Os documentos ficaram prontos em poucos dias, Antony havia ajudado a resolver tudo, Ele também havia fretado um jatinho para levá-las. Enquanto embarcava admirada com o luxo daquele avião, Sarah estava embasbacada com a quantidade de flores que Antony havia encomendado. Ele era realmente um homem surpreendente. Já que passariam muitas horas naquele voo aproveitaria para se despedir melhor de sua amiga. Mary havia ficado muito feliz ao saber de sua decisão, e deixou bem claro que não aceitava que sua amiga se casasse sem ela estar presente, no exterior.
Quando finalmente desembarcaram não haviam conseguido se comunicar com Antony, parecia que ele também estava em alguma viagem local. Sarah não via a hora de revê-lo, sentia sua falta e saber que não se separariam mais lhe deixava aliviada, finalmente aquela espera agonizante do reencontro se encerraria.
Estar em um país no qual não se sabia nem ao menos o idioma era algo agonizante. Ver Eduardo e sua esposa lhes esperando as deixou um pouco mais a vontade, porém Sarah não pôde negar o quanto sentiu decepcionada por não ter Antony ali.
— Clair, quanto tempo! Como é bom ver você tão bem de saúde — Eduardo falou enquanto se dirigira até elas.
Todos se cumprimentaram.
— Oi, Eduardo, também estou contente. E meu filho como ele está?
— Antony tem uma agenda muito complicada aqui. Os treinos são mais puxados e o time é bastante rigoroso. Porém hoje ele teve um jogo em outra cidade e mesmo não sendo escalado, o time não liberou ele, precisou ir. Mas não estava nem um pouco satisfeito.
Entraram no carro que Eduardo havia solicitado e tanto Clair quanto Sarah estavam exaustas, além da viagem cansativa ainda tinha o fuso horário que era bastante diferente, apesar de ser dia, ela estava com sono, pois normalmente já estaria dormindo em seu país.
— É difícil se adaptar com o horário, mas depois você acaba se acostumando — Eduardo falou.
Provavelmente havia percebido seu estado de cansaço.
Sarah apenas sorriu.
O condomínio onde o carro havia entrado era tão luxuoso quanto o avião que lhes tinham levado até ali. A casa em que Antony morava também não era nem um pouco inferior, era grande, moderna com piso em mármore, grandes janelas de vidro e haviam flores pela casa de todos os tipos, ele certamente queria que elas tivessem uma boa recepção.
— Podem ficar a vontade, Antony pediu — Eduardo falou e depois ordenou ao rapaz que havia dirigido o carro para levar as malas até os quartos.
— Que casa maravilhosa! — Clair falou.
— Sim, jogar neste time tem proporcionado ao seu filho algumas regalias, ele está ganhando muito bem. Nossa casa fica bem ao lado.
— Que bom, vocês estão próximos — Clair falou aliviada, também parecia um pouco assustada por estar em um lugar tão diferente.
O rapaz que estava ajudando havia voltado para buscar mais malas.
— Este é Benji, ele é o nosso motorista. Tem uma mulher que ajuda com a casa, foi ao mercado e já deve estar voltando, Antony pediu que preparasse algo para vocês comerem. Ela se chama Mali.
Quando Benji terminou o serviço foi dispensado. E logo uma mulher de aparentemente quarenta anos entrou, estava bem uniformizada, deveria ser Mali, pois carregava várias sacolas. Eduardo lhe ajudou e logo a apresentou e naquele momento Sarah percebeu que não seria nada fácil a convivência naquele lugar, não conseguiu compreender nada do que a mulher falava, aquele era um idioma complicado.
Depois que Eduardo se foi, Sarah e Clair foram descansar.
O quarto de Antony era bastante amplo e confortável. Sarah tomou um banho e se deitou, acabou pegando no sono rapidamente.
*
Abriu os olhos quando sentiu um par de músculos lhe envolvendo, ele ainda cheirava loção pós barba, havia acabado de sair do banho. Sarah havia dormido bastante, provavelmente umas seis horas, seu corpo ainda estava funcionando no horário habitual. Ela se virou lentamente sentindo seu coração bater forte até que seus olhos encontraram os dele e ficaram se entreolharam por um momento. Antony era o mesmo com seus olhos esverdeados que pareciam mais intensos que o normal, talvez fosse toda felicidade de tê-la ali. Seus cabelos negros bem cortados e penteados, e sua pele morena tão corada como de um atleta.
— Oi, meu amor!— a voz dele era doce.
Ela sentiu o dedo polegar dele passear entre sua sobrancelha em um gesto de carinho, depois tocou com seus lábios.
— Antony.
— Não acredito que você está bem aqui, assim, tão a vontade em minha cama.
A sensação de estar tão perto dele era maravilhosa. Antony estava completamente carregado de amor.
— Eu disse que viria.
— Sarah, você largou tudo, sua família, seus amigos... Seu trabalho. Eu te amo mais do que você possa imaginar.
Antes que ela lhe respondesse ele a tomou em seus braços e beijou sua boca, era um beijo lento, delicado e suas línguas se misturavam em uma dança coreografada ao som da batida de seus corações. Antony se posicionou por cima dela lentamente de forma que ela conseguia sentir toda extensão do seu corpo, cada músculo definido, que eram capazes de levá-la a loucura. Como era bom sentir o seu cheiro, seu calor e cada toque daquelas mãos passeando por seu corpo. Em pouco tempo suas roupas já estavam ao chão e juntos desfrutavam daquele momento tão desejado que a distância havia privado por tanto tempo.
*
Já faziam semanas que haviam chegado e Sarah não imaginou que naquele lugar fizesse tanto frio a ponto de nevar.
As coisas não estavam indo como ela imaginou que seriam, Antony era praticamente uma visita em casa, ele passava maior parte dos dias viajando e ela já tinha tentado embarcar em alguma da viagens, mas aquele clube era completamente diferente do Nacional, o novo time era muito rigorosos e Sarah não ficava à vontade. Passar os dias trancada dentro de casa também não era o que ela tinha planejado, porém todas as vezes que saía passava por algum tipo de constrangimento, pois se tratava de um país de costumes tradicionais e a mídia local lhe assediava pelo fato de não ser casada com Antony, ela também tinha problemas com o idioma e as baixas temperaturas. Se comunicar com Mali não era uma tarefa fácil, naquele momento estava tentando explicar para ela que não gostava de misturar tantos temperos em um único prato, porém uma não conseguia compreender o que a outra queria dizer, e esta cena era constante, muitas dela Sarah desistia no primeiro instante, havia combinado com Antony que iria cozinhar, pelo menos assim ocupava seu tempo enquanto não conseguia um emprego, ele lhe prometeu que tentaria algo para ela no clube, mas já tinha se passado bastante tempo e ainda não havia tocado no assunto, já que ele quase não parava em casa, e assim era impossível de desenvolver qualquer diálogo.
Enquanto terminava de se arrumar para mais uma jantar social entediante, ela encontrou entre suas coisas no closet a pasta que continha os documentos entregues por William na última vez que se viram. Sarah ainda ficou por alguns instantes imaginando como estaria se tivesse aceitado a proposta, no fundo acreditava que talvez estivesse mais feliz. Quando notou que Antony estava saindo do banho, guardou a pasta rapidamente entre algumas coisas e não percebeu que pertenciam a Antony.
— Está pronta?— Ele falou lhe beijando no pescoço sem perceber o quanto ela estava nervosa, temia que ele encontrasse os papéis, pois não havia dito nada para ele, já que sua decisão tinha sido em ficar com Antony, acreditou que não fosse nescessário.
— Sim, estou.
Sarah usava um vestido cor vinho de mangas compridas que tinham uma enorme abertura que revelava suas pernas. Ele lhe avaliou por um instante.
— Está maravilhosa, como sempre — falou tocando seus lábios de leve com os dele.
— Talvez esteja um pouco exagerado.
Ele se aproximou em seu ouvido.
— Está perfeito para ocasião, hoje tenho uma surpresa incrível pra você.
O encarou e franziu a sobrancelha.
— Pensei que fossemos apenas a um jantar com os sócios do clube.
Ele deu a volta e lhe abraçou por trás inalando o perfume que ela usava.
— Humm, na verdade eu menti. Nosso compromisso é outro. Vamos a um dos melhores restaurantes daqui quero dar uma boa notícia que vai mudar nossas vidas.
Com os olhos arregalados ela ficou curiosa, o que seria? Desejava muito saber.
— E que tipo de surpresa?— falou se virando de frente pra ele de forma que suas testas se tocavam.
— Curiosa esta minha futura esposa. Quando chegar o momento eu te aviso.
Sentiu todo seu corpo se inquietar ao ouvi-lo lhe chamar de "futura esposa", talvez este fosse um bom sinal. Ainda não haviam marcado o casamento, na verdade ele nem tocou naquele assunto desde que ela chegou no país.
Antony lhe entrelaçou pela cintura e lhe deu um beijo que lhe tirou o fôlego. Ele cheirava deliciosamente. Por mais que ficasse chateada por sua vida não estar sendo nada do que havia planejado, eram momentos como esses que a deixava satisfeita.
— Meu namorado e suas surpresas. O que será que você está aprontando desta vez?
— Bom, posso adiantar que tem muito a ver com o nosso futuro.
Ela não pôde negar que seu coração se encheu de esperanças, acreditava que Antony tivesse escolhido uma data, de repente ela se sentiu muito animada.
— Estou muito curiosa, me dê mais uma dica, por favor!— disse fazendo beicinho.
Recebeu outro beijo, um mais atrevido, e Antony começou a ficar muito animado.
— Só mais uma dica, então: Também tem relação com seu futuro profissional, você disse que quer tanto trabalhar.
Ela se empolgou, pensou que ele teria lhe arrumado um emprego.
— Antony, você é surpreendente! — falou sorrindo.
Então, mudou de assunto a fim de que ela não o pressionasse mais:
— Agora preciso me vestir.
Ela então puxou sua toalha o deixando completamente nu a sua frente.
Antony a encarou com malícia.
— Talvez ainda temos mais alguns minutos…
Ele a puxou e envolveu entre seus braços beijando sua boca com paixão.
*
Além de Clair, Eduardo e sua esposa, haviam uma dupla que até poderiam ser chamados de "casal" se a figura masculina não estivesse vestida de um terno cor de rosa além de usar um lenço no pescoço, demonstrando claramente sua homossexualidade. A mulher que o acompanhava parecia algum tipo de executiva e Sarah ficou curiosa em saber de quem se tratava.
— Esses são Marrie Fontani e Daniel Doblim — Antony os apresentou um por um, inclusive a Sarah.
Ela não entendeu o motivo pelo qual era avaliada dos pés a cabeça pelo tal Daniel, mas ignorou.
Foram servidos com a entrada e todos conversavam descontraídos sobre a carreira de Antony. Ele lhe lançava olhares o tempo todo, ou passava as mãos em suas pernas por debaixo da mesa de forma carinhosa, o que lhe fazia acreditar cegamente em suas suspeitas, ele desejava marcar o casamento e aqueles dois fossem algum tipo de cerimonialista.
— Então, Antony podemos falar sobre negócios? — Marrie perguntou.
Ela parecia estar aguardando aquele momento ansiosa.
— Claro que sim — Antony falou.— Eduardo, quer começar?
Eduardo tomou a palavra e naquele momento:
— Bom, tenho conversado bastante com Marrie há algum tempo, ela é uma excelente empresária no ramo da moda por todo o país, está por trás da acessoria de várias marcas famosas e executa um excelente trabalho.
Naquele momento Marrie faz um gesto de cabeça agradecendo o elogio.
Eduardo ainda falou sobre números e gráficos de lucros no mercado da moda, depois apresentou o trabalho de Daniel que se tratava de um grande estilista que desenhava roupas. Sarah estava na quarta taça de vinho.
— Acho que você pode continuar Antony — Eduardo falou.
Ele então se levantou e ajeitou o terno. O coração de Sarah bateu mais forte naquele instante, talvez agora aconteceria a tal surpresa.
— Então...depois de muito diálogo tomamos uma decisão que vai mudar nossas vidas, meu amor. — ergueu a mão para Sarah.— Vamos lançar uma linha de roupas com o meu nome!
Os aplausos de todos na mesa se iniciaram, Clair estava orgulhosa de seu filho. Mas Sarah, havia ficado muda e não sabia o que dizer naquele instante pois não acreditava que se tratava disso a tal surpresa.
— Filho isso é maravilhoso. — Clair lhe abraçou forte e Eduardo também o parabenizou.
Após o abraço Antony se virou para sua noiva que tentou disfarçar sua decepção.
— E pra você, amor, tenho uma proposta. Conversei muito com Daniel e acredito que você poderá ser o rosto que representará nossa marca.
O semblante do tal Daniel não era tão convincente.
Sarah ainda estava muda então tomou mais um gole de sua taça.
— Você seria a modelo da nossa marca — Eduardo esclareceu.
— Modelo? Eu...
Daniel se manifestou mostrando um pouco de entojo:
— Claro que ela precisará perder alguns quilinhos, mas fora isso, acredito que poderá se transformar em uma grande modelo, com minha acessoria é claro!
Acreditando que as palavras de Daniel possam ter sido inadequadas, Antony se manifestou:
— Pois então, meu amor, você não queria tanto um trabalho? Agora terá uma grande oportunidade.
Naquele momento ela sentiu uma forte vontade de esbofetear Antony. Havia mentalizado várias ofensas, pois aquilo tudo não tinha nada a ver com ela, e Antony sabia bem disso, no entanto ela respirou fundo e apenas respondeu de forma serena:
— Depois conversamos sobre isso.
Mas Daniel insistiu:
— Você me parece um pouco insegura, mas não se preocupe sou bom no que faço, vou lapidá-la feito um diamante bruto!
Sarah já estava ficando irritada com a prepotência daquele homem. Mesmo assim apenas sorriu entre os dentes.
Ainda passaram o resto da noite falando sobre o novo empreendimento, pelo visto já estava tudo encaminhado, talvez por isso seu namorado estava trabalhando tanto nos últimos meses. Claro que a marca traria grandes lucro e Antony não precisaria se dedicar somente ao futebol. Mas toda sua decepção estava concentrada apenas no grande desejo que ela tinha de se tornar a esposa dele e percebia que a cada dia ficaria mais difícil, pois esta não era prioridade de seu namorado.
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