O melhor ano do nosso colegia...

נכתב על ידי leonmwah

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Nicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto co... עוד

BOOKTRAILER ❤️
1 • A matrícula
2 • O Shopping
3 • A palestra
4 • O primeiro dia de aula
5 • A garota da palestra
6 • A inscrição para o clube de teatro
7 • A audição
8 • A aula de música
9 • O primeiro dia no teatro
10 • O clube de música
11 • A festa do teatro
12 • Domingo de ressaca
13 • A novidade de Gabriela
14 • O desentendimento no refeitório
15 • O jogo de queimada
16 • O fim de ótimos momentos
17 • O colega de Joana
18 • A Festa Junina
19 • O parque
20 • Uma festa entre amigos
21 • A conversa na estrada
22 • O vizinho
23 • Um papo de saudade
24 • A casa de Thomas
25 • O quarto de Thomas
26 • A conversa com Amélia
27 • O começo de uma última aventura
29 • A volta para casa
30 • O segundo primeiro dia de aula
31 • A aluna de intercâmbio
32 • A briga no corredor
33 • A conversa com a diretora
34 • Um recomeço
35 • Um canto no teatro
36 • Inscrição para cheerleader
37 • O reencontro na biblioteca
38 • O teste de Gabriela
39 • O problema de Gabriela
40 • A ideia
41 • A conversa depois do jogo
42 • A segunda festa do teatro
43 • A grande notícia
44 • O encontro
45 • A apresentação
46 • A proposta
47 • A escolha do vestido
48 • O casamento
49 • Noite de Natal
50 • Ano Novo

28 • O fim de uma última aventura

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נכתב על ידי leonmwah

Caminhando pela calçada sem nos falarmos, ambos percebíamos o quão bonita era a vista aos arredores. O sol parecia brilhar mais do que nunca, assim como meus olhos toda vez que passavam pelos de Thomas.

Thomas andava na frente e eu o seguia por atrás. Eu queria conversar, mas não sei porque não conseguia soltar uma só palavra da minha boca.

— Quieto aqui, não? — Thomas finalmente disse algo.

— Sim...

— Vamos conversar!

— Vamos! — concordei, acelerando um pouco mais o passo a fim de andar ao lado dele.

— Me fala um hobby seu, Nicholas.

— Hmmm, ouvir música? E você?

— Gosto de ler livros de ciência, mais especificamente sobre o universo. Pareço ser um garoto burro mas posso surpreender bastante de vez em quando, sabe?

Viramos a esquina cujas casas por todo o quarteirão possuíam cercas de arbustos bem volumosos. As árvores da calçada da rua pela qual andávamos eram mais verdes que qualquer uma outra que eu já havia visto.

— Então me surpreenda, Thomas! — eu apostei brincando com o que ele dissera sobre surpreender de vez em quando.

Ele se virou para mim e me empurrou de costas para a cerca de arbustos da calçada de uma das casas. Assustado, meio perdido com toda a situação, fui surpreendido com um beijo logo quando notei tudo o que estava acontecendo. Tudo o que pude fazer foi aproveitar o momento e passar minhas mãos pelos ombros de Thomas, enquanto ele passava as dele pelo meu quadril e as pousava em minha bunda.

— Caramba — ele sussurrou no meu ouvido logo quando o beijo terminou —, você não sabe a fome que estou sentindo agora.

— Devia ter comido antes de sair de casa, garotão! — debochei da situação.

Empurrei levemente ele para trás e continuei seguindo em frente pela calçada até chegar na esquina.

— E então... viramos para a esquerda ou direita agora? — perguntei, ignorando o que tinha acabado de acontecer nos arbustos.

Thomas revirou os olhos e ambos viramos para a direita.

— Agora eu pergunto! — continuei com o lance de perguntas e respostas que Thomas havia iniciado. — Alguma vez você fez algo que nunca fizera antes, e que quando fez, percebeu que gostou e se arrependeu de ter passado tanto tempo sem experimentar feito antes?

— Sim! Beijar homens.

— Uau. — Eu certamente não estava esperando uma resposta como esta.

— É gostoso também beijar mulheres, você iria curtir!

— Eu mesmo acho que não, obrigado.

— Mas e você, Nicholas... qual é a sua coisa que nunca fez e que quando fez se arrepende por nunca ter feito antes?

— Humm, acho que tocar instrumentos musicais.

— Mas que coisa mais sem graça!

— Esta é a minha vida. Seja bem vindo a ela! — Ri da situação.

Finalmente paramos num quarteirão do qual para frente só se via mato, porém, com um pequeno caminho no centro entre as altas plantas em conjunto. O fim daquele percurso me parecia algo misterioso, algo perigoso... eu queria entrar!

— Você não vai me dizer que vamos passar por aqui, certo? — perguntei fingindo estar receoso, porém, com uma enorme vontade de aventuras reprimida em meu interior.

— As damas primeiro! — Thomas disse, abaixando sua cabeça em reverência.

— Vá se foder.

Ambos entramos no caminho apertado e que fazia nossas pernas coçarem quando as plantas encostavam nelas. Fui na frente.

— Espera aí — eu disse — você não vai me sequestrar nem nada do tipo, né?

Thomas riu, algo do tipo que diante tal pergunta você se assustaria com tal reação.

— Não acredito que você descobriu!

Arregalei os olhos, minha barriga doeu, meu estômago embrulhou e meu cérebro pareceu se divertir enquanto me causava vertigem.

— Calma, Nicholas! É brincadeira! — Ele revirou os olhos e passou por mim, agora sendo o primeiro da fila, se é que posso chamar duas pessoas andando uma atrás da outra de fila.

— Tenho que desconfiar, né! — justifiquei enquanto me dividia entre andar e coçar minhas pernas. — Hoje em dia o mundo está muito perigoso. — Um silêncio se instalou rapidamente entre nós, porém não durou muito tempo. — Já pensou se você realmente vai me sequestrar e só disse isso para eu achar que não e acabar seguindo com seu plano?

— Bom, você só vai descobrir quando chegarmos! Quer pagar pra ver? E não precisa ser apenas com dinheiro, hein.

— Você é uma pessoa difícil, Thomas!

— Ha... ha — ele debochou, — e você é a pessoa menos complicada que eu conheço! — ironizou.

— Sou um quebra-cabeças! — assumi.

— Você não é um quebra-cabeças, Nicholas... é um destrói-vidas!

— Também não é pra tanto.

Chegamos num terreno plano com gramas que pareciam não ser cortadas há séculos, entretanto, seu verde vivo trazia uma certa vida para aquele lugar. No centro, uma casa grande e abandonada — cujas paredes contavam histórias interessantes sobre toda a sua existência — tornava o lugar ainda mais interessante.

De longe era possível ouvir sons de carros, porém, não se via nenhuma estrada por perto. Se ouvia sons de pássaros, mas não se viam nenhum sobrevoando os céus. Os galhos das árvores ao longe balançavam, entretanto, não se sentia brisa alguma em nossos braços.

O sol parecia jamais ter brilhado durante toda a sua existência até hoje, afinal o suor em nossas testas deduravam as altas temperaturas e mínimas nuvens brancas espalhadas pelo céu azul.

— Achei que íamos numa ruína, não numa casa abandonada. — Eu finalmente comentei sobre a situação.

— Não deixa de ser uma ruína! — Thomas explicou, convicto de sua percepção.

— Para mim uma ruína são aquelas típicas construções antigas de pedra que facilmente nos remetem a uma imagem de castelo em nossas mentes.

— Ambos são construções abandonas, então ainda não vejo diferença alguma... agora para de reclamar e vamos explorar lá dentro!

— Explorar? — perguntei com as sobrancelhas arqueadas. — Explorar? Mas você já não entrou lá antes?

— Não! E antes que pergunte o por quê... eu sempre quis entrar lá dentro, mas nunca tive coragem para entrar sozinho, e também ninguém nunca se mostrou muito interessado nesta aventura.

— Hum, você com medo, Thomas? Onde está toda aquela sua masculinidade, hein?

— Você não vai querer descobrir...

A fim de cortar o assunto, comecei andar à frente para que explorássemos o quanto antes aquela maldita casa provavelmente assombrada. Thomas foi me seguindo por trás.

Quando chegamos na porta, nós dois nos olhamos e com nosso próprio consentimento abrimos a porta, ou pelo menos tentamos, pois ela estava trancada.

— Droga! — eu disse.

Thomas correu em direção ao mato logo em frente da casa e pegou uma pedra média do chão, em seguida voltou para a porta e antes que eu pudesse perguntar se ele estava louco, o garoto bateu com a pedra na maçaneta até que esta quebrasse e caísse no chão.

Tentamos empurrar a porta e mesmo assim ela não abriu.

— Caramba... — ele suspirou, — nos filmes isso costuma funcionar

— Se você parar pra pensar: você derrubou a maçaneta, mas a porta continua trancada por dentro... obviamente não abriria!

— Vou tentar outra coisa então!

— O quê?

E com um chute, Thomas abriu a porta.

— Funcionou! — ele riu e dirigiu-se para dentro da casa.

Revirei os olhos e quando me dei conta ambos estávamos parados no chão de madeira rangente do hall, desgastado e sujo, encarando a grande escada em L à nossa frente e coçando o nariz por causa do pó que o incomodava.

Nos entreolhamos e nos vimos sem ter por onde começar, afinal, não é todo dia que você comete um crime invadindo uma propriedade alheia e ainda por cima danificando as portas delas.

— E agora? —  perguntei com as mãos apoiadas em minha cintura.

— Fazemos o que todo adolescente faz.

— E o que seria?

— Vandalizar a porra toda!

— O quê?

Thomas não respondeu, pois ele já estava subindo as escadas correndo o mais depressa que podia.

— Ei! — gritei na esperança que ele me ouvisse e parasse, porém, eu já não conseguia mais o ver, ele desapareceu pelos corredores. —  Mas que merda! —  pensei alto — o que eu estou fazendo da minha vida?

E com isso, subi correndo as escadas — ignorando a provável futura fadiga — com a meta de alcançar Thomas nesta loucura que estávamos chamando de aventura.

A casa era enorme, tão grande que seus corredores poderiam facilmente ser confundidos com os de prédios de hospitais psiquiátricos abandonados — o que seria ainda mais bizarro — e ainda por cima, o lugar cheirava a nada, mas um nada com um cheiro característico de nada, talvez este seja o tipo de coisa que não se tem como descrever.

Correndo pelos corredores, durante um segundo que para mim duraram horas, meu ano foi passando como um filme dentro da minha cabeça. Foi como uma retrospectiva, algo que começou mas que ainda não havia terminado.

Lembrei do meu primeiro dia de aula, dia do qual conheci Vinicius enquanto procurava a sala que eu havia caído num mural com diversos papeis pregados. Lembrei de quando Gabriela se sentou conosco pela primeira vez no almoço. Lembrei das risadas que compartilhávamos sempre que passávamos pela entrada da escola e até mesmo depois dela. Obviamente, acabei me recordando de coisas ruins, tais como a convivência com Antoine, o desastre e decepção que foi com o Ethan, Vinicius ter se distanciado e tudo mais... 

Enquanto ainda corria em câmera lenta — pelo menos em minha cabeça — lembrei de quando cheguei na casa de vovó e Thomas estava na cozinha preparando cookies. Eu jamais poderia imaginar que eu estaria neste exato momento correndo atrás dele numa casa abandonada digna de um filme de terror. 

Ao virar num corredor, agora, eu já conseguia enxergar Thomas, que enquanto corria, quebrava algumas janelas com uma pedra que ele segurava na mão.

— Eu vou te alcançar, hein! —  ameacei, ou pelo menos tentei, afinal eu quase não conseguia respirar, muito menos tentar falar enquanto respirava.

Thomas riu alto.

Ainda correndo, lembrei que eu estava com muita saudade do Vinici... ah vai, Vini! Eu estava com muita saudade do Vini, da Gabi... a falta de internet na casa de vovó e um plano de internet não assinado em meu celular, de algum modo, despertou uma enorme vontade de me desconectar um pouco da internet, como se fosse um tipo de detóx cybernético. Eu ainda sentia muita falta deles, mas sabia que quando voltasse para casa mais tarde, poderia me reconectar novamente, ou pelo menos com Gabriela...

"O que será que eles devem estar fazendo agora? Será que estão mudados ou continuam a mesma coisa?", pensei, agora, mais perto de Thomas.

Cheguei. De perto pude ver o quão suada estava a camiseta de Thomas, assim como a parte de trás do seu cabelo recém cortado, porém, em momento algum tive nojo de, por exemplo, pular nas costas dele... e foi o que eu fiz.

Thomas foi diminuindo a velocidade, enquanto eu permanecia em suas costas entrelaçando meus braços em seu pescoço e minhas pernas em seu quadril.

Ao pararmos dentro de um cômodo, ambos deitamos no chão sujo de poeira com alguns destroços de mobílias antigas e tentamos por um tempo recuperar nosso fôlego.

— Mas que — eu disse, dando uma pausa para respirar —  dia —,  mais uma pausa para a respiração — , legal. — Finalmente concluí.

Thomas tirou a camiseta, certamente para que sua barriga fosse encarada pelos meus olhos, o que foi algo quase que instantâneo. 

Ele me encarou de um jeito que mexeu com meus hormônios. Então ele pegou minha mão, a colocou sobre sua barriga e a deslizou em movimentos circulares.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas seja lá o que fosse, eu estava gostando e estava ansioso para descobrir como iria terminar.

Thomas começou a guiar minha mão na direção de sua calça, que estava com suas barras dobradas por conta do calor.

Fechei meus olhos e comecei a sentir alguns pelos não muito grandes passando por entre os meus dedos, e quando os abri novamente, notei que minha mão estava completamente embaixo de sua calça, e logo em seguida, ao encarar seu rosto, vi que seus olhos fechados e lábios mordidos expressavam nitidamente um sentimento puro de tesão.

Confesso que estar fazendo tudo aquilo foi algo muito excitante e novo para mim, entretanto, eu não sabia se eu estava preparado para fazer alguma coisa relacionado a algo além do que eu estava fazendo, e se estava, não tinha certeza se era com Thomas que eu gostaria de fazer, portanto, retirei minha mão de dentro de suas calças e não conseguindo o olhar nos olhos tudo o que pude fazer foi olhar para o teto.

— O que aconteceu? — ele questionou.

— Não sei dizer... — respirei fundo. — Só não quero continuar.  

— Mas que porra, Nicholas! — Ele disse ao se levantar depressa e me encarar deitado no chão. —  Por que você é assim? 

Em seguida, ele saiu do cômodo bravo enquanto segurava sua camiseta amassada em uma das mãos.

Sentei no chão sem entender o que estava acontecendo. Levantei e por instinto comecei a segui-lo. 

Era fácil de se perder lá dentro, até porque eu não via diferença entre aquela construção e um labirinto, mas mesmo assim, para onde Thomas virava, em cada corredor ou porta que entrava, eu fazia o mesmo.

Depois de uns cinco minutos, num corredor cinzento, Thomas parou e olhou em minha direção.

— Para de me seguir! — alertou.

— Não!

Ele começou a andar bravo e nervoso em minha direção. Minha barriga doía de medo, mas não tinha muito o que eu fazer a não ser simplesmente passar por toda a situação.

— O que você está fazendo, hãn? — Thomas indagou num tom autoritário.

Por um momento achei que ele fosse me bater, neste instante, eu já sabia que o medo que eu sentia era real, e isto estava me preocupando. 

— Thomas, calma! — pedi enquanto caminhava de costas, arregalando os olhos quando encostei numa parede e conclui que não havia mais lugar do qual eu pudesse fugir.

Eu estava segurando as lágrimas que estavam loucas para sair de meus olhos, e então ele chegou na minha frente.

— Por que você está fazendo isso comigo? — ele gritou com o rosto mais vermelho que nunca.

— Isso o quê? — berrei.

— Causando estes sentimentos em mim! Nunca na minha vida olhei para um homem com segundas intenções, NUNCA! Daí você me aparece, e quando percebo, estou encarando o atendente da padaria, pensando num jogador de vôlei do canal esportivo e assistindo vídeos de dois caras juntos deitados numa mesma cama! Eu não aguento mais isso! — ele berrou ainda mais alto, dando um soco tão forte na parede atrás de mim que pude sentir as rachaduras se formando.

Neste instante, eu já havia permitido com que as lágrimas caíssem dos meus olhos, e então, Thomas recuperou finalmente seu fôlego.

— Por que você está chorando, Nicholas? 

— Eu estou com medo de você, Thomas! — Chorei ainda mais.

Assim, Thomas percebeu tudo o que estava fazendo e reconheceu os sentimentos dos quais suas ações estavam me causando. Não consegui olhar para seus olhos, mas enquanto eu tentava enxugar as lágrimas que pareciam nunca secar, conseguia notar o arrependimento dele no rosto.

Ele me abraçou. Abraçou e eu correspondi. Ambos caímos no chão e enquanto eu chorava rios de lágrimas em seus ombros, ele fungava as dele nos meus, isso tudo por um longo tempo, tempo do qual jamais segundos, minutos ou horas poderiam expressar.

— Me desculpe. — ele sussurrava inúmeras vezes em meu ouvido, e a cada vez, eu o abraçava mais forte.

Finalmente nos soltamos e conseguimos fazer com que nossos olhos se encontrassem.

— Não sei dizer se o que estou sentindo é paixão, carência ou antecipação da saudade que vou sentir quando você partir — Thomas admitiu mais sincero que nunca.

Dei um selinho nele, mas não porque eu o achava gostoso ou algo do tipo, mas porque eu queria demonstrar de alguma forma o carinho que eu estava sentindo por ele no momento. Para mim, qualquer um poderia se dar um selinho, afinal, é uma expressão de admiração pela outra pessoa tão bonita, tão pura... e não é uma selinho que é capaz de mudar a orientação sexual de alguém, nem nada jamais neste mundo.

— Vou sentir sua falta também, Thomas! — confessei. — Eu poderia sim dizer que vamos continuar nos falando por mensagem, ligação ou chamadas de vídeo todos os dias... mas ambos sabemos que isso não vai acontecer da maneira que esperamos, até porque cada um vai seguir suas vidas diferentes em universos distintos. — Respirei fundo. —  Isso não quer dizer que não possamos conversar, até porque, por mim, eu conversaria todo dia com você, porém, você sabe que realmente a rotina vai acabar nos separando mais do que imaginamos. 

— E quando poderemos nos ver novamente, Nick?

"Own que fofo, ele me chamou de Nick!".

— Eu não sei...

Tudo parecia nos tirar as esperanças, até que lembrei de algo.

— Já sei!

— Vamos diga! — ele implorou.

— No final do ano, na minha escola, terão apresentações dos clubes e etc...

— Clubes?

— Não posso explicar agora, enfim, provavelmente no final do ano irei tocar algum instrumento musical junto de outros colegas numa destas apresentações, entende? Você poderia ir me assistir!  

— Me parece ser uma ótima ideia, vou ver com meus pais se será possível!

— Mas eles nunca estão em casa...

— É... talvez nem notem minha ausência... —  Ele concluiu fazendo uma pausa. —  Ah, antes que eu me esqueça!

— O quê?

Ele então retirou uma folha sulfite sobrada e um pouco amassada de seu bolso e me entregou. 

— O que é isso? — perguntei, sendo que a única resposta possível eu obviamente descobriria se abrisse o papel.

— Abra e veja, Nicholas!

— Saudades quando você me chamava de Nick! —  Revirei os olhos e abri o papel.

Quando desdobrei a folha, percebi que nela havia um desenho com traços muitos bonitos e definidos de mim, pelo menos supus que fosse eu.

— Este sou eu?

— Não, é a minha vó, Nicholas! Estilosa ela, não?

— Para de usar sarcasmo como respostas de minhas perguntas! Enfim, caramba, não sabia que você desenhava tão bem.

— Sou uma caixinha de surpresas.

Olhamos um ao outro com um sorriso, que em seguida virou um abraço e que por pouco não terminou em lágrimas.

— Pena que não tenho nada aqui para lhe dar, Thomas...

— Você pode me dar algo algum dia... ah, e eu gosto de origamis, só para você saber.

De repente, lembrei da história que vovó havia me contado outro dia. Me senti como se estivesse dentro daquele tempo, daquela despedida, daquele momento...

Não sei se Thomas sabia desta história, afinal parecia que ele e vovó eram bastante íntimos, mas mesmo assim, preferi não comentar sobre o assunto e manter este momento único em nossos corações e eterno em nossas memórias.

Nós dois levantamos e concluímos de que nossa aventura poderia se encerrar de modo extraordinário ali mesmo.

Thomas colocou de volta a sua camiseta e quando nos recompomos por completo, percebemos já estarmos saindo pela porta em que entramos.

— Espero que ninguém note os estragos que causamos...

E juntos, refizemos todo o caminho de volta para a casa de vovó, que agora, estava mais laranja que nunca por conta dos raios solares vindos do por do sol.

Durante todo o percurso, fomos relembrando do primeiro dia em que Thomas fora me ajudar a pegar as malas no carro e eu havia sido grosso e seco com ele. Recordamos de quando fomos para o seu quarto, nesta parte nós quase não conseguíamos conversar de tanto que gargalhávamos. 

Nós havíamos amado todos estes poucos dias de viagem. Eu adorei conhecer Thomas, assim como ele amou conhecer mais sobre mim e mais sobre sí mesmo.

Na frente da porta de entrada da casa de vovó, nós dávamos as mãos, e numa brisa fria de inverno batendo em nossos rostos, um beijo quente aquecia ambos os corações.

De repente a porta se abriu, e lá de dentro permaneceu mamãe nos encarando assustada, como se não tivesse esperando abrir a porta e encontrar seu filho beijando outro cara na sua frente.

Thomas e eu nos afastamos depressa. Pude ouvir vovó gargalhando da cozinha, como se já soubesse que seu neto estava ficando com o vizinho da frente, e que só estivesse esperando o momento certo para testemunhar isso.

— Filho, nós vamos embora agora — Joana disse objetivamente e sem demonstrar emoção alguma. — Vai pro seu quarto, pega sua mala, se despede de sua avó e vamos embora! —  ela concluiu brava pegando sua mala que estava no chão ao seu lado e caminhando em direção do carro estacionado na calçada.

— Até algum dia, Nick! — Thomas despediu-se, como se soubesse que eu não conseguiria dizer nada depois do que havia acabado de acontecer.

Ele então correu, atravessou a rua e entrou em sua casa. Eu subi as escadas, peguei minha mala já pronta em cima da cama e desci para a cozinha a fim de me despedir de vovó.

Amélia e eu nos abraçamos e quando nos soltamos ela piscou um olho.

— Nick querido, você é muito jovem e tem uma vida inteira pela frente para ser vivida! — ela aconselhou enquanto segurava meu queixo com uma das mãos. — O tempo nunca para, então nunca pare de lutar pelas coisas que você deseja! Vida temos uma só, mas oportunidades é certamente o que não nos falta!

A buzina do fusca de mamãe gritou como nunca antes.

— Agora vai logo para o carro e boa viagem, Nick querido!

E com outro abraço seguido de um beijo em minha testa, peguei a mala e corri para dentro do carro.

Quando o motor do fusca ligou, olhei para os lados, tendo como as últimas imagens de minha viagem as de vovó parada na porta acenando, e de Thomas, cabisbaixo, me assistindo partir da janela de seu quarto. Depois disso, tudo o que pude ver foi estrada, carros e um céu escuro... sem estrelas.

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