No caminho para casa, seguiram em completo silêncio. Antony tentou puxar assunto mas a raiva que ela estava sentindo não lhe permitia respondê-lo. Nunca imaginou que aquele homem tão perfeito lhe decepcionaria tanto. Havia lhe feito promessas de casamento, e agora que estava com a vida estabilizada a única importância que tinha pra ele parecia ser ganhar mais dinheiro.
Quando Benji estacionou, Sarah se despediu de Clair e saiu do carro às pressas, sentiu a raiva lhe sufocar e caminhou apressadamente sob o olhar confuso de Antony até o seu quarto, nem percebeu que havia batido na porta com violência. Retirou suas roupas e se colocou debaixo do chuveiro na tentativa de aliviar o coração na medida que as lágrimas desciam. Naquele momento sua vontade era de fazer suas malas e ir embora, talvez para sua cidade visitar sua família e Mary... Como sua amiga estava lhe fazendo falta.
Sarah passou um longo tempo debaixo do chuveiro, Antony tentou entrar mas a porta estava trancada, ficou frustrado, não sabia o que fazer, na verdade não entendia o motivo que havia deixado Sarah tão brava. Desolado, ele seguiu até o closet e pegou seu short de dormir, quando o retirou, algo caiu no chão, uma pasta da qual ele não conhecia. Vários papéis ficaram esparramados pelo chão e ele se agachou para pegá-los, o primeiro nome que estava escrito não lhe agradou em nada...
“Dr. Wilhiam “
Aos poucos começou a ler e a cada palavra, Antony ficou estarrecido.
Quando Sarah saiu do banheiro enrolada em seu roupão, o encontrou sentado na cama com a cabeça repousada entre as mãos, já havia retirado a parte de cima de sua roupa que estava jogada pelo chão, usava apenas a calça social.
A voz de Antony lhe invadiu antes que ela entrasse no closet para pegar roupas:
— Acho que você perdeu algo importante.
Ainda não sabia o motivo, mas ela sentiu todo seu corpo congelar com aquele tom de voz. Ficou parada no mesmo lugar.
Lentamente se virou e conseguiu ver algo familiar em suas mãos, a pasta que Wilhiam havia lhe entregue. De repente toda raiva que sentia se desfez dando lugar a um sentimento de angústia, afinal não tinha falado com ele sobre aquele assunto.
— Onde você encontrou isso?
Foram as únicas palavras que saíram de sua boca.
— Eu não mexi em suas coisas se é isso que você está pensando. Estava no meio das minhas roupas.
Então ela se lembrou que antes de sair havia mexido naqueles papéis e que enfiou rapidamente no armário quando ele entrou.
— Você pretende me largar? Pretende ir atrás daquele doutorzinho trabalhar na Espanha? É por isso que esteve estranha nesta noite — ele aumentou seu tom de voz de repente. — Quando deveria estar alegre por mim, por mais uma conquista.
Sarah viu os olhos dele se encherem com uma mistura de raiva e ciúmes. Por mais que estivesse brava por ele não perceber o motivo que lhe tinha deixado chateada, naquele instante desejava esclarecer as coisas.
— Não é o que você está pensando.
Ele se levantou e caminhou em sua direção completamente magoado.
— Eu tenho feito de tudo para garantir o nosso futuro e você tem planos com aquele doutorzinho?
Ofendida com as acusações dele ela se manifestou indignada:
— Olha aqui, Antony, em primeiro lugar: Você não tem pensado no nosso futuro, você tem pensado em dinheiro e isso é bem diferente. Se estivesse pensando em nosso futuro teria marcado nosso casamento. — Ela se encheu de coragem para continuar: — E em segundo: Ultimamente você só tem pensado em você, no seu patrimônio...
Desta vez, Antony quem ficou ofendido.
— Se eu tenho feito isso é pensando em você também.
— E quem falou que eu quero seu dinheiro? Antony não planejei isso aqui, ficar trancada dentro dessa casa feito uma prisioneira já que por onde vou sou assediada com perguntas sobre nosso casamento que eu nem sei se vai acontecer.
Viu Antony passar as mãos pelo rosto angustiado.
— Você está enganada Sarah, como sempre! Fazendo mal juízo de mim.
— Não Antony, eu não estou fazendo suposições. Eu sinto muito mas, é isso que tenho visto. Você não para em casa, tem trabalhado até mesmo em suas folgas, de que adianta ter tanto dinheiro e não ter você aqui comigo? — sua voz começou a sair engasgada, Sarah se segurou para não chorar.— Eu deixei meus projetos pra trás, para vir até aqui e ficar com você, no entanto essa é a única coisa que não tem acontecido.
Ele caminhou até a janela pensativo e ficou ali por alguns instantes admirando o nada, um pouco perdido, depois se virou para ela novamente.
— Como eu disse, só estava pensando em nosso futuro, mas você acredita que estou em busca de fortuna. Percebi seu desagrado com o novo projeto, e ainda pensei tanto em você que pedi para que lhe colocassem como o rosto da minha marca.
Sarah não aguentou e riu ironicamente.
— Você só pode estar sem juízo! Antony eu nunca desejei trabalhar como modelo. Eu tenho minha profissão e você sabe muito bem disso, sobre o quanto eu lutei para concluir minha graduação.
— Claro que eu sempre soube que talvez essa proposta não lhe agradaria a princípio, mas eu acreditava que talvez pudéssemos sonhar juntos e não sei… você poderia fazer isso por mim e também para se ocupar um pouco com trabalho.
— Já sei o que você quer, deseja que eu me torne como uma dessas mulheres dos seus amigos, tão fúteis que apenas se preocupam com aparência, moda, etiqueta, e que vivem gastando o dinheiro deles. Antony eu não sou assim! E se fizesse isso, não seria eu. Eu gosto de trabalhar com pessoas, ajudando na recuperação, cuidando da saúde dos meus pacientes e me desculpe, mas não vou mais abandonar o que eu gosto simplesmente para lhe acompanhar.
O olhos dele estavam atentos a cada palavra que ela dizia. De repente ficaram completamente escurecidos de uma forma que ela nunca viu.
— Há quanto tempo? Me diz, há quanto tempo você está com ele?
Sarah se sentiu confusa naquele instante, não era possível que Antony estivesse insinuando o que ela estava pensando.
— A quanto tempo o quê? E com quem?— falou em tom ríspido.
Ele novamente alterou seu tom de voz.
— Com o doutorzinho é claro, eu não sou idiota, Sarah! Se ele te mandou isto — ele pegou a pasta e jogou no chão com violência.— É porque estão tendo algum tipo de contato.
Ela até poderia esclarecer, mas naquele momento sentia tanta raiva de seu namorado que não o achava digno de qualquer explicação.
Foi então que ela caminhou até a porta, segurou a maçaneta firme e abriu.
— Eu não vou ficar lhe dando explicações que não precisam. Por favor saia daqui me deixe sozinha.
Era possível ouvir a respiração dele acelerada.
— Eu sei, você vai embora pra se encontrar com ele. Está me abandonando. Eu apenas gostaria de saber quando você iria me contar.
Ela bufou, estava farta daquela conversinha ridícula. Nunca esteve tão decepcionada com ele como estava agora. As lágrimas começaram a descer queimando seu rosto, mesmo assim ela permaneceu firme.
— Se você não sair daqui agora, eu juro que eu saio!
Antony respirou fundo e depois de um bom tempo saiu pisando forte. Quando passou por ela, Sarah sentiu toda fúria que o invadia, pegou sua camisa sobre a cama e então fechou a porta. Ela trancou e depois se jogou naquela imensa cama completamente em lágrimas imaginando como seria longa aquela noite solitária e deprimente.
A noite era tão grande quanto o vazio que ela sentia. Sarah estava arrasada, decepcionada e magoada. Pegou suas malas e começou a guardar suas coisas, não ficaria mais nem um dia naquele lugar, voltaria para sua cidade e recomeçaria sua vida, talvez até abriria sua própria clínica. Ela não tinha intenção de procurar Wilhiam, por mais que sua proposta fosse muito boa.
Depois de guardar suas coisas tomou alguns comprimidos a fim de acabar com aquela dor de cabeça, ficou deitada por horas até que adormeceu. Quando acordou no outro dia, percebeu que estava péssima ao se olhar no espelho. Viu que ainda estava muito cedo, mas precisava comprar suas passagens pois naquele dia ainda desejava ir embora. Se pegou imaginando se Antony teria dormido em casa ou saído para algum outro lugar. O melhor seria que ele não lhe encontrasse mais ali quando retornasse, assim poderiam terminar tudo de uma forma mais fácil.
Vestiu a roupa e seguiu até a cozinha, certamente todos na casa ainda estavam dormindo devido ao horário. Quando passou pela sala percebeu uma figura deitada no sofá vestida com a mesma roupa de ontem, era ele, provavelmente havia passado a noite ali. Ela ignorou a imagem, foi até a cozinha e preparou o café rápido na cafeteira elétrica antes que Mali chegasse, voltou para o quarto segurando a sua xícara em mãos. Ignorou novamente aquele homem tão atraente deitado no sofá, seu corpo perfeito, corpo que ela não tocaria mais, pois estava decidida a ir embora e aquilo lhe causava um forte aperto no peito.
Já havia ligado o notebook para olhar alguns voos quando ela sentiu todo seu corpo se arrepiar com a presença dele.
— Então...Quer dizer que... Você realmente está me deixando?— falou entristecido ao ver as malas no canto. Toda a raiva da noite passada parecia ter ido embora.
Ela não respondeu.
Então ele se sentou na cama e lhe cobriu com os braços de forma carinhosa, Sarah fechou o computador permanecendo de costas imóvel.
— Sarah…— Ela sentiu seu coração estremecer e temia não resistir. Por isso quando ele lhe tocou, ela se levantou, pois aquelas mãos eram capazes de levá-la à loucura. — Me perdoe, por ontem?
Suspirou, pois não esperava aquele pedido inusitado, mesmo assim tentou ser ríspida.
— Não quero mais falar sobre esse assunto.
Ele abaixou a cabeça atordoado.
— Por favor, se você vai embora, não quero que leve o pior de mim, pelo menos me dê a chance de me desculpar.
Após alguns instantes de silêncio, ela resolveu falar:
— Sabe o que me deixou mais chateada, Antony?
Aquela era para ser uma pergunta retórica, porém ele respondeu com outra pergunta.
— Além do fato que eu fui um egoístas, idiota, ciumento e burro?
Suas palavras a pegaram desprevenida novamente.
— Antony...
Ele não a deixou falar.
— Você tem toda razão, Sarah, eu não pensei em você, eu sabia muito bem dos seus sonhos e do seu desejo em exercer sua profissão. Mesmo assim eu a ignorei. Me perdoe. Lhe fiz promessa de casamento e não fui homem o suficiente para cumprir, mas eu juro que não há nada nesse mundo que eu deseje mais do que tê-la como minha esposa. Porém eu pensava que era necessário ter uma estabilidade financeira para isso, e agora eu percebo que na verdade estava me deixando levar pela cobiça.
Novamente Antony foi em sua direção e desta vez ela não teve forças para se esquivar.
— Eu quero ir embora — Foi apenas o que conseguiu dizer, sua voz saiu como um sussurro.
— Eu compreendo, pois a culpa é minha por ter lhe deixado tanto tempo sozinha. Mas se você me abandonar não sei se eu vou suportar. Eu te amo, Sarah...— disse lhe abraçando como se quisesse mostrar que ela era tudo pra ele.
Ela ficou completamente mexida com aquele toque.
Outra vez o silêncio reinou sendo quebrado por ela:
— Antony, Dr.Wilhiam me fez aquela proposta no meu último dia no centro de pesquisa. Eu não aceitei. E sabe porquê?
— Shshsh, não importa — ele pediu que ela fizesse silêncio. — confio em você, o que falei ontem foi porque eu estava com ciúmes..
— Não aceitei porque decidi vir para cá e ficar com você. Porquê eu te amo!
Como se estivesse se sentindo ainda mais culpado ele enterrou seu rosto em seus ombros. Ela não conseguiu reagir, mas conseguiu sentir os soluços dele, seu corpo estava tenso e ela pôde jurar que ele estava prestes a chorar.
Assim seu coração não aguentaria…
Ela o recebeu em seus braços sem pensar duas vezes. O envolveu com ternura.
— Antony...
A voz dele saiu engasgada de emoção.
— Eu não sei se consigo sem você, por favor não vá…
No mesmo instante Sarah o encarou nos olhos e o beijou. Seus lábios se encontraram de forma intensa e insana, ambos estavam arrependidos, cada um de suas culpas. Ele recebeu aquele beijo e se entregou com todo amor de alguém que estava sendo perdoado
— Eu também não quero ficar sem você.
Ela o abraçou novamente.
— Sarah, prometo que as coisas serão diferentes daqui pra frente — Antony sussurrou.
Sarah no entanto não falou mais, suas bocas se uniram novamente, era impossível ficarem afastados, apenas quando o ajudou a se livrar das roupas. Ela levou a mão ao cós da calça e retirou seus cintos enquanto ele retirava a camisa, e depois lançou seus lábios sobre toda extensão do seu peitoral onde ela tanto gostava, se perdia em seu corpo bem definido entre beijos e carícias. Ele também não poupou carícias, a ergueu no colo lhe conduzindo até a cama deitado por cima dela, beijou todas as partes de seu corpo daquela forma que a deixava em êxtase e Sarah retribuiu cada toque, cada carícia. Quando estavam prontos uniram seus corpos se tornando apenas um, e entre gemidos roucos e sussurros, chegaram ao clímax ficando completamente exaustos.
Mais tarde ainda estavam deitados na cama, haviam tomado café no quarto. Antony pegou no telefone ainda com ela em seus braços, ligou para Eduardo, Sarah observou curiosa, não imaginava o que ele pretendia.
Ligação on
— Oi, Eduardo. Sabe aquelas folgas que estão me devendo?
Eduardo respondeu preocupado:
— Antony, eu sei que eles te devem semanas de folga pelo tanto que vem trabalhado... Mas agora é inviável.
— Eduardo eles me emprestaram para outro time na minha folga, e não estamos em temporada, eu preciso das minhas folgas, quero uma semana, a partir de hoje!
Pôde sentir a tensão de Eduardo do outro lado. Sarah observou surpresa.
— Isso não vai ser possível, Antony.
— Ah, mas vai ser sim. Quero também que você frete um avião, preciso fazer uma viagem. — ouviu Eduardo engasgar. — Antony, você está louco, e a inauguração da marca?
Sarah olhou para Antony confusa. Ele acenou com um gesto de cabeça para que ela confiasse nele.
Continuou ao telefone:
— Então preciso de no mínimo quinze dias.
Eduardo riu do outro lado, como se tudo o que Antony exigia fosse um absurdo.
— Eduardo, vou estar presente na inauguração e quero o avião fretado para o dia seguinte, meu amigo, EU VOU ME CASAR!
Sarah levou a mão à boca surpresa com as palavras dele.
— Como assim, Antony, isso é sério? — Eduardo falou e puderam ouvir os risos, ele estava feliz pela notícia.
Sarah se aproximou e se lançou ao pescoço de seu noivo.
— Seríssimo, agora entende porque preciso das folgas?
— Fico muito feliz por vocês, mas será onde e quando?
— Viajamos de volta pra nossa cidade e chegando lá resolvemos tudo.
— Caramba, você é maluco! Mas esta viagem assim tão precipitada pode prejudicar sua carreira no time, Antony, pense bem, espere um pouco mais.
Sarah ficou tensa naquele instante, não queria atrapalhar Antony, mas também não poderiam mais adiar o casamento.
— Eduardo, não me importo mais, já esperamos demais por isso!
Eduardo bufou. Estava dividido, queria muito a felicidade de Antony, mas temia que essa ausência o prejudicasse.
— Tá bom, vou ver o que consigo.
Sarah estava agarrada a Antony orgulhosa de sua decisão.
Antes de desligar, Antony completou:
— Eduardo, prepare o avião para cinco pessoas, você e sua esposa serão meus padrinhos.
Eduardo riu novamente.
— Será um prazer meu amigo.
Ligação Off
Quando desligou Sarah tomou sua boca e o encheu de beijos.
— Nem acredito que isso é verdade!
Ele segurou seu rosto com as mãos olhando em seus olhos.
— Não ha nada que eu deseja mais do que me tornar seu marido.
Novamente ela o beijou com doçura demonstrando o quanto de amor tinha por ela.