O melhor ano do nosso colegia...

Door leonmwah

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Nicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto co... Meer

BOOKTRAILER ❤️
1 • A matrícula
2 • O Shopping
3 • A palestra
4 • O primeiro dia de aula
5 • A garota da palestra
6 • A inscrição para o clube de teatro
7 • A audição
8 • A aula de música
9 • O primeiro dia no teatro
10 • O clube de música
11 • A festa do teatro
12 • Domingo de ressaca
13 • A novidade de Gabriela
14 • O desentendimento no refeitório
15 • O jogo de queimada
16 • O fim de ótimos momentos
17 • O colega de Joana
18 • A Festa Junina
19 • O parque
20 • Uma festa entre amigos
21 • A conversa na estrada
22 • O vizinho
23 • Um papo de saudade
24 • A casa de Thomas
25 • O quarto de Thomas
26 • A conversa com Amélia
27 • O começo de uma última aventura
28 • O fim de uma última aventura
29 • A volta para casa
30 • O segundo primeiro dia de aula
31 • A aluna de intercâmbio
32 • A briga no corredor
33 • A conversa com a diretora
34 • Um recomeço
35 • Um canto no teatro
36 • Inscrição para cheerleader
37 • O reencontro na biblioteca
38 • O teste de Gabriela
39 • O problema de Gabriela
40 • A ideia
41 • A conversa depois do jogo
42 • A segunda festa do teatro
43 • A grande notícia
44 • O encontro
46 • A proposta
47 • A escolha do vestido
48 • O casamento
49 • Noite de Natal
50 • Ano Novo

45 • A apresentação

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Door leonmwah

Depois do meu encontro com Vinicius, as coisas pareceram fluir muito mais facilmente entre nós dois. Na semana seguinte, Gabriela e Amalie já podiam perceber em nossos olhares que as coisas entre nós se tornavam mais reais a cada instante.

— Obrigada por nos contar sobre o namoro de vocês! — Gabi ironizou enquanto esperava eu pegar meus livros no armário. Enquanto isso, Vini e A temiam o rumo daquela conversa logo ao lado.

— Que namoro? — respondi rindo e com o barulho da porta do armário fechando colocando fim na conversa.

Nós quatro rimos. Gabi e Am foram à sala de sua próxima aula, enquanto eu e Vini fomos para a nossa.

Era muito bom ter Vinicius por perto e estar, de certa forma, mais próximo dele, entretanto, as apresentações finais dos clubes estavam chegando e um mês restante não parecia nos fornecer tempo o suficiente para deixar tudo perfeito.

Os dias foram se passando e Alice gritava cada vez mais alto a cada novo ensaio.

— Cala a boca que eu não sou surda! — Uma garota do segundo ano gritou em resposta à uma ordem que Alice havia dado em um dos ensaios. Ambas começaram uma briga e foram parar na diretoria. Aquela situação havia sido a mais emocionante em praticamente todo o mês, pois de resto, tudo que sentíamos era pressão e medo da nossa performance final.

Violinos desafinados, cordas de violões estourando e tambores explodindo eram poucas das muitas coisas que estavam dando errado. O universo pareceu estar conspirando contra todos os alunos. Aparentemente, na vida não tem como tudo estar perfeitamente bem. A partir do momento em que Vinicius e eu saltamos um grande degrau em nossa relação, os projetos escolares pareceram desabar. Todos os clubes começaram a desmoronar.

— O Antoine está jogando bem, mas agora um outro menino decidiu desaprender a jogar! — Vini comentou enquanto almoçava depressa.

— A Mônica, vulgo, garota que vai interpretar a Julieta, vulgo de novo, a personagem principal, agora esquece todas as falas que ensaiou — Gabriela quase chorava numa manhã quando chegou na escola com o celular na mão. — Até eu sei todas as falas dela de cor.

— O clube de música não consegue acompanhar nossas vozes! — Amalie admitiu durante um café da manhã.

— Como se vocês super conseguissem atingir a nota que as músicas exigem, né? — rebati seco.

Estava sendo um mês denso. A energia na escola estava pesada e nenhum aluno se preocupava em pelo menos tentar olhar a situação com uma visão mais positiva.

Exatamente uma semana antes das apresentações finais, tudo mudou. Os instrumentos musicais magicamente não quebraram mais. O clube de música finalmente conseguiu acompanhar as vozes do clube do musical, que agora já conseguia alcançar as notas que as músicas exigiam. A Julieta conseguia interpretar mais que nunca seu papel e o time da escola finalmente começou a acertar mais cestas que o normal.

Chegou o momento do último ensaio de todos, dois dias antes das apresentações finais. Eu estava junto com o grupo de música num canto específico da plateia no auditório, quando ao longe vi Alice tentando pendurar algumas folhas de plástico na parede do fundo do palco, a fim de deixar o cenário para a peça impecável. Ela não estava conseguindo alterar entre manter o equilíbrio na escada em que estava e conseguir colar as folhas com fita adesiva. Decidi ajudar.

— Não preciso da ajuda de ninguém! — ela falou alto, quase gritando, rude. — Droga! — Algumas folhas já prendidas descolaram e caíram no chão.

— Acho que precisa sim de ajuda — falei, ignorado o modo do qual estava sendo tratado.

Ela revirou os olhos e desceu da escada. Com as mãos na cintura olhando para o chão cheio de folhas falsas de plástico soltas e espalhadas, Alice olhou pra mim e depois de um suspiro, ordenou:

— Vá pegar aquele bastão de cola quente ali! — E apontou para o canto do palco do qual a plateia não conseguia ter visão.

Corri imediatamente para onde ela apontou e peguei o que havia pedido. Ela abriu uma portinha escondida no chão do palco e conectou o fio na tomada que ali apareceu. Alice fixava seu olhar no chão enquanto esperava a cola aquecer.

— Gostei da nova cor do seu cabelo — comentei sincero, pois realmente havia achado o tom de amarelo bonito nas pontas de seu cabelo liso cortado até as orelhas. Consegui arrancar um pequeno sorriso do seu rosto.

— Obrigada.

A cola finalmente aqueceu e, ansiosa, passou cola nos cabos de uma das folhas e tentou colar num fio verde de plástico onde muitas estavam originalmente fixadas. Este fio era como se fosse aqueles com luzinhas de Natal, mas no lugar delas haviam folhas coladas, entretanto, muitas estavam caindo sem motivo algum; o que fazia sentido, pois o orçamento para o clube de teatro havia sido parcialmente cortado, logo o cenário comprado não era um dos melhores que se poderia ter.

O silêncio entre nós era mais constrangedor que quando eu dizia alguma coisa para agradar a Vinicius e depois era surpreendido pelas suas gargalhadas de deboche, indicando que eu havia falhado na tentativa.

— Lembra da festa na sua casa, no começo do ano? — quase sussurrei, rindo no final, na tentativa de quebrar o gelo.

Ela conseguiu colar a primeira folha.

— Lembro... — riu, pegando em seguida a próxima.

— Meus amigos e eu chegamos primeiro que todo mundo e você pediu para que a gente te ajudasse. — Arrumei minha postura e cruzei as pernas, a fim de ficar mais confortável naquele chão de madeira.

— Eu praticamente obriguei vocês! — Riu, olhando finalmente em meus olhos e depois voltando-os para a tarefa que executava. Ela ficou quieta por um momento e limpou a garganta muitas vezes num mesmo minuto. — Esse é meu jeito. As vezes odeio ser assim... juro que já tentei mudar, mas acaba sendo mais forte que eu. Deve ser por causa do meu...

— ... subconsciente executando uma tentativa de auto defesa? — completei, com esperança de ter acertado.

— Não, seu idiota! Eu iria falar que deve ser por causa do meu Ascendente! — Suspirou. Ela continuou colando as folhas. — Droga! — falou no instante em que acabou se queimando sem querer com a cola quente.

— Me dê aqui. Me deixa colar algumas! — pedi, retirando o longo fio pintado de verde escuro de seu colo e separando as folhas restantes no chão para colar. Alice ficou me olhando por um tempo quieta.

— Eu fui muito idiota com a Gabi, sabe? — Ela admitiu, com o arrependimento nítido em suas palavras. — Ela está feliz com a garota da França?

— Nunca vi Gabi mais feliz antes — respondi, com palavras sendo escolhidas a dedo para serem ditas. Alice abriu um sorriso tímido. Procurei mudar de assunto. — Você planeja ir à faculdade ano que vem?

— Sim, claro! Artes cênicas é minha paixão!

Ambos rimos.

— Terminei! — Concluí, colocando o longo fio verde com folhas coladas no chão.

Alice levantou depressa e estendeu a mão para me ajudar a fazer o mesmo.

— Fala pra Gabi que sentirei saudades e que me dói o coração quando me lembro de toda a dor que já causei a ela! — pediu sincera. Me aproximei.

— Diga você mesma! Acho que ela vai ficar muito feliz e certamente dirá o mesmo.

Alice então avançou e me deu um abraço do qual não demorei muito para corresponder.

— Agora volta pro seu ensaio! — ordenou, passando as mãos nos olhos que quase deixaram lágrimas saírem.

Eu ri e corri de volta para a parte da plateia que nós do clube de música estávamos ensaiando. Vi que Alice estava tendo a mesma dificuldade de colar tudo na parede, assim como antes, então voltei e a ajudei. Ela fingiu estar brava por eu estar lhe ajudando, mas no fundo sabia que ela agradecia pela ajuda que recebia.

Quando terminamos, fui até o ginásio para dar uma rápida olhada de como o treino do time da Dallas estava indo. O líder do Clube de Esportes quase me expulsou, mas lembrou da pequena ameaça que Vini tinha feito outro dia, então me permitiu sentar na arquibancada.

Vini estava muito suado e, quando me viu, acenou e piscou o olho para mim. Bem, pelo menos até ter o rosto atingido pela bola de basquete.

— Se concentra no jogo, cabeção! — Antoine alertou.

Mostrei o dedo do meio para Antoine e de longe ele retribuiu com um coração formado pela junção de suas duas mãos. Revirei os olhos e observei as estratégias em campo do time, as recebidas de bola que resultavam numa tentativa de acerto na cesta. Posso ser suspeito em dizer, pois estudo na Dallas, mas tenho que admitir que nosso time parecia estar se superando a cada novo segundo e que assim fazia a vitória parecer uma conquista muito perto de ser alcançada.

Quando Vini, Gabi e A nos encontramos na entrada da escola às 18 horas, concluímos que este horário havia sido o mais tarde que já tínhamos saído da escola. Todos nós estávamos cansados, entretanto, a ansiedade de apresentarmos nossa peça do mais perfeito jeito possível, nos mantinha com a cabeça erguida e prontos para enfrentar qualquer novo obstáculo que pudesse surgir até o dia da apresentação que, para reforçar, seria em dois dias.

***

O dia da apresentação chegou e, como sempre, acordei elétrico e querendo almoçar antes mesmo de ter tomado o café da manhã.

Joana havia combinado com Jonathan para que ambos comparecessem à peça. Fiquei muito feliz dele estar fazendo questão de fazer parte não só da vida dela, mas também da minha. Ele estava começando a me fazer sentir como se ele fosse um pai que fazia tempo que eu não havia tido e eu um filho que ele nunca teve. Era uma troca justa e que mamãe e eu gostávamos muito.

Parado em pé de frente ao espelho da porta do meu guarda-roupa experimentando o colete preto por cima da camisa branca que eu usaria a noite, tive a sensação de um déjà-vu quando Joana apareceu na porta e apoiou seu rosto no batente de madeira.

— Sua gravata está torta, querido.

Olhei para baixo e, antes que eu pudesse contestar, ela veio até mim e arrumou a gravata borboleta preta em meu pescoço.

Ambos então viramos para o espelho e nos observamos por um tempo.

— Você sempre está tão lindo, Nick...

— É você que sempre está linda, mãe!

Viramos de frente um para o outro. Fazia tempo que eu e mamãe não tínhamos um momento como aquele. Eu não notei que sentia saudades até estarmos tendo aquela conversa que me dei conta de que não havíamos há muito tempo.

— Que nada, Nicholas! Toda a beleza que eu não tive, você tem! — Ela me virou ao espelho. — Olha este cabelo... este sorriso... estes olhos!

— Todos vieram de você! — falei.

Ela riu e me deu um tapinha no ombro. Acho que descobri de onde veio minha mania de muitas vezes fazer o mesmo no ombro de Vinicius... claro, um pouquinho mais forte, mas só um pouquinho.

Depois disso, tirei a roupa e descemos para a cozinha. Ajudei mamãe a fazer o café como raramente já fiz. Comemos um delicioso pão francês do dia anterior com queijo e presunto, acompanhado de um nutritivo, porém industrializado, suco de laranja. Eu me sentia saudável quando bebia suco, entretanto, nunca ficava totalmente satisfeito quando ele não fosse natural, o que era quase sempre.

Depois de algumas horas, Vini, Gabi, Am e eu fizemos talvez a video chamada mais incentivadora que um grupo de jovens já possa ter feito no mundo. Ficamos praticamente o tempo todo falando de como a apresentação do teatro seria incrível, assim como espetacular seria o jogo de basquete dos garotos.

— A escola não tem nenhum time feminino de nada! — Amalie disse pensativa.

— Amo quando você pensa sobre os problemas sociais intrínsecos que temos em nossa sociedade machista patriarcal e preconceituosa, amor! — Gabriela sussurrou como se tivesse perdido todo o fôlego.

— Eca! — falei.

— Você não disse isso quando nos beijamos outro dia! — Vinicius falou intrigado.

— Cala boca!

As meninas riram bastante entre si, enquanto Vini fixava meus olhos através da tela do meu celular. Eu tentava fingir que eu não estava ficando com vergonha e, muito menos gostando, mas minha estúpida câmera frontal fez questão de pela primeira vez em toda sua vida, mostrar o vermelho que minhas bochechas ficaram, e na maior variedade de tons de cores possível. Sorri de volta, deixando a certeza que quando nos víssemos de noite, eu não esqueceria de lhe dar alguns tapinhas no ombro.

O dia passou mais rápido quando Jonathan ligou para Joana e a avisou que chegaria em meia hora em casa. Ela correu para o banheiro tomar banho para que, quando ele chegasse, ela estivesse pelo menos vestida. Se bem que se eu não estivesse presente ela nem faria questão disso.

Não muito tempo se passou e eu já estava de banho tomado e quando todos nos demos conta, nos encontramos sentados na sala, prontos para irmos à escola, mas sem levantarmos dos sofás para isso.

— O que estamos esperando? — Jonathan perguntou sem ter muito o que fazer após ter olhado o relógio em seu pulso.

— Não sei — falei.

— Ele não está lindo, Jon? — mamãe disse dando leves tapinhas no joelho do noivo.

Eu, lindo? Claro que não! Eu só vestia uma camisa branca com um colete preto por cima, junto com uma calça jeans e o tênis preto do qual sempre usei para ir para a escola. Agora, Joana, bem, estava uma verdadeira rainha. Era raro ver mamãe realmente maquiada, pois raramente tínhamos uma ocasião especial, bem, de acordo com ela, pois para mim aquela era só a apresentação de uma peça da qual ela mal conseguiria me ver no palco, afinal eu era só mais uns dos alunos que tocariam os instrumentos que consistiriam na trilha sonora da peça. As pessoas só prestam atenção nos atores e no máximo no coral. Nós do clube de música seremos invisíveis, assim como havíamos sido no dia da Festa Junina da escola.

Levantamos e passamos pela porta de casa.

— Você vai ser o que melhor vai tocar esta noite, querido! — Joana falou enquanto trancava a porta.

— Aposto que vai mesmo! — Jon entrou no mesmo barco de mamãe.

— Vocês nunca me viram tocar antes! — admiti por fim.

— Mas veremos hoje! — Joana disse enquanto entrávamos no carro do Jon que estava estacionado na calçada.

— Muitas pessoas estarão tocando hoje a noite! — confessei. — Serei só mais um deles.

— Pare de se diminuir desse jeito, garoto! — Jonathan ligou o carro.

Seguimos pelas ruas, que viraram avenidas e que por fim nos fez chegar na escola Jorge Dallas.

Quando descemos do carro e encarei a enorme estrutura de concreto bem diante de mim, pude recordar da primeira vez que entrei lá junto de mamãe para que pudéssemos fazer a minha matrícula. Eu tinha sonhos, esperanças, medos...

Ao fechar a porta do carro, notei que naquela noite um ciclo se fecharia, para que outro no ano seguinte pudesse iniciar. Depois de respirar fundo e sorrir para Joana, tive a sensação de que a peça seria perfeita.

Caminhamos até o auditório e, depois de procurarmos bastante, encontramos um lugar duplo para que o casal pudesse se sentar. Era uma ótima localização. Arrisco até dizer que possivelmente eles conseguiriam me ver tocar.

Me despedi e corri ao palco para que eu finalmente pudesse entrar na coxia. Do lado direito do palco haviam as cadeiras em fileiras, para que nós do clube de música pudéssemos tocar os instrumentos enquanto sentados. Do lado esquerdo, havia um pequeno palco em escada, certamente para que os alunos do coral pudessem ficar sobrepostos. O cenário que outrora havia ajudado Alice a montar estava perfeito.

— Alguém sabe onde está a Julieta? — Alice gritou logo quando entrei na coxia, enquanto eu internamente pensava se o vermelho de seu rosto nervoso era mais próximo de um tomate ou de uma pimenta.

Ninguém sabia responder. Juro que se os pais de todos não estivessem do outro lado da parede, Alice sairia quebrando e batendo em tudo e todos, como uma versão bissexual, moderna, magra e jovem de uma Trunchbull, do filme Matilda.

— Oi Nick! — saudou Gabi, acompanhada de Amalie.

Abracei as duas.

— Onde está o Vinicius? — perguntei intercalando o olhar entre os olhos de Gabriela e Amalie. Gabi deu um sorrisinho e no começo não entendi o motivo.

— Bem aqui. — Vini respondeu surgindo atrás de mim e me dando um selinho logo em seguida.

— Você está doido?

— Ah para, Nicholas! — ele disse. — Você fala como se ninguém aqui tivesse nos visto beijar antes.

— Hihihihihihihi!

— Para Gabriela! — Vini e eu advertimos em coro.

Ela olhou para a namorada e ambas começaram a rir.

— Oi pessoal! — Antoine surgiu de sei lá Deus sabe onde. — Vim desejar boa sorte e dizer que o pessoal do time também está torcendo!

— Ah sim claro! — debochei. — Imagino o quanto.

— Mas é claro Nichizinho, querido! Todos dessa maravilhosa escola são amigos agora.

— Ok, humm, desde quando vocês começaram a se falar como seres humanos normais um com o outro? — Vinicius perguntou sem saber muito como lidar com a situação.

Antoine e eu nos olhamos e telepaticamente debatemos sobre a conversa que outro dia tivemos no banheiro.

— Bem vou indo nessa! — Antoine concluiu.

— Certamente eu também! — Vini complementou. — Acho que nós dois temos muito o que conversar enquanto a peça não começa, certo An de anta?

Olhei para Gabi e A e todos rimos. Até que Alice voltou mais louca e vermelha que nunca.

— A Julieta sofreu um acidente e está no hospital agora! — Alice gritou, entretanto, a plateia conversava tanto que jamais alguém conseguiria ouvi-la. — Não temos uma Julieta! NÃO EXISTE ROMEU E JULIETA SEM A JULIETA!!!!!!!

— Eu sei as falas dela! — Gabriela disse e fez com que todo mundo ficasse quieto. Alice não estava dizendo nada, então Gabi tentou complementar o que dissera a fim de que conseguisse convencer a diretora da peça que, cá entre nós, não tinha muito o que fazer. — E-eu estive presente em todos os ensaios, ajudei ela com algumas falas quando me pediu... hum, eu sei todos os movimentos que ela faz em palco, afinal, fui uma das pessoas que pensou em quais eles seriam... eu consigo, Alice!

Alice ficou alguns segundos olhando para Gabi, depois para todo o resto que ali estava e, por fim, voltou os olhos à Gabriela.

— Vem no camarim comigo! Vamos colocar a roupa em você!

A primeira coisa que Gabriela fez foi olhar para mim, sorrir e fazer um "joinha" com o polegar. Eu estava muito feliz por ela, tanto que Amalie e eu nos olhamos e pulamos de alegria enquanto dávamos nossas mãos.

Alguns minutos se passaram e Gabriela apareceu vestida e maquiada. Ela estava linda, graciosa, espetacular... tão ela.

— Eu vou tirar uma foto! — Amalie disse finalmente enquanto tirava seu celular do bolso.

Alguns segundos depois Clarice, a professora de música, chegou e reuniu todo o clube de música num canto que, por mais que não tão grande assim, conseguiu suportar todos juntos sem o menor esforço.

— Bem, vim aqui rapidinho só para deseja-los boa sorte! — Ela sorria e gesticulava muito com as mãos. Eu conseguia entender o que ela falava, entretanto, não deixei de prestar atenção no quanto seus dentes brancos se destacavam em seu rosto que por si só era angelical. — O ano foi longo e eu amei ver o desenvolvimento de vocês tanto quanto alunos, quanto pessoas e como, de certa forma, músicos! Não tenho dúvida que depois de hoje, vocês serão lembrados para sempre. Quero vê-los tocar com o coração esta noite.

Todos nós sorrimos e olhamos um ao outro. Olhei para José, o líder do clube, lhe mandei um sorriso e ele correspondeu. Depois para Gabriel, que piscou o olho e levantou a mão ao alto como um "bate aqui". Ao seu lado, Isadora me fez um joinha. Todos demos as mãos e, em roda, soubemos no mesmo instante que seriamos perfeitos como nunca havíamos.

Cada um então soltou os braços para que pegassem seus instrumentos e eu fiz o mesmo. Peguei um violino. No momento em que virei de costas para voltar ao canto da coxia onde todos estavam, fui impedindo por um braço que, depois de olhar mais alto, percebi que era o de Ethan — o Romeu.

— Onde você pensa que vai, Nicholas?

— Bem, estamos numa coxia, atrás de um palco, dentro de uma escola... Acho que estou indo à praia tomar sol. Quer me acompanhar? — Não aguentei não ser irônico, mas aquela situação praticamente me obrigou. Dei um passo para frente para evitar prosseguir com aquela conversa.

— Certo. Achei que estivesse indo chupar um pau.

Parei no mesmo instante, olhei para trás e procurei olhar fundo nos olhos verdes de Ethan.

— Como se você não tivesse sonhado em fazer isso algum dia.

Ele deu um passo para frente e tentou me intimidar. Bem, minha respiração não se alterou e nem pensei em sair correndo dali, então é, acho que ele não conseguiu.

— Não sou uma bicha como você, Nicholas.

— Pelo menos não finjo que eu não seja.

— Viadinho.

— Sou mesmo! Agora saia daqui! Não consigo resistir quando vejo um homem em minha frente. — Ironizei.

Virei para trás para sair de lá, mas acabei sendo impedido logo quando senti as mãos de Ethan me empurrando, fazendo com que eu caísse de quatro no chão, quase quebrando o violino que segurava nas mãos. Olhei para frente e vi os saltos altos de Clarice bem diante de mim.

— O que eu acabei de ver você fazendo aqui, Ethan Marquês? — ela perguntou séria e com os braços cruzados passando a imagem de muita autoridade. Me levantei depressa. Eu jamais poderia perder as expressões faciais que Ethan faria.

— E-e-e-e-eu...

Olha quem é o gago agora.

— Não há o que explicar, Ethan! Me encontre depois da apresentação, garoto.

Ela saiu, deixando nós dois sozinhos novamente, mas bem longe um do outro. Olhei bastante em seu rosto e, antes de sair, pisquei o olho, mandei um beijinho no ar e sai dali antes que as coisas pudessem piorar.

***

A voz da diretora Nerci Vaz ecoava por todo o auditório através dos alto falantes espalhados por toda parte, anunciando a entrada dos alunos do musical.

Eu estava junto com meu grupo no canto da coxia. Quando vi Amalie passando no meio de todos seus colegas de clube acenei e ela correspondeu.

Em seguida, a diretora anunciou para que o clube de música fosse ao palco. Nós começamos a andar para fora da coxia e em direção ao palco. Fomos recepcionados por aplausos e em seguida sentamos cada um em nossos assentos marcados. De onde eu estava, eu tinha a visão perfeita de Amalie, de Jo&Jon e de Vinicius. Eu os enviava um "oi" por telepatia, com a certeza de que recebiam minha mensagem.

Com o sinal do choque das baquetas uma na outra, começamos a tocar. Alguns segundos depois o coral começou a nos acompanhar. Os personagens de Sansão e Gregório entraram em cena, marcando assim o início da peça. Eu estava ansioso para que Julieta entrasse logo em cena, entretanto, Romeu foi quem primeiro apareceu, o que me fez desafinar no mesmo instante.

Conforme a peça foi prosseguindo e as cenas acontecendo, tive a certeza de que a cada segundo eu tocava com meu coração, pois eu me entregava por inteiro ao meu violino. Eu sei que eu estava super escondido no meio do meu grupo, mas eu tinha uma estranha sensação de que estava sendo visto, avaliado e julgado por alguém. Provavelmente era minha insegurança causando esta pulguinha atrás da minha orelha, ou até mesmo minha mãe da plateia.

O auge da minha noite chegou quando Ethan começou a correr em direção de Gabi, mas no meio do caminho acabou tropeçando em seus próprios pés e caindo no chão.

Boa sorte com sua nota individual, pensei.

A plateia ficou em silêncio, mas alguns membros do clube de musical e música soltaram alguns risinhos. Sabe, eu não digo que eu seja uma pessoa vingativa, mas admiro qualquer humilhação que alguém que tenha me atormentado possa por ventura passar em algum momento.

Ethan levantou e como se nada tivesse acontecido continuou sua atuação. Enquanto eu tocava meu violino, eu prestava atenção nele e percebia que ele parecia estar inseguro, afinal sua voz passava um certo nervosismo. Num certo momento, ele olhou para mim quando estava de costas para a plateia. Ele sabia que eu o observava e julgava e isso o deixou mais inseguro ainda. Havíamos todos dado duro durante o ano inteiro para a realização daquela apresentação final, então, parei de olhar para ele, a fim de que Romeu recuperasse sua interessante habilidade de atuação para que nos garantisse bons comentários após o término da peça. Não demorou muito e Ethan já não demonstrava mais nervosismo em suas falas e a peça fluía perfeitamente. Pude jurar que num certo momento uma senhora na plateia chorava.

Chegou o momento que o casal de personagens branco padrão heteronormativo, entretanto, interpretados por um garoto bissexual com personalidade ambígua e uma garota negra e lésbica morreram envenenados. A junção da melodia vinda dos instrumentos e vozes do palco não era baixa, mas era possível ouvir choros e respirações profundas vindas da plateia. As palmas em pé no final só confirmaram que nós havíamos sido perfeitos e que todo o esforço havia valido a pena. Na hora que todos os atores deram as mãos para fazer a famosa reverência ao final do espetáculo, Gabi gentilmente recusou-se a dar a mão a Ethan.

As cortinas se fecharam.

Gabi, A e eu nos encontramos no meio do palco.

— Eu sabia que você seria perfeita desde o instante que você recebeu este papel! — Amalie admitiu enquanto segurava as mãos da amada.

— Você foi um ícone! — falei. — Ansioso para te ver atuando na Broadway.

— Ai seus bobos, paaaaraaann!!

Todos nos abraçamos.

Olhei para trás no canto do palco e vi que a professora Clarice conversava com Ethan. Não vou mentir que eu estava gostando daquilo.

Todos fomos para a coxia e nossas risadas extremamente altas revelavam que havíamos de fato sido um sucesso. Todos fizemos um círculo enorme para ouvir o que Alice tinha para dizer.

— Vocês foram espetaculares! Com exceção do idiota do Romeu que não conseguiu se manter totalmente em pé durante toda a peça, mas fora isso, a única coisa que eu teria para reclamar seria que ano que vem infelizmente não estarei mais aqui para acompanhar a evolução de todos novamente!

— Oh meu Deus, você vai mudar de escola? — um aluno do musical perguntou preocupado.

— Não seu idiota! Eu me formo esse ano.

— Ufa! — ele respondeu.

— Vem aqui que agora você vai levar uma na cara! — Alice disse ao começar a correr atrás do garoto. O circulo se desmanchou e alguns foram para o camarim a fim de se trocarem. Amalie acompanhou Gabi até lá, enquanto eu — que já havia ido trocado — fui até a plateia encontrar com minha família e amigos.

Não demorou muito e encontrei Vinicius junto de Antoine, ambos pareciam estar me esperando.

— Olha só, vocês não se mataram! — falei sorrindo.

— Pois é, — Vini olhou para Antoine. — Enquanto a peça não começava tivemos muito o que conversar, certo ANta?

Antoine sorriu envergonhado.

— Você tocou super bem, Nick! — Vini revelou.

— Muito obrig...

Ele então me deu um selinho, me impedindo de terminar de agradece-lo pelo elogio que eu não tinha certeza se havia sido sincero. Eu iria dar um soco na cara dele por ter feito aquilo bem na frente do garoto que passou praticamente o ano inteiro me atormentando justamente porque eu eventualmente faria ações como aquela com outro homem, entretanto, a situação não podia ficar pior.

— Oi filho, você foi ótimo, querido! — disse mamãe junto de Jonathan.

— M-m-m-m-m-mãe?

— F-f-f-f-ilho?

Antoine riu discretamente da situação.

— Ei, este não é aquele menino que mexeu com você no dia da palestra para alunos novos, querido?

Vinicius via tudo aquilo acontecer diante de seus olhos sem saber o que fazer. Não o julgo, eu também não saberia.

— Pois é mãe — eu disse, — muuuuuita coisa aconteceu este ano, certo Antoine? — Cutuquei ele com o cotovelo.

— An o quê? — Joana parecia confusa com a pronúncia do nome.

— An de anta... — Vini sussurrou baixo no meu ouvido, me fazendo rir.

— An-toi-ne! Se pronuncia Antuán! — ele explicou. — É um nome francês.

— Ah sim, claro. — Mamãe lhe fuzilou com os olhos. — E você Vinicius, gracinha. Está bem?

— Melhor impossível senhorita Joana!

— Em breve senhora! — Jonathan disse pegando na mão de mamãe, finalmente participando do diálogo.

— Onde está Gabriela? — ela perguntou enquanto ajeitava sua bolsa no ombro.

— Está se trocando.

— Ela foi incrível! — sorriu. — Bem, eu e Jon vamos indo lá pra fora... não demore muito, vamos jantar fora para comemorarmos a peça de hoje.

Sempre amei descobrir passeios em cima da hora. Quando você sabe que vai fazer alguma coisa dias antes não tem o mesmo impacto que de quando você descobre minutos antes. Meu coração até começa a bater mais rápido toda vez que isto acontece.

Antoine se despediu e deixou Vini e eu a sós.

— Quando é que você vai virar meu namorado, Nicholas? — ele perguntou de modo fofo, mas que eu sabia que no fundo ele estava falando muito sério.

— Eu não sei... quando você pedir? — Eu ri debochando.

Ele começou a agachar, dando a entender que estava prestes a se ajoelhar para me pedir em namoro. Segurei forte em seu braço no mesmo instante.

— Não faça isso!

Ele obedeceu e levantou depressa, rindo.

Gabriela chegou acompanhada de Amalie. Gabi e Vini se olharam, sorriram e deram um abraço forte um no outro na mesma hora. Enquanto eles se abraçavam, ele dizia o quão incrível ela havia atuado e que não acreditava que ela jamais havia nos contado esta habilidade misteriosa que tinha.

— Eu sou uma caixinha de surpresas! — ela disse logo quando ambos se afastaram.

— Amigos — falei, — tenho que ir agora! Mamãe, eu e seu noivo temos um jantar em família agora para comemorarmos esta noite. Vejo vocês semana que vem?

— Claro! — responderam em coro.

Dei um beijo na bochecha de cada um, inclusive na de Vinicius. Eu sabia que ele tentaria me roubar um selinho, então acabei sendo mais rápido que ele em evitar de dar a ele o gostinho de mais uma vitória.

A caminho da saída do auditório, fiquei com vontade de ir ao banheiro, então fui em direção ao banheiro que ficava no final do corredor, curiosamente o mesmo que eu havia usado no dia da minha matrícula.

Eu estava feliz por ter concluído uma grande apresentação da qual só foi possível graças a ideia do experimento de juntar três clubes para a execução de um só trabalho. Foi incrível. Certamente a Dallas continuaria com esta dinâmica nos anos seguintes, com cada vez mais mudanças e ajustes.

Enquanto eu fazia meu xixi, eu ria sozinho, parecendo um bobo. Eu estava sozinho no banheiro, entretanto, a porta de entrada se abriu. Logo concluí que alguém devia já estar lá dentro em alguma cabine da qual não havia visto fechada antes.

Apertei a descarga, fechei a tampa, virei para trás, abri a porta da cabine e me deparei com Ethan lavando a mão no lavatório, enquanto me olhava através do espelho, claro.

— Cuidado para não escorregar desta vez, Nicholas.

Comecei a ir em direção do lavatório ao seu lado, rindo baixo.

— É difícil de acreditar que no dia das matrículas, eu: um garoto de sonhos, esperanças, medos e inseguranças, comecei a gostar de você logo depois de cair bem na sua frente, enquanto você lavava suas mãos exatamente nesta torneira, exatamente neste banheiro.

— É difícil alguém não se interessar por mim — ele falou bem seguro de si. — Sabe, as garotas ficam caidinhas por mim.

Ethan fechou a torneira e passou esbarrando em mim em direção aos papeis para secar as mãos.

— E pelo visto você não se interessa de volta apenas em garotas — Soltei uma pequena dose do meu veneno.

Desliguei minha torneira, balancei as mãos para tirar o excesso de água e caminhei ao encontro de Ethan para que eu também pudesse secar minhas mãos. Ele pegou em meu colarinho e me colocou contra a parede.

— Eu vou fazer desses seus dois anos restantes aqui um verdadeiro inferno, Nicholas.

Aproximei ligeiramente meu rosto do seu.

— Vá em frente.

Um garoto entrando no banheiro foi o suficiente para fazer Ethan se afastar de mim. Lhe mandei um "até mais" com os olhos, joguei o papel úmido no lixo e sai do banheiro.

É incrível como tudo em Greys Anatomy acontece naquele maldito elevador. Acredito que na minha vida, meu "elevador" seja os banheiros da Jorge Dallas, pois é cada encontro que me ocorre naqueles banheiros...

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