconteceu no dia em que vocês terminaram. Você e o Jeongguk, é claro.

— Saber o quê?

— Por que você fez aquilo. Por que terminou com o Jeongguk?

— Então o Jeongguk não te contou?

— Sabe do que estou falando — ela disse sem desviar o olhar.

Ele olhou ao redor.

— Sra. Jeon...

— Por favor, Taehyung. Por favor. Eu... — ela tirou um envelope da bolsa. — Sabe o que é isso? Eu quero pedir o divórcio. Já havia anos que eu queria, mas só tive coragem agora. Agora, porque eu precisei entender o que ele tinha feito com vocês dois para ver que eu não posso mais fingir que está tudo bem, que eu não tenho que suportar mais nada. Não sou obrigada a isso, a nada disso... E eu quero saber se o que estou pensando é realmente verdade, porque se for... — ela engoliu as palavras, os olhos marejados. — E se não for... então estarei sendo injusta e cheia de um ódio que não existe, embora eu queira o divórcio mesmo se tudo que estou concluindo for mentira. Por favor, Taehyung.

Ele ficou em silêncio antes de questionar:

— Não devia perguntar o que quer saber ao seu marido?

— Se ele fez tudo pelas minhas costas e não me contou, como é que diria na minha frente se eu perguntasse?

— Porque seria verdade e ele seria pego desprevenido. Como mentiria tão bem tão de repente?

— Então é verdade? — Minhee o olhou com dor. — Meu marido te obrigou a se afastar do Jeongguk, Taehyung? Foi isso, não foi?

Ele a encarou por um segundo.

— Ele não me obrigou, não me pagou, só... ele só me disse coisas que me fizeram ver... — as palavras pareciam difíceis de pronunciar. — Que talvez ele estivesse certo. Talvez eu devesse me afastar do Jeongguk e deixá-lo viver seus grandes sonhos. Eu não suportaria viver ao lado do seu filho sabendo que tirei todas as suas grandes chances... o Jeongguk devia ser brilhante, não é? Então eu me afastei...

— Ah, Taehyung... — Minhee estava triste. — Você não devia ter feito isso.

— Eu sei. Mas agora é tarde. Ele nunca vai me perdoar e é até melhor assim.

— Por que acha que é melhor? Você não o ama mais?

— Não! — ele ficou levemente desesperado. Controlou-se, fechando os olhos por um momento. — Não, eu ainda o amo, nunca deixei de amá-lo. É só que talvez ele realmente esteja melhor sem mim.

— Não, não pense isso! — ela balançou a cabeça desesperada. — Taehyung, vocês se amavam tanto! Ainda se amam, eu sei disso, sei que ele ainda te ama tanto quanto você o ama. Não jogue tudo no lixo, não fique preso à uma vida que não deseja, como eu, só porque acha que não merece melhor. Você não merece coisas ruins. Não merece tudo isso que está passando e sofrendo.

— O Jeongguk nunca vai me perdoar.

— Como você sabe? Sempre julgamos conhecer alguém tão bem, mas as pessoas sempre nos surpreendem. E se você nunca tentar... nunca vai saber o que poderia ter sido, o que poderia ter acontecido. E se ele te perdoar, Taehyung?

— E se ele não me perdoar?

— E se ele te perdoar?! — ela refez a pergunta com mais ênfase. — Se ele te perdoar, Taehyung, você está perdendo o amor da sua vida por ter medo de ele te dizer "vai embora". Isso você já teve! Já estão separados! Não quer saber como é tê-lo outra vez, agora... de verdade? Sem ressentimentos, mentiras, culpas ou qualquer outra coisa.

— Eu não conseguiria contar a verdade... ele teria nojo de mim, ódio, raiva. Como eu vou dizer isso a ele? Não é algo que se conta assim... ele vai me dizer que fui covarde.

— Eu não sei. Você está pensando só em coisas ruins e imaginando demais. Não acha que vale a pena tentar, Taehyung?

Ele olhou para o lado e suspirou.

— Estou indo embora do país daqui alguns dias. Vou fazer meu mestrado, Minhee.

Ela suspirou e tirou mais uma coisa da bolsa.

— Venha vê-lo, Taehyung — disse ao entregá-lo uma entrada para o concerto. — Ele se apresentará daqui alguns dias, à noite. Por que não conta tudo a ele?

— Gyeongsangnam-do? — Taehyung franziu a testa. — É uma viagem até lá...

Ele se lembrava que, antes de sua mãe ficar doente, os dois tinham planejado visitar o lugar. Ela queria ver o Templo de Haeinsa. No fim, nunca pudera ver...

— Bom — a voz de Minhee o assustou —, pode ser sua última viagem antes de ir embora. Não acha... que vale a pena tentar?

Taehyung tirou os olhos da entrada do concerto e a observou, mas não disse nada. Quem se pronunciou foi ela, com um sorriso triste e ao mesmo tempo carinhoso:

— Eu sei que você o ama, porque assistiu todas as apresentações dele desde então. Eu te vi. E se tudo que vocês viveram não for amor... então não sei o que é. Sei que parece bobeira de uma mulher velha, mas... se não for amor, então os poetas estavam todos errados, Taehyung. Porque eu tenho certeza de que o que eles chamavam de amor era o que você e meu filho tinham.

Ele abaixou a cabeça.

— Ele vai te perdoar, Taehyung. Tente — Minhee pediu ao encostar em sua mão. — Eu sei que você pode tentar.

Taehyung meneou a cabeça e ela se levantou.

— Eu preciso ir. Te vejo em alguns dias, Tae.

Ela o deixou sozinho no café e dirigiu para casa. Ao chegar, percebeu que Jeongguk não estava. Então adentrou o escritório do marido, furiosa.

— Como você consegue dormir, como consegue conviver consigo mesmo?! — berrou, batendo a porta atrás de si.

Ele ergueu a cabeça, surpreso.

— Do que está falando?

— Por quanto tempo você achou que esconderia isso? Por quanto tempo achou que me faria de imbecil?! Que controlaria a vida do seu próprio filho?! A minha vida!

— Acalme-se, Minhee.

— Assine — ela tirou os papéis da bolsa.

— O que é isso?

Minhee empurrou o envelope contra seu peito e ele o pegou. Abriu-o. Ergueu atônito os olhos de volta para ela ao entender o que era aquilo.

— Minhee, o que—

— Assine — impôs ela com veemência. — Eu já te aguentei por tempo demais quando achava que seria melhor para o Jeongguk, quando achava que precisava pôr todos a cima do meu bem estar, mas agora já chega. Eu não quero mais isso — disse e saiu.


{...}

Taehyung tinha reservado um quarto no hotel mais próximo ao local do concerto — e mais próximo ao hotel em que Jeongguk estava. Minhee havia lhe mandado o nome do hotel em que mãe e filho ficariam, dizendo para fazer sua reserva lá, mas Taehyung teve medo de ficar tão perto, então decidira-se por outro. Ficaria apenas uma noite, voltaria para casa, onde deixara tudo mais ou menos pronto para a viagem, na semana seguinte, e teria alguns dias suficientes para terminar de ajeitar o que ainda precisasse — e para se despedir dos amigos.

Ele tinha se arrumado para o concerto e tinha passado o caminho todo criando coragem para procurar Jeongguk, mas, agora, parado à frente das enormes portas, cinco minutos atrasado, ele não achava que conseguiria.

— Taehyung — a voz o fez erguer a cabeça e se lembrar de que precisava respirar. Minhee sorriu. Ela não disse que estava feliz por ele estar ali ou nada a respeito de Jeongguk. Ela apenas sorriu e com isso ele pôde ver que ela estava feliz. — Vamos entrar, vamos perdê-lo tocando.

Ele assentiu em silêncio e entrou com ela. Sentou-se em um dos bancos ao fundo, com medo de que Jeongguk o visse. Minhee sentou-se nos bancos da frente, em um lugar reservado.

Pablo de Sarasate: Zigeunerweisen, Op.20. Era essa a peça que Jeongguk tocava lá no palco, cercado por outros instrumentistas. Taehyung se lembrava do dia em que ele havia tocado aquilo em casa. Agora a melodia parecia ainda mais bonito, com todos os outros instrumentos e com ainda mais perfeição... Era claro que estava perfeito, Jeongguk tinha se formado e tinha praticado muito mais do que podia quando estavam juntos.

Enquanto envolto em lembranças, dor e felicidade, os segundos se transformavam em minutos sem que Taehyung pudesse relaxar, sentindo-se mais nervoso a cada volta dos ponteiros no relógio. Sentia o peito doer e as pernas tremerem: não sabia se estava pronto para aquilo. Não estava. Não estava! Porque depois que deixara Jeongguk, Taehyung sonhara inúmeras vezes com aquele momento... e não era daquele jeito, definitivamente não acontecia em um recital, tinha sido de tantas outras formas, mas sempre, sempre eram pesadelos. Em sua própria casa, no quarto de Jeongguk, na faculdade, em uma loja de LP, no lugar em que tomaram o primeiro café da manhã juntos, no meio da rua, em um karaokê, em um pequeno barco. Todas as vezes que Taehyung lhe contava a verdade e pedia perdão, dizia que ainda o amava e que nunca mais o queria fora de sua vida... Jeongguk ia embora, furioso, e dizia que nunca o perdoaria. No pior dos pesadelos, empurrava-o para a água, cheio de ódio. Não importava se nem ao menos estivessem naquele barco: a água sempre aparecia e o roqueiro era sempre empurrado para baixo dela, e só não se afogava porque acordava antes, com falta de ar, chorando em desespero.

Todos os dias, Taehyung imaginava que Jeongguk jamais o perdoaria. Então era claro que, agora, ali, a apenas alguns minutos para o final da apresentação, a apenas alguns passos dele, a apenas algumas palavras do fim... ele tremia e temia. Temia pelo olhar frio e pelas palavras ácidas. Não sabia se seu corpo sentia frio ou calor; a pele toda sentia algo esquisito como se ansiasse pelos movimentos das pernas, das mãos, como se suas sensações houvessem sido triplicadas. Queria segurar Jeongguk contra seu peito, e ao pensar em senti-lo depois de tanto tempo, tinha fortes arrepios. O coração batia rápido e ele sabia que só se acalmaria se sentisse o coração de Jeongguk batendo contra o seu. Só queria sentir seu coração bater. Rápido, tão rápido quanto o seu, e então saberia que não era ódio que preenchia Jeongguk por dentro. Queria deslizar o nariz por cada pedaço do pescoço, sentindo seu cheiro, tentando guardá-lo em alguma gaveta dentro da memória, deslizar a ponta dos dedos por cada milímetro da pele quente, causando-lhe ebulição como sabia que sempre fora capaz de causar. Queria ouvir sua voz recitar seu nome como súplica e prece, sentir seus lábios sob os seus, seus olhos atravessando sua alma, suas palavras retumbando dentro de Taehyung com trovões e tempestades. "Eu te perdoo. Eu também te amo". Queria se sentir em casa, queria que Jeongguk o abraçasse, queria que nunca mais o soltasse, que o beijasse por todos os lados, deixando marcas que nunca mais saíssem, porque assim saberia que tinha sido real e que era novamente seu por inteiro, e dessa vez para sempre. Queria sentir a morte súbita e suave de estar com ele e, logo no instante seguinte, a vida preenchendo-o completamente, transbordando por todos os lados.

Taehyung só percebeu quanto tempo havia passado, onde estava e o que tinha de fazer quando os aplausos causaram-lhe um sobressalto, trazendo-o de volta ao presente e ao consciente. Ele não soube o que fazer. Permaneceu sentado por hesitação enquanto os espectadores esvaziavam o local. Seus olhos seguiram Jeongguk por todo o palco até sumir. Ele mal podia sentir que respirava, e só sentiu que prendia a respiração quando Minhee tocou em seu ombro e ele inspirou ofegante. Olhou-a, respirando com dificuldade.

— Ele vai demorar um pouco, mas combinei de encontrá-lo lá fora. Você vem comigo?

Taehyung parecia ter perdido a capacidade de falar. O que ele ia dizer a Jeongguk? O que poderia dizer para se justificar e pedir perdão? Tinha pensado em tantas coisas para dizer, mas tudo agora parecia imbecil e frívolo diante de como Jeongguk poderia desfazê-lo com apenas um olhar e um silêncio que Taehyung desconhecia.

— Vem, querido — Minhee pegou-o pela mão e Taehyung a seguiu por lugares que não sabia quais eram. Saíram e esperaram por Jeongguk no frio da noite. As estrelas distraíram Taehyung por um momento. Cada passo que ouvia era motivo de medo, ele não olhava, mas logo depois podia ver uma silhueta qualquer seguir em frente.

O cheiro do perfume chegou antes do som dos sapatos lustrosos contra o chão. Taehyung fechou os olhos, o coração apertando em apenas poder sentir aquele cheiro outra vez. Os passos eram extremamente lentos, porque Jeongguk já o havia visto de longe.

Ele parou e Minhee fez um sinal para se aproximar, mas o filho não deu nenhum passo à frente. Jeongguk reconheceria aqueles ombros, aquelas costas, aquelas mãos, aquele mullet em qualquer lugar. A primeira sensação foi estranheza. Pensou ser um sonho, depois, um pesadelo. Então sentiu o coração bater rápido e percebeu que não sonhava. Fechou os punhos com força e quis ir embora, entretanto, as pernas não se moveram. O corpo não o obedecia, porque... por quê? Ele começou a sentir a respiração descompassada, e quis correr quando viu o corpo de Taehyung se virar. Não soube se quis correr para longe e nunca olhar para trás, ou em sua direção, a fim de machucá-lo com violência. Também não soube se quis correr e abraçá-lo, só sentir seu calor aquecendo-o, só ouvir sua voz grossa arrepiá-lo por todos os lados. Mas tudo passou rápido, porque quando os olhos de Taehyung encontraram os seus, Jeongguk se lembrou da última vez em que estiveram juntos, naquele dia em que aqueles olhos vazios e cinzas o mandaram embora. Então o ódio fervilhou seu corpo e ele vociferou:

— O que você está fazendo aqui?

Taehyung quis dizer algo, mas não disse. Foi Minhee quem disse:

— Eu te encontro no hotel, Jeongguk — acenou, olhou para Taehyung e meneou a cabeça. "Vá até ele e diga a verdade", era o que dizia seu olhar.

— Não precisa me encontrar lá, eu vou com você — Jeongguk disse rapidamente, os passos apressados e pesados tentando alcançá-la.

Taehyung tocou-lhe a mão com cuidado, a ponta dos dedos lhe roçando a pele tão suave que não deveria ter sido sentido, mas foi sentido. Claro que foi. Foi sentido com a intensidade de um raio, como se Taehyung fosse o próprio Zeus criando relâmpagos em Jeongguk. No entanto, diferente de Zeus, Taehyung não lhe colocava ordem, mas desordem.

Ele se virou, puxando a mão, os olhos agressivos como Taehyung nunca tinha visto:

— Vai embora.

— Me deixe conversar com você — pediu Taehyung, a voz atravessando todo o corpo de Jeongguk e fazendo-o se lembrar de como poderia passar o dia inteiro ouvindo-o sem se cansar.

— Não.

— Por favor. Eu quero te contar uma coisa. Na verdade, muitas coisas. Eu juro que depois vou embora, se ainda quiser que eu vá.

Jeongguk riu com sarcasmo:

— Ah! Jura? Você jura? Assim como você me jurou todas aquelas outras coisas?

Taehyung não respondeu. Não soube como. Abaixou o olhar para os sapatos de Jeongguk. Pensou em desistir. Nada do que dissesse mudaria algo... mas Jeongguk merecia saber a verdade, não é? Ao erguer a cabeça novamente, percebeu que o outro o encarava com raiva, as sobrancelhas franzidas.

Minhee se afastou e Jeongguk não soube se ela fora rápida demais ou se ele próprio fosse quem se demorava, incapaz de se mexer ou de falar qualquer coisa.

Taehyung deu um passo à frente. O estacionamento estava gelado e as respirações saíam como fumaça por suas bocas. Em uma nostalgia nauseante, Jeongguk podia ver aquela fumaça como a do cigarro que envolvia Taehyung no dia em que terminaram. Deu um passo atrás, carregado de mágoa, esquivando-se, mas impossibilitado de realmente se afastar e ir embora. O que Taehyung tinha para falar agora, tanto tempo depois? E por que infernos cada detalhe dele continuava exatamente como se lembrava?

— Agora vai ficar quieto? O que você quer? Fale logo — mandou.

Taehyung hesitou. Jeongguk pôde ver e aquilo o irritou, sobretudo pelo que ouviu em seguida:

— Você está bem?

— Se estou bem? — franziu a testa. — Veio me perguntar se estou bem? Por quê? Estou melhor do que você esperava? Ou pior?

— Não... eu... só quis muito que você estivesse bem.

— Quis que eu...? — ele balançou a cabeça, a risada cansada e cheia de ódio. Precisou de um segundo para respirar. — Estou cansado, Taehyung, e não quero conversar. Boa noite — colocou as mãos nos bolsos da calça e deu meia volta.

— Você se lembra do dia em que você chegou em casa e a fruteira da minha mãe tinha se quebrado? — Taehyung deu um passo à frente, temeroso em tentar encostá-lo.

Jeongguk o olhou de perfil.

— Eu quebrei — Taehyung tentava se explicar, no entanto, não sabia exatamente por onde começar. O olhar irritado de Jeongguk o fez continuar rapidamente: — Eu quebrei porque estava com raiva. Algumas horas antes de você chegar, o seu pai foi em casa.

Jeongguk se virou por completo, encarando-o. Taehyung continuou:

— Ele... me ofereceu dinheiro para te deixar em paz e-

— Então foi por isso que me deixou?

— Não, Jeongguk, não! Eu nunca faria isso. Eu disse a ele para ir embora, mas aí ele começou a falar... disse que você tinha sonhos de ser um grande violinista... e eu sabia disso! O Jimin disse, você disse! E o seu pai disse que, ficando comigo, você não tinha chance nenhuma de nada disso. Ele disse que um dia você se arrependeria de ter escolhido ficar comigo ao invés de continuar os estudos e ser tudo que sempre quis. E... Eu já pensava nisso na época, Jeongguk, eu achava que estava te fazendo mal, eu me sentia culpado! A única coisa que você pôde fazer, me escolhendo, foi trabalhar em um café, e não era isso que você merecia, não era isso que eu queria te ver fazendo. Eu queria te ver... exatamente como estava hoje, como esteve em todas as outras apresentações... lá no palco, tocando, cheio de talento, sendo aplaudido, vivendo seu sonho. Eu não suportava olhar para você porque sentia vergonha e culpa, sentia que você ficaria muito melhor sem mim... tinha realmente medo de você se arrepender de ter ficado comigo. Me perdoe por ter feito tudo isso, por ter te machucado tanto naquele dia, por ter dito coisas horríveis! Eu nunca me cansei de você, eu nunca deixei de te amar, eu nunca deixei de pensar em você. Eu me arrependo, eu me arrependo de não ter te contado nada, de ter tomado todas as decisões sozinho, de ter te afastado e te perdido. Eu ficava te prendendo em mim, eu vim a todos os seus recitais... eu... eu ainda te amo, Jeonggukie. Eu sei que o que fiz talvez não mereça perdão, você pode dizer que o que eu fiz não é amor, mas... me perdoe, me perdoe! Você não sabe quanto me custou fazer tudo isso. Não sabe como eu queria só te fazer bem, só te ver bem. Eu não suportava saber que estava te afastando de tudo que você merecia, que tinha sido a causa de você... desistir.

— Eu não ia desistir! — berrou Jeongguk, interrompendo-o. — Meu Deus, Taehyung! Como pôde achar que eu desisti de tudo para ficar com você?! Eu desisti de tudo porque eu odiava a minha vida, odiava como a minha vida estava! Ter você comigo era ótimo, era maravilhoso, me sentia apoiado e encorajado, sentia que finalmente tinha um lugar para me abrigar quando me livrasse do que eu odiava! Não desisti de tudo só para ficar com você! Não acredito que não entendeu isso! Não acredito que ouviu meu pai! Não acredito que você simplesmente supôs que eu me arrependeria de "ter te escolhido", sem nem conversar comigo! Sem nem me contar nada! Não acredito que você mentiu para mim quando terminamos! Você disse que tinha se cansado quando, na verdade, estava só se sentindo culpado?! Meu Deus, Taehyung! Eu nunca, nunca me arrependeria de ter te amado! — a voz se abaixou: — Eu ainda não me arrependo.

— Jeong—

— E independente do que o meu pai tenha te dito, você não tinha o direito de tomar essa decisão sozinho. Era a minha vida também, era a nossa vida! Você devia ter me contado! Devia ter me me contado! Como você pôde ter mentido para mim?! Como pode achar que eu ficaria melhor sem você?! — berrou.

Taehyung se aproximou até ficar extremamente próximo. A respiração rápida e entrecortada de Jeongguk, as lágrimas de raiva dele, tudo fazia Taehyung querer abraçá-lo.

— Me perdoe, Guk... eu errei. Não devia ter feito nada disso, eu sei que agi como se só eu tomasse decisões... eu te amo... me perdoe — quando esticou a mão para tocar-lhe o rosto, Jeongguk o empurrou com violência, mexendo as mãos freneticamente e gritando:

— Não encosta em mim e não fala mais nada! Eu não quero ouvir! Nada que você disser vai melhorar essa merda! Você me prometeu tanta coisa e me disse tantas vezes que me amava que eu achei que realmente me amasse... mas a única coisa que você tinha que fazer para realmente me amar era confiar em mim! E você não foi capaz de fazer isso! Você nunca confiou em mim!

— Eu confiei!

— Não! — Jeongguk balançou a cabeça, a respiração ofegante com todas aquelas emoções ruins. — Não, porque se realmente tivesse confiado, teria me contado tudo. Teria me dito tudo que sentia, todos os seus medos, todas as suas inseguranças... Eu te dizia tudo, Taehyung, tudo! E você não foi capaz de me dizer nada. Então não venha dizer que ainda me ama, que sente muito e que espera que eu te perdoe. Nunca mais me procure, está me ouvindo?

Taehyung ainda tentou dizer algo, mas Jeongguk, impulsivo em toda sua raiva, disse:

— Talvez você e meu pai tivessem razão e eu realmente esteja melhor sem você — e se afastou. Deu meia volta e correu em direção ao seu carro.

Não teve coragem suficiente para olhar para trás, porque não suportaria, apesar de não saber o que exatamente não suportaria. Talvez o fato de ver Taehyung lá, parado sozinho, envolto no frio, ou talvez o fato de seu coração bater tão rápido que ele jurava que poderia voltar. Mas voltar para quê? Para quem havia o destruído? Não existia aquela máxima: nunca volte para quem te destruiu? Por que sua cabeça doía tanto, por que o ato de respirar parecia, de repente, impossível de se realizar? Jeongguk dirigiu para longe dali, as palavras de Taehyung ressoando em sua mente sem parar, esmagando-o como uma coluna de água em um maremoto. Ele queria confrontar o pai, saber se tudo aquilo era verdade. Saber por que sua mãe parecia querer que Taehyung o encontrasse, como se já soubesse... Jeongguk estava chorando quando notou. Não sabia por que estava chorando, mas quando finalmente pôs os pés no hotel, foi direto ao quarto do pai. Jeongguk bateu na porta com tanta pressa e força, e tão desesperado, que o pai a abriu com um susto.

— O que houve? Aconteceu alguma coisa?

O filho entrou de supetão, quase tropeçando, fechando a porta com raiva. Ficou alguns segundos sem saber o que dizer, estava atordoado. Então as palavras saíram devagar:

— Você foi mesmo falar com o Taehyung aquele dia?

— Do que está falando?

— Você sabe do que estou falando, não sabe, pai? — perguntou com tristeza. — Eu encontrei o Taehyung. Você quer me contar o que aconteceu dois anos atrás, então, ou quer que eu te diga?

Seu pai o encarou por instante, mas em toda a aflição de Jeongguk, aquilo pareceu tempo demais.

— Pai.

— Eu fui atrás dele, Jeongguk — confessou com pesar, mas o filho não soube se era arrependimento pelo que fizera ou por Taehyung ter contado. — Eu quis que ele te deixasse, mas ele não aceitou, me mandou ir embora. Eu não o obriguei a te deixar, eu só disse a ele que você ficaria melhor se—

— Por que disse isso?! Por que se meteu na minha vida?! Por que o fez acreditar que eu ficaria melhor sem ele?! Por que você achou que eu ficaria melhor sem ele?!

— E você não está?! — seu pai gritou de volta. — Não está melhor?!

Jeongguk ficou quieto. A primeira coisa que veio em sua mente foi um ensurdecedor "não", que logo o remoeu por todas as partes do corpo, fazendo-o se arrepender de ter ido embora e deixado Taehyung para trás. Era tão claro que não estava melhor sem ele! Era tão óbvio que ainda o queria, que ainda o amava!

— Não! — respondeu então, finalmente. — Não estou melhor sem ele, como você pôde achar que eu ficaria melhor com toda essa história nojenta por trás?!

— Ora, pense direito, Jeongguk! Você nunca teria chegado onde chegou estando ao lado dele! Nunca teria alcançado seus sonhos!

— Isso não é verdade! Eu teria dado um jeito! Você não tinha o direito de ter feito isso! É a minha vida e você conseguiu controlá-la até mesmo de longe! Como você consegue?! É por isso que a mamãe vai se separar de você, não é? Porque você é um manipulador!

— A sua vida está ótima e você tem que me agradecer por isso! Ter tirado o Taehyung da sua vida foi a melhor coisa que te aconteceu!

— Você não sabe o que é melhor para mim, pai, nunca soube — Jeongguk respondeu secamente.

— Você acha mesmo que vocês dois durariam muito tempo? Acha mesmo que nenhum se cansaria do outro? Por favor, alguma hora você ia se cansar dele e ele de você. Além disso, soube que ele teve vários casos antes de você, e se ele te trocas—

— Para! Para! Eu não quero mais te ouvir! Você estraga tudo em que se mete! Como consegue?! Como consegue fazer isso com as pessoas que você deveria amar?!

Eles ficaram quietos por um momento, antes que o pai olhasse para o filho e dissesse:

— Não se esqueça que eu não obriguei o Taehyung. Se ele te deixou, foi porque quis.

Jeongguk o encarou incrédulo antes de abrir a porta.

— Quando você vai parar de manipular a minha vida, a vida da mamãe, e tudo ao seu redor? Não perde a graça em alguma hora, pai? Cuidado, ou você perderá toda a sua família — disse, um pé do lado de fora. Então voltou-se mais uma vez para o homem e completou, antes de sair: — Se é que já não perdeu.

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