Inalcançável - Livro 2

By bellanye

535K 44.8K 9.2K

(Livro #2 da Série Inesperado) Após a volta de Théo Carter, a vida de Annie vira novamente de cabeça para bai... More

direitos autorais
inalcançável #2
elenco dos sonhos
epígrafe
capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5.1
capítulo 5.2
capítulo 6
capítulo 7
capítulo 8.2
capítulo 9.1
capítulo 9.2
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18
capítulo 19
Capítulo 20
capítulo 21
capítulo 22
capítulo 23
capítulo 24
capítulo 25
capítulo 26

capítulo 8.1

15.8K 1.6K 328
By bellanye

- Nunca pensei que diria isso, mas tomara que esse filho seja do Théo - Melissa diz, encarando o teste em minhas mãos.

- Não sabemos se tem mesmo um bebê aqui - lembro. -, mas desde quando você gosta do Théo?

Semicerro os olhos. Melissa nega com a cabeça.

- Eu ainda não gosto dele. - Ela dá de ombros. - Mas conversei com ele na segunda vez em que foi até CG atrás de mim, desesperado pra descobrir aonde você estava. Eu acho que ele foi um completo embuste, mas pelo que conversamos se arrependeu de verdade.

- Ele te contou tudo?

- Tudo - ela confirma. - Até sobre o irmão. Aquele Gael conseguiu ser mais embuste do que ele.

Rio do seu comentário, mas por pouco tempo. Sento ao lado de Melissa no chão, recosto no azulejo branco, encaro o teto e penso em como será difícil daqui pra sempre. Eu não sei o quê fazer, não tenho aonde ficar se me separar de Fred. E por falar nele, ele vai enlouquecer se esse teste estiver mesmo certo. É triste ver que o nosso relacionamento tomou um rumo tão ruim. Eu tinha esperanças de ter acertado dessa vez.

- Se eu estiver grávida, você acha que o Théo vai ter a mesma reação? - pergunto, ainda fitando o teto.

Um calafrio percorre a minha espinha ao me recordar da clínica clandestina em que ele me levou. Ainda lembro do cheiro daquele lugar.

- Eu não sei - Melissa deita a cabeça em meu ombro. - , eu espero que não. Mas se ele for babaca de novo você me avisa que dessa vez eu acerto um soco nele.

Sorrio, dando risada.

- O Fred vai enlouquecer.

Melissa segura a minha mão, como se pudesse transmitir força para mim.

- Não corre mais risco, Ann. Vai embora enquanto há tempo.

- E o quê eu faço? Abandono tudo de novo? Eu to na reta final, amiga. - Encosto a cabeça na parede. - Eu só não quero que a Mía presencie nada. Com o Fred eu me resolvo.

O Fred não é uma pessoa ruim, eu o conheço. Eu sei que ele não fará nada comigo.

- Annie... Meu Deus, como eu queria que você enxergasse a verdade.

- Tá - digo, descansando minha cabeça por cima da cabeça de Melissa, que continua recostada em meu ombro -, digamos que ele seja abusivo.

- Ele é - Melissa me corrige.

Solto uma lufada de ar.

- O quê você acha que ele seria capaz de fazer?

Melissa fica em silêncio durante alguns segundos.

- Você já ouviu falar em feminicídio?

Balanço a cabeça, confirmando.

- Muitos casos ocorrem por causa de um relacionamento abusivo, e infelizmente é tão comum. Eu não conheço o Fred, eu conheço o quê você me conta dele. Não sabemos o quê ele é capaz de fazer, e diante todos esses casos diariamente, eu tenho medo que ele seja capaz de tudo.

Estremeço ao ouvir as palavras de Melissa. Eu nunca parei pra pensar nisso. Se ele é mesmo abusivo, eu corro o risco de ser realmente agredida.

- Se eu te pedir pra cuidar da Mía, você fará isso? - pergunto.

Melissa levanta a cabeça para me encarar.

- Do quê você está falando?

Respiro fundo.

- Eu preciso de um futuro - respondo, olhando automaticamente para o teste.

- Você já tem a floricultura.

- Eu to falando de ter uma carreira, de realizar o meu sonho, me formar e crescer profissionalmente. Você sabe que eu sempre quis isso.

Ela me conhece mais do quê ninguém, e sabe como eu fiquei feliz quando consegui entrar para a faculdade pela primeira vez. Melissa chorou comigo quando eu soube o resultado, e me apoiou quando me mudei para São Paulo em busca do meu sonho.

- Eu não vou deixar você fazer isso. - Melissa nega com a cabeça. - Não vou deixar você correndo risco com esse cara aqui.

- Nós não sabemos se ele faria algo ruim comigo.

- Ele já está fazendo! - Melissa se exalta. - Não me obrigue a contar aos meus tios o quê está acontecendo.

Meu corpo retesa.

- Eu não quero preocupá-los - digo.

- Então não se coloca em risco desse jeito. Olha, você é dona de um negócio, deve ter um dinheiro sobrando.

Dou impulso e levanto do chão rapidamente.

- Não o suficiente. - Paro de frente ao espelho, apoio as mãos no mármore branco e encaro o meu reflexo. - É tudo caro por aqui, a escola da Mía é uma fortuna, eu não conseguiria bancar uma casa sozinha.

Melissa morde a unha do dedão, tensa, provavelmente pensando em uma solução.

- O Théo pode te ajudar - ela sugere.

- Não. Eu nunca quis nada dele antes, não vou querer agora. Só quero que ele cumpra as obrigações com a Mía.

Ela me olha com o olhar triste.

- Você não quer ficar longe da Mía.

Solto um suspiro pesado demais. Tudo o quê eu faço é por nós duas, Mía e eu. Se Melissa não quiser cuidar dela eu posso pedir aos meus pais, ou ao Théo. Ele não vai querer ficar longe dela mais uma vez, e eu também não quero afastá-los de novo. Eu posso visitá-la quando quiser, só não quero que ela presencie mais nada dentro desse apartamento. Não consigo tirar da minha cabeça que ela escuta Fred gritar em todas as nossas brigas. Nesses momentos eu me sinto uma péssima mãe, uma pessoa incapaz de criar uma criança, quem dirá duas. Eu sei que dou o meu melhor, mas às vezes não parece ser o suficiente. Abrir mão de estar junto à Mía todos os meus dias para garantir um futuro melhor pra nós deixa o meu coração despedaçado. Eu só não consigo encontrar outra solução.

Jogo o teste de gravidez no lixo junto com a embalagem. Melissa me dá um abraço apertado antes de sairmos do banheiro. Ela me deseja forças para sair de toda essa situação, e percebo que segura o choro na minha frente. Eu, definitivamente, tenho a melhor amiga do mundo. Volto para o quarto e deito na cama, tento dormir mais um pouco já que não dormi quase nada e acordei tão cedo.

Levanto quase onze horas da manhã, sentindo meu estômago implorar por comida. Ainda estou com sono, mas consegui descansar bem. Ouço um falatório vindo da sala e sorrio, pelo menos hoje posso me distrair ao lado da minha família. Antes de sair do quarto eu tomo um banho, e quando tiro a roupa para entrar no chuveiro me encaro diante do espelho. Viro de lado, observando a minha barriga. Não pareço uma grávida, mas não estou tão magra quanto antes. Algumas poucas roupas já não me servem mais, outras ficaram bastante justas nesses meses, e eu nem desconfiei de nada. Agora, juntando todas as peças na minha cabeça, tudo parece fazer sentido. Meus seios também estão maiores, Fred havia comentado sobre isso há uns dias, eu disse que deveria ser coisa da cabeça dele. Solto um riso nasalado. A gravidez parece mais real do que nunca.

Não quero me desesperar, ainda pode ser um falso positivo. Quais as chances de um bebê de cinco meses estar morando dentro de mim sem sinal nenhum na barriga? Balanço a cabeça para os lados. Entro no banho antes que eu enlouqueça.

Ao sair do quarto meu sorriso se ilumina. Meus pais, Mía e meus amigos reunidos ao redor da mesa, conversando e rindo. Gutierre falando coisas engraçadas, como sempre. Jaque implicando com ele e Melissa intermediando as briguinhas dos dois. Meus pais rindo, de mãos dadas, paparicando a Mía, que abre um sorriso em minha direção ao me ver.

- Bom dia, família!

Eles me olham sorrindo.

- Quase tarde, né, bonita. A senhorita dorme muito - Gutierre diz, conferindo a hora no relógio de pulso.

- Estava cansada - digo, dou um beijo no rosto da minha mãe e outro em Mía. Meu pai é o próximo à receber um beijinho no topo da cabeça.

- Eu trouxe o quê você gosta. - Meu pai aponta para um saco de papel da padaria mais próxima, em cima da ilha da cozinha.

Meu estômago ronca com a possibilidade de ser um muffin de banana com chocolate, e eu umedeço meus lábios ao constatar que estou certa. Dou uma mordida no bolinho, soltando um grunhido de completa satisfação.

- Graças a Deus existe muffin de banana com chocolate - digo após engolir um pedaço.

- Eu não gosto de banana. - Gutierre dá de ombros.

- Logo você?! - Melissa pergunta, bem irônica.

Não conseguimos conter a risada. Gutierre revira os olhos e cruza os braços.

- Tá tão palhacita, dona Melissa - ele resmunga. -, só não te respondo porque você tem razão.

Eu gargalho, me engasgando com um pedaço do muffin. Pego a jarra com água de dentro da geladeira e despejo em um copo, com urgência. Bebo com pressa, respirando aliviada logo em seguida.

Me junto a eles ao redor da mesa, Mía vem para o meu colo e rouba uns pedaços do meu muffin de banana. Checo o meu celular e vejo o nome de Fred na tela, meu corpo retesa. Lembro da conversa dolorosa que tive com Melissa. Eu me ajeito na cadeira, Melissa percebe o meu desconforto e se inclina para observar o quê me deixa assim. Ela torce a boca em uma careta ao ver que abri a conversa com o Fred.

Ele me envia uma foto ao lado de Otávio, no campo de futebol perto de casa, parece feliz. Observá-lo com um sorriso no rosto e a expressão tão leve me deixa confusa, ele não parece o monstro que Melissa disse ontem. Ele não parece o mesmo que faz todas as merdas quando estamos sozinhos. De qualquer forma, eu respondo com alguns emojis e largo o celular em cima da mesa. Meu pensamento voa para hoje de manhã, para o teste no lixo do meu banheiro. Eu espero que esteja errado. Melissa segura minha mão e dá um leve aperto, ela sabe que eu estou pensando no teste e me torturando com a possibilidade de estar grávida.

A som da campainha soa alto dentro do apartamento, eu checo a hora. Deve ser o Théo. Me levanto, tirando Mía do meu colo, colocando-a sentada na cadeira. Caminho até a porta e abro em um movimento rápido, Théo está parado com as mãos apoiadas no batente, a cabeça baixa e uma mochila pendurada apenas por uma alça no ombro direito. Ele levanta a cabeça levemente, ergue o olhar até o meu rosto e sorri. Minha pulsação acelera.

Me recordo da frase que ouvi de Melissa ontem: "Você o ama do mesmo jeito que ama o Théo?"

Eu não amo o Théo, não mais. Ele foi o primeiro homem que amei em minha vida, a minha primeira paixão avassaladora, mas passou. Não há resquícios de qualquer sentimento dentro de mim. Prefiro acreditar nisso.

Devo ter ficado alguns segundos inerte, pensando mais do que deveria, porque Théo está me olhando com a testa levemente enrugada.

- Oi - ele diz, endireitando a postura.

Théo enfia as mãos nos bolsos da bermuda, e então eu reparo em como ele está vestido. Bermuda, camisa de manga curta um pouco justa, realçando os músculos dos braços. Eu já disse que o acho bem mais bonito quando está vestido assim do quê com os diversos ternos que ele tem?

- Oi. - Eu sorrio, sem graça demais por estar fitando sem parar o pai da minha filha. - Preciso falar com você um minutinho.

Ele assente, mas percebo seu corpo retesar. Théo movimenta o maxilar quadrado, de um lado ao outro. Eu dou alguns passos para frente, e fecho a porta atrás de mim ao pisar no corredor do prédio.

A imagem das duas listras vermelhas não saem da minha cabeça, e mesmo com vontade de contar, eu me contenho. Ainda não tenho certeza, é melhor deixar para contar quando estiver com o exame em mãos.

- Os meus pais querem te conhecer - digo, sem rodeios.

Théo arregala os olhos, e eu seguro o riso pela cara de espanto que ele faz.

- Seus pais?

- Sim. - Confirmo com a cabeça. - Eles querem conhecer o famoso pai da Mía.

Ele coça a barba por fazer, e eu devo acrescentar que acho lindo quando ele está de barba. Por ter apenas vinte e sete anos, Théo tem carinha de menino novo ainda, e quando ele está de barba parece mais maduro.

- Eles me odeiam - Théo constata, com os olhos ainda arregalados.

Acho graça do medo estampado em seu rosto, e prendo o lábio inferior em meus dentes para não cair em uma gargalhada.

- As coisas podem mudar. - Dou de ombros. - Não fica com medo, eles não vão te bater ou algo do tipo.

- Eu com medo - ele enfatiza.

- Relaxa, Théo. Eles vão gostar de você. - Tento tranquilizá-lo, mesmo sem ter certeza disso.

Théo concorda, depois de pensar um pouco. Eu abro a porta do apartamento e um silêncio irritante paira sobre todos nós. Todos os olhares estão em Théo, eu imagino que ele deve estar desconfortável com essa situação.

- Théeeeo! - Mía dá um pulo da cadeira e corre na direção do pai.

Ele abaixa para abraçá-la, e logo levanta segurando a pequena no colo.

A atitude da criança parece deixá-lo mais confiante e menos robotizado, mas todo mundo ainda está olhando fixamente para ele. Pigarreio, chamando a atenção da minha família. Só então eles despertam, cumprimentam o Théo e levantam da mesa, cada um vai para um canto do apartamento, procurando algo para fazer que não seja encará-lo como um extraterrestre pisando na Terra.

Meus pais se aproximam. Minha mãe tenta abrir um sorriso que não seja tão falso, e meu pai nem tenta fazer qualquer cara de simpatia para ele. Eu não julgo, eles tomaram minhas dores quando Théo me abandonou grávida. Durante quatro anos eles acreditaram, assim como eu, que o Théo não estava nem aí para mim e para a nossa filha. Eu fui capaz de perdoá-lo, mas meus pais eram duros na queda.

- É um prazer. - Théo estica a mão para o meu pai.

Meu pai olha para ele, com a cara ainda fechada, olha para a mão estendida de Théo, e eu peço em pensamento para que ele não o ignore. Solto um suspiro aliviado quando meu pai aperta a mão dele, em um cumprimento. Minha mãe faz o mesmo, eles trocam meia dúzias de palavra e saem da sala alegando que precisam arrumar as malas.

Théo relaxa os ombros quando ficamos sozinhos.

- Não foi tão ruim - eu digo.

- Eu não estava preparado.

Rio, e fico na ponta dos pés para beijar o rosto da minha filha.

- Pra onde nós vamos, Théo? - Mía pergunta, com um sorriso iluminado.

- Pra um lugar muito legal, mas é surpresa. - Ele olha para ela devolvendo o sorriso animado.

- Eu gosto de surpresas.

Sempre olho para eles com cara de boba, às vezes ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo. Fico feliz que Mía tenha a presença do pai.

- Ah, antes que eu me esqueça. - Théo coloca Mía no chão e tira a mochila do ombro, ele tira de dentro um envelope pardo. - Os papéis da pensão.

Pego o envelope, pelo volume noto que são muitas e muitas folhas.

- Eu vou ler com calma e te entrego o mais rápido possível.

- Sem problemas - Théo responde, fechando o zíper da mochila e colocando nas costas de novo. - Vamos?

- Vamos! - Mía responde, jogando os bracinhos para o alto. - Eu vou pegar minha mochila.

E ela sai da sala correndo, na direção do quarto. Ficamos apenas Théo e eu, e a minha vontade absurda de contar pra ele que, talvez, ele seja papai de novo.

★★

Théo foi embora levando Mía para passear, e eu não contei nada. Melissa achou que eu agi certo, porque não temos certeza.

Meus pais vão embora logo após o almoço, e se despedem já com saudades. Eu queria que eles ficassem mais, mas a vida deles é corrida, assim como a minha. Durante o dia respondo algumas mensagens de Fred, Melissa revira os olhos toda vez que passa por mim e vê que estou mandando mensagem pra ele. Eu entendo a preocupação dela, e decido que vou conversar com o Fred amanhã.

Combinei de fazer uma festa do pijama com os meus amigos, é só uma desculpa pra beber e jogar conversa fora, como sempre fazíamos. Gutierre prepara uma caipirinha deliciosa, e eu provo um pouquinho.

- Ei, a senhorita não - Melissa me repreende, tirando o copo da minha mão.

Eu reviro os olhos, ela parece a minha mãe quando quer pegar no meu pé.

- Não temos certeza de nada.

- Não vou deixar você arriscar - ela diz, decidida, e leva o copo para longe de mim.

Bufo, irritada, como uma criança que faz pirraça.

Me junto a eles no tapete felpudo da sala. Arrumamos almofadas ao nosso redor, e no meio colocamos algumas vasilhas com biscoitos e salgadinhos.

- Ué, não vai beber hoje, amiga? - Gutierre pergunta, estranhando o fato de apenas eu não estar com um copo de caipirinha na mão.

- Não tô muito afim de beber hoje. Amanhã tenho aula cedinho. - Dou uma desculpa.

Melissa confirma com a cabeça, como se estivesse aprovando a minha atitude. E, ao longo da noite, eu aproveito a companhia dos melhores amigos que eu poderia escolher ter.

★★

Fito o teto branco do consultório, movimento meus pés de um lado para o outro, entediada, aguardando a médica entrar na sala. Consegui marcar uma ultrassonografia de emergência, achei melhor do quê fazer apenas um exame de sangue. Estou sentindo borboletas em meu estômago, e já fiz todas as preces possíveis, pedindo para que não tenha nenhum bebê dentro de mim.

Estou sozinha, meus amigos foram embora logo cedo, Melissa me fez prometer que vou mandar mensagem a ela assim que sair dessa sala. Estou nervosa, mas tentando manter o meu pensamento positivo. Meu corpo inteiro gela quando a porta do consultório é aberta e uma mulher mais velha aparece. Ela me olha e sorri.

- Bom dia - Ela confere o papel preso na prancheta em suas mãos. -, Annie.

- Bom dia. - Abro um sorriso amarelo, tentando não transparecer o quanto estou apavorada.

Ela começa todo o procedimento, pergunta sobre a minha última menstruação, sobre o medicamento que eu tomo, e sobre outras infinitas coisas. Por um momento a conversa me distrai e eu relaxo o corpo na maca, mas quando a imagem aparece na tela, eu gelo mais uma vez.

- Bom, devo te parabenizar. Você está grávida!

Sinto um nó gigantesco ser formado em minha garganta. O formato do bebê na tela me deixa incrédula.

- Como é possível? - pergunto, sem conseguir desgrudar os olhos.

- É mais normal do que imaginamos, nenhum método é cem por cento eficaz. - Ela repete a mesma frase de Melissa na noite anterior. - Pelo visto o seu bebê já está bem desenvolvido, com aproximadamente cinco meses.

Balanço a cabeça para os lados. Ah, não!

- Como eu não tenho barriga?

- O psicológico é um dos grandes fatores que faz a barriga crescer, mas tudo depende do corpo da mulher, a gravidez varia de um corpo para o outro, algumas mulheres não têm barriga grande até os nove meses de gestação - ela explica, deslizando o aparelho sobre a minha pele. - Muitas mulheres também sangram durante a gestação, o quê não quer dizer que seja menstruação. Ocorreu com você, mas o bebê aparentemente está saudável. Você precisa fazer todos os exames com urgência, por ter perdido uma boa parte do pré-natal. E evite fazer esforços e estresses.

Estou pasma, observando o bebê grandinho. Um bebê meu e do Théo. Céus, o quê eu vou fazer? O Fred vai surtar. O Théo vai surtar. E se ele não quiser esse bebê? E se ele me pedir pra abortar ou me deixar sozinha de novo? Eu tenho receio, e medo da reação dele. Mas tenho muito mais receio da reação do Fred.

De repente, um som conhecido invade toda a sala, me despertando de todos os meus devaneios.

É rápido, forte, intenso.

- Esses são os batimentos cardíacos - a doutora diz, virando a cabeça para mim e sorrindo. - Diga olá para o bebê!

É inevitável o sorriso que surge em meu rosto, mesmo assustada.

Eu saio do consultório atônita, digerindo o quê acabara de acontecer. Não sei a melhor forma de dar uma notícia dessas, mas sei que não vou guardar para mim. Com a ultrassonografia em mãos, eu mando uma mensagem para a Melissa e me apresso para dirigir até o apartamento de Théo e dizer olá para o papai!

Continue Reading

You'll Also Like

54K 5K 68
Essa mina rouba minha brisa, Acelera o meu coração...
138K 8.7K 29
Isís tem 17 anos, ela está no terceiro ano do ensino médio, Isis é a típica nerd da escola apesar de sua aparência não ser de uma, ela é a melhor ami...
53.9K 7.8K 35
Essa é uma história de harém inverso, onde seus destinados são decididos pela ligação da alma e de seus poderes, Estrella é uma jovem que foi criada...
129K 15.9K 21
A vida de Isabella Miller é um autêntico turbilhão: cursa direito por influência dos pais e divide o apartamento com uma amiga. No entanto, sua rotin...