LUKE
Dizer que minha vida estava uma merda seria eufemismo. Eu tinha perdido uma luta importante, estava sendo massacrado pelo Tony nos treinos na academia e, por mais que não gostasse de admitir, estava sofrendo com a ausência da Annie.
Me sentia um completo idiota por ainda pensar nela depois de tudo que ela havia me feito. Eu devia deleta-la da minha vida e enterra-la em um buraco escuro do meu passado, mas aquilo estava sendo mais difícil do que eu imaginava. Talvez eu gostasse mais dela do que admitia.
- A Sarah me falou que a Annie está mal. - o Chris pontuou enquanto guardava suas luvas de boxe dentro da mochila -
- É uma pena. - ironizei -
- Sério, cara. Vocês deviam conversar. Mesmo que seja pra terminar tudo de uma vez, vocês devem uma conversa um ao outro. Da última vez que vocês se viram, muitas coisas foram ditas e...
- Não tenho nenhuma pretensão de conversar com ela, Christopher. - eu o interrompi -
- Luke, pare de ser idiota! - ele disparou - Vocês se amam, porra!
- O amor é pra quem acredita nele, Christopher. - respondi - Eu não acredito. Eu não o aceito, eu não o deixo. Eu não o quero. E você pode até dizer que é medo, receio, preguiça ou o caralho. Pra mim, o nome disso ainda é solução.
- Seu orgulho não vai te levar a lugar nenhum, cara. - ele me advertiu -
- Ótimo, adoro ficar parado. - fechei o zíper da minha mochila -
O Chris era meu melhor amigo, mas às vezes ele me irritava com essa mania incansável de ver sempre soluções para os problemas do mundo.
Se você estivesse sem dinheiro, ele te emprestaria. Se precisasse de conselhos, ele saberia o que dizer. Se quisesse qualquer tipo de ajuda, ele estaria disponível. Ele era uma pessoa muito boa e isso me irritava, porque ele esperava que eu fosse como ele e agisse como ele em determinadas situações, e isso era algo que eu nunca conseguiria fazer.
Cheguei em casa naquela noite e notei o familiar carro do Diretor Harris estacionado no meu jardim. Provavelmente ele tinha ficado sabendo do incidente com o Tyler na aula de educação física e estava na minha casa para falar com minha mãe sobre aquilo.
Ótimo, meu dia não parava de melhorar. Bufei impaciente e entrei em casa, já esperando a retaliação e a bronca dos dois.
- Boa noite, filho. - minha mãe falou com gentileza ao me ver entrando pela porta -
- Boa. - respondi, sem entender todo aquele contexto -
- Olá, Lucas. - ele acenou pra mim -
- Nós vamos jantar. - minha mãe anunciou - Quer se juntar a nós?
- Jantar? - perguntei, sem entender - O que esse cara está fazendo aqui?
- Filho... - ela me lançou um olhar triste e medroso -
- O que esse cara tá fazendo aqui? - repeti a pergunta, começando a ficar impaciente -
- Senta aqui, vamos conversar... - ela pediu - Temos algo a contar pra você.
- Espera... - comecei a entender tudo - Vocês... - eu parei de falar, organizando os pensamentos - Vocês estão juntos? - questionei, incrédulo -
Nenhum dos dois respondeu a minha pergunta, mas não era necessário. Estava estampado em seus rostos que eles estavam juntos e que tinham organizado aquele jantar para me contar tudo.
Minha reação na hora foi gargalhar, sem um pingo de humor na voz. Era inacreditável. Minha mãe era inacreditável. Dentre todos os milhares de solteiros da Califórnia, ela tinha escolhido namorar com o Diretor Harris?
Não que eu ficasse feliz com a ideia dela namorando qualquer outra pessoa - ninguém seria bem-vindo na minha casa para ocupar o lugar que pertencia ao meu pai. Mas aquilo ultrapassava todos os limites! Só podia ser brincadeira!
Eu sentia tanto nojo daquela situação que tinha vontade de vomitar. Não existia nenhum código na escola que proibia os diretores de namorar com as mães dos alunos? Isso era inadmissível!
- Luke, já queríamos contar pra você há um tempo... - ele começou a falar -
- Cala a porra dessa boca. - ordenei, mantendo o tom de voz - Você está tirando uma com minha cara? - questionei, me direcionando à minha mãe - Digo, isso não pode ser verdade!
- Luke...
- MEU DEUS! - gritei - E eu achando que não tinha como minha vida piorar. - ri, sem humor - Você é inacreditável! Está namorando com esse idiota? Isso é sério?
- Ei! - ele me advertiu - Respeito é bom e eu gosto!
- É, dinheiro é bom e eu gosto e nem por isso eu tenho. - retruquei com ironia - Saia de minha casa agora. - ordenei -
- Luke! Pare com isso! - minha mãe me enfrentou -
- Você é patética, Elizabeth. - eu a olhei de cima a baixo - Saia daqui agora! - repeti para o Diretor Harris -
- Eu não vou a lugar nenhum. Sou bem-vindo aqui, Lucas. - ele rebateu - Enquanto sua mãe me receber bem aqui, irei frequentar a sua casa. Estamos juntos e é melhor você se acostumar com a idéia.
- O que está acontecendo aqui? - a Emma apareceu no topo da escada, questionando -
Num impulso, fui até ele e o puxei pelo colarinho da camisa, arrastando-o pelo corredor em direção à porta da rua. Minha mãe interviu e me empurrou, fazendo com que eu soltasse sua camisa e batesse minhas costas na parede.
- JÁ CHEGA! - minha mãe gritou - Há muito tempo eu perdi o controle sobre você, Lucas, mas agora as coisas vão ser diferentes!
- DIFERENTES? - eu respondi à altura - Diferentes como, se você continua procurando alguém pra substituir o lugar do meu pai? Diferentes como, se continua colocando qualquer homem que conhece dentro de casa quando tem uma filha de treze anos sob o mesmo teto que ele? - gritei enquanto apontava para a Emma, que observava a situação assustada -
- Não vou admitir que faça suposições tão graves ao meu respeito, rapaz! - ele disparou -
- Boa sorte com ela, por sinal. - falei, olhando pra ele - Ela vai enjoar de você rapidinho e já já vai te substituir por qualquer outro cara com um pau no meio das pernas, porque é isso que ela faz de melhor.
Assim que calei a boca, senti a mão espalmada de minha mãe tomar conta de meu rosto. Em seguida, um rubor e uma vermelhidão tomaram conta do local em que a mão dela estava.
Ela me lançou um olhar de arrependimento e remorso logo em seguida, procurando as palavras certas a serem ditas. Com certeza ela não queria ter feito aquilo, mas agora já era tarde demais.
Peguei minha jaqueta de couro em cima do aparador e saí de casa, batendo a porta com força logo atrás de mim.
- Luke! - ouvi a Emma me chamando, já no jardim - Luke!
- Volte pra casa, Emma. - ordenei, subindo em minha moto -
- Pra onde você vai? - ela me perguntou, com os olhos cheios de lágrimas -
- Eu não sei. - respondi, com sinceridade - Talvez pra casa da vovó. Ainda não pensei nisso direito.
- Mas ela mora há uma hora daqui! - ela ponderou - Não vá, por favor!
- Vou ficar bem, pirralha. - a tranquilizei - Venho te ver todos os dias depois da aula, enquanto ela estiver trabalhando, ok?
Ela se levantou nas pontas do pés e me deu um abraço de despedida apertado.
- Eu te amo muito. - ela falou entre lágrimas, com sinceridade -
- E eu gosto muito de você. - respondi -